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    Essas palavras surpreenderam tanto Lovellian quanto Eugene. De acordo com Mer, os dois volumes finais de Feitiçaria ainda deveriam estar em posse de Sienna.

    — Desde quando a Família Real pôs as mãos nesses volumes? — exigiu Lovellian, com uma expressão severa.

    Sentindo o peso do olhar penetrante sobre si, Honein apressou-se em acrescentar uma explicação:

    — Por favor, não entenda mal. Os volumes guardados no tesouro real são apenas cópias que Dama Sienna deixou como presente à família real. Nem mesmo a própria família real sabe onde Dama Sienna se encontra atualmente, tampouco onde estão os dois volumes originais.

    — …Isso é mesmo verdade? — Lovellian perguntou, desconfiado.

    — Não tenho motivo algum para mentir — Honein deu de ombros.

    Lovellian encarou Honein por alguns momentos antes de soltar um longo suspiro. Como o caso de Feitiçaria ter sido escondido pela família real datava de centenas de anos atrás, seria ridículo discutir isso com o Príncipe Herdeiro, que ainda estava na casa dos vinte. Mesmo assim, embora contivesse sua raiva, Lovellian ainda achava surpreendente que o Príncipe estivesse revelando uma carta tão secreta apenas para atrair Eugene.

    — Está dizendo que vai me deixar ver sua cópia de Feitiçaria? — Eugene confirmou.

    — Bem, não seria algo possível de imediato — admitiu Honein com um sorriso torto, lançando um olhar a Lovellian. — Feitiçaria é o maior grimório da história da magia. Embora seja verdade que conto com o favor de Sua Majestade, quando se trata de Feitiçaria, nem mesmo eu tenho liberdade para usá-lo como quiser. No entanto… uma vez que eu ascenda ao trono, terei um pouco mais de liberdade para agir conforme meus desejos.

    — … — Eugene ficou em silêncio.

    — Parece que finalmente fiz uma proposta tentadora. Sir Eugene, se eu de fato subir ao trono, juro usar todo o meu poder para permitir que você estude Feitiçaria — prometeu Honein. — …Embora eu receie que seja difícil estender essa mesma oferta ao Mestre da Torre Vermelha.

    — Se o senhor vai me permitir ler, não posso simplesmente fazê-lo junto com meu mestre? — Eugene perguntou com esperança.

    — Se o Mestre da Torre Vermelha estiver disposto a se juntar aos Magos da Corte, talvez eu possa reconsiderar — contrapôs Honein.

    — Mas se for assim — Eugene especulou — então parece que seria impossível para mim assumir o cargo de Comandante dos Magos da Corte.

    — Se conheço o Mestre da Torre Vermelha tão bem quanto imagino, suspeito que ele não se interessaria pelo cargo, não é? — Honein voltou-se para Lovellian.

    — Parece que realmente me conhece bem — respondeu Lovellian com um sorriso. — Por esse grimório, sua oferta seria suficiente para tentar qualquer um, mas não tenho a menor intenção de deixar a Torre Vermelha da Magia. Também não desejo me tornar membro dos Magos da Corte.

    — Se for do seu desejo, posso providenciar uma posição adequada — Honein ainda tentou persuadi-lo. — Seria apenas uma questão de mudança de afiliação; nada lhe seria exigido que incomodasse ou perturbasse seu trabalho atual.

    — Não, estou bem onde estou — Lovellian recusou. — Quanto a Feitiçaria… embora esteja muito tentado, não quero seguir cegamente os passos da minha mestra. Porque eu também tenho minha própria forma ideal de magia a perseguir.

    — Nesse caso, e você, Sir Eugene? — Honein se voltou para ele.

    Mas será que Eugene realmente precisava considerar?

    Nos últimos dois anos, Eugene havia sentido na pele o quão extraordinário era o grimório Feitiçaria. Mesmo após estudá-lo centenas de milhares de vezes, ainda era difícil de compreender. Era difícil o bastante com o livro diante dos olhos… e, mesmo assim, Sienna o havia criado sozinha desde o início.

    Se apenas o volume armazenado em Akron já era tão inacreditável, quão extraordinários seriam os dois volumes restantes?

    E não era só isso. Talvez houvesse pistas sobre o paradeiro atual de Sienna nos volumes restantes. Embora, se tais pistas existissem, a família real de Aroth, guardiã dos volumes, já deveria tê-la encontrado de alguma forma…

    “É possível que simplesmente não tenham conseguido entender, mesmo que tivessem visto”, Eugene se convenceu.

    Ele conhecia Sienna muito bem. Mesmo que a família real de Aroth não tivesse percebido as pistas que ela deixara, se fosse ele, talvez pudesse encontrá-las.

    Eventualmente, Eugene perguntou:

    — …Mas o senhor disse que, por ora, é impossível, certo?

    Se esse era o caso, então ele não poderia aceitar a proposta imediatamente. Se só seria possível acessar Feitiçaria depois da ascensão de Honein ao trono, então isso se tornava um assunto para ser decidido daqui a dez anos.

    — Sendo assim — Eugene continuou — com certeza passarei por Aroth depois que Vossa Alteza tiver ascendido ao trono. Podemos voltar a falar sobre isso quando esse momento chegar.

    — Está dizendo que vai considerar? — perguntou Honein.

    — É realmente uma proposta de dar água na boca, mas, sendo bem honesto, não há necessidade de me juntar aos Magos da Corte agora, certo? — apontou Eugene.

    Honein ficou pensativo por alguns instantes. Para ser sincero, ele esperava ouvir uma aceitação imediata, e assim recrutar Eugene para os Magos da Corte o quanto antes.

    Tudo isso era para garantir a estabilidade de seus planos. Embora seu direito de sucessão fosse inquestionável, para lidar com aquelas velhas raposas astutas do parlamento, ele precisava de um poder além daquele concedido por sua posição de herdeiro.

    Honein contava com o apoio dos Magos da Corte de Aroth. Mesmo naquele Reino Mágico, os Magos da Corte formavam um corpo mágico renomado por sua habilidade em magia de combate. No entanto, só isso não bastava, Honein sentia que não conseguiria conter o poder das Cinco Torres da Magia nem da Guilda dos Magos, esta última intimamente ligada ao Parlamento.

    A sorte era que, por ora, as Torres da Magia permaneciam neutras. Dito isso, a Guilda dos Magos ainda era motivo de preocupação. Mesmo formada por magos que não conseguiram entrar nas Torres, a guilda superava as Torres em número absoluto. Além disso, tinha uma relação estreita com o parlamento, que era quem realmente governava os assuntos de Aroth.

    Honein refletia sobre a situação: “As Torres da Magia estão apenas neutras por enquanto. Podem respeitar a família real, mas têm laços mais próximos com o Parlamento.”

    O rei reinava, mas não governava. Aroth seguia o sistema de monarquia constitucional havia centenas de anos. Os reis de Aroth só haviam conseguido manter o poder de governar o povo por algumas gerações após a morte do Fundador de Aroth, o Rei da Magia.

    Honein queria mudar isso. Desejava abandonar o papel meramente simbólico da família real e reformar Aroth. O parlamento, que deveria governar o povo com justiça, já mostrava sinais de corrupção desde sua origem. Magos negros que surgiram sabe-se lá de onde vinham se infiltrando na guilda e haviam estendido sua influência até o parlamento. Além disso, suspeitava-se que demonídeos de Helmuth e ricos de outros países estivessem comprando os parlamentares.

    Nesse contexto, o mestre da Torre Negra da Magia, Balzac Ludbeth, felizmente mantinha distância tanto do parlamento quanto da guilda, preservando sua neutralidade. Ainda assim, Honein não podia deixar de ficar atento a Balzac. Pelo bem de Aroth, todos os brotos perigosos precisavam ser arrancados pela raiz.

    Esse era o objetivo final de Honein, mas a família real atual não possuía esse tipo de poder. Seu pai, o rei, era um homem de vontade fraca, relutante em confrontar o parlamento ou a guilda. Por isso, Honein sentia que não tinha escolha a não ser tomar a dianteira.

    “Se eu conseguir convencer o Sir Eugene a se tornar o Comandante dos Magos da Corte… poderei contar com a força do clã Lionheart”, pensou Honein.

    Na verdade, ele não gostava de ter que fazer isso. Afinal, sendo um problema de Aroth, não deveria ser Aroth quem deveria resolvê-lo?

    Honein continuava tramando: “Se eu conseguir atrair Sir Eugene, tenho certeza de que o Mestre da Torre Vermelha também irá ajudar. É bem conhecido o quanto ele detesta o Mestre da Torre Negra…”

    No entanto, Honein não podia simplesmente falar abertamente e pedir ajuda a Eugene. Como Príncipe Herdeiro, ele não estava em posição de revelar a um forasteiro os segredos embaraçosos de Aroth. No fim das contas, ele só tinha suspeitas sobre a corrupção no parlamento. Na verdade, a própria Rua Bolero poderia ser vista como um foco de corrupção, mas a existência daquela rua também havia sido tacitamente permitida pela família real.

    Por fim, Honein respondeu:

    — …Nesse caso, mandarei uma carta assim que minha coroação for confirmada.

    — Agradeço por pensar tão bem de mim — respondeu Eugene.

    — A propósito, Sir Eugene, poderia me dizer o que exatamente conseguiu em Akron? — perguntou Honein, curioso.

    — Nada de impressionante — Eugene minimizou seus feitos. — Apenas… comecei a sentir que a magia realmente possui possibilidades extraordinárias, e consegui aprender uma pequena parte do conhecimento.

    — Entendo.

    A resposta de Eugene podia parecer vaga, mas Honein se deu por satisfeito. ‘Uma pequena parte do conhecimento’, ele disse. Se qualquer outro tivesse dito isso, Honein talvez não desse importância… mas quem havia falado era o jovem leão considerado o maior talento desde o Grande Vermouth.

    — Ouvi dizer que partirá de Aroth quando terminar a tese em que está trabalhando. Para onde pretende ir? — Honein mudou de assunto.

    — Vou comer caranguejos de gelo no Reino do Norte de Ruhr, depois planejo provar os escorpiões de cacto de Nahama — Eugene revelou.

    — …Você é um gourmet?

    — Sou.

    — Está falando sério?

    — Sim.

    — … — Honein ficou atônito:

    A reação de Honein não foi muito diferente da de Lovellian ao ouvir os planos de Eugene pela primeira vez. Honein lançou um olhar confuso para Lovellian, que apenas balançou a cabeça, em silêncio.

    — …Ser gourmet é um hobby bastante impressionante — Honein comentou, depois de se recompor.

    — Agradeço pela compreensão — respondeu Eugene, com um sorriso.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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