Capítulo 19: A Cerimônia de Continuação de Linhagem (4/12)
Quatro dias depois, as crianças hospedadas no anexo receberam uma mensagem da família principal. Como a preparação para invocar um labirinto na floresta havia sido finalmente concluída, a mensagem anunciava que a Cerimônia de Continuação da Linhagem começaria naquele dia e solicitava formalmente a presença de todos no local de início.
Segundo a mensagem, podiam usar roupas casuais, mas qualquer item preparado por conta própria era proibido. E quanto às armas? A maioria das crianças ficou com essa dúvida, mas seguiram as instruções e acompanharam os cavaleiros até a floresta.
— Eu prepararei as armas para vocês — explicou Lovellian ao chegarem.
Lovellian e Gilead já os aguardavam na floresta. Atrás deles, havia a entrada imponente de uma caverna que, de perto, parecia ao mesmo tempo suspeita e artificial.
— É só me dizerem que tipo de arma querem. Embora elas não durem o dia inteiro, crianças, lembrem-se de que estarão lutando contra ilusões, não contra inimigos reais. Enquanto suas armas mantiverem a forma, vocês devem conseguir lutar com elas, não é mesmo, crianças? — Lovellian falou isso tudo com um sorriso gentil.
Eugene odiava ser chamado de ‘criança’ mais do que qualquer outra coisa. Afinal, isso não era tratá-lo como um moleque? No entanto, como seu corpo era, de fato, o de uma criança, ele não podia expressar sua insatisfação abertamente.
— Só dá pra escolher uma arma? — Ciel perguntou a Lovellian com um sorriso radiante.
— De forma alguma. Posso preparar o que quiserem — garantiu Lovellian.
— Como você vai fazer isso?
Sorrindo diante da expressão curiosa de Ciel, Lovellian levantou as duas mãos em direção a ela.
— Assim — disse ele.
Whoosh!
Jorros de terra se ergueram do chão e formaram blocos entre as palmas de Lovellian. Em instantes, uma longa espada havia sido moldada a partir desses blocos de terra.
— Uau! — veio a exclamação coletiva.
Ciel agarrou a espada lançada em sua direção com ambas as mãos. O peso estava na medida certa, e o encaixe do cabo também não era ruim. Como se curiosa sobre a qualidade, Ciel balançou a espada algumas vezes.
— O que faço se ela quebrar? — ela perguntou.
— Haha. Senhorita, não precisa se preocupar com isso. Este homem aqui é um mago incrível. Não só aquele labirinto ali foi invocado por mim, como a espada que você está segurando nunca vai se quebrar enquanto estiver dentro do labirinto.
— Além de espadas, dá pra fazer animais também?
— Posso fazer bonecos, e golems também estão no meu repertório… mas não consigo criar nada que seja realmente vivo.
— Nesse caso, posso entrar no labirinto com um golem seu?
— Que ideia astuta.
Lovellian caiu na risada e virou-se para Gilead. Gilead, que sorria ao ouvir o pedido da filha, balançou a cabeça lentamente.
Gilead negou o pedido:
— Não podemos deixar isso. Seria o golem lutando no seu lugar, não acha?
— Então, por favor, me faça um boneco da próxima vez — Ciel pediu com um sorriso largo.
Os olhos de Eward brilhavam ao observar a luz cobrindo a mão de Lovellian.
— Por que você não pode criar algo vivo? — ele perguntou de repente.
Lovellian olhou para Eward, que tinha uma expressão fascinada.
— Porque isso é um tabu da magia — explicou Lovellian.
— Tabu?
— Criar vida verdadeira é não apenas difícil, como também não traz nada de bom. Dar vida a um ser é um milagre belo da existência, e não algo que se reproduza tão facilmente.
— Ah… — Eward assentiu como se entendesse o que Lovellian queria dizer.
— Senhor, não quero essa. Poderia fazer uma espada um pouco mais longa e bem mais fina, por favor? — Ciel interrompeu a lição improvisada.
— Calma, calma, tenha um pouco de paciência. Embora eu possa criar uma arma para cada um individualmente, será difícil pra mim se tiver que ficar ajustando espada por espada pra ficar exatamente como vocês imaginam na cabeça, senhorita.
Lovellian ergueu uma mão em direção a Ciel. Em seguida, um feixe de luz partiu da mão dele em direção a ela.
— Sendo assim, que tal você mesma esculpir sua arma, senhorita? Isso vale para todos vocês também. Não é difícil. Afinal, eu estarei lançando a magia. Tudo o que precisam fazer é imaginar claramente o tipo de arma que querem e tocar a luz.
Feixes de luz dispararam e se conectaram aos nove participantes. As pontas dos dedos de Eward tremiam enquanto ele encarava a luz com olhos extasiados.
— Uoooh…! — exclamou Gargith.
Ele havia visualizado a espada larga que costumava usar em casa. Milagrosamente, estava exatamente como lembrava; até o peso familiar tinha sido reproduzido. Carregando a espada sobre o ombro, ele não parava de se maravilhar.
Dezra também criou uma lança idêntica à que mais usava nos treinos. Sentindo o peso da arma em suas mãos, ela desferiu vários golpes no ar. Depois, prendeu a lança nas costas com um olhar satisfeito.
Ciel e Cyan fizeram espadas. A de Ciel era longa e fina; a de Cyan tinha o mesmo comprimento, mas parecia um pouco mais pesada.
Eward fez uma espada comum. Seus olhos, que brilhavam enquanto tocava a luz, voltaram ao estado sombrio de sempre assim que ficou apenas com a espada nas mãos.
Embora os desistentes também estivessem criando suas armas, Eugene não prestou atenção neles. Aqueles caras tinham demonstrado zero motivação no caminho. Provavelmente desistiriam logo que entrassem no labirinto.
Eugene criou uma espada compatível com o comprimento do próprio braço e também um pequeno escudo para ser usado no antebraço esquerdo.
— Por que não fez uma lança? Você é bom com lança — perguntou Dezra, emburrada.
— Também sou bom com espada — Eugene respondeu com confiança.
— E esse escudo aí?
— Também sou bom com escudo.
— Por que não diz logo que é bom com tudo? — Dezra resmungou.
Ciel observou os dois conversando e se aproximou de Eugene.
— Se a gente se encontrar no labirinto, o que você vai fazer?
— Como assim, ‘o que eu vou fazer’?
— Vai me atacar?
— A gente pode lutar? — Eugene se virou para Gilead e perguntou.
— Não há nada que os impeça, já que o propósito da Cerimônia de Continuação da Linhagem é a competição — Gilead respondeu com um sorriso.
Diante dessas palavras, Ciel estufou as bochechas.
— Mas a gente não precisa lutar necessariamente — protestou Ciel.
Gilead assentiu:
— Isso mesmo. Mais do que uma competição direta entre os participantes, o que buscarei nessa cerimônia é a capacidade de tomar decisões precisas com base na situação, além do espírito de cooperação. Afinal, todos nós fazemos parte da mesma família Lionheart, não é?
— Ele diz que somos família — Ciel disse, voltando-se para Eugene com um leve sorriso. — Quando é seu aniversário?
— Setembro.
— O meu é em abril. Isso significa que sou sua irmã mais velha.
— Que mer… — …da é essa que você tá falando? Eugene estava prestes a soltar, mas lembrou que o pai de Ciel, Gilead, ainda estava ali.
— …Sua língua é bem afiada — Eugene resmungou.
— Do que está falando? — Ciel perguntou.
— Nada — Eugene respondeu com uma tosse e virou o rosto.
— Antes de entrarem, cada um de vocês deve pegar um desses.
Depois de preparar as armas para todas as crianças, Lovellian tirou alguns colares com joias azuis penduradas.
— Esses colares estarão conectados aos seus padrões mentais. Se o labirinto acabar causando estresse demais, o colar vai reagir, e eu saberei que devo intervir.
Era, portanto, um dispositivo de segurança para emergências.
— Além disso, se sentirem que realmente não conseguirão chegar até o centro do labirinto, digam ‘me ajude’ enquanto tocam na joia do colar. Assim, vocês conseguirão sair do labirinto sem problemas.
Hansen e os outros desistentes assentiram aliviados com essas palavras. Eles estavam ali apenas para fazer o mínimo necessário e satisfazer a tradição da família. Não tinham grandes ambições ao participar da Cerimônia de Continuação da Linhagem.
— Bem, então. Entrem no labirinto em ordem.
Tendo dito tudo o que precisava ser dito, Lovellian abriu um largo sorriso e se afastou, deixando a entrada da caverna livre.
— Pode parecer que todos estão entrando juntos, mas a partir do momento em que entrarem na caverna, cada um seguirá um caminho diferente. Então não se desesperem e continuem seguindo em frente, pois no começo só existe um caminho. A partir daí, se sentirem que não conseguem continuar, lembrem-se de tocar a joia.
As crianças começaram a entrar na caverna. Eugene avançou, mantendo o escudo preso ao antebraço esquerdo em posição.
Antes de cruzarem a entrada da caverna, Ciel, que caminhava ao lado dele, deu-lhe um largo sorriso e disse:
— Dê o seu melhor.
Gargith e Dezra lançaram um olhar silencioso a Eugene.
Eugene riu dos olhares deles e disse para Ciel:
— Você também.
— Certo! — Ciel assentiu energicamente com a cabeça diante do incentivo casual que ele lhe oferecera.
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