Capítulo 30: O Cofre do Tesouro (3/7)
A Espada Sagrada continuava tão extraordinariamente bela quanto quando Eugene a vira pela primeira vez, trezentos anos atrás. Era uma arma impossível de se considerar meramente como uma ‘espada’ feita para cortar.
Ninguém sabia de que tipo de metal ela era feita. Segundo as lendas do Império Sagrado ‘lar da Espada Sagrada’, era uma espada concedida por Deus.
“É surpreendente o Império Sagrado nunca ter tentado recuperar a Espada Sagrada.”
Eugene circulou ao redor da espada, analisando-a de todos os ângulos. Ela tinha uma bainha magnífica e um cabo longo, ideal para ser empunhada com as duas mãos. A lâmina em si não estava visível, mas Eugene se lembrava perfeitamente de quão bela e deslumbrante era quando era desembainhada.
Ele tinha que admitir que a desejava. Esse tipo de desejo era inevitável. Afinal, era uma espada concedida pessoalmente por um deus. A Espada Sagrada havia ficado selada por muito tempo no templo central do Império Sagrado, e acompanhara o grupo na jornada pelo Reino Demoníaco de Helmuth após reconhecer Vermouth como seu único dono.
Embora o próprio Vermouth não a tenha usado com tanta frequência, isso não diminuía sua importância e valor. Aquela bela espada abatera inúmeros demônios e até perfurara o coração do primeiro dos cinco Reis Demônios de Helmuth a ser derrotado.
“…Embora depois disso ela tenha sido usada quase exclusivamente como uma tocha.”
Quando derrotaram o primeiro Rei Demônio, todos ainda eram imaturos. Ao se lembrar dessa época, Eugene estendeu a mão para segurar a Espada Sagrada. Não era como se tivesse decidido que sairia dali com ela, mas, por ora, queria apenas segurá-la.
Eugene agarrou o cabo com a mão direita. A sensação de envolver os dedos naquele punho era incrível. Embora por fora parecesse uma espada cerimonial sem qualquer utilidade prática, na verdade, havia sido forjada com extrema maestria.
— …Hm.
A bainha da Espada Sagrada estava fincada profundamente no chão do cofre. Eugene tentou puxá-la com força, mas a bainha não soltava a lâmina. Então, segurou o cabo com as duas mãos e tentou mais uma vez, com toda sua força.
— Não está saindo — admitiu, por fim.
A Espada Sagrada era imóvel. Por mais que tentasse, ele não conseguia puxá-la.
Por precaução, Eugene mordeu a ponta do dedo para fazer sangue e passou a ponta ensanguentada no cabo e na bainha. O sangue desapareceu no mesmo instante, como se tivesse evaporado. Ele tentou mais uma vez, mas a lâmina continuava presa.
“Assim como Gilead disse, você entenderá quando tentar por si mesmo.”
Gilead quis dizer que era impossível sacar a espada. Eugene não desperdiçou mais força nela e abandonou qualquer arrependimento. Mesmo que conseguisse puxá-la, não era como se pudesse ficar com ela.
Ele olhou em volta mais uma vez. O cofre realmente abrigava uma variedade enorme de tesouros. Além de armas, havia muitas joias e acessórios. Com os olhos brilhando, Eugene começou a explorar.
“Essa aqui era… Azphel, certo?”
Diversas armas chamaram sua atenção. Uma era uma espada incomum pendurada na parede; sua lâmina tinha saliências serrilhadas que lembravam presas de uma fera. Era a ‘Espada Devoradora’ Azphel. Ela devorava tudo que cortava para fortalecer a si mesma.
À primeira vista, seu poder real parecia difícil de avaliar, mas Eugene sabia muito bem o quão desequilibrada ela podia ser. Era uma espada que devorava mana, uma espada capaz de cortar magia. Não importava quão poderoso fosse o feitiço; diante de Azphel, ele se tornava inútil.
“Embora só alguém como Vermouth fosse capaz de usá-la em todo seu potencial.”
Foi apenas graças ao fato de Vermouth ser um excelente mago que ele conseguia mirar no ponto fraco de um feitiço e destruí-lo com um único golpe. Por isso, apesar de se sentir mais atraído por ela do que pela Espada Sagrada, Eugene decidiu deixá-la de lado por enquanto.
Além dessa espada, várias outras armas familiares chamaram sua atenção.
“A Lança do Dragão Kharbos.”
Apesar de ter um tempo de recarga um pouco longo, desde que se compensasse isso, era uma lança capaz de desferir um golpe tão poderoso quanto o sopro de um dragão com uma única estocada.
“A Espada Tempestuosa Wynnyd.”
Uma espada imbuída com a proteção do Rei dos Espíritos do Vento.
“O Trovão de Pernoa.”
Um arco que disparava relâmpagos capazes de atravessar qualquer distância até atingir o alvo.
“A Espada Chuva Fantasma Javel.”
Uma espada que criava incontáveis cópias voadoras de si mesma ao ser energizada com mana.
“E até o Escudo de Gedon está aqui.”
Um escudo traiçoeiro capaz de redirecionar qualquer ataque que o tocasse para outra direção.
Todas essas eram armas capazes de virar o mundo de cabeça para baixo se caíssem no mundo exterior. Eugene balançou a cabeça e estalou a língua em espanto. Não era apenas por serem descendentes de Vermouth, ao deterem a posse de tantos tesouros, o clã Lionheart realmente sustentava sua reputação como uma grande família. Mesmo um dragão perderia a cabeça de inveja ao ver o quanto havia sido acumulado naquele cofre.
“…Mas será que isso é tudo?”
Apesar de tudo o que havia ali, Eugene ainda tinha suas dúvidas. Afinal, aquela não era a lista completa de armas que ele sabia que Vermouth possuíra. Ele não via a aterrorizante Espada da Luz Lunar nem a Lança Demoníaca que tanto cobiçava.
“As armas aqui são só metade tão boas quanto aquelas.”
Mas isso não era exatamente estranho. Afinal, haviam se passado trezentos anos. Nesse tempo, muitas armas podiam ter saído do cofre e nunca mais retornado.
“Bando de aproveitadores. Devem ter reconhecido o valor dessas armas absurdas e carregado todas.”
Eugene continuava a estalar a língua e a balançar a cabeça. Apesar de todas as armas deixadas ali serem incríveis, ele ainda sentia pesar pelas que não estavam mais.
Como resultado dessas perdas, teria de se preparar para fazer uma escolha difícil.
“Qualquer uma delas já valeria a pena, mas…”
Nenhuma despertava de fato seu desejo. Como ainda era jovem, não precisava se preocupar com falta de familiaridade. Não importava qual arma escolhesse, bastava segurá-la por alguns anos e se adaptar pouco a pouco até dominá-la por completo.
“A mais fácil de lidar é a Wynnyd, mas…”
Era uma espada abençoada pessoalmente pelo Rei dos Espíritos do Vento. Apenas segurá-la nas mãos permitia comandar os espíritos do vento e, naturalmente, usar magia espiritual. Embora isso fosse impossível por ora, se acumulasse mana suficiente ao longo do tempo, poderia até invocar o próprio Rei dos Espíritos do Vento um dia.
Uma vantagem dessa espada era que, ao contrário da magia comum, a magia espiritual não consumia muita mana do usuário. Uma vez invocado o espírito, os custos seguintes eram arcados por ele mesmo.
“E com ela, nem é necessário talento inato.”
Magia espiritual normalmente era difícil de aprender. Se alguém não nascesse com o dom que atraía os espíritos, nem mesmo um mago excepcional conseguiria invocar um espírito de baixo nível. Porém, com Wynnyd em mãos, não havia essa preocupação, já que ela ignorava todos os pré-requisitos da magia espiritual.
“Javel é complicada de manejar. Azphel talvez sirva bem quando eu aprender magia, mas agora seria difícil de usar. Pernoa… pelo que lembro, consome uma quantidade absurda de mana por disparo.”
A Lança do Dragão Kharbos não combinava com o gosto de Eugene. E quanto ao Escudo de Gedon? Tinha, sim, uma habilidade absurda, mas assim como Pernoa, consumia uma quantidade enorme de mana a cada uso.
“Wynnyd é definitivamente a mais conveniente de usar.”
Embora tivesse chegado a essa conclusão, Eugene não a escolheu imediatamente. Em vez disso, continuou andando pelo cofre sem rumo. Além das armas, havia vários outros tesouros que também haviam pertencido a Vermouth.
“Esses cajados mágicos… Não tenho certeza de quão bons são.”
E eram muitos cajados mágicos. Como ainda era jovem, Eugene também havia cogitado aprender magia, mas não queria escolher um foco às cegas, sem saber nada sobre o assunto.
“…Oh?”
Vagando por aqui e por ali no cofre, Eugene parou. Seus olhos se arregalaram em surpresa ao olhar para o canto interno de uma prateleira. Caminhou rapidamente até lá e enfiou a mão no canto.
Ali jazia um pequeno colar.
“…Por que isso está aqui?”
Eugene ergueu o colar e piscou, surpreso. Não tinha nada de especial. Nenhuma magia poderosa estava embutida nele, nem carregava qualquer simbolismo importante.
Era apenas um colar comum, cheio de memórias, pois era o colar que Hamel havia usado em sua vida passada.
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