Capítulo 90 - As últimas gotas de esperança

O chão estava manchado de sangue. Corpos caídos ao redor, gemidos de dor ecoando no corredor destruído. Os poucos que ainda estavam conscientes não tinham mais forças para lutar. Kaito Suzuki estava no topo.

Ele se ergueu no meio da destruição, os punhos cerrados, o peito subindo e descendo em uma respiração controlada. O sangue escorria por seu rosto e braços, mas seus olhos brilhavam com arrogância. Ele havia vencido.

— Patético.

Sua voz ecoou pelo corredor, carregada de desdém.

— Seis contra um. Seis. E ainda assim… nenhum de vocês conseguiu me parar. Nem juntos. Nem separados. Vocês são fracos.

Os únicos sons eram os gemidos de dor dos derrotados.

Até que se ouviu um ruído baixo.

Um pé arrastando no chão.

Kaito virou o rosto lentamente.

Yoru estava de pé.

Cambaleante, ensanguentado, destruído.

Seus cabelos longos estavam grudados no rosto, a pele marcada por hematomas e cortes. Um dos olhos mal conseguia se abrir. Suas pernas tremiam como se pudessem ceder a qualquer momento.

Mas ele estava de pé.

Kaito o encarou por um instante. Então… riu.

— Você só pode estar brincando.

Yoru passou a mão no rosto, limpando um pouco do sangue seco no lábio.

— Você acha que acabou?

Kaito cruzou os braços, entediado.

— Sim. Eu sei que acabou. Você mal consegue ficar em pé.

— Ainda assim, estou aqui.

— E por quê? Você realmente acha que pode me derrotar?

— Eu tenho certeza.

Kaito soltou uma gargalhada.

— Certeza? Você está delirando, magrelo. Olhe para si mesmo. Você não passa de um saco de ossos, com um pouco de carne cobrindo. Você não é nada.

Yoru respirou fundo. Cada fôlego era como engolir lâminas, mas ele suportou.

— Se eu sou nada, então por que você ainda está falando comigo?

O sorriso de Kaito desapareceu por um breve instante.

Yoru continuou:

— Você já venceu. Você já mostrou que é forte. Que é um monstro. Então por que ainda está tentando me diminuir? O que está te incomodando, Kaito?

O silêncio que se seguiu foi pesado.

Kaito franziu a testa, sua mandíbula se contraindo.

— Não me faça rir. Você está só tentando ganhar tempo.

Yoru deu um passo à frente.

A dor foi lancinante.

Mas ele não parou.

— Não estou ganhando tempo. Eu estou te dizendo a verdade. Você quer saber por que estou de pé? Por que, mesmo depois de tudo, eu ainda não desisti?

Kaito manteve-se calado.

Yoru abriu um sorriso, seus dentes sujos de sangue.

— Porque eu não tenho outra escolha.

Seus olhos brilharam com uma fúria inabalável.

— Eu não posso perder aqui. Eu não vou perder aqui. Você pode ser mais forte, mais rápido, mais resistente. Mas eu sou alguém que nunca vai parar de levantar

A voz de Yoru tremia de exaustão, mas cada palavra era carregada de emoção pura.

— Você pode quebrar meus ossos, esmagar minha carne, rasgar minha pele… mas enquanto meu coração estiver batendo, eu vou continuar lutando.

Ele ergueu os punhos.

— E eu vou vencer.

Kaito apertou os dentes.

— Arrogante. Você está apenas se enganando.

Yoru deu outro passo.

— Estou? Então me derrube.

Kaito trincou os punhos.

— Já fiz isso antes. E farei de novo.

Yoru avançou mais um passo.

— Então me derrube. Mas saiba de uma coisa, Kaito Suzuki…

Seus olhos se fixaram nos do inimigo.

Intensos. Profundos.

— Dessa vez, eu vou me levantar mais rápido.

O ar pareceu ficar pesado.

Por um instante, Kaito não soube o que dizer.

Mas então, um brilho selvagem surgiu em seu olhar.

Ele abriu um sorriso.

— Ótimo. Vamos acabar com isso.

O ar estava denso, carregado de tensão. O chão rachado sob os pés de Kaito e Yoru era uma marca do caos que já havia se desenrolado ali. O sangue escorria pelos cantos, pingando silenciosamente, enquanto os corpos de seus amigos caídos estavam espalhados pelo corredor.

Mas, mesmo assim… eles se levantavam.

Yoru fechou os olhos por um breve instante.

Uma onda de energia percorreu seu corpo, dissipando parte da exaustão esmagadora que o dominava. Seus músculos ainda estavam pesados, mas sua mente estava clara. Ele estava pronto.

Kaito estalou o pescoço, um sorriso carregado de selvageria.

— Então vamos terminar isso.

Yoru avançou primeiro, seu corpo movendo-se com fluidez, cada passo medido com precisão. Seu punho disparou num gancho de potência, mirando a lateral do rosto de Kaito.

O impacto foi brutal. A cabeça de Kaito girou para o lado, mas ele apenas riu.

— Isso é tudo?

Antes que Yoru pudesse reagir, Kaito agarrou sua cintura e o ergueu do chão. Seu corpo girou no ar antes de ser esmagado contra o piso com um suplex violento.

A dor percorreu a espinha de Yoru como eletricidade, mas antes que Kaito pudesse continuar, um vulto surgiu ao lado.

Ben.

Seu punho envolto em força bruta disparou num direto, que explodiu contra a mandíbula de Kaito.

O grandalhão deu um passo para trás, e nesse instante, Sophie deslizou pelo chão, desferindo um chute giratório contra as costelas do inimigo.

Hiroshi surgiu como uma sombra, seus pés desferindo uma sequência de chutes de Taekwondo, rápidos e certeiros. Cada golpe empurrava Kaito para trás, fazendo seu corpo balançar levemente.

Mas então…

Kaito rugiu.

Sua mão agarrou a perna de Hiroshi no meio do chute e o arremessou contra a parede como se fosse um boneco de trapo.

Antes que Sophie pudesse recuar, Kaito se virou e enterrou um punho em seu estômago. O ar foi arrancado de seus pulmões e ela caiu de joelhos, tossindo sangue.

Ben tentou atacar novamente, mas Kaito antecipou seu movimento, desviando com um passo para o lado e acertando um cotovelada brutal em sua têmpora.

Ele caiu.

Um silêncio assustador tomou o local.

Yoru respirou fundo, sentindo a dor espalhada por todo seu corpo.

Ele cerrou os punhos.

— Isso ainda não acabou.

Seu corpo começou a se mover em um ritmo diferente. Ele girava os ombros, balançava o tronco, seus pés trocavam de posição de forma imprevisível.

Kaito avançou como um touro, lançando um soco devastador. Mas Yoru se esgueirou para o lado com um giro, desviando no último instante.

O punho de Yoru disparou em um golpe duplo, acertando o rosto de Kaito duas vezes em sequência.

Ele recuou.

Antes que pudesse reagir, Yoru girou o corpo e disparou uma onda de choque com um soco direto ao peito do inimigo.

O impacto foi tão forte que Kaito deslizou para trás, seus pés arrastando o chão.

Por um momento, ele vacilou.

Yoru viu sua chance.

Seus olhos se fixaram na figura titânica à sua frente.

— Acabou.

Ele flexionou os joelhos, reuniu toda sua força, e então… avançou.

Seu punho foi tomado por uma pressão avassaladora. O ar ao seu redor parecia se deformar.

O soco atravessou o espaço, encontrando o rosto de Kaito com uma força que parecia impossível.

O som seco do impacto reverberou pelo corredor.

O corpo de Kaito voou para trás, girando no ar antes de colidir violentamente contra a parede.

A estrutura tremeu. Uma rachadura se espalhou pelo concreto.

Kaito caiu de joelhos.

Pela primeira vez… ele não se levantou imediatamente.

O silêncio reinou.

Yoru ficou ali, ofegante, seus punhos ainda cerrados. Seu corpo tremia.

Mas ele sabia.

Dessa vez, Kaito não iria mais se levantar.

O ar, antes carregado de tensão e alívio, agora estava de volta ao mais puro caos. O golpe de Yoru, Golpe do Vazio, havia feito Kaito cair com brutalidade. Todos, exaustos e feridos, estavam começando a acreditar que finalmente o monstro havia sido derrotado. Eles baixaram a guarda, acreditando que a luta tivesse terminado. Mas, como sempre, a esperança foi fugaz.

Kaito se levantou.

O barulho do impacto ainda reverberava no corredor, mas Kaito, com seu corpo sangrento e seu olhar de puro ódio, se ergueu novamente, ignorando os danos que haviam sido infligidos a ele. Ele olhou para Yoru com um sorriso selvagem, os olhos brilhando com uma loucura incontrolável.

— Não vai ser assim. — Sua voz era grave, carregada de uma fúria inumana. — Eu não vou cair. Não importa o que você faça.

De repente, o corpo de Kaito parecia mais imponente do que nunca. Ele estava de pé, em total controle.

Antes que qualquer um pudesse reagir, Hiroshi, o mais próximo de Kaito, foi o primeiro a ser atingido. Kaito avançou com velocidade impressionante, muito além do que qualquer um poderia prever. Hiroshi, que havia se posicionado para reagir, foi pego de surpresa. Kaito, com um soco horizontal em movimento quase imperceptível, acertou o ombro de Hiroshi com uma força devastadora. O Taekwondo mestre não teve nem tempo de se defender, voando pelo ar como uma folha ao vento. Ele foi lançado contra a parede, quebrando a estrutura, seus ossos estalando.

Yoru viu tudo com os olhos arregalados. Ele mal podia acreditar que Kaito ainda estivesse de pé, e agora, ele se tornava ainda mais insano. O poder de Kaito ultrapassava qualquer compreensão. Ele estava lidando com algo que beirava o sobrenatural.

— Tsc, tsc, tsc… isso é patético, Yoru. — Kaito zombou, olhando para o grupo. — Você achou mesmo que podia me derrotar?

Ben, Sophie, Yoru e agora Mia, que se reergueu com dificuldades, estavam prontos para continuar. Mas a expressão de Yoru não era mais de alívio, mas sim de desespero controlado. Algo estava errado. Kaito não era humano. Ele havia ultrapassado todos os limites.

Ben avançou primeiro, seu boxe pesado, com os punhos fechados como martelos, tentava intimidar Kaito. O soco de Ben foi preciso, tentando acertar o que seria uma abertura no peito de Kaito. Mas Kaito desviou com um movimento quase telepático, mais rápido do que Ben jamais poderia prever. Ele se abaixou, e com um giro rápido, acertou o estômago de Ben com um socão vertical que fez o corpo do boxeador voar para trás, caindo pesadamente no chão.

Sophie, sem hesitar, entrou na batalha com um chute duplo, mirando a cabeça e o peito de Kaito. Mas Kaito, em um movimento incrivelmente rápido, segurou sua perna no ar. Sophie tentou se livrar, mas Kaito a ergueu do chão e, com um movimento de força descomunal, a jogou contra o lado da parede, fazendo-a bater contra o concreto com um estrondo.

A dor foi excruciante, e ela mal conseguiu reagir.

Mia tentou se aproximar com agilidade, tentando pegar Kaito pelas costas. Ele usou sua habilidades para encurrala-lo, mas Kaito, com uma agilidade sobre-humana, se virou com um movimento fluido, pegando Mia no ar e, sem qualquer esforço, arremessou-o contra o chão com um suplex violento, esmagando-o com sua força avassaladora.

Agora, todos estavam caídos ou fora de combate, exceto Yoru.

Yoru observava Kaito com olhos cheios de raiva e desespero, mas sua mente estava focada. Ele sabia que algo mais precisava ser feito. Ele não podia permitir que seus amigos sofressem mais.

— Você não vai ganhar! — Yoru gritou, seus olhos brilhando com intensidade.

Mas Kaito apenas riu, o som grave e torturante ecoando pelo corredor.

— Eu sou mais forte do que você pode imaginar, Yoru. — Kaito disse com uma calma arrepiante. — Você nunca vai ser capaz de me derrotar.

Yoru sentiu uma pressão esmagadora, mas não recuou. Ele respirou fundo e, com uma força renovada, seus punhos se cerraram. Ele sabia que precisava fazer algo drástico, ou tudo estaria perdido. O relógio estava correndo contra ele, e a batalha tinha se tornado uma luta pela sobrevivência.

Kaito se preparava para atacar novamente, uma pressão imensa em seus músculos, seus olhos brilhando com fúria incontrolável. O chão parecia tremer a cada passo dele. A força do adversário era inegável, e a cada segundo, Yoru sabia que o peso da derrota estava sobre ele e seus amigos.

Mas ele não podia parar. Não agora.

Se ele caísse, todos cairiam com ele. E, no fundo de seu ser, ele sabia que a última chance estava em suas mãos.