Capítulo 91 - Uma força mais que monstruosa

O ar estava denso, carregado de um peso que só os dois ali podiam sentir. O corredor, antes repleto de gritos e caos, agora era um palco silencioso para os últimos combatentes. Kaito, de pé, com o corpo ferido, mas ainda imponente, olhava para Yoru como se ele não fosse nada além de um obstáculo irritante.

Yoru, por sua vez, sentia o suor escorrendo pelo rosto misturado ao sangue. Ele estava exausto. Seu corpo já tinha ultrapassado os limites. Cada músculo gritava, cada osso parecia trincar com o mínimo movimento. Mas ele não podia parar. Não agora.

O silêncio foi quebrado.

Yoru avançou.

Com um piscar de olhos, ele se lançou para frente, utilizando o passo de sombra para sumir da visão de Kaito. A estratégia era simples: atacar rápido e desaparecer. Ele sabia que não venceria Kaito em força bruta, então precisava encontrar uma brecha.

Kaito riu.

— Vai continuar fugindo? Que patético.

Mas no instante seguinte, o punho de Yoru explodiu contra seu rosto.

Kaito cambaleou um pouco para trás, surpreso com a velocidade. Antes que pudesse reagir, Yoru já estava se movendo novamente, seus pés deslizando pelo chão enquanto desviava de possíveis contra-ataques. O magrelo tinha um plano: desferir golpes rápidos e cortar o monstro aos poucos.

O ambiente ao redor se tornava parte da luta. Yoru usava os escombros, pulava sobre cadeiras quebradas e paredes rachadas para manter a vantagem. Mas Kaito era um animal. Ele avançava, ignorando as táticas, arremessando cadeiras e destroços para bloquear os movimentos do oponente.

Yoru girou no ar, evitando uma mesa que voou em sua direção, pousando com perfeição e contra-atacando com um Gancho de Potência. Seu punho acertou em cheio o queixo de Kaito, fazendo a cabeça dele girar. Era sua chance!

Ele encaixou um golpe duplo, um cruzado no lado direito e um direto no peito, cada impacto ecoando pelo corredor. Mas Kaito sorriu.

— Você realmente acha que pode me derrubar?

Yoru mal teve tempo de reagir. O punho de Kaito perfurou seu estômago.

O ar escapou de seus pulmões. Seu corpo se curvou involuntariamente, e antes que pudesse pensar em um contra-ataque, Kaito segurou sua cabeça com brutalidade e o arremessou contra a parede.

A parede rachou. O impacto foi tão forte que o corpo de Yoru quase afundou no concreto. Ele engasgou com o próprio sangue.

Mas não podia parar.

Cambaleando, Yoru se ergueu, respirando pesadamente. Seus olhos estavam fixos em Kaito. Ele não podia cair. Não aqui.

Kaito bufou, limpando o sangue que escorria do lábio.

— Você realmente é um rato persistente…

Sem mais palavras, ele avançou.

Yoru tentou usar o Passo de Sombra para desviar, mas Kaito leu seu movimento.

Um chute devastador atingiu sua perna, quebrando sua postura.

Yoru vacilou, e foi o suficiente para Kaito pegar sua cabeça e jogá-lo de cara no chão.

O concreto trincou.

O mundo girou. O gosto metálico de sangue encheu sua boca.

Mas Kaito não parou. Ele pegou Yoru pelo colarinho e o ergueu no ar.

— Agora você morre, magrelo.

Yoru tentou reagir. Tentou levantar os braços. Mas o punho de Kaito veio como um martelo.

O impacto afundou seu rosto.

Seu corpo foi arremessado como uma boneca de pano pelo corredor, quicando no chão antes de colidir contra uma pilastra destruída.

E então, o silêncio voltou.

Yoru não se mexia. Será que tinha acabado?

O corpo de Yoru estava em frangalhos. Seus músculos gritavam, seu rosto latejava, e a visão começava a ficar embaçada. Ele estava à beira do desmaio.

Mas naquele momento, algo dentro dele o puxou de volta.

Em meio à dor e ao caos, memórias de sua mãe surgiram como um sussurro distante. Mei Akemi. A mulher que sempre esteve envolta em mistério, a sombra que ele perseguia desde o início. Quem ela realmente era? Por que sua morte mudou tudo?

Yoru cerrou os punhos.

Ele se lembrou de suas lutas, de suas derrotas, de cada queda que o trouxe até ali. Seu corpo queria ceder, mas sua alma não deixaria. Ele não podia perder. Não agora.

Com dificuldade, se apoiou nos joelhos, sentindo o gosto de sangue na boca. Então, lentamente, começou a se erguer mais uma vez.

O silêncio tomou conta do ambiente.

Kaito observava com um olhar frio, sem demonstrar reação. O monstro não parecia impressionado. Para ele, aquilo era apenas mais um corpo que deveria ter ficado no chão.

Yoru soltou os longos cabelos, sentindo-os cair sobre os ombros. Sua respiração estava pesada, mas seus olhos estavam afiados.

Então, ele murmurou.

— Abrir baú épico.

Um novo fluxo de poder percorreu seu corpo, uma onda quente que reacendeu sua energia. Seu corpo, mesmo machucado, respondeu como se tivesse recebido uma nova vida.

O sistema confirmou sua escolha.

Yoru sentiu as informações surgirem em sua mente. Uma nova forma de combate. Um estilo brutal, defensivo e ofensivo ao mesmo tempo, feito para luta de rua, criado para enfrentar múltiplos oponentes e resistir à pressão. Era um método que utilizava todo o corpo, protegendo a cabeça enquanto atacava com cotoveladas, joelhadas e golpes rápidos e devastadores.

Ele respirou fundo, absorvendo o novo conhecimento. Seu corpo já sabia o que fazer.

Levantou o olhar para Kaito, e pela primeira vez naquela luta, sorriu.

— Vamos de novo.

Kaito franziu a testa.

Yoru assumiu a nova postura, os braços protegendo a cabeça, os cotovelos prontos para atacar e bloquear ao mesmo tempo. Seu corpo inteiro estava preparado para guerra.

O segundo round começaria.

A poeira no ar se misturava ao cheiro de sangue e suor. O campo de batalha era um cenário de destruição, marcado por paredes rachadas, destroços e corpos feridos ao redor.

Mas, mesmo depois de tudo, três figuras se ergueram.

Yoru, agora com um novo estilo de luta pulsando em seu corpo.

Hayato, seu melhor amigo, limpando o sangue no rosto enquanto seus olhos queimavam com determinação.

Ben, exausto, mas firme, cerrando os punhos como um verdadeiro lutador.

Kaito os encarou, sua presença ainda avassaladora, mas algo mudou. Ele sentiu algo diferente no ar.

Hayato avançou primeiro.

Uma onda invisível de pressão emanou de seu corpo. Era como se o próprio ambiente se curvasse à sua vontade, como se a atmosfera se tornasse mais densa ao redor de Kaito. Sua respiração ficou mais pesada, seus movimentos levemente mais lentos. Não era algo extremo, mas contra lutadores como aqueles, cada fração de segundo contava.

Yoru percebeu a abertura.

Com a velocidade de um predador, ele avançou com o Método Keysi. Sua guarda alta protegia a cabeça enquanto seu corpo girava, lançando uma cotovelada brutal direto no queixo de Kaito. O impacto fez o pescoço dele estalar, mas antes que pudesse reagir, Ben se moveu.

Ben disparou um direto poderoso no estômago de Kaito, afundando o punho como se estivesse tentando esmagar seus órgãos internos.

Kaito cambaleou um passo para trás.

Pela primeira vez, parecia que ele sentia a pressão.

Mas então, com um rugido, explodiu para frente.

Seu punho varreu o ar, mirando Yoru com força destrutiva. Mas Yoru, agora adaptado ao Keysi, não recuou. Em vez disso, usou seu antebraço para bloquear, desviando o golpe para o lado e abrindo espaço para outra cotovelada feroz na têmpora de Kaito.

Hayato e Ben aproveitaram.

Os dois atacaram juntos. Diretos, cruzados, ganchos.

Os punhos de Hayato eram rápidos e letais, cada soco explodindo contra o corpo de Kaito como marteladas. Ben, por outro lado, atacava com precisão, mirando pontos vitais, quebrando a defesa de Kaito golpe após golpe.

A luta virou uma tempestade de violência pura.

Yoru girava com golpes curtos e impactantes, usando cotoveladas e joelhadas como um verdadeiro guerreiro de rua. Hayato, com sua presença opressora, mantinha Kaito preso, enquanto Ben castigava o oponente com socos cirúrgicos.

Kaito rugiu, tentando contra-atacar, mas pela primeira vez… ele estava sendo encurralado.

Mas isso não significava que ele tinha perdido.

Com um movimento insano, Kaito agarrou Yoru pelo ombro e o arremessou contra uma pilastra, fazendo o concreto rachar.

Em seguida, desviou de um golpe de Hayato e o acertou com um soco brutal no abdômen, fazendo seu corpo dobrar de dor.

Ben tentou surpreender com um direto rápido, mas Kaito previu. Pegou o punho de Ben no ar e o puxou para um clinch mortal, onde desferiu três joelhadas esmagadoras contra suas costelas antes de jogá-lo no chão.

Todos os três caíram.

A vantagem que tiveram por alguns instantes desapareceu como fumaça.

Kaito, ofegante, mas ainda dominando a luta, passou a língua pelos lábios ensanguentados.

— Isso foi divertido.

Yoru cuspiu sangue e, mesmo sentindo o corpo destruído, se levantou.

Hayato e Ben, mesmo quebrados, também se ergueram.

A luta ainda não tinha acabado.