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    Tanto Gilead quanto Lovellian ficaram sem palavras. Tudo até o momento em que Dezra e Cyan foram derrotados era algo que eles já haviam previsto.

    Desde o início, sabiam que não seria um desafio fácil para crianças caçarem um minotauro.

    Não foi por isso que Gilead avisou previamente que, na Cerimônia de Continuação da Linhagem deste ano, não avaliaria apenas o desempenho individual, mas também a capacidade de julgamento rápido em situações adversas e o espírito de cooperação?

    Ele queria ver se manteriam a vontade de lutar mesmo após diversos fracassos. Se as crianças tivessem concordado em se unir, não seria impossível derrotar o monstro. E, uma vez que tivessem chamado a atenção do minotauro, também seria possível atrair lentamente a criatura para fora do alcance do círculo mágico. Contanto que não agissem impulsivamente, poderiam tentar diversos métodos até finalmente conseguirem, ou ao menos… essa era a forma como tinham planejado que o minotauro fosse derrotado.

    — …Hahaha!

    Apesar de seus planos terem sido completamente virados de cabeça para baixo, Gilead não sentia frustração alguma. Em vez disso, caiu na risada com um largo sorriso no rosto.

    — Ele não é incrível? — comentou Gilead, apontando para Eugene. — Aquele garoto, ele é só um descendente colateral que nem sequer treinou a mana, mas conseguiu derrotar o minotauro puramente por habilidade esmagadora.

    — …Parece que sim — respondeu Lovellian, recolhendo o queixo do chão com dificuldade.

    Tudo naquele labirinto havia sido criado por Lovellian, tanto as armadilhas quanto os monstros. Ele tinha feito tudo de forma equilibrada, de modo que se adequasse ao nível das crianças… mas aquele garoto chamado Eugene atravessou o labirinto com muito mais facilidade do que Lovellian havia previsto.

    Lovellian sentiu a necessidade de perguntar:

    — …Aquele garoto… o que ele é, afinal?

    — Também não sei — Gilead balançou a cabeça, ainda rindo. — O pai dele se chama Gerhard Lionheart, da Província de Gidol. É de um ramo colateral que se separou da linhagem principal há cerca de duzentos anos, mas, pelo que sei, nenhum membro dessa família jamais chamou atenção até agora.

    — Mas… como é possível que uma criança tão excepcional tenha vindo de um lugar assim…?

    — Quem sabe. Ele diz que não foi ensinado nem pelo pai nem por qualquer outro cavaleiro, mas… — Gilead não conseguiu conter a risada antes de terminar a frase. — Mas o potencial dele é indescritível. Dizem que esse garoto, Eugene, desde que chegou à propriedade principal, vai ao ginásio todos os dias e repete o mesmo treinamento severo diariamente. Também enviei um homem até Gidol, e ele relatou que o treinamento extremo de Eugene é bem conhecido por toda a região.

    Eugene era o garoto que derrotou seu filho num duelo, então Gilead naturalmente passou a se interessar por ele. Foi por isso que enviou um cavaleiro até a propriedade da família Lionheart em Gidol para saber mais. O relatório dizia que Eugene começou a frequentar o ginásio diariamente aos cinco anos de idade, e aos sete começou a brandir uma espada de madeira com núcleo de ferro, que vinha aumentando gradualmente de peso com o tempo.

    — Esse garoto nasceu para ser um guerreiro, e também tem um caráter trabalhador nato, digno de tal físico. Mesmo que só por ter desenterrado essa joia bruta… esta Cerimônia de Continuação da Linhagem já se provou de enorme significado.

    — Mas você não está nem um pouco incomodado? — Lovellian perguntou com genuína curiosidade. — Peço desculpas se estou sendo indelicado, mas aquele garoto… eclipsou todos os seus próprios filhos, Lorde Gilead. Se já há essa diferença agora, imagine quando ele começar a treinar mana… E se ele também tiver talento para lidar com a mana…

    — Se for esse o caso, isso não é motivo de preocupação, e sim de celebração — respondeu Gilead com um sorriso. — Afinal, o nome daquele garoto também é Lionheart, não é? Quanto mais extraordinário ele for, mais ele faz brilhar o nome Lionheart.

    — …Mas e se esse garoto demonstrar ambições de usurpar a linhagem direta? — perguntou Lovellian de forma direta, incapaz de suavizar a questão.

    No entanto, Gilead não se sentiu ofendido com a pergunta.

    — Isso não é algo que me cabe temer — respondeu com sinceridade. — Apenas o melhor entre os Lionheart tem o direito de se tornar Patriarca da família. Se meus filhos não conseguirem manter a posição de Patriarca, isso apenas significaria que foram fracos demais para sustentar esse direito de nascença. Se essa for toda a força que eles tiverem a oferecer, então não merecem ser Patriarcas da família Lionheart.

    — Hm… — Lovellian refletiu.

    — Claro que, antes de ser Patriarca, também sou pai; e como pai, vou orientar meus filhos para que se tornem os melhores que puderem ser. Se isso ainda assim não for suficiente… então não haverá o que fazer — Gilead deu de ombros.

    — Como alguém de fora, peço desculpas por tocar em algo que não era da minha alçada — disse Lovellian, assentindo lentamente e acenando com as mãos enquanto o labirinto começava a desaparecer. — No entanto, Lorde Gilead, como velho conhecido, sinto que preciso aconselhá-lo: se for possível… adote aquele garoto.

    — …Adoção? — perguntou Gilead, confuso.

    — Sim. Um descendente colateral finalmente superou a família principal em uma Cerimônia de Continuação da Linhagem. Só isso já seria o suficiente para fazer muitas das linhas colaterais da família Lionheart olharem com desdém para a linhagem principal. Se isso acontecer, alguns dos insatisfeitos com o sistema atual podem começar a se unir.

    — … — Gilead ficou em silêncio por um momento. O nome Lionheart vinha sendo transmitido havia mais de trezentos anos. Diversas linhas colaterais haviam surgido por conta das práticas de herança da família.

    Cada família colateral fora fundada por alguém nascido com o sangue da linhagem direta, mas que havia perdido a disputa pelo posto de Patriarca. Certamente havia alguns entre essas linhas colaterais que nutriam insatisfação contra a família principal.

    — …Os Guardiões são responsáveis por impor as leis da família — murmurou Gilead com um sorriso amargo.

    Ao mesmo tempo em que proibiam de forma absoluta qualquer disputa de sucessão, os Guardiões dos Lionheart também suprimiam qualquer indivíduo rebelde.

    — Agradeço seu conselho. Quanto à adoção… acho que é uma proposta atraente — concluiu Gilead.

    Para ser honesto, o garoto era tão excepcional que Gilead desejava que Eugene fosse seu próprio filho. Além disso, parecia que ser adotado seria melhor também para o futuro do próprio garoto.

    Se Eugene simplesmente retornasse para Gidol desse jeito… as famílias sediciosas que planejavam se rebelar contra a linhagem principal poderiam tentar se aproximar dele. E se isso acontecesse, aquela jovem criança com um talento brilhante poderia até ser sequestrada por causa de suas habilidades.

    “…Se eu mantiver o garoto por perto… Ele também pode servir como grande motivação para meus filhos.”

    Quanto mais pensava nisso, mais atraente a ideia se tornava. E não seria uma visão incrível ver todo o potencial do garoto florescer completamente no futuro ainda distante? Nessa época, se Eugene ainda se mostrasse esmagadoramente superior às crianças da linhagem principal, então…

    Sua adoção não seria apenas benéfica para a família principal, mas também um evento auspicioso para todos os Lionheart.

    — …Bem, antes de tudo, temos que começar pelas celebrações — murmurou Gilead ao virar a cabeça.

    Tanto o labirinto quanto a caverna que levava até ele haviam desaparecido. As crianças olhavam ao redor com expressões surpresas, ainda sem entender o que estava acontecendo.

    …Haaagh! — Gargith, que estava deitado no chão, saltou de pé com um suspiro.

    Depois de sua luta contra o troll, ele havia seguido rumo ao centro, mas usou até a última gota de força no caminho e acabou desmaiando. Contudo, à medida que a magia se dissipava, todos os seus ferimentos desapareceram.

    — E o monstro-chefe? — perguntou Gargith.

    — Tá morto — cuspiu Dezra, lançando-lhe um olhar de desprezo.

    — Quem matou? — ele perguntou.

    — Eu — respondeu Eugene com um sorriso.

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