Capítulo 96 - Algo grande está chegando
A cidade estava silenciosa, mas a mente de Yoru não.
Seus pensamentos martelavam a discussão com Hina.
Cada palavra dela ainda ecoava dentro dele.
“E quem vai te proteger, Yoru?”
Ele cerrou os punhos dentro do bolso do casaco.
Ela estava certa, mas… ele não podia mudar.
Não agora.
Seus passos eram firmes, mas sua mente estava presa.
O vento frio da tarde passava por seu rosto, enquanto as ruas começavam a se esvaziar.
Ele queria pensar em algo diferente.
Queria tirar aquilo da cabeça.
Mas não conseguia.
Até que…
Um som chamou sua atenção.
Vozes.
Risos.
E um tom diferente.
Yoru olhou para o lado e viu um beco, meio escuro, entre dois prédios.
Lá dentro, um grupo de garotas estava cercado.
E em volta delas… quatro delinquentes.
O uniforme preto e vermelho denunciava de onde eram.
Escola 27.
O peito de Yoru se encheu de fúria instantaneamente.
Seus pensamentos sobre Hina sumiram no mesmo instante.
Agora… só havia uma coisa em sua mente.
Ele não deixaria aquilo acontecer.
Yoru se aproximou.
Seus passos ecoaram no chão de concreto.
O grupo de delinquentes olhou para trás.
O que parecia ser o líder – um cara alto, forte, cabelos loiros espetados – arqueou a sobrancelha.
— Hm? O que temos aqui?
Yoru não respondeu.
Apenas parou na entrada do beco, bloqueando a saída.
As garotas, visivelmente desconfortáveis, olharam para ele com um misto de esperança e medo.
O loiro sorriu de canto.
— Você parece familiar…
Ele inclinou a cabeça.
— Ah, já sei.
Os outros delinquentes riram.
— Yoru. Líder da Escola 25.
Yoru manteve-se firme.
— O que vocês estão fazendo?
O loiro deu de ombros.
— Apenas conversando.
— Não parece.
O loiro estreitou os olhos.
— Isso não é da sua conta.
Yoru trincou os dentes.
O ódio dentro dele crescia.
Esse tipo de gente…
Ele odiava esse tipo de gente.
— Saiam daqui — o Yoru disse com uma frieza extrema
O loiro riu.
Os outros o acompanharam.
— E se eu não quiser?
Yoru tirou as mãos do bolso.
Os delinquentes pararam de rir.
Havia algo na forma como ele fez isso.
Algo assustador.
O loiro franziu a testa.
— Está falando sério?
Yoru não respondeu.
Mas seu olhar dizia tudo.
Os delinquentes engoliram seco.
O loiro rangeu os dentes, irritado.
— Tsk. Vamos sair daqui.
Ele fez um sinal com a mão e começou a andar para fora do beco.
Mas, ao passar por Yoru…
Ele sussurrou algo.
— Isso não vai ficar assim.
Yoru não respondeu.
Apenas ficou parado, observando-os sair.
As garotas suspiraram aliviadas.
Uma delas olhou para Yoru.
— O-obrigada…
Ele não disse nada.
Apenas deu um leve aceno com a cabeça e se virou.
Ele não estava satisfeito.
Aquele grupo…
Ele sabia que iria vê-los novamente.
Mas quando isso acontecesse…
Ele estaria pronto.
O vento soprava suavemente, carregando consigo a poeira fina das ruas da cidade.
A confusão e o nojo que Yoru sentia pelo que tinha acabado de presenciar ainda pulsavam em seu peito.
Ele observou as garotas se afastando, ainda um pouco tensas, algumas murmurando entre si.
Mas uma delas ficou para trás.
Ela se aproximou.
Tinha um olhar curioso e confiante.
Seus cabelos eram loiros, levemente ondulados, e seus olhos azuis reluziam sob a iluminação fraca dos postes.
Ela carregava um ar de nobreza, como se estivesse acostumada a sempre estar no controle da situação.
Yoru a observou de relance, mantendo sua postura fechada e séria.
— Você é Yoru, certo? Líder da Escola 25.
A voz dela era firme, sem hesitação.
Yoru arqueou uma sobrancelha.
— E quem pergunta?
Ela sorriu de canto.
— Eyvina Alice, da Escola Feminina.
O nome soou estranho para Yoru.
Ele sentiu algo na parte de trás da cabeça, uma memória distante tentando emergir.
Alice…
Ele já tinha ouvido esse sobrenome antes.
Mas… onde?
Yoru permaneceu em silêncio por alguns segundos, tentando forçar sua mente a lembrar.
Eyvina notou sua expressão e sorriu.
— Parece que você reconheceu meu sobrenome.
Ele a encarou.
— Talvez.
Ela inclinou levemente a cabeça.
— Bem, não é tão importante agora. Eu só queria agradecer.
— Não precisa.
— Mesmo assim, obrigada.
O silêncio se instalou entre os dois por alguns instantes.
Eyvina cruzou os braços e o observou.
— Você não tem jeito, hein?
— O quê?
— Parece do tipo que carrega tudo sozinho.
Ele desviou o olhar.
Não estava com paciência para conversas desse tipo.
— Não sou.
— Ah, claro que é.
Ele bufou, irritado.
— E você me conhece de onde pra afirmar isso?
Eyvina riu baixinho.
— Não preciso te conhecer. Seu olhar diz tudo.
Yoru suspirou, massageando a têmpora.
— Você sempre dá palpite na vida dos outros?
— Só naqueles que chamam minha atenção.
Ele cruzou os braços.
— Eu te chamei atenção?
— Sim.
Yoru não soube o que responder.
Eyvina puxou o celular do bolso e mexeu rapidamente na tela.
Depois, ergueu o olhar para ele.
— Me passa seu número.
Yoru piscou algumas vezes, surpreso com a abordagem direta.
— … Hã?
— Seu número. Me passa.
Ele franziu a testa.
— Por quê?
— Porque eu quero.
Yoru sentiu um leve desconforto.
Ele não sentiu nenhuma malícia no pedido, mas por que ela queria o número dele?
Ela parecia completamente tranquila, como se não fosse nada demais.
E para ela, talvez não fosse.
Mas para ele…
Yoru suspirou.
Pegou o celular, digitou seu número no dela e entregou de volta.
Eyvina sorriu.
— Obrigada.
Ela guardou o telefone e começou a se afastar.
— Nos vemos por aí, Yoru.
Ele ficou parado, vendo-a se distanciar.
E então…
O nome voltou a ecoar em sua mente.
Alice.
Alice.
Alice.
De onde ele conhecia esse nome?
Era como um zumbido incômodo em sua cabeça.
Uma memória antiga, enterrada.
Mas que agora… insistia em voltar à tona.
Yoru franziu o cenho, apertando os punhos.
Ele precisava lembrar.
…
A noite caía sobre a cidade, e o céu escuro era iluminado apenas pelas luzes artificiais dos postes e prédios ao redor.
Yoru abriu a porta de casa, jogou a mochila no sofá e caminhou direto para o banheiro.
A água quente escorria por seu corpo, levando consigo o cansaço e as preocupações do dia.
Mas não levava os pensamentos.
Alice.
Onde ele já tinha ouvido esse nome antes?
Mesmo enquanto a água batia em seu rosto, sua mente trabalhava sem parar, tentando conectar os fios soltos de sua memória.
Depois de alguns minutos, ele saiu do banho, vestiu roupas leves e caminhou até a cozinha.
Abriu a geladeira, pegou alguns ingredientes e começou a preparar seu jantar.
Era um prato simples.
Mas não era qualquer prato.
Era o mesmo que sua mãe costumava fazer para ele quando era criança.
Ele cortava os ingredientes com calma, sentindo o cheiro familiar se espalhar pela cozinha.
Cada movimento seu parecia automático, guiado por anos de memória muscular.
Enquanto mexia a panela, flashes de sua infância passavam em sua cabeça.
A voz suave de sua mãe.
O calor do fogão.
O cheiro que fazia sua barriga roncar e o coração se aquecer.
Por um momento…
Ele se sentiu em casa de novo.
Ele fechou os olhos por alguns segundos, respirou fundo e abriu novamente.
A comida ficou pronta.
Ele colocou no prato e começou a comer, lentamente.
Cada garfada era como uma viagem ao passado.
Mas ele não se permitia ficar preso ali.
Tinha coisas demais para pensar.
E enquanto ele comia…
Do outro lado da cidade, na área da Escola 27,em um restaurante luxuoso.
Luzes quentes iluminavam o ambiente, enquanto garçons caminhavam de um lado para o outro, servindo pratos requintados.
No fundo do estabelecimento, em uma área mais reservada, duas figuras estavam sentadas em uma mesa.
Um deles era Hiroshi.
O outro era Kaito Suzuki, o ex número 1 da escola 24 e agora a maior força da Escola 27.
Kaito segurava os hashis com precisão, pegando pedaços de carne e levando-os à boca sem pressa.
Ele mastigava devagar, os olhos fixos no prato, enquanto Hiroshi falava.
— Precisamos de uma formação forte. Não podemos ir contra a Escola 25 sem um plano bem estruturado.
Kaito continuou comendo, sem demonstrar interesse.
Hiroshi suspirou, mas continuou.
— Primeiro, precisamos dividir nosso time em três setores. A linha de frente, que vai lidar diretamente com os lutadores mais fortes deles…
Kaito ergueu o olhar por um momento, mas logo voltou a se concentrar na comida.
— A retaguarda, que vai dar suporte e observar pontos fracos…
Hiroshi percebeu que Kaito não estava nem um pouco interessado na estratégia.
Ele largou os hashis e cruzou os braços.
— Você tá ouvindo?
Kaito terminou de mastigar e respondeu com um tom calmo:
— Não importa a estratégia.
Hiroshi franziu o cenho.
— O que quer dizer?
Kaito pegou um guardanapo e limpou a boca.
Depois, olhou diretamente para Hiroshi, com um olhar frio e decidido.
— Eu só quero lutar contra Yoru e os outros.
Hiroshi ficou em silêncio por alguns segundos.
Ele já esperava esse tipo de resposta.
Mas ainda assim, era frustrante.
— Kaito, eu entendo sua sede por luta, mas não podemos agir sem pensar. Se formos apenas no instinto, vamos acabar igual a vocês da escola 24
Kaito deu uma leve risada.
— Eu agora sou muito mais forte que todos das 35 escolas, eu tenho noção da minha real força atualmente.
Ele apoiou o cotovelo na mesa e inclinou a cabeça para o lado.
— Você quer um plano? Então faça o seu plano. Mas eu não vou seguir regras.
Hiroshi fechou a cara.
— Então por que diabos aceitou ficar na Escola 27?
O sorriso de Kaito sumiu.
Seus olhos ficaram sombrios.
— Porque eu quero vingança.
A tensão na mesa aumentou.
Hiroshi percebeu que aquilo não era só sobre lutas.
Para Kaito, era pessoal.
Ele queria esmagar Yoru e sua escola.
Queria provar que era superior.
Hiroshi soltou um longo suspiro.
— Certo. Faça o que quiser. Mas não atrapalhe meu time.
Kaito apenas sorriu de canto.
— Não se preocupe. Quando a hora chegar…
Ele se inclinou para frente.
— Eu vou acabar com a Escola 25.
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