Capítulo 26: A Cerimônia de Continuação de Linhagem (11/12)
Enquanto Eugene se dirigia para enfrentar o minotauro, não havia qualquer hesitação ou nervosismo em seus passos. Seria porque o minotauro era um oponente tão insignificante que tais sentimentos eram desnecessários? De qualquer forma, Eugene ainda não havia treinado sua mana, então o círculo mágico não fazia diferença para ele.
Não poder usar mana ao lutar contra um monstro tão grande era um problema incômodo, mas não o suficiente para fazê-lo hesitar. Em sua vida anterior, antes mesmo de aprender a usar mana, ele já havia lutado contra inúmeros trolls, ogros e criaturas semelhantes.
Comparado a eles, aquele minotauro não era algo com que se preocupar. Além do mais, não era um monstro de verdade e, julgando por seus movimentos, parecia até mais fraco do que um minotauro real. Com certeza, seu nível tinha sido ajustado para ser um oponente apropriado para crianças.
“Acho melhor só tomar cuidado com a arma quebrando.”
Até agora, por mais que tivesse usado sua espada de forma agressiva, ela nem sequer lascou, mas agora as coisas eram claramente diferentes. Seria porque queriam ver se os participantes eram capazes de reagir com flexibilidade diante de situações inesperadas? Ou talvez quisessem observar que tipo de habilidades e talentos eles mantinham em reserva…?
Seja qual fosse o motivo, isso era conveniente para Eugene. Afinal, isso lhe dera a oportunidade de ver a família principal passar vergonha, exatamente como havia planejado. Na verdade, ele poderia ter encerrado a Cerimônia de Continuação da Linhagem sozinho logo de cara ao derrotar o minotauro, cumprindo seu plano. Mas, graças a um pouco de paciência, também teve o prazer de ver Cyan ser humilhado.
“Embora tudo isso comprove que o Patriarca é um cara decente…”
O filho dele era um caso perdido. Antes que fosse tarde demais, Cyan precisava ter aquela atitude de merda arrancada dele à força, ou nunca iria melhorar. Eugene estava convencido da necessidade de uma reeducação física.
Mesmo que Gilead, o Patriarca, fosse um sujeito razoável, seu filho continuava sendo um desgraçado. E já que Cyan era tão babaca assim nessa idade, podia acabar se tornando ainda pior com o tempo.
Por isso, mesmo que fosse só por consideração a Gilead, o caráter de Cyan precisava ser corrigido à base de pancada, e Eugene estava mais do que disposto a se oferecer para isso.
“Embora talvez não baste só uma ou duas surras.”
Bom, também não era como se isso fosse responsabilidade de Eugene. Gilead provavelmente cuidaria disso assim que percebesse o tamanho do problema.
— Hm — Eugene murmurou pensativo.
Ele já havia determinado o alcance em que o minotauro reagia. Parando bem fora dessa linha, ficou observando o monstro. Embora Cyan o tivesse cortado várias vezes, o minotauro parecia completamente intacto.
“Se é assim, então…”
Eugene sorriu ao dar um passo à frente. Assim, entrou no alcance de reação do minotauro.
“…Como vou derrotá-lo?”
O minotauro reagiu imediatamente. Movendo seu corpo enorme com uma velocidade surpreendente, avançou contra Eugene. Diferente de Dezra e Cyan, Eugene não correu para frente, mas também não saiu da área de alcance do monstro.
O punho gigante do minotauro voou em sua direção. Antes mesmo de o golpe ser lançado, Eugene já havia previsto a trajetória do ataque. O corpo enorme do minotauro oferecia muitas ‘pistas’. Desde o modo como seus dedos se fechavam até o movimento dos cotovelos e ombros, e até mesmo o enrijecer dos músculos, tudo podia ser usado para antecipar o golpe.
Boom!
O punho do minotauro colidiu com o chão ao mesmo tempo em que Eugene movimentava sua espada. Para reforçar o impacto de seu golpe, ele desferiu um contragolpe no braço que descia, mirando a parte interna do cotovelo do minotauro. As articulações onde a pele se dobrava eram pontos fracos inevitáveis naquela couraça resistente, e os tendões ali não eram tão espessos quanto os músculos do braço.
Claro, acertar um corte desses não era nada fácil. Mas Eugene o executou com naturalidade. Já estava acostumado a manejar a espada de forma tão precisa em sua vida anterior. Além disso, o corpo atual de Eugene era esmagadoramente superior ao corpo que Hamel tinha na mesma idade.
Desde o nascimento, havia uma diferença inata entre os dois. E Eugene continuou a refinar e desenvolver essa diferença ao longo dos anos.
Então ele não podia usar mana? Que diferença isso fazia? Mesmo sem mana, seu corpo jovem era extremamente ágil.
— Guooo!
O minotauro soltou um rugido. Embora seu cotovelo fosse grosso demais para ter sido completamente cortado, o tendão ali era extremamente sensível à dor por ser densamente cheio de nervos. Mesmo sem ter sido rompido por completo, isso já bastava para tornar a dor insuportável.
Os enormes músculos do braço agora pendiam inúteis, e os reflexos do minotauro ficaram lentos pelo choque. Sem hesitar, Eugene saltou sobre o braço do monstro. Em seguida, começou a correr.
Com seu corpo pequeno de criança, era fácil subir pelo enorme braço do minotauro. Em poucos segundos, ele já havia alcançado os ombros da criatura.
É claro que o minotauro não ia ficar parado. Imediatamente torceu o corpo e balançou os ombros enquanto Eugene corria por cima. No entanto, Eugene já tinha experiência em correr sobre superfícies instáveis. E, para começo de conversa, esse corpo trapaceiro nascera com um senso de equilíbrio absurdo.
Mesmo com o corpo do monstro se movendo de forma caótica, Eugene continuou se aproximando da cabeça, até os enormes chifres balançarem no ar diante dele. Esperando o momento certo, Eugene estendeu a mão.
Smack!
A mão de Eugene agarrou o chifre do minotauro. Como já tinha conseguido brandir uma espada envolta em pesados sacos de areia, sustentar seu peso com um só braço era trivial. Eugene firmou o aperto no chifre e se puxou para cima. Assim, escalou até o topo da cabeça do minotauro.
— Graaaagh!
O minotauro ergueu a única mão que ainda conseguia usar. Tentou agarrar Eugene, que pendia da cabeça, mas a velocidade com que Eugene enfiou a espada foi mais rápida que os dedos que tentavam alcançá-lo.
Squelch!
A espada longa afundou no ouvido do minotauro. A lâmina entrou tão fundo que alcançou até o canal semicircular1. O corpo do minotauro começou a tremer violentamente, perdendo o equilíbrio, e sua mão agitada nem sequer chegou perto de tocar Eugene. Incapaz de suportar, o monstro tombou para trás sobre a cauda.
Na sequência, Eugene puxou a espada e a cravou no olho esquerdo do minotauro. A criatura soltou um grito terrível de dor. Eugene girou a espada fincada algumas vezes antes de puxá-la novamente. Então golpeou mais uma vez, dessa vez mirando o olho direito. Mesmo com o olho fechado em reflexo, a lâmina perfurou a pálpebra fina com facilidade.
— Guwaaah!
Bang!
A mão do minotauro subiu num tapa, mas errou completamente Eugene e acertou a própria testa sem querer. Por causa da raiva e do pânico, ele aplicou força demais no golpe. A cabeça do monstro foi jogada para trás bruscamente, o que serviu de abertura para Eugene. Ele caiu de volta sobre os ombros da criatura e, com o queixo erguido, teve uma visão clara da artéria carótida pulsando.
Uma, duas, três vezes, Eugene concentrou seus golpes em um único ponto. No segundo golpe, cortou a pele espessa. No terceiro, atingiu o vaso sanguíneo. E com mais alguns golpes…
Splash!
O sangue começou a jorrar violentamente. Eugene ergueu o escudo em seu braço esquerdo para se proteger do jato e continuou enfiando a espada na ferida aberta.
Logo o minotauro silenciou, sangrando até morrer. Seu corpo tombou para trás até se chocar com o chão da caverna. Mas antes que caísse por completo, Eugene deu um salto leve e aterrissou no solo com firmeza.
— Phew — suspirou Eugene, satisfeito com o trabalho feito.
Embora tivesse tentado se proteger com o escudo, o sangue havia espirrado tanto que seu cabelo e rosto estavam encharcados. Eugene limpou o rosto por alto e então virou-se em direção à plateia, Cyan, Ciel e Dezra, que o observavam de boca aberta. Sorrindo em particular para Cyan, Eugene apontou para o cadáver do minotauro.
— Viram isso, né?
— …Uh…? — murmurou Cyan, atônito.
— Fui eu que matei — Eugene declarou com orgulho.
Cyan não sabia como reagir. Sabia que aquelas palavras tinham o objetivo de provocá-lo, mas depois de testemunhar tudo aquilo com os próprios olhos, não conseguia reunir indignação. Tinha certeza de que não conseguiria fazer o que Eugene acabara de fazer.
Mas e se… e se tivesse conseguido usar a luz da espada? Se fosse esse o caso, achava que conseguiria derrotar o minotauro. No entanto, mesmo assim, não teria sido com tanta facilidade quanto Eugene.
Cyan começava a sentir uma emoção desconhecida sempre que pensava naquele caipira. Era parecida com medo, mas trazia consigo uma excitação no peito que a tornava diferente. Aos treze anos, Cyan ainda não entendia que aquilo era ‘admiração’.
— …Oh — Eugene soltou um leve som de surpresa ao olhar para o próprio corpo.
O cheiro de sangue desapareceu num instante. O cadáver do minotauro ao lado dele, bem como as paredes e o teto que os cercavam, também começaram a desaparecer. Seu cabelo encharcado secou e voltou a ficar fofo como antes, e a espada e o escudo que segurava desapareceram no ar.
A Cerimônia de Continuação da Linhagem havia chegado ao fim.
- Órgão responsável por regular o equilíbrio e a orientação da cabeça[↩]
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