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    Trolls, de todas as coisas. Eles não eram oponentes fortes demais para crianças ainda na adolescência?

    Eugene teve esse pensamento assim que os encontrou no labirinto. No entanto, ao refletir melhor, aqueles nem eram trolls de verdade, apenas ilusões criadas por magia. Não era como se as crianças pudessem realmente se machucar. Embora pudessem sentir dor, aquilo também era apenas uma ilusão provocada pela magia.

    Se conseguissem superar o medo, os trolls não eram um oponente impossível. Se apenas aguentassem a dor, fincassem os pés no chão e desferissem um bom golpe inicial, poderiam até derrotar esses trolls ilusórios.

    “Embora pareçam exatamente com os de verdade.”

    Eugene sentiu admiração ao examinar o troll de cima a baixo. Mesmo sabendo que era uma ilusão, ainda assim tinha a sensação de estar diante de um troll real. Não apenas seus movimentos eram convincentes, como também exalava o característico odor corporal repulsivo dos trolls.

    “Mas parece que Lovellian e Gilead ainda têm um pouco de consciência.”

    Considerando o tamanho, não parecia ser um troll adulto. Na verdade, parecia estar numa idade em que ainda dependeria dos pais, sem ter habilidades para caçar ou lutar. Nem mesmo carregava os tradicionais porretes dos trolls.

    Mesmo assim, ainda era bem mais alto que Eugene, de apenas treze anos. Eugene levantou o escudo lentamente enquanto se aproximava do troll.

    “Já derrotei orcs e goblins, mas vai ser a primeira vez enfrentando um monstro médio a grande nesse corpo.”

    Só porque era uma ilusão sem forma tangível, não pretendia lutar de forma descuidada. Mesmo que não fosse real, seu corpo estava ansiando por uma boa luta. Embora já fizesse algum tempo desde que entrara no labirinto e achasse que havia avançado bastante… até então, não tinha sentido nenhum senso de perigo. Por isso precisava aquecer o corpo um pouco.

    Eugene reduziu a distância entre ele e o troll lenta e deliberadamente. Do outro lado, o troll apenas piscou seus olhos enormes para Eugene em vez de atacá-lo de imediato.

    Isso não era algo para se confundir. Ele já havia passado por isso algumas vezes durante a exploração. Os monstros daquele labirinto não atacavam a menos que alguém entrasse em certa área de alcance. Isso provavelmente era uma medida de segurança pensada levando em conta a idade das crianças participantes.

    “Devagar, devagar.”

    No exato momento em que Eugene avançava o pé, os movimentos do troll mudaram subitamente. O troll girou o corpo e virou a cabeça em direção a Eugene, enquanto saliva escorria entre suas presas. Tinha um rosto tão feio que poderia assustar, não, aterrorizar crianças.

    No entanto, em vez de medo, Eugene sentiu felicidade.

    “Como sempre digo, parecem exatamente com o Molon.”

    Embora, na verdade, mais de um monstro lembrasse Molon. Coisas como trolls, ogros, ciclopes e por aí vai… basicamente, qualquer monstro humanóide feio que andasse sobre duas pernas. Eugene acreditava que todos esses monstros realmente tinham uma semelhança impressionante com Molon.

    Molon nunca conseguira negar isso de forma conclusiva. Afinal, sabia muito bem o quão feio era.

    Enquanto recordava o rosto horrendo do velho companheiro, Eugene se lançou do chão. Foi apenas depois que a distância entre eles encurtou num instante que o troll finalmente reagiu. Isso mostrava que era lento e desajeitado.

    Foi por isso que foi fácil para Eugene fazer o que fez em seguida.

    Slaash!

    A espada de Eugene cortou a panturrilha do troll enquanto ele deslizava por entre suas pernas. Do outro lado, Eugene rapidamente se pôs de pé e virou-se para encarar as costas do troll. Sem hesitação alguma, desferiu um golpe na parte de trás do joelho do monstro.

    Para um troll real, esses ferimentos seriam leves. Mas, como esperado, essas ilusões não eram exatamente iguais aos verdadeiros. Além disso, a lâmina que Eugene empunhava tampouco era uma espada real, afiada. Tudo isso fazia com que os cortes precisos parecessem um tanto irreais.

    Ainda assim, a espada continuava a brilhar com um golpe após o outro. Cada lâmina atingia o mesmo ponto da anterior, até que Eugene finalmente conseguiu decepar a perna do troll na altura do joelho.

    Sangue verde-escuro jorrou do ferimento. Eugene não deixou que nada o atingisse ao cobrir o rosto com o escudo. No entanto, seus sentidos aguçados não perderam o momento em que o troll finalmente reagiu. Tentando equilibrar seu corpo instável, o troll soltou um grito, e uma de suas enormes mãos desceu em direção à cabeça de Eugene.

    O escudo de Eugene, que ainda cobria o rosto, se moveu para cima.

    Screeech!

    Comparado à leveza de seus próprios golpes, o ataque do troll era extremamente pesado. Embora seu corpo de treze anos tivesse sido endurecido por treinamento intenso, era impossível bloquear de frente aquele golpe.

    Por isso, Eugene desviou o impacto para o lado. Usou tanto a inclinação do escudo quanto a força do ombro e do braço como apoio. Assim, o punho descendente atingiu o escudo num ângulo oblíquo e escorregou para fora. Se sua sincronia estivesse minimamente errada, seu braço teria sido esmagado, mas Eugene jamais cogitou duvidar de si mesmo.

    Seu aparo foi executado de forma perfeita. Com uma das pernas já decepada no joelho, o corpo gigantesco do troll perdeu todo o equilíbrio quando o punho atingiu o chão. O troll balançou o outro braço de forma desordenada contra Eugene tentando se manter de pé, mas Eugene habilmente brandiu a espada que ainda segurava com a outra mão.

    Chopchopchop!

    Sangue espirrou quando a pele do braço do troll foi lacerada. Enquanto Eugene se abaixava para escapar dos golpes descontrolados da criatura, ele inverteu a empunhadura da espada.

    Squelch!

    Já tendo perdido uma perna no joelho, o outro calcanhar do troll agora foi cravado no chão pela espada de Eugene. Mesmo sendo uma ilusão, ainda reagia de forma realista à dor dos ferimentos. As mandíbulas do troll se abriram de repente quando ele soltou um grito. A agonia percorrendo seu corpo o paralisou por um momento.

    “Será que realmente precisavam copiar o mau hálito também?”

    Sentindo certo desgosto com esse pensamento, Eugene girou o escudo.

    Bang!

    O escudo subiu direto contra o maxilar inferior do troll, que estava escancarado, e o fechou com força. Ao mesmo tempo, ele puxou a espada cravada no calcanhar da criatura e a enfiou entre as costelas do troll.

    Kaaargh! — o troll rugiu, perdendo o fôlego.

    Eugene havia perfurado os pulmões do troll. Talvez por causa do tamanho do torso da criatura, não conseguiu empurrar a espada até atravessar suas costas. Mas não esperava conseguir isso mesmo. Eugene continuou cortando a lâmina ao longo das costelas do troll. Com isso, rasgou completamente os pulmões e retirou a espada no momento em que ela tocou o osso esterno. Isso deixou o troll sem forças para balançar os braços, fazendo-o cuspir espuma ensanguentada enquanto lutava por ar.

    Se fosse um monstro comum, a luta teria terminado ali. No entanto, trolls eram famosos por seus fortes poderes regenerativos. Eugene até tinha curiosidade de saber se esse troll ilusório realmente compartilhava essa característica, mas não tinha a menor intenção de deixá-lo vivo por nem mais um segundo só para satisfazer essa especulação inútil.

    Sendo assim, Eugene decidiu neutralizar completamente a ameaça. Mesmo já tendo levado o troll a um ponto em que não podia mais reagir, com apenas um pouco mais de esforço ele poderia desmantelar totalmente seu corpo. Eugene cravou a espada no coração da criatura cinco ou seis vezes, depois a enfiou no pescoço. Mesmo com todos esses golpes violentos, a lâmina nunca chegou a travar em nenhum osso.

    Phew.

    Depois de terminar de desmontar cuidadosamente o troll, Eugene passou pelo cadáver com uma expressão satisfeita no rosto.

    Lovellian e Gilead haviam assistido toda essa cena do início ao fim. Lovellian, com a mandíbula caída em choque mudo, se perguntava que tipo de comentário poderia fazer diante daquilo. Mesmo sendo tudo uma ilusão… ainda era um troll. Alguém que nem sequer era da família principal, uma criança de apenas treze anos… sem demonstrar qualquer surpresa ao ver um troll, simplesmente o dilacerou por completo de forma avassaladora.

    — …Nossa, isso foi… brutal. Não acho que precisava ir tão longe assim… — murmurou Lovellian, cauteloso.

    Ele tentava medir a reação de Gilead diante daquela surpresa. Gilead também estava com os olhos arregalados olhando para a tela, mas imediatamente começou a rir ao balançar a cabeça em resposta às palavras de Lovellian.

    — Suas ilusões são tão bem-feitas que precisam ser tratadas como uma batalha real, não é? — defendeu Gilead.

    — Pode ser que sim, mas… — hesitou Lovellian.

    — É impressionante. Muito impressionante… Ele provavelmente nunca enfrentou um troll antes, mas… em vez de congelar de medo, neutralizou o troll com segurança e precisão…

    Gilead não conseguia encontrar falhas na esgrima de Eugene. Se tivesse que apontar algo, seria que a performance dele parecia mais com a de abater e esfolar um animal do que com técnica de espada pura. Mas, e daí? Não importava como fosse feito, Eugene abateu o troll de forma impressionante apenas com sua espada.

    — E também não teve dificuldades para explorar o labirinto — elogiou Lovellian, admirado enquanto observava Eugene. — Exceto pela primeira vez, nunca caiu em uma armadilha.

    — Se olharmos apenas para suas ações, parece até que ele já tem familiaridade com labirintos — observou Gilead.

    — De onde é a terra natal desse garoto?

    — Província de Gidol.

    — Lá não deve haver nenhuma ruína. Que notável…

    A maioria dos labirintos havia sido criada originalmente como covis por magos. Às vezes, depois que o mago morria ou ia embora, esses labirintos acabavam sendo descobertos por aventureiros.

    Se tivessem sorte, esses aventureiros poderiam até encontrar algum tesouro no labirinto. E, uma vez que tudo que não estivesse pregado fosse saqueado, o labirinto sem tesouros seria transformado num possível ponto turístico.

    — …Bom, também não é como se ele precisasse ter explorado labirintos com frequência. Pode ter aprendido como fazer isso por meio de livros — sugeriu Gilead.

    — Normalmente, um garoto de treze anos não passa o tempo lendo livros sobre labirintos — refutou Lovellian.

    — Mas você não pode considerar esse garoto uma criança normal, pode? E, se ele não está se baseando em conhecimento nem experiência, isso significa que só pode estar confiando nos próprios instintos…

    — …Hm… Embora seja um labirinto feito com crianças em mente… para se guiar apenas pelos sentidos… acho que deixei fácil demais, a ponto de alguém conseguir se guiar só por instinto… — ponderou Lovellian, pensativo.

    — Não importa a idade, se ele nasceu com um talento impressionante, não seria natural que apresentasse esse tipo de desempenho? — argumentou Gilead com convicção.

    Até mesmo Lovellian teve que admitir que isso era verdade, e ele sabia exatamente como um garoto assim devia ser chamado.

    “Um gênio.”

    Gilead não mantinha mais os olhos em Cyan, Ciel e Eward.

    Em vez disso, assistia com satisfação enquanto Eugene seguia em direção ao centro do labirinto.

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