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    As nove crianças entraram na caverna juntas. No momento em que todos passaram pela única entrada, seus arredores desapareceram e foram substituídos pela escuridão. Alguém pode ter gritado de surpresa, mas o som não foi transmitido aos outros.

    Sem o menor sinal de pânico, Eugene observou o ambiente. Embora soubesse que havia sido transportado para o labirinto por magia de invocação, ele não sentiu qualquer desconforto no processo. Talvez fosse porque Lovellian era mesmo um mago tão habilidoso a ponto de fazer jus ao título de Arquimago, ou talvez fosse porque o corpo em crescimento de Eugene ainda não conseguia detectar a sensação de estranheza causada por um feitiço.

    “Porque ainda não treinei minha mana”, Eugene concluiu.

    Se esse fosse o caso, só podia confiar nos outros sentidos do corpo. Felizmente, essa era uma área em que Eugene tinha bastante confiança.

    Eugene respirou longa e lentamente. Embora já não estivesse particularmente agitado, corpo e mente se acalmaram ainda mais. Em seguida, ele começou a focar nos sentidos um a um. Primeiro a visão, depois a audição, o olfato e, por fim, o tato… E o paladar? O paladar não era um sentido muito útil ao explorar um labirinto. No entanto, ao morder levemente a ponta da língua, Eugene fez com que o gosto de sangue permanecesse em sua boca.

    Dessa forma, todos os sentidos foram aguçados. Além disso, com as repetidas e lentas exalações, ele também elevou sua percepção do ambiente. A intuição sensível despertada por esse processo podia até ser chamada de sexto sentido.

    Esse método de aumentar a consciência vinha da experiência de vida de Hamel, o Estúpido.

    Explorações em labirintos? Ele havia passado por tantas na vida passada que quase se entediava com elas. A maioria dos monstros que escavavam o solo transformava suas tocas em labirintos. Já que até uma simples formiga conseguia construir um ninho assim, goblins e semelhantes certamente também eram capazes ao cavar seus esconderijos.

    E isso sem falar dos demônios. Nos tempos modernos, dizia-se que o Reino Demoníaco de Helmuth se tornara um lugar onde até se podia fazer turismo, desde que se pagasse o suficiente. Helmuth1, por onde Hamel havia vagado era um lugar que nem deveria existir neste mundo, um inferno interminável e impiedoso.

    Quantas vezes quase morreu naquele lugar? A maioria das habilidades nas quais ele confiava se mostrou inútil em Helmuth. Até mesmo aquele tolo do Molon perdeu o costume de avançar sem pensar. Sienna, que se exaltava como Arquimaga, não conseguia confiar nem em sua própria magia para sobreviver. Até Anise, que dizia que Deus sempre cuidaria dela, acabava chamando mais pelos companheiros do que por seu Deus.

    Apenas Vermouth permanecia inabalável.

    — …

    Eugene sorriu amargamente. O herói Vermouth e seus companheiros… Era assim que devia ser dito. Vermouth sempre foi o centro do grupo. Sem ele, os outros jamais teriam conseguido entrar em Helmuth. Afinal, quando entraram lá pela primeira vez, Hamel, Molon, Sienna e Anise ainda eram jovens e inexperientes.

    No entanto, eles não continuaram daquele jeito. As pessoas crescem com a adversidade. Mesmo que não fosse no mesmo nível que Vermouth, todos os seus companheiros em algum momento acreditaram na ilusão de que eram os melhores do mundo. Por isso, todos conseguiram apresentar um crescimento explosivo quando foram suficientemente desafiados.

    Depois de certo ponto, mesmo ainda em Helmuth, os companheiros voltaram à sua rotina. Molon voltou a avançar na linha de frente, Sienna recuperou a confiança em sua magia e Anise restaurou sua fé em Deus.

    Quanto a Hamel, ele odiava ser mais fraco que Vermouth. Odiava o fato de seu corpo tremer de medo. Começou a suspeitar que jamais conseguiria ser como Vermouth. Então passou a se forçar ainda mais. Já que não podia ser como Vermouth, precisava ficar mais forte à sua própria maneira.

    Vermouth nunca sentia medo.

    Hamel, por outro lado, sentia. Então precisava se acostumar com o medo e superá-lo.

    Vermouth conseguia fazer qualquer coisa com facilidade.

    Hamel nunca teve facilidade. Mesmo quando algo parecia fácil no início, ele acabava batendo numa parede em algum momento. E, se quisesse avançar, teria que romper essa parede.

    E isso também se aplicava a labirintos.

    Mesmo quando encontrou um labirinto pela primeira vez, Vermouth não entrou em pânico, e com o tempo encontrou o caminho. Ainda assim, apesar de tudo, ele era humano, então nem sempre tomava a decisão certa.

    Sempre que Vermouth cometia um erro ou reencontrava o caminho correto, Hamel procurava entender os motivos que levaram Vermouth a encontrar o caminho certo e que erros o fizeram escolher o errado. Já que Hamel não possuía o instinto natural de Vermouth, compensava essa deficiência com esse método exaustivo.

    E toda essa experiência agora estava guardada na cabeça de Eugene.

    Eugene analisou o labirinto. “Este é um labirinto feito para que crianças consigam superá-lo. Ele nem sequer foi projetado com a intenção de matar. Sendo assim… Deve ser ridiculamente simples de atravessar.”

    Apesar da falta de iluminação, Eugene não interrompeu seus passos. Como Lovellian havia dito desde o início, só podia haver um caminho possível. O ambiente ao redor ainda estava escuro… Mas depois de avançar certa distância, a escuridão começou a se dissipar lentamente.

    Depois de um tempo, ele conseguiu ver as paredes dos dois lados. A distância entre elas era grande o bastante para permitir o uso de uma arma com facilidade. No entanto, se alguém quisesse brandir uma lança à vontade, teria que manter a própria posição sempre sob controle.

    Por isso Eugene não escolheu uma lança. Em vez disso, optou por uma espada e um escudo. Embora básicos, formavam uma combinação versátil, capaz de responder à maioria das situações.

    “O teto está fechado”, pensou Eugene ao olhar para cima.

    Isso significava que ele não poderia usar o atalho de escalar as paredes.

    Entre os sentidos que havia aguçado de propósito, Eugene se concentrou no olfato. Com o gosto de sangue ainda presente na boca, ele pôde primeiro focar no cheiro de sangue e, com isso como base, detectar qualquer outro odor que destoasse.

    Assim, percebeu um leve cheiro de óleo. Se pudesse manipular sua mana, conseguiria percebê-lo com ainda mais clareza. Com um leve arrependimento, Eugene seguiu em frente.

    Depois de caminhar por um curto tempo, surgiu uma bifurcação à frente. Os dois caminhos pareciam idênticos. O cheiro de óleo vinha da trilha à esquerda. Embora fosse uma armadilha criada com magia, ainda emitia cheiro de óleo. Isso indicava que ela havia sido projetada de propósito para ser facilmente detectada.

    Mesmo assim, Eugene tomou o caminho da esquerda. Queria confirmar se seu julgamento estava correto. Enquanto fingia andar como se não tivesse notado nada, concentrava-se no peso transmitido pela sola dos pés a cada passo.

    Primeiro passo, segundo, terceiro, quarto… e então, no sétimo passo… Quando o pé tocou o chão, este cedeu levemente. E então outra contagem: um, dois…

    “Três.”

    Thrum!

    Flechas dispararam das frestas entre os tijolos da parede. Sem entrar em pânico, Eugene ergueu o escudo.

    Tangtangtang!

    As flechas não conseguiram perfurar o escudo e apenas ricochetearam. Então, sem avançar mais um passo, Eugene simplesmente deu meia-volta.

    — Isso foi fácil demais — resmungou Eugene.

    Devia ser porque haviam ajustado a dificuldade para o nível de uma criança.

    Eugene sorriu ao se lembrar de algo. Toda vez que insistia em verificar o caminho errado assim, Sienna quase tinha um ataque. As memórias da vida passada haviam trazido de volta não só sua experiência como aventureiro, mas também várias lembranças queridas associadas a ela.

    Hah.

    Com o peito apertado pela saudade, Eugene voltou até a bifurcação e seguiu pelo caminho da direita.

    1. O Reino Demoníaco[]

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