Capítulo 116: Dezenove Anos (2/16)
Fazia dois anos desde que Eugene entrou em Akron. Desde então, vinha visitando o lugar quase todos os dias e passava cerca de metade de suas horas acordado no Salão de Sienna.
Isso não era particularmente impressionante nem surpreendente. Todos os magos que recebiam permissão para entrar em Akron, como Eugene, se dedicavam diligentemente ao estudo da magia.
A maioria dos magos que recebiam essa permissão possuíam um orgulho e confiança avassaladores em suas habilidades mágicas. Mas, ao refiná-las ainda mais, buscavam alcançar as verdades supremas.
Então, não era natural?
Mer existia há mais de duzentos anos. Os magos que haviam sido autorizados a entrar em Akron agora eram Mestres das Torres, Líderes da Guilda dos Magos, membros da Corte Mágica de Aroth ou até da família real de Aroth. Todos nasceram com um talento mágico raro e, àquela altura, já haviam provado seu valor como magos.
Para eles, Feitiçaria era uma obra mágica incrível deixada por sua predecessora. O ápice da magia dos Círculos, o Buraco Eterno. Qualquer mago que entrasse em contato com a Feitiçaria pela primeira vez não podia deixar de ficar impressionado e maravilhado com sua grandiosidade.
Nas visitas seguintes, esses magos tentavam aos poucos compreender e explorar o conteúdo da Feitiçaria. Mas, eventualmente, acabavam percebendo:
Que aquela verdade não era algo que pudessem alcançar naquele momento.
A partir daí, as visitas iam diminuindo. Embora Feitiçaria fosse uma obra magnífica, os Arquimagos com acesso a Akron já haviam estabelecido suas próprias fórmulas mágicas, e nenhum deles estava numa posição que lhes permitisse se dedicar inteiramente à replicação da Feitiçaria. A admiração e o espanto não sumiriam, e eles continuariam referenciando a Feitiçaria em suas próprias magias, mas… no fim, buscariam concluir suas próprias fórmulas mágicas únicas por meio de pesquisas independentes.
Nesse sentido, Eugene era único.
Ou, ao menos, era assim que Mer o via. Talvez fosse por ser jovem, ou por ainda não ter estabelecido sua própria fórmula mágica. Ou talvez fosse só por ter uma mente mais flexível. Ou então porque não tinha tanto orgulho assim da própria identidade como mago. Provavelmente, era uma soma de tudo isso.
Nesses dois anos, Eugene passara metade de todo o tempo acumulado em Akron imerso na Feitiçaria sem nunca desmaiar ou ter sangramento nasal. A cada sessão, depois de passar um bom tempo analisando Feitiçaria… ele saía para estudar os textos mágicos guardados no Salão de Sienna.
Que sentido havia em ver aquela cena várias e várias vezes? Se ele não conseguiria entender de qualquer forma. Dizem que se um chapim tentar andar como uma garça, só vai acabar rasgando a virilha, mas o nível de habilidade mágica de Eugene em comparação com o que era exigido pela Feitiçaria nem chegava a esse ponto. Era mais como a diferença entre uma minhoca e um dragão, ou entre um inseto e um deus.
Ele havia almejado alto demais.
Provavelmente por ser um jovem mestre do clã Lionheart, um degrau acima até das famílias mais prestigiadas. E não era só um jovem mestre qualquer. Era alguém que antes pertencia a um ramo colateral e foi o primeiro da história a ser adotado pela família principal após ter seu talento reconhecido, não era? Para os outros, parecia óbvio que Eugene estava cego pela própria genialidade e havia colocado o objetivo num patamar impossível de alcançar.
Mas…
Eugene era capaz de compreender a Feitiçaria. Não… será que dava pra chamar isso de compreensão? Era mais como enfiar tudo à força dentro da própria cabeça. Mer o observava fazia dois anos, mas ainda não conseguia aceitar que o comportamento de Eugene fosse algo razoável.
Mer enfim perguntou:
— …Se você realmente conseguir terminar a tese, vai deixar Aroth?
— Você tem ideia de quantas vezes já me perguntou isso? — Eugene devolveu a pergunta.
— Incluindo hoje, é a centésima trigésima sétima — Mer respondeu.
— Isso parece certo. Comecei a escrever a tese faz mais ou menos meio ano… então você tem me feito essa pergunta quase uma vez por dia.
— Teve dois dias em que eu não perguntei — Mer insistiu, emburrada. — Tá bom. Sendo sincera… eu não quero que você vá embora de Aroth.
— Se eu não for embora, o que eu vou fazer aqui? — Eugene perguntou.
— Você pode fazer o que quiser. Eu não sei quando o Mestre da Torre Vermelha vai se aposentar, mas… Sir Eugene, se disser que deseja se tornar o próximo Mestre da Torre, o atual provavelmente aprovaria você como sucessor sem hesitar.
— Não tenho intenção nenhuma de virar mestre de torre.
— Então que tal os Magos da Corte? O Trempel Vizardo também está super interessado em recrutar você, não está?
Trempel Vizardo era o Comandante dos Magos da Corte de Aroth. Fazia cerca de um ano que vinha tentando se aproximar de Eugene para recrutá-lo para a Corte.
— O príncipe herdeiro Honein também gosta muito de você, Sir Eugene. Na minha opinião, a linhagem do príncipe Honein ainda vai continuar a ganhar destaque por muitas décadas, até alcançar além das fronteiras de Aroth — Mer continuou tentando convencê-lo.
— Embora eu agradeça pelo apreço do príncipe, isso também não me atrai — Eugene recusou a sugestão.
— Você não vai conseguir se tornar Patriarca de qualquer forma, então por que precisa voltar para o clã Lionheart? — Mer argumentou.
— Preciso mesmo de um grande motivo só pra voltar pra casa? — Eugene apenas perguntou.
— E desde quando você é tão apegado à sua casa assim? — Mer resmungou.
Quando ouvira Eugene mencionar a tese pela primeira vez, Mer não tinha dado muita importância.
Afinal, embora as conquistas de Eugene fossem impressionantes, elaborar uma tese sólida com seus achados não seria nada fácil.
No entanto, o crescimento de Eugene superou tudo que Mer poderia imaginar. Tinha se passado apenas meio ano desde que começara a escrever, mas Eugene já havia organizado de forma coerente suas teorias mágicas, que antes eram vagas, e as transformado em uma hipótese estruturada. Durante esse processo, ele conseguiu avançar sua própria fórmula mágica única em vários estágios.
— …Essa tese, você realmente não pretende publicar? — Mer perguntou.
— Não — Eugene respondeu com um leve balançar de cabeça.
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