Capítulo 28: O Cofre do Tesouro (1/7)
Antes de Gilead parabenizar Eugene, seu olhar pousou por um momento sobre seus filhos.
O primogênito, Eward, nem sequer havia chegado ao centro do labirinto. Ele passara tempo demais estudando as diversas armadilhas mágicas e monstros pelo caminho. Para ser sincero, Gilead estava insatisfeito com esse resultado.
Ele sabia que seu filho mais velho tinha um enorme interesse por magia desde pequeno. Como esse tipo de magia não era algo com que se deparava com frequência, era compreensível que Eward tivesse sido tomado pela curiosidade. No entanto… priorizar sua própria curiosidade em vez de demonstrar seus talentos durante a vital Cerimônia de Continuação da Linhagem fazia com que Gilead se sentisse desapontado, tanto como Patriarca quanto como pai.
Por outro lado, o desempenho de Ciel e Cyan o deixara bastante satisfeito. Os gêmeos conseguiram chegar ao centro sem grandes dificuldades com as armadilhas ou monstros. Embora não tenham derrotado o minotauro, isso se devia apenas à imaturidade dos dois. E imaturidade podia ser compensada com experiência.
— …Todos vocês tiveram um ótimo desempenho — disse Gilead, desviando o foco apenas de seus filhos e se dirigindo aos demais participantes. Ele assentiu com sinceridade e sorriu para todos antes de continuar: — Daqui, pudemos ver tudo enquanto enfrentavam o labirinto. Embora esperássemos que fosse uma provação difícil, todos vocês se saíram incrivelmente bem.
— …Muito obrigado — responderam as crianças, um tanto sem jeito ao receber os elogios.
Gargith, que vinha encarando Eugene com olhos surpresos, rapidamente seguiu o exemplo e abaixou a cabeça junto com os outros. No fundo, estava um pouco envergonhado. Após sua batalha feroz contra o troll, ele não conseguiu chegar ao centro do labirinto.
Dezra e Cyan também sentiam uma vergonha parecida, embora por motivos ligeiramente diferentes. Dezra sequer conseguiu travar uma luta adequada contra o minotauro, e Cyan havia se deixado abalar quando sua luz da espada não se manifestou, fazendo-o lutar de um jeito que, até para si mesmo, pareceu fraco.
— Eugene — chamou Gilead.
Eugene, recém mencionado, sorria. Estava se divertindo com o quanto os ombros de Cyan estavam caídos, embora também estivesse um pouco curioso. Dentro do labirinto, ele nem chegou a ver Eward, o primogênito da família principal. Embora achasse que Eward parecia carecer da habilidade e confiança esperadas para alguém de sua posição, Eugene nunca imaginou que ele sequer conseguiria alcançar o centro do labirinto. Talvez por isso Eward também estivesse com os ombros caídos e evitando os olhares de todos.
— …Embora soe engraçado eu apontar o óbvio, você teve o melhor desempenho entre todas as nove crianças que participaram da Cerimônia de Continuação da Linhagem deste ano.
— Muito obrigado — disse Eugene, curvando a cabeça com humildade.
Achava mais vantajoso passar uma imagem modesta do que agir com orgulho exagerado.
— A forma como lidou com as armadilhas e os monstros foi impressionantemente impecável. Especialmente ao enfrentar o troll de frente. Diferente das outras crianças… você não sofreu nem ferimentos leves durante o processo — continuou Gilead, elogiando.
“Não é possível”, exclamou Gargith em pensamento.
As palavras de Gilead fizeram os ombros de Gargith tremerem de choque. Eugene realmente não se feriu nem um pouco ao lutar contra aquele troll feroz? Gargith olhou para Eugene com uma expressão de incredulidade.
“Como ele conseguiu fazer isso sendo mais baixo e tendo menos músculos que eu?”, perguntou-se. Era realmente impressionante. Seus pensamentos deram lugar a uma admiração sincera por Eugene, mas, ao mesmo tempo, ele também se sentia desapontado. “Se ao menos ele tivesse a ajuda do agente revolucionário de crescimento muscular da nossa família, aquele corpinho magrelo também pareceria incrível”, pensou Gargith. “Do jeito que ele está agora, eu venceria fácil numa queda de braço.”
Gargith decidiu que precisava desafiar Eugene para uma queda de braço mais tarde.
— Para ser sincero, esperávamos que todos vocês ficassem presos no labirinto por pelo menos dois dias — disse Lovellian, com um sorriso que não demonstrava constrangimento algum.
Lovellian e Gilead tinham expectativas razoáveis para os participantes. Afinal, por mais talentosos que fossem, ainda eram todos crianças com menos de dezesseis anos. Além disso, nenhuma delas jamais estivera pessoalmente em um labirinto. Lovellian havia estimado que, após colocarem diversos tipos de obstáculos no caminho, as crianças vagariam pelo labirinto por mais de um dia até conseguirem avançar.
“Mas como era de se esperar da linhagem do Grande Vermouth. Parece que os subestimei demais.”
É claro que esse fato não lhe causava nenhum constrangimento ou ofensa. Afinal, ver esses diamantes brutos de talento brilharem ainda mais do que o esperado só podia ser uma surpresa agradável.
— Exceto Eugene, todos os demais devem voltar para seus quartos e descansar. Eu gostaria de realizar um grande banquete esta noite; no entanto… não sabíamos que vocês sairiam tão cedo, e receio que não conseguimos preparar o banquete com antecedência.
Após informar as outras crianças, Gilead se voltou para Eugene com um sorriso.
— Sendo assim, todos vocês podem descansar bem hoje, e realizaremos o banquete amanhã. Quanto a você, Eugene… venha comigo.
— Sim, senhor — respondeu Eugene.
— Vai dar a recompensa para ele agora? — perguntou Ciel, os olhos brilhando de curiosidade.
O cofre subterrâneo de tesouros era uma área proibida, até mesmo para aqueles que herdavam o sangue da família principal; somente o Patriarca podia entrar livremente. Desde pequena, Ciel insistia com o pai para que a levasse até lá, mas mesmo Gilead, que tinha um enorme carinho por sua filha, nunca permitiu que ela o acompanhasse nem uma vez sequer.
— Não há razão para adiar, então não seria melhor ele escolher logo? — disse Gilead, afagando a cabeça de Ciel.
A verdade é que Gilead também estava curioso para ver qual item Eugene escolheria no cofre.
Lovellian escoltou pessoalmente as outras crianças de volta aos seus quartos, enquanto Eugene e Gilead seguiram para a mansão da família principal. Ainda havia um bom caminho pela frente, então ambos começaram a pensar em um assunto para puxar conversa.
— Você é bem habilidoso por conseguir manejar várias armas — comentou Gilead, rompendo o silêncio.
Embora não olhasse para Eugene, o tom caloroso de sua voz deixava fácil imaginar sua expressão naquele momento.
— Eu não sou tão ruim — admitiu Eugene.
— Você é muito mais que isso. Vi sua atuação no labirinto, e a forma como usou espada e escudo foi realmente hábil. Além disso, não foi com uma lança que você derrotou Cyan e Dezra?
Gilead parecia ter ouvido a história completa do duelo de Eugene com Dezra. O que não era surpresa, já que o combate ocorreu ao ar livre, onde qualquer servo do anexo poderia ter assistido.
— Sim. Gosto da lança porque é uma arma divertida de usar — respondeu Eugene.
— E espadas? — insistiu Gilead.
— Espadas também são divertidas.
— Além dessas, que outras armas você gosta de usar?
— Hmmm… também gosto de arcos. Embora atirar de longe não seja tão empolgante, acertar um alvo à distância pode ser bem excitante.
Eugene tentava manter um tom apropriado para sua idade ao falar com Gilead. Na verdade, no início de sua nova vida, não achava que precisaria fazer isso; Eugene pensava que tudo bem admitir que havia reencarnado com as memórias de sua vida anterior.
Mas quanto mais pensava no assunto, mais difícil parecia revelar a verdade. Se dissesse que era Hamel, o Estúpido, e agora havia reencarnado como descendente de Vermouth, quem acreditaria em uma confissão tão absurda sem nenhuma prova? Além disso, seria humilhante demais admitir com a própria boca que reencarnou como descendente de Vermouth.
“E também seria simplesmente embaraçoso.”
Não teria sido tão ruim se tivesse admitido desde o começo. Mas já vinha fingindo ser uma criança há treze anos… Se revelasse a verdade agora, parecia que só receberia olhares de pena. E com o orgulho de Eugene, era absolutamente impossível aceitar esse tipo de olhar.
“E também parece que as coisas ficariam complicadas.”
Pouco se sabia sobre a jornada do herói e seus companheiros, trezentos anos atrás. Após abandonarem de repente a subjugação dos reis demônios restantes, o grupo do herói não revelou muitos detalhes sobre os motivos da mudança ou sobre sua jornada. Até hoje, aquela maldita fábula era o relato mais famoso e confiável da jornada do herói no mundo.
O Estúpido Hamel, como era conhecido na fábula, havia reencarnado como descendente do Grande Vermouth… se esse fato viesse à tona, o mundo viraria de cabeça para baixo. Eugene não queria ter de lidar com uma enxurrada de pessoas de todos os cantos do mundo vindo perguntar sobre os detalhes daquela jornada.
Mas essa não era sua única razão.
Eugene, ou melhor, Hamel, se recusava a aceitar a existência contínua dos Reis Demônios. Essa convicção cheia de ódio não havia mudado mesmo após trezentos anos. Se, de algum modo, os dois Reis Demônios remanescentes no Reino Demoníaco de Helmuth descobrissem sobre a reencarnação de Hamel, talvez começassem a se mover pelas sombras.
Esses dois alegavam estar totalmente devotados a uma existência pacífica há centenas de anos, e até haviam aberto Helmuth para o turismo. Mas como reagiriam esses reis demônios, que haviam aparentemente mudado de atitude da noite para o dia, ao se depararem com uma testemunha viva de suas atrocidades passadas? Eugene já havia pensado bastante nisso, e não parecia que eles o receberiam de braços abertos.
Bem, mesmo que recebessem, não era como se Eugene aceitasse sua hospitalidade.
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