Capítulo 21: A Cerimônia de Continuação de Linhagem (6/12)
— Volte para o anexo e descanse — disse Gilead ao desviar seu olhar frio da criança à sua frente.
Hansen foi o primeiro a declarar desistência, tocando em seu colar assim que foi possível fazê-lo. Pensando que não teria chance alguma nessa competição, decidiu não desperdiçar esforço extra. Seus pais também não tinham nenhuma expectativa de que o filho tomasse uma atitude diferente.
— S-Sim.
Hansen havia ficado para trás, hesitante, esperando a resposta do Patriarca quanto à sua desistência, mas rapidamente baixou a cabeça e foi embora. Algum tempo depois de sua saída, outro pedido de resgate foi ouvido. O garoto de dez anos, Juris, havia de fato conseguido entrar no labirinto, o que já era um pouco melhor que Hansen. No entanto, foi atingido por uma flecha logo na primeira armadilha e começou a implorar por ajuda, com lágrimas escorrendo pelo rosto.
Logo em seguida, mais um pedido de resgate foi emitido. Era do garoto de onze anos, Deacon. Embora tivesse aguentado ser atingido por uma flecha, acabou derrotado por um slime que encontrou depois. Slimes eram monstros difíceis de lidar quando se tinha apenas armas cortantes. Deacon foi engolido pelo corpo gelatinoso do slime e começou a gritar pela própria vida.
Menos de uma hora havia se passado, e os nove competidores já haviam diminuído para seis. Pode parecer patético, mas esses resultados eram esperados. Ninguém esperava algo especial daqueles três desistentes.
“Quanto ao Gargith… É desajeitado, mas nunca para de avançar”, julgou Gilead objetivamente.
Lovellian projetou uma imagem do interior do labirinto no ar. A imagem estava dividida em seis telas, mostrando cada uma das seis crianças. Em vez de evitar as armadilhas, Gargith havia escolhido forçar a passagem por elas. Mesmo sendo atingido por flechas ou confrontado por um monstro, ele avançava com um único golpe de sua espada larga, que era quase do tamanho de seu torso.
Gilead voltou sua atenção para outro competidor.
“Dezra é ágil, e também tem uma boa intuição…”
Sempre que ativava uma armadilha, mudava de caminho imediatamente. Chegou até a desviar de várias armadilhas. Também não tentava sempre enfrentar os monstros. Se havia outro caminho disponível, ela o tomava, e só empunhava a lança quando não conseguia fugir a tempo.
— Cyan está sendo excessivamente cauteloso, mas isso não é tão ruim.
Ancilla havia conseguido as anotações de aventureiros famosos e as plantas de vários labirintos, e usou tudo isso para treinar os gêmeos. Com isso, eles aprenderam informações e estratégias básicas para conquistar labirintos. Tudo isso os ajudaria a superar esse labirinto transparente e de exploração simples.
Por exemplo, quando o labirinto estava fechado por todos os lados, mas um vento era gerado por magia, seguir a direção do vento podia ajudar a encontrar o caminho certo. Se olhassem com atenção, também poderiam encontrar várias outras pistas artificiais apontando para a direção correta. E mesmo sem isso, desde que usassem o julgamento próprio, era possível escapar de uma armadilha no momento em que fosse ativada.
Cyan era capaz de fazer isso. No entanto, por ser excessivamente cauteloso, seus movimentos tinham certa rigidez. Sua mente não era flexível o suficiente. Sua visão estava limitada porque tentava se basear apenas no que conseguia lembrar. Por isso, às vezes acabava caindo em armadilhas fáceis de evitar.
“Ciel é sensata e tem um raciocínio flexível. Mas… ainda tem um lado infantil.”
Ciel ativava armadilhas jogando coisas, como os próprios sapatos. Depois de fazer isso algumas vezes, podia seguir por um caminho livre de armadilhas. Se o caminho fosse bloqueado, ela apenas voltava. E se não fosse, continuava. Sempre que encontrava um monstro, não lutava de imediato, mas o provocava como se estivesse brincando com um brinquedo novo.
Quanto a Eward…
— …Como ele está? — perguntou Gilead.
— Parece estar muito interessado na magia — respondeu Lovellian.
Eward não estava focado apenas em atravessar o labirinto. Em vez disso, examinava cada armadilha uma por uma e exclamava em admiração toda vez que via um monstro. Ficava surpreso com o quão realistas pareciam, mesmo sendo ilusões. E depois de derrotar um monstro, em vez de seguir em frente imediatamente, examinava o cadáver por um bom tempo, com os olhos brilhando.
Seus olhos, que estavam opacos e mortos sempre que golpeava os monstros com a espada, voltavam a brilhar com um sorriso sempre que se deparava com magia.
— …Ele é assim desde pequeno. Gostava mais de ler livros do que de treinar o corpo ou suas habilidades. Gostava especialmente quando eu lia contos de fadas sobre magia para ele. Sabe? Eward, aquele garoto, respeita a Sábia Sienna mais do que o próprio ancestral, o Grande Vermouth — confessou Gilead.
— A Mestra Sienna é alguém que merece o respeito de todos os magos, afinal — Lovellian sorriu com orgulho.
— Foi exatamente isso que ele disse. Ao ouvir ‘As Aventuras do Herói Vermouth’, ele gostava mais das histórias da Sienna do que das do Vermouth. Dizia que era porque, sempre que o grupo estava em apuros, era a magia da Sienna que trazia as soluções mais surpreendentes para os problemas.
Gilead fez uma pausa antes de continuar.
— Esse conto também foi lido para mim quando eu era pequeno. Mas eu… para dizer a verdade, eu gostava mais do Hamel — admitiu Gilead.
— Está falando mesmo do Hamel Estúpido? — perguntou Lovellian surpreso.
— Se não fosse por ele se meter em encrenca, o conto de fadas teria sido muito entediante. Embora fosse mal-educado, também tinha um bom coração… Ele me inspirou a superar, pouco a pouco, meu complexo de inferioridade em relação ao meu ancestral Vermouth por meio do meu próprio esforço. Porque mesmo quando todos já seguiam a opinião de Vermouth, Hamel, sozinho, insistia em dizer que pensava diferente.
— Eu, na verdade, odiava o Hamel quando era criança.
— Bom, é compreensível. Por causa do Hamel, o grupo foi arrastado para várias crises… No entanto, Hamel sempre tentava assumir total responsabilidade por suas ações em cada uma delas. Foi por isso que eu nunca consegui odiá-lo…
Gilead olhou para os acontecimentos dentro do labirinto com um sorriso.
— …Eward, aquele garoto, quis aprender magia desde pequeno. Até chamei um professor de magia da capital só para que ele aprendesse direito… Mas no meio do caminho, ele se recusou a continuar aprendendo — recordou Gilead.
— Sabe os motivos disso? — perguntou Lovellian.
— A realidade o forçou a desistir. Por causa da mãe… ele decidiu que precisava se tornar o próximo Patriarca dos Lionheart. E como a magia não traz vantagem alguma na disputa pela sucessão, teve que se afastar dela.
A disputa pela sucessão começaria pra valer quando todos os filhos se tornassem adultos.
— …Bom, é compreensível. Embora a magia ofereça inúmeras possibilidades, é um caminho longo e difícil até chegar a esse ponto — disse Lovellian.
— Sinceramente, eu ficaria feliz se Eward escolhesse seguir o caminho da magia — Gilead sorriu com tristeza e se virou para Lovellian.
— Existe apenas uma família entre os ramos colaterais que se especializa em magia. Por isso, tentei apontar Eward nessa direção algumas vezes, mas ele sempre recusou. No entanto… se ele receber uma proposta para se tornar discípulo do Mago-Chefe da Torre Vermelha, com certeza não conseguirá recusar. Porque ainda há uma grande paixão por magia queimando no coração de Eward.
— Não posso te dar a resposta que você quer de imediato — Lovellian balançou a cabeça. — Porque não posso aceitar qualquer um como discípulo. Como tenho uma boa relação com você, Sir Gilead, posso levá-lo comigo, mas… se ele não me mostrar que tem as qualificações, não o aceitarei como discípulo.
— Isso não é um problema. Também não era minha intenção forçá-lo a aceitá-lo. Mas quero dar a esse garoto a chance de seguir seu sonho.
Gilead não fazia isso pelos direitos de sucessão de Cyan e Ciel. Era só que ver seu filho mais velho apodrecer, forçando a si mesmo a fazer algo que odiava, doía em Gilead.
Para convencer sua primeira esposa, Tanis, e dar um empurrão em Eward, ele havia convidado pessoalmente o Mago-Chefe da Torre Vermelha, Lovellian.
— …Bom, terei que observar mais de perto as qualificações de Eward depois. Por agora, parece que ele já decidiu que não usará magia ao tentar atravessar o labirinto — murmurou Lovellian enquanto observava a tela.
— …Mas… que diabos é esse garoto, Eugene?
Eugene já o havia feito sentir admiração várias vezes seguidas. Mas agora, sentimentos de confusão perplexa estavam substituindo o senso de admiração.
— …Também não sei — murmurou Gilead, com sinceridade.
Na tela, Eugene estava no meio de destroçar a ilusão de um troll.
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