Capítulo 140: O Deserto (10/13)
— Laman Schulhov.
Laman se agarrava desesperadamente à sua consciência turva. Alguns rostos tremeluziam em sua visão embaçada. Ele não conseguia enxergar direito, mas os que o haviam capturado pareciam usar máscaras cinzentas cobrindo o rosto e turbantes na cabeça.
Eram os Xamãs da Areia.
— Por que o talentoso jovem mestre do clã Lionheart veio parar aqui? E por que você, um guerreiro do Emir de Kajitan, está servindo de guia para o garoto Lionheart?
— … — Laman se recusou a abrir os lábios cerrados com força.
Para salvar Eugene, que havia sido engolido pelo verme de areia, Laman correu pela areia movediça. O que ele pretendia alcançar ao atravessar aquele terreno traiçoeiro era cortar o verme de areia ao meio. No entanto, um verme de areia daquele tamanho era um oponente absurdamente resistente, mesmo para um guerreiro capaz de liberar força da espada.
Ainda assim, Laman tentou salvar Eugene. Quando estava prestes a ser sugado para baixo pela areia, foi o vento enviado por Eugene que o salvou. Esse momento ficou gravado com clareza na mente de Laman.
Ao receber parte do vento que sustentava Eugene no ar, o próprio Eugene não conseguiu mais se manter fixo e começou a ser puxado lentamente. Com a sucção do tornado de areia que se formava ao lado… Eugene havia se colocado numa situação em que não conseguia mais controlar seus movimentos.
E então, o verme de areia emergiu de baixo da terra.
“Para me salvar… ele entregou a própria vida…!”
Na verdade, se parasse para pensar com clareza, Laman perceberia que Eugene não havia sido engolido, mas sim que havia saltado por conta própria dentro da boca do monstro. No entanto, Laman não conseguia imaginar tal possibilidade. A menos que fosse insano, ninguém se jogaria de livre e espontânea vontade nas mandíbulas de um verme de areia.
Em outras palavras, Eugene Lionheart havia dado sua vida para salvar Laman. Mas por quê? Laman não conseguia entender o motivo. A única coisa que importava naquele momento era retribuir essa dívida de vida.
— Tairi Al-Madani estaria planejando trair Nahama? — o Xamã da Areia perguntou, aproximando o rosto de Laman. — Sua missão é impedir a passagem daqueles que não deveriam vir até aqui. Para ele falhar em sua missão e, ainda por cima, designar um guia…
— O que estão fazendo aqui… neste lugar, tão fundo no subsolo? — Laman forçou a voz rouca. — O oásis… era uma ilusão, não era? A tempestade de areia também foi criada com magia. Foram vocês?
— Parece que você ainda não entendeu sua situação — disse o Xamã com um estalo de língua, balançando a cabeça.
Creak creak creak!
A pressão da areia que prendia os membros de Laman ficou ainda mais forte.
— Gah…! — Laman arfou de dor.
— Somos nós que fazemos as perguntas aqui — lembrou o Xamã. — Está calado por honra ao seu mestre? Isso é inútil, Laman Schulhov. Você vai morrer de qualquer jeito, mas já que vai morrer, não preferiria uma morte indolor a um fim torturante?
— Me matem logo…! — rosnou Laman com os dentes cerrados.
— Por que Eugene Lionheart veio a Kazani? — o Xamã ignorou a súplica. — Desde que entrou em Nahama, ele se move com um propósito claro. Do nosso ponto de vista, a única explicação é que ele estava tentando convencer o Emir de Kajitan a trair Nahama.
— Trair…? — os olhos injetados de sangue de Laman brilharam ao ouvir a palavra.
Traição. Essa palavra confirmou várias verdades amargas para Laman. Primeiro: havia Xamãs da Areia em Kazani. Eles estavam criando as tempestades de areia e forçando a expansão do deserto. E o Emir de Kajitan não apenas sabia disso, como estava cooperando com eles…
— Como ousam invadir o território de outro país dessa forma tão baixa?!
Cuspe voou da boca de Laman quando ele gritou de repente. O Xamã da Areia franziu o cenho e recuou um passo.
— Invadir? Não faço ideia do que está falando — respondeu o Xamã.
— E por que mais estariam todos vocês aqui, que deveriam estar protegendo a família real?! E aquela tempestade de areia…! — Laman acusou com raiva.
— Parece que está cometendo um engano enorme. Você realmente acha que é possível acelerar a desertificação apenas com nosso poder? — o Xamã zombou com um resmungo. — Embora eu saiba que guerreiros costumam ser ignorantes, ouvir palavras tão idiotas chega a ser divertido. Seriam necessários centenas de Xamãs da Areia para criar uma tempestade suficiente para causar desertificação.
Tututuk!
A força da areia que prendia o corpo de Laman aumentou ainda mais.
— Kuuuh… Então… nesse caso… por que… vocês… estão aqui…? — Laman se forçou a perguntar.
— Não tenho nenhum motivo para responder — zombou o Xamã da Areia.
— Se vão me matar de qualquer jeito, pelo menos digam o motivo!
— Por que Eugene Lionheart veio até Kazani?
— O que tem de tão importante nisso?! Lorde Eugene já morreu! Vocês… ele morreu por culpa de vocês!
— Isso não é verdade — outro Xamã da Areia respondeu à acusação com uma risada. — Se Eugene Lionheart está morto, a causa foi apenas um acidente. Ele entrou em um deserto perigoso onde não deveria estar… e sofreu um desastre inevitável.
— Isso é um absurdo! — rugiu Laman.
— A responsabilidade pela morte dele cairá sobre a cabeça de Tairi Al-Madani — continuou o Xamã da Areia. — Afinal, foi você quem o guiou até aqui. Embora eu tenha ouvido que ele é o queridinho do Patriarca, no fim das contas, é só um filho adotivo de um ramo colateral. Se entregarmos ao clã Lionheart a cabeça de um Emir de uma cidade grande, isso deve acalmar a fúria deles.
— Filhos da puta…! — amaldiçoou Laman.
— Se quer ser útil ao seu mestre — o Xamã da Areia aconselhou. — O melhor seria confessar tudo o que sabe. Dependendo do motivo, ainda pode ser possível resolver esta situação com suavidade.
— Resolver com suavidade…? E-Espera. ‘Se Eugene Lionheart estiver morto?’ Isso quer dizer que Lorde Eugene ainda está vivo?! — Laman se esforçava para manter a consciência em meio ao torpor.
No momento, sua prioridade não era o Emir de Kajitan, era Eugene.
— Você está mesmo colocando Eugene Lionheart acima da cabeça do seu mestre? — Um dos Xamãs da Areia o questionou.
— É óbvio que ele está só tentando enganar — comentou o outro Xamã. — Vai mesmo alegar que a decisão de guiar Eugene Lionheart foi sua, por vontade própria, e não uma ordem de Tairi Al-Madani?
— Onde está meu lorde?! — Laman exigiu, desesperado.
— Parece que nossas palavras não estão chegando até ele — suspirou um dos Xamãs.
— Não seria melhor matá-lo logo? — o outro sugeriu. — A vida dele não vale nada.
— Não. Ainda pode ser útil como refém.
Embora não soubessem o motivo, Eugene Lionheart havia de fato tentado salvar Laman Schulhov.
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