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    Eugene estava certo de que aquilo era sobre noivá-lo com Ciel. Pensando bem, as coisas tinham parecido estranhas desde o começo. Mesmo depois de ele ter deixado o irmão dela naquele estado, Ciel ainda o procurou no dia seguinte com um sorriso no rosto; e desde então, vinha grudando nele feito um carrapato irritante.

    Além disso, antes da Cerimônia de Continuação da Linhagem, Ciel estava sendo tão amigável com Eugene que chegava a incomodar. E vivia falando besteira sobre ele chamá-la de ‘irmã mais velha’, só porque era alguns meses mais velha que ele.

    “Fiquei me perguntando por que ela insistia tanto nisso… então é porque já está tentando me colocar no lugar de futuro genro da família.”1

    Isso só podia ser. E o que foi aquele comportamento dela no labirinto? Ela realmente riu enquanto via o próprio irmão apanhar do minotauro.

    “Ela também estava sentada ao meu lado naquela hora.”

    Parecia que havia até momentos em que Ciel impedia discretamente Dezra de se aproximar dele.

    Ao lembrar de todos os encontros que teve com Ciel desde que chegou à propriedade principal, Eugene sentia-se cada vez mais certo de suas suspeitas. Talvez não tivesse sido planejado desde o início, mas depois que os gêmeos foram até ele para provocá-lo e viram o resultado do duelo, devem ter decidido prendê-lo a um casamento arranjado.

    “Agora faz sentido. É por isso que estavam dispostos a me dar uma arma do cofre de tesouros. Querem me amarrar à família principal me noivando com a Ciel.”

    Como podiam ter bolado um plano tão absurdo enquanto ainda o tratavam com tanta cortesia? Para alcançar seus objetivos, estavam mesmo dispostos a sacrificar o futuro da própria filha? Conseguir esconder intenções tão malignas com tamanha elegância… era mesmo digno dos descendentes de Vermouth.

    “Não, nem mesmo o Vermouth desceria tão baixo.”

    Na mente de Eugene, a imagem de Gilead passava por uma transformação drástica.

    Eugene continuou tentando se esquivar:

    — Afinal de contas, sou muito jovem para pensar em casamento. Ainda preciso da permissão do meu pai… E mesmo que meu pai permita, eu não quero me casar com a Ciel…

    — Espere um pouco — Gilead, que havia escutado o discurso de Eugene em estado de choque, levantou a mão de repente. — Eugene, acho que você está entendendo tudo errado.

    — Hã?

    — Eu não o chamei aqui com a intenção de noivá-lo com a Ciel. Isso é… hm… bem, isso é algo que a Ciel deve decidir. Mas, é claro, sua opinião também é importante.

    Na verdade, ele até achava que seria uma boa ideia, mas Gilead não tinha a menor intenção de forçar nenhum dos dois a esse tipo de arranjo.

    — …É… mesmo? — Eugene mal conseguiu responder, sentindo o rosto queimar de vergonha.

    Pelo visto, tinha realmente metido os pés pelas mãos dessa vez.

    — Chamei você aqui porque queria lhe oferecer uma adoção.

    — …Hã?

    Eugene achava que já tinha sido surpreendido antes, mas aquilo superava tudo.

    “Então eles tinham essa carta na manga.”

    Ele entendia a lógica por trás da proposta de adoção, mas, ao mesmo tempo, queria se jogar pela janela de tanta vergonha. Queria arrancar a própria boca por ter dito que não queria se casar com uma garota de treze anos. Não, mais do que isso, queria esmagar a própria cabeça por ter pensado que estavam tentando noivá-lo com uma garota de treze anos desde o começo.

    “Eu só posso estar louco.”

    Depois de tanto fingir ser uma criança, parecia que a mente dele também tinha começado a agir como uma.

    — …Uma adoção… uh… isso é muito repentino… — Eugene murmurou, distraído.

    — Mas não tão repentino quanto um noivado, certo? — Gilead provocou com um sorriso.

    — Me desculpe por ter entendido tudo errado.

    — Mas você realmente odeia tanto a ideia de se casar com a Ciel? Pelo jeito como fala dela, não parece que seja totalmente contra…

    — Não, eu odeio a ideia.

    — Hm… — Gilead fez uma expressão desapontada, mas logo a deixou de lado e continuou. — …Deixando esse papo de noivado de lado, o que acha da ideia da adoção?

    Eugene hesitou:

    — Mas… meu pai está me esperando em Gidol.

    — Se quiser, posso convidar Gerhard para morar aqui na propriedade principal também.

    — Então eu vou ter dois pais?

    — Exato. Mas seu pai biológico é, e sempre será, o Gerhard.

    — Então não vejo muito sentido em ser adotado.

    — Não precisa pensar demais nisso — Gilead sorriu levemente enquanto pegava sua xícara. — É apenas uma forma de unir sua família à família principal. Embora, nominalmente, eu seja seu pai adotivo, isso não significa que você precise me tratar como um pai de verdade. Claro, isso só vale se você aceitar.

    — Acho que isso deixaria meu pai bastante desconfortável — admitiu Eugene.

    — Provavelmente terei várias coisas para conversar com Gerhard, mas, Eugene, eu também sou pai de três filhos. Não estou tentando roubar o filho de ninguém.

    — …Hm…

    — Embora eu nunca tenha conhecido Gerhard, prometo respeitá-lo como se fosse meu irmão mais velho.

    Eugene franziu a testa:

    — Então, se eu recusar, o Patriarca não vai respeitar meu pai?

    — De jeito nenhum — Gilead caiu na risada diante da pergunta ousada. — Embora seja até constrangedor dizer isso em voz alta, não sou uma pessoa tão infantil assim. Então, se você recusar… eu só vou… sentir um pouco de arrependimento. Só isso. Claro que respeitarei sua escolha e lhe desejo o melhor para o futuro. No entanto… eu realmente gostaria de permitir que seu futuro brilhasse como parte da família principal.

    — …Acho que isso não é algo que eu deva decidir sozinho — Eugene decidiu adiar a resposta.

    No fim, caberia a Eugene aceitar ou não a proposta, mas ele ainda queria ouvir a opinião de seu pai, Gerhard.

    — Nesse caso, deixemos a decisão para depois do banquete — decidiu Gilead.

    O banquete, que originalmente celebraria o fim da Cerimônia de Continuação da Linhagem, estava marcado para a noite seguinte.

    — Enviarei mensageiros para Gidol e pedirei que escoltem seu pai com respeito — disse Gilead.

    — Sou grato pela consideração do Patriarca, mas também me sinto um pouco culpado por causar esse incômodo — confessou Eugene.

    — Não diga isso. Você não me deve nada. Provou ser a criança mais extraordinária da Cerimônia de Continuação da Linhagem deste ano. Seria triste se seu pai não estivesse ao seu lado nesse momento de glória e celebração.

    — Muito obrigado.

    Sem hesitar mais, Eugene curvou-se em agradecimento. Ao fazer isso, também escondia sua alegria. No fundo, estava interessado na proposta de se juntar à família principal por meio da adoção.

    Se a personalidade de Gerhard fosse tão ruim quanto sua habilidade com a espada, Eugene teria aceitado a adoção de Gilead sem pensar duas vezes. No entanto, Gerhard era, de fato, um pai realmente afetuoso. Infelizmente, por conta das memórias de sua vida passada, Eugene nunca conseguiu aceitá-lo completamente como pai, mas mesmo assim, gostava dele e o respeitava.

    — …Mais cedo, o senhor disse que isso também seria bom para o meu futuro — Eugene focou, colocando a xícara sobre a mesa. — O que exatamente quis dizer com isso?

    — Se você for integrado à família principal, há muitos benefícios de que poderá desfrutar — Gilead respondeu, animado por ver Eugene demonstrar interesse na proposta. — Por exemplo… ah, certo, você não comentou que não havia cavaleiros em Gidol que pudessem lhe dar instrução? Mas aqui na propriedade principal, não precisa se preocupar com isso. Temos muitos cavaleiros excelentes por aqui.

    — Se eu for aprender com alguém, quero aprender com o melhor — Eugene exigiu, tentando sorrir da forma mais inocente possível. Então, olhando diretamente para Gilead, continuou: — Se eu for adotado pelo senhor, Patriarca, também poderei aprender com o senhor?

    Eugene estava curioso para saber o quão forte o Patriarca da família Lionheart realmente era.

    1. A palavra coreana usada aqui foi 데릴사위, que basicamente significa um genro que se casa com a família da esposa, em vez de uma nora que se casa com a família do marido, e tem um status inferior por causa disso. Parte da razão pela qual isso é considerado vergonhoso é que, ao se casar com a família da esposa, o marido está abrindo mão da responsabilidade e do dever de transmitir o sobrenome da família, pois seus filhos herdarão o sobrenome da esposa. Embora isso não se aplique nesse caso, já que Eugene e Ciel têm o mesmo sobrenome, isso ainda implica que Eugene terá uma posição inferior à de sua esposa.[]

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