Índice de Capítulo

    — Quem chegou primeiro? — repetiu Cyan, com a expressão retorcida.

    Ele sentiu que as palavras de Eugene tinham o propósito de zombar dele. Afinal, quem havia atravessado o labirinto e chegado primeiro ao centro tinha sido, sem dúvida, Eugene.

    — A Dezra foi a primeira a chegar — decidiu Eugene.

    — Mas ela só estava fugindo! — protestou Cyan.

    — E por que ela estava fugindo?

    — Isso é…

    Essa era uma pergunta que Cyan simplesmente não conseguia suportar responder. Tudo tinha começado porque ele tinha confundido a aparência ensanguentada de Dezra com a de um fantasma e soltado um grito. Depois, envergonhado e irritado com isso, ele decidiu persegui-la para lhe dar uma lição… Se tentasse explicar tudo isso, Cyan sentiria que primeiro teria de admitir para Eugene que havia gritado de medo de um fantasma.

    — …A Dezra… me insultou — disse Cyan com dificuldade, encontrando essa desculpa.

    — Você realmente gosta de usar a palavra ‘insulto’ — observou Eugene.

    — Quando foi que eu te insultei, Cyan? — gritou Dezra, com uma expressão ressentida no rosto. Se ao menos tivesse conseguido emboscá-los como planejava, então esse abuso ao menos seria justificado.

    — Foi o Cyan que exagerou. A gente só se encontrou pelo mesmo caminho! — continuou Dezra em sua explicação.

    — Você me assustou de propósito! — acusou Cyan.

    — Não foi isso que aconteceu! Na verdade, eu que me assustei com o seu grito! — rebateu Dezra.

    — E-Eu não gritei — mentiu Cyan, cerrando os punhos enquanto suas orelhas ficavam vermelhas. — Eu só… só estava gritando de raiva. E você… isso mesmo! Dezra, você estava tentando nos emboscar!

    — …Não, não estava — tentou negar Dezra.

    — Você hesitou por um instante, não foi? Eu vi seus olhos vacilarem. Então você estava mesmo planejando uma emboscada?! Como ousa, como ousa uma descendente colateral como você tentar atacar alguém como eu?!

    — Ah, cacete! Eu já disse que não tava! — gritou Dezra, sentindo-se ao mesmo tempo envergonhada e injustiçada.

    Os olhos de Cyan se arregalaram de choque diante daquele grito explosivo que expunha o linguajar vulgar habitual de Dezra.

    — Como se atreve a xingar na minha frente! Além de ser o herdeiro da família principal, eu também sou um ano mais velho que você!

    — Eu já falei que não fiz nada disso, mas você continua nessa porra de acusação!

    — De novo com esses palavrões…

    — Chega — ordenou Eugene, já farto daquela briguinha infantil.

    Desde o início, ele não tinha o menor interesse na suposta ofensa que Cyan tinha sofrido.

    — Aconteça o que for, a Dezra foi a primeira a chegar — afirmou Eugene mais uma vez.

    — Não foi você quem chegou primeiro? — perguntou Ciel com um sorriso.

    — Foi, eu cheguei aqui primeiro — admitiu Eugene com facilidade.

    — …O que exatamente você quer dizer com isso? — perguntou Dezra, lançando um olhar de lado para Eugene.

    Eles tinham conversado sobre um plano de unir forças para derrotar o monstro-chefe na noite em que se encontraram no quarto de Eugene, depois do jantar com o Patriarca Lionheart. Seria que o motivo de Eugene estar esperando por eles ali era porque… ele havia enfrentado o monstro sozinho e perdido?

    — Só pensei que deveria ceder essa chance a vocês — disse Eugene, com um sorriso.

    — …Ceder? — repetiu Dezra.

    — A questão é: eu posso lutar com ele e provavelmente vou vencer. Mas se eu só chegasse e derrotasse ele logo, ficaria com pena de vocês que se esforçaram tanto pra chegar até aqui.

    — Mas que merda você tá dizendo?! — rugiu Cyan, tomado pela fúria.

    Aquilo era claramente um insulto a todos eles. Embora Dezra não estivesse gritando como Cyan, ela encarava Eugene com uma carranca. Já Ciel? Ela não estava nem um pouco irritada ou ofendida. Na verdade, achava a situação tão divertida que estava à beira da cadeira, esperando para ver o que aconteceria a seguir.

    — Pra ser justo, vamos na ordem de chegada — disse Eugene, ignorando a indignação deles.

    — Você… você tá mesmo em seu juízo perfeito? Quantas vezes você foi atingido na cabeça por monstros no caminho até aqui? — questionou Cyan.

    — Eu não levei nenhum golpe. Tô perfeitamente bem — garantiu Eugene, olhando para Dezra sem sair do lugar. — Se você acha que não vai conseguir vencer, pode desistir. É seu direito, afinal.

    Desistir? Dezra franziu as sobrancelhas. Tinha passado por tanta coisa só para chegar até ali. Aquela conversa sobre ‘ceder’ já era absurda o suficiente, mas ao dizer que ela podia desistir, Eugene realmente a deixou furiosa.

    — Eu não vou desistir! — gritou Dezra.

    — Mas vai ser difícil sozinha… — Eugene sorriu em tom de provocação.

    Com os ombros tremendo de raiva, Dezra virou-se para olhar o monstro-chefe na caverna central.

    Mesmo à distância, ela conseguia ver claramente que o monstro tinha um corpo musculoso e robusto. Era ainda maior que o troll do qual ela mal tinha conseguido escapar antes. Sua característica mais marcante era a ‘cabeça’. O monstro-chefe era um humanoide gigante com cabeça de touro.

    Ou seja, um minotauro. Um monstro que quase sempre aparecia nas histórias envolvendo labirintos. No entanto, vendo um de verdade, não parecia nem um pouco ridículo como nas fábulas. Dezra engoliu em seco ao encarar os dois enormes chifres do minotauro.

    “…Por que o Gargith, aquele filho da puta, ainda não chegou?”

    O plano original era se unir ao Gargith para enfrentar o monstro-chefe. Mas parecia que ele havia ficado preso em algum lugar, pois não dava sinal de aparecer. Por precaução, Dezra lançou um olhar para Eugene.

    — Eu só vou lutar depois que todos vocês tiverem suas chances — insistiu Eugene.

    — …Você é realmente maluco, não é? — sibilou Dezra.

    Cyan estava tão perplexo que, por alguns instantes, apenas escutou o diálogo. Mas não conseguiu mais se segurar.

    — Você realmente acha que vai ter sua vez? — exigiu Cyan.

    — Acho que sim — respondeu Eugene com confiança.

    — Não me venha com merda! Acha mesmo que eu não vou conseguir derrotar um bastardo com cabeça de vaca?!

    — Se você derrotar, eu te reconheço como meu irmão mais velho pelo resto da vida.

    Diante dessas palavras, Cyan hesitou por um instante. Imaginou aquele moleque insolente o chamando de ‘irmão mais velho’ pelo resto da vida. O infantil Cyan achou essa proposta extremamente tentadora.

    — …Não volte atrás depois.

    — Pode ficar tranquilo, não vou.

    Após ouvir a confirmação de Eugene, Cyan se sentou no chão. Então, respirando lenta e profundamente, começou a absorver mana para o corpo. Tinha usado muita força só para chegar até ali, então precisava recuperar sua mana o mais rápido possível.

    “Se for um minotauro…”

    Na verdade, era a primeira vez que Cyan via um na vida real. No entanto, tinha lido muitas histórias sobre minotauros nos livros que vinha folheando nos últimos dias. Era um monstro sem fraquezas específicas, mas também sem pontos fortes muito distintos.

    Tinha força e pele resistente, mas isso era natural em monstros médios ou grandes daquele porte. Não possuía a regeneração brutal de um troll, nem a força insana e fúria descontrolada de um ogro. Tinha força e inteligência medianas. Aos olhos de Cyan, era um monstro que podia ser derrotado sem grandes dificuldades.

    Já Dezra sentia algo completamente diferente. Controlando o coração que tremia, avançou com hesitação até a caverna central. Tanto sua lança quanto suas mãos tremiam. Embora já tivesse caçado muitos monstros do nível de orcs, ainda não havia enfrentado nada tão grande quanto um minotauro.

    “…Dizem que minotauros estão mais alto na cadeia alimentar do que trolls, mas…”

    Isso nem sempre era verdade, mas por enquanto, aceitaria que minotauros tinham força igual ou superior à dos trolls. Dezra, que havia apenas escapado do troll sem conseguir derrotá-lo, achava impossível imaginar uma vitória.

    …Haiyaaa!

    Mesmo assim, não podia recuar depois de ter chegado tão longe. Gritou um brado de guerra para silenciar o medo. Então apertou a lança com mais força e avançou contra o minotauro.

    Antes que pudesse se aproximar, o minotauro se pôs de pé. Para uma criatura tão pesada, demonstrou uma velocidade de reação inacreditável. Nem mesmo os trolls eram tão rápidos, e sua silhueta, ao se levantar, era bem maior do que a de um troll comum. O minotauro virou a cabeça em direção a Dezra. Os olhos bovinos que ela conhecia costumavam ser brilhantes e dóceis, mas os olhos do minotauro estavam tomados por uma luz sinistra.

    O minotauro ergueu a mão e, com um grito, Dezra avançou com sua lança.

    Crack!

    A enorme mão do minotauro esmagou a lança em pedaços sem dificuldade aparente.

    “Mas disseram que ela não quebrava!”

    O rosto de Dezra se contorceu de frustração. O minotauro rapidamente ergueu a mão mais uma vez e a desceu sobre a cabeça de Dezra, mas ainda era algo dentro dos limites de sua capacidade de reação. Ela saltou para o lado, desviando do ataque, e então golpeou a lateral exposta do minotauro com a ponta quebrada da lança.

    Clack!

    Embora o golpe tenha acertado, o ataque feito com apoio instável não teve muita força. Sem emitir sequer um grunhido, o minotauro alcançou Dezra.

    Kyaaah!

    Seus dedos enormes envolveram completamente o corpo dela. Dezra gritou em pânico enquanto lutava desesperadamente para se soltar. Seu instinto gritava que ela ia morrer! Aquilo podia mesmo ser só uma ilusão? Não, impossível! Dezra fechou os olhos com força diante da morte iminente.

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