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    Mer franziu a testa, concentrada.

    — Agora… vejamos… Ah, é verdade. Não houve um exemplo no primeiro dia em que você chegou aqui, Sir Eugene? Você olhou para a imagem gravada do Hamel no andar de cima e então disse…

    — Acho que não me lembro disso, não — Eugene a interrompeu rapidamente.

    — Tudo bem, porque eu me lembro perfeitamente — garantiu Mer, cruelmente. — Você olhou para o rosto do Hamel e disse que ele tinha o charme de uma fera indomável. Estava falando sério quando disse isso?

    — … — Eugene ficou sem palavras:

    — Você não sentiu nem um pouquinho de vergonha ao dizer aquilo? — Mer perguntou — Como consegue apontar para o próprio rosto e dizer uma coisa tão ridícula?

    — E qual o problema? Eu não senti nem um pingo de vergonha ao dizer aquilo — Eugene insistiu teimosamente. — Hamel tinha… quer dizer, na minha vida passada, eu tinha um rosto com certo charme próprio.

    Urgh… — Mer cobriu a boca como se fosse vomitar e balançou a cabeça com força. — Mesmo tendo reencarnado com um rosto como o seu, como pode dizer uma coisa dessas?

    — Quem foi que disse que o rosto da minha vida passada era melhor que o atual? Só estou dizendo que o rosto do Hamel tinha um charme único — Eugene esclareceu.

    — Aliás — disse Mer, mudando de expressão. Ela estreitou os olhos e encarou Eugene antes de perguntar: — Por que resolveu me contar isso de repente?

    — Sem motivo específico.

    — Se está esperando alguma coisa de mim, é inútil. Eu realmente não sei nada sobre o paradeiro atual da Dama Sienna.

    — Não te contei isso porque queria que me dissesse algo assim — respondeu Eugene, levantando-se com um sorriso. — É só que… tenho observado você nos últimos dois anos. E, embora já tivesse sentido isso vagamente desde que te conheci… percebi que você realmente se parece com a Sienna. Tanto na aparência quanto na personalidade.

    — …Isso… isso é porque fui criada baseada na versão infantil da Dama Sienna — murmurou Mer, desviando o olhar, envergonhada.

    — Você acredita que Sienna está morta? — Eugene perguntou.

    — De jeito nenhum ela morreu — Mer negou com veemência.

    — Também acredito nisso — Eugene concordou, voltando o olhar para o retrato de Sienna. — Já que se passaram trezentos anos, não seria estranho se ela tivesse morrido, mas não consigo imaginar que aquela garota chamada Sienna simplesmente teria morrido sem deixar nem um testamento. E também digo o mesmo dos outros.

    — … — Mer permaneceu em silêncio.

    — Claro, depois de tanto tempo, não posso ter certeza se as personalidades deles mudaram muito. Mas, mesmo assim, uma pessoa pode mudar completamente?

    — …Você realmente acha isso?

    — Com certeza — disse Eugene com um sorriso aberto, estendendo a mão para Mer. — É por isso que vou procurá-los.

    Tap.

    Eugene deu um peteleco na ponta do grande chapéu de maga que Mer usava. Os olhos dela se arregalaram ao olhar para Eugene.

    — Sienna, Molon e Anise. Todos eles ainda devem estar vivos em algum lugar deste mundo… é nisso que acredito. Então só preciso ir encontrá-los — Eugene declarou com confiança.

    Sua mão grande pousou no topo da cabeça de Mer. Normalmente, ela teria tirado a mão dele dali com nojo, mas agora não conseguiu fazer isso.

    — Você também sente saudade da Sienna, não sente? — Eugene perguntou.

    Atônita, Mer respondeu:

    — …S-sim? Eu… com certeza sinto.

    — Sendo assim, isso me dá ainda mais motivo para ir e arrastá-la de volta. A Sienna também é uma bela de uma desgraçada, não acha? Abandonou o familiar fofo que ela mesma criou por duzentos anos.

    — …Por favor, não insulte a Dama Sienna.

    — Eu posso insultar, sim. Você tem ideia de quantos insultos tive que aguentar da Sienna, trezentos anos atrás? Aquela pestinha me chamava de bastardo e idiota, não importava o que eu fizesse… Ah, isso me lembra: não foi você quem disse que tem boa memória? Lembra daquela ideia que mencionei há um tempo?

    — Está falando da sua suspeita de que a Dama Sienna é a autora do conto de fadas?

    — Isso mesmo. Pode até ter dito que era besteira na época, mas por mais que eu pense nisso, não consigo deixar de achar que faz muito sentido. Aquele conto tem detalhes significativos demais pra algo que supostamente foi montado só com base em boatos.

    — O que quer dizer com ‘detalhes significativos’?

    — Exatamente isso. Na minha opinião, o conto foi escrito ou pela Sienna ou pela Anise. Talvez até pelas duas juntas.

    Diante da agitação de Eugene, a expressão de Mer se tornou estranha. Fitando fixamente o rosto dele, ela se lembrou da imagem de Hamel guardada no andar de cima.

    — …Então, Hamel… quer dizer, Sir Eugene, de acordo com o que está dizendo, a Dama Sienna foi quem escreveu as palavras ‘Sienna, eu gosto de você’ no conto de fadas? — Mer perguntou, desconfiada.

    — Aquelas malditas palavras, eu nunca disse nada assim — Eugene retrucou, indignado.

    — Então isso significa que a Dama Sienna registrou algo que você nunca falou de verdade. Por que ela faria uma coisa dessas? — Mer continuou.

    — …Você tá me zoando né, é isso? — Eugene rosnou.

    Mer franziu a testa.

    — Por favor, pare de dizer essas bobagens. Eu simplesmente não consigo imaginar a Dama Sienna colocando palavras como ‘bela’ e ‘elegante’ na frente do próprio nome.

    Eugene admitiu, hesitante:

    — Talvez… talvez tenha sido a Anise quem escreveu aquilo. A personalidade dela era, bem… distorcida e podre. Embora o conto de fadas só retrate o lado santo da Anise, a verdadeira era praticamente o oposto.

    — Ah, sim. Claro que era isso — disse Mer, levantando a mão e abanando diante do nariz.

    Sem saber o que aquele gesto significava, Eugene apenas piscou.

    — Pode tirar a mão, por favor — pediu Mer.

    — O que foi? Antes, você sempre batia na minha mão — Eugene perguntou.

    — …Só estou tentando demonstrar o respeito que um companheiro da Dama Sienna merece — confessou Mer, envergonhada.

    — Isso é bastante gratificante — disse Eugene com um sorriso de canto, retirando a mão da cabeça dela.

    Mer pulou da cadeira e hesitou por alguns instantes antes de respirar fundo.

    — …Sir Eugene, pode fazer um juramento?

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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