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    — Primeiro, deixa eu te perguntar uma coisa — disse Eugene, endireitando-se na cadeira. — As coisas de que a gente conversou… você pode repassar para outra pessoa?

    — Mas que saco, você está mesmo desconfiando de mim agora? — Mer retrucou, com os olhos se inflamando de raiva. — Está me perguntando isso porque tem medo de que eu tenha contado para outro mago o que discutimos sobre a sua tese?

    — Bom, você contou alguma coisa?

    — Claro que não! Sir Eugene, tem ideia do quanto aqueles filhos da mãe, o Mestre da Torre Verde e outros, têm me enchido o saco quando você não está por perto?

    — Mesmo que não tenha contado nada, não poderiam simplesmente forçar você a falar?

    — Hah! Não sabia que você era esse tipo de pessoa, Sir Eugene. Está dizendo que não consegue confiar nem em mim? Mesmo que aqueles desgraçados tentassem dissecar a Feitiçaria e a mim, eu nunca contaria nada.

    — Por quê?

    — Porque fui programada para não contar! Isso não é algo especial sobre você; é uma função feita para preservar a segurança e privacidade de todos os magos com permissão para entrar em Akron. Eu tenho armazenadas as informações e conversas de todos os magos que fizeram pesquisas no Salão de Sienna, não só as suas, Sir Eugene, nos arquivos mais profundos da Feitiçaria. A menos que destruam a Feitiçaria por completo, não tem como as informações do Sir Eugene vazarem para o mundo exterior.

    — Tem certeza disso?

    Quando Eugene fez essa pergunta com um sorriso, Mer não aguentou mais e soltou um grito.

    Aaaargh, sério!

    Eugene deu uma risada ao vê-la lutando para recuperar o fôlego.

    — Já que está sendo tão cuidadosa, então certifique-se de que o que eu vou te contar agora não vaze para ninguém — ordenou Eugene.

    — Hah, eu já disse que não vou — Mer suspirou. — Quantas vezes você vai me perguntar isso…

    — Eu me lembro de ter reencarnado — Eugene a interrompeu.

    Assim que Eugene começou a falar, Mer imediatamente ficou em silêncio.

    Ela o encarou com os olhos semicerrados antes de cuspir:

    — Que tipo de besteira é essa?

    — Eu disse que me lembro de ter reencarnado — Eugene repetiu. — E ainda tenho as memórias da minha vida passada.

    — Não, eu ouvi — Mer bufou. — E por isso mesmo perguntei que tipo de besteira é essa. Está tentando zombar de mim agora? É tão sem graça que nem consigo forçar uma risada…

    — Meu nome na vida passada era Hamel Dynas — continuou Eugene, com a voz calma.

    Seu nome na vida passada era Hamel Dynas.

    Seu nome na vida atual era Eugene Lionheart.

    — Eu era o Estúpido Hamel — Eugene declarou.

    Mer não sabia o que deveria dizer diante daquelas palavras. Eugene era do tipo que costumava fazer piadas? Embora não fizesse o tempo todo, também não era como se ele nunca tivesse contado uma.

    Se fosse esse o caso, será que ela deveria tratar aquelas palavras como uma piada rara?

    “Certo, entendi. Então você era o Estúpido Hamel na vida passada. Já que foi honesto comigo, me permita contar meu segredo também.”

    “Na verdade, eu sou a Sábia Sienna. Hamel, seu desgraçado.”

    Ela estava prestes a dizer tudo isso quando mudou de ideia e perguntou:

    — Você está falando sério?

    Apesar de suas palavras serem difíceis de acreditar, e provavelmente o mais sensato fosse tratá-las como uma brincadeira, pelo que Mer conhecia de Eugene, ele não era do tipo a fazer uma piada tão sem sentido num momento como aquele.

    Eugene não havia simplesmente dito aquilo do nada. Já havia deixado claro, meses atrás, que poderia lhe contar algo absurdo. E, pouco antes, insistira várias vezes se ela era mesmo capaz de guardar segredos.

    — Está com medo de que eu esteja mentindo? — Eugene perguntou com um sorriso divertido.

    Ao ver aquela expressão, Mer desviou o olhar e murmurou:

    — …É que é difícil de acreditar, só isso.

    Na verdade, não havia nada de tão especial em ‘reencarnar’. Embora isso não se aplicasse a uma inteligência artificial como Mer, a maioria das pessoas no mundo era a reencarnação de alguém.

    Contudo, encontrar alguém que ainda tivesse as memórias da vida anterior antes de reencarnar era quase impossível. Ocasionalmente, podia-se conhecer pessoas que diziam lembrar de vidas passadas, mas a maioria delas sofria de algum tipo de transtorno mental.

    Será que Eugene era esse tipo de louco?

    — …Hmph — Mer balançou a cabeça. — Embora seja difícil de acreditar, se o que está dizendo for verdade… então consigo entender várias coisas confusas sobre você, Sir Eugene.

    — Como o quê? — Eugene perguntou, curioso.

    — A velocidade com que Sir Eugene cresceu.

    Havia pouco mais de dois anos desde que Eugene começara a aprender magia. Seria mesmo possível que alguém como ele tivesse compreendido a Feitiçaria em tão pouco tempo? Alguém que não era um Arquimago que vivia e respirava magia, mas sim um jovem iniciante que havia começado a praticar magia há tão pouco?

    Não.

    A verdade era que Eugene não havia compreendido a Feitiçaria em termos de ‘magia’. Em vez disso, ele apenas entendeu a forma que a mana assumia para formar o Buraco Eterno da Feitiçaria.

    Com sua sensibilidade inata à mana, Eugene simplesmente a imitou, e depois adaptou essa imitação para melhor se adequar a si mesmo. Do ponto de vista de Mer, era difícil acreditar que um feito assim fosse possível, mesmo se Eugene fosse talentoso o suficiente para ser chamado de ‘gênio’. Entre os magos que tiveram permissão para entrar em Akron, onde se encontrava alguém que não tivesse sido chamado de gênio em algum momento?

    Contudo, se Eugene realmente lembrava da vida passada, e se de fato tinha sido o Estúpido Hamel, o companheiro do Grande Vermouth…

    — …O Estúpido Hamel era um indivíduo particularmente único, mesmo entre aquele grupo de heróis — disse Mer, encarando Eugene. — A Sábia Sienna cresceu na floresta dos elfos, onde humanos não podiam entrar, e aprendeu magia diretamente com os elfos. O Bravo Molon era filho do chefe da tribo Bayar, um povo indígena das terras gélidas do norte, uma tribo especialmente reconhecida por sua habilidade em combate. A Devota Anise era uma candidata a santa que havia sido cuidadosamente criada pelos cardeais do Império Sagrado de Yuras.

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