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    Nina voltou da casa principal, após cumprir as ordens de Eugene. Secretamente, ela havia se preparado para receber críticas amargas dos outros criados da propriedade, mas, surpreendentemente, eles não a trataram com hostilidade.

    — Foi o Mestre Eugene que mandou você perguntar isso?

    — Sim.

    — Entendido. Hoje, depois do meio-dia…

    Embora demonstrassem certa cautela, responderam a todas as perguntas com educação. Sentindo-se confusa com isso, Nina seguiu para o ginásio do anexo.

    — …Senhorita Ciel? — Nina perguntou, arregalando os olhos diante da cena à sua frente.

    — Ah, oi, criada — cumprimentou Ciel casualmente.

    — O nome dela é Nina — informou Eugene.

    Ciel se corrigiu — Oi, Nina…

    Ela sorriu enquanto se equilibrava sobre um corpo em movimento. No momento, estava sentada nas costas de Eugene, segurando um monte de sacos de areia.

    — B-Bom dia, senhorita…

    Nina se curvou tardiamente. Mas, mesmo assim, deu uma espiada discreta para ver o que Eugene estava fazendo. Com o suor escorrendo do corpo como chuva, ele se concentrava intensamente em fazer flexões.

    — …Em que número você está agora? — perguntou Ciel.

    — Noventa e oito, noventa e nove, cem — grunhiu Eugene. — Agora sai de cima.

    Boom!

    Ciel jogou os sacos de lado e desceu das costas de Eugene. Ele então desabou no chão, de bruços, recuperando o fôlego.

    Assim que conseguiu parar de ofegar, Eugene perguntou — …Descobriu?

    — Sim! — respondeu Nina, balançando a cabeça. — D-Deseja que eu traga água primeiro?

    — Não. Só diga agora — insistiu Eugene, ainda deitado.

    — Os Mestres Deacon, Hansen e Juris devem chegar depois do meio-dia — respondeu Nina rapidamente. — E os Mestres Gargith e Dezra vão chegar por portal de teletransporte por volta da hora do jantar.

    — E eu curiosa pra saber o que você estava investigando — comentou Ciel, entre risos, cutucando as costas de Eugene. — Podia ter me perguntado direto, por que não fez isso?

    — Já tinha mandado a Nina descobrir, então, se eu ouvisse de você primeiro, isso faria da missão dela um desperdício — explicou Eugene.

    — E o que tem isso?

    — E a gente também estava no meio do treino — continuou Eugene, ignorando a pergunta.

    Estava com preguiça de discutir. Eugene reuniu forças e puxou o corpo do chão até sentar-se.

    — Então você está dizendo que três vão chegar de carruagem e dois por portal de teletransporte? — confirmou Eugene.

    — Sim — respondeu Nina.

    Só pela forma como estavam chegando, já se via a diferença de tratamento entre eles. Mas até Eugene sabia o motivo. Aqueles dois vinham de famílias colaterais de alto escalão.

    — Você não sabe quem são Gargith e Dezra, né? — perguntou Ciel.

    — Conheço os nomes, mas nunca encontrei com eles — revelou Eugene.

    — Esses dois são bem fortes, considerando que são descendentes colaterais.

    — Sei que as famílias deles são influentes. E os outros três?

    — Nem sei de onde vêm. São parecidos com você nesse aspecto. Ah, mas é claro que você é muito mais forte.

    Pelo visto, esses três também vinham de famílias colaterais pequenas.

    Ignorando esses três por ora, Eugene perguntou — …E quanto a Gargith e Dezra? Já os conheceu antes?

    — Eles vieram para a festa de aniversário de dez anos minha e do meu irmão.

    — Que tipo de pessoas são eles?

    — O Gargith é um chato. É um ano mais velho que eu… A Dezra é mais nova, mas também não é divertida.

    Por não ser divertidos, será que queria dizer que não dava pra zoar com eles?

    Eugene tirou um momento para organizar os pensamentos. “Três da linha principal e seis da linha colateral, contando comigo.”

    Embora tivessem dito que todos chegariam até o quarto dia no máximo, parecia que iam se reunir antes do esperado.

    — Você sabe quando começa a Cerimônia de Continuação da Linhagem? — ele perguntou.

    — Como ela começa quando todos estiverem reunidos… talvez hoje? — respondeu Ciel.

    — Provavelmente amanhã. Duvido que comecem logo de cara. E qual vai ser a forma da cerimônia este ano?

    — Não sei — disse Ciel, balançando a cabeça.

    — Não mente pra mim — rosnou Eugene.

    — Eu juro que não sei — retrucou Ciel, emburrada. — É tradição o chefe da família decidir como vai ser a cerimônia. Mas como meu pai não está aqui agora… Hmmm… Mas minha mãe disse que ele voltaria em breve. Enfim, eu realmente não sei.

    Eugene não conseguia acreditar completamente. Sendo descendente direta da família principal, ela deveria ter ouvido algo, não?

    “…Meu pai disse que, na época dele, doze pessoas competiram num torneio”, Eugene recordou. “E na última cerimônia, fizeram os participantes vagar por uma floresta durante dez dias.”

    A forma mudava a cada edição, mas a essência era sempre a mesma. A Cerimônia de Continuação da Linhagem servia para julgar de forma justa a qualidade das futuras gerações que herdariam o nome Lionheart. Mas, infelizmente, por mais que essa fosse a intenção, a vida não era justa. No fim, eram os filhos da família principal, que treinavam a mana desde a infância, que se destacavam na cerimônia.

    Desde a primeira vez que ouviu falar da cerimônia, Eugene achou aquilo uma tradição estranha.

    Por isso, jurou que ele mesmo inverteria os papéis durante a Cerimônia de Continuação da Linhagem.

    “Vermouth, não tenha pena dos seus descendentes quando eu terminar de bagunçar com eles”, Eugene falou em pensamento com Vermouth, que provavelmente já estava no céu, enquanto puxava o corpo rígido do chão. “Afinal, não fui eu que pedi pra reencarnar como seu descendente.”

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