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    Gerhard sentia que o filho tinha muitas histórias para lhe contar, e havia várias perguntas que queria fazer a Eugene, mas por ora manteve o silêncio. Estava curioso quanto ao motivo por trás daquele convite para conversar com o Patriarca.

    Pensando de forma lógica, o fato de seu filho ter superado os filhos da família principal e vencido a Cerimônia de Continuação da Linhagem… era uma grande afronta à linha direta. Estariam tentando pressioná-lo por causa disso? Mas, se fosse esse o caso, Gion era alegre demais para ter sido enviado com tal intenção, e Eugene também não parecia fora do lugar. O próprio Patriarca Gilead era educado demais para estar tentando humilhá-lo.

    Petiscos já haviam sido preparados no escritório do Patriarca. Gilead foi direto ao ponto, assim que viu Gerhard molhar a garganta ressecada pela tensão com um pouco de chá.

    — …Está falando de… uma adoção? — Gerhard perguntou, incrédulo.

    — Exatamente — confirmou Gilead.

    Não havia lançado a proposta de forma impulsiva. Gilead explicara em detalhes por que estava fazendo aquela oferta.

    O talento de Eugene era brilhante demais para ser deixado por conta própria. Porém, para que seu potencial florescesse plenamente, o apoio da família principal era absolutamente necessário.

    Um filho de um ramo colateral havia vencido a Cerimônia de Continuação da Linhagem ao derrotar membros da linha direta. Embora fosse uma bênção para o clã Lionheart ter um talento assim surgindo, também poderia provocar reações por parte de certos ramos colaterais que guardavam pensamentos sediciosos.

    Havia o risco de que uma conspiração vinda desses dissidentes alcançasse Eugene. Se ele não aceitasse suas propostas, poderiam até tentar pressioná-lo de alguma maneira.

    — Naturalmente, como representante da família principal, prometo fazer o possível para proteger o lar do Senhor Gerhard de qualquer perigo.

    Contudo, na realidade, havia um limite para a proteção que a família principal poderia oferecer.

    — Mesmo que recuse a proposta, a família principal não guardará nenhum ressentimento. Também prometo que continuarei fazendo todo o possível para apoiar o crescimento de Eugene — afirmou Gilead.

    — …Haha… — Gerhard soltou uma risada involuntária.

    Aquilo tudo… não seria apenas um sonho? Não, ele não podia se esconder da realidade dessa forma. Gerhard levou a mão à cabeça, que girava com confusão.

    “Eugene… sendo adotado pela família principal…” Gerhard tentava organizar os pensamentos.

    Gilead começou a falar ao perceber o silêncio de Gerhard:

    — Se Eugene fosse adotado… o senhor, Lorde Gerhard, também poderia ser aceito como membro da família principal. Sei que essa proposta é um choque, mas…

    — Digo isso sem a menor intenção de ofender — interrompeu Gerhard, respirando fundo antes de continuar. — Agradeço sinceramente por reconhecerem o potencial do meu filho e considerarem os meus sentimentos. No entanto, na minha visão… só posso pensar naquilo que for melhor para o futuro do meu filho.

    — E então?

    — Mesmo com as boas intenções e honestidade do Patriarca, tenho receio de que outros dentro da família principal possam perseguir Eugene — declarou Gerhard.

    Gilead não se ofendeu com a preocupação. Na verdade, sentiu respeito por Gerhard, por ser corajoso o suficiente para expressar sua opinião com firmeza.

    — Embora eu tenha nascido um Lionheart, sou apenas um homem simples, que nunca correspondeu ao peso desse nome. Sempre quis apoiar o futuro do meu filho de todas as formas, mas… carrego a culpa de que, com os poucos recursos que tenho, posso impedir que ele alcance tudo o que poderia — admitiu Gerhard, com a voz oscilando.

    Mesmo com as mãos tremendo, Gerhard continuou a falar, entrelaçando os dedos para conter as emoções agitadas que o dominavam.

    — O Patriarca já tem três filhos, não tem? Se meu filho for adotado por sua família… não importa o motivo da adoção, ele não será tratado como um estranho indesejado? — questionou Gerhard.

    — Entendo o que está dizendo — Gilead assentiu. — Mas a família principal valoriza suas tradições. Então, mesmo que Eugene seja adotado, tornar-se Patriarca… seria algo muito difícil.

    — …

    — Minhas esposas e filhos também sabem disso. Essa tradição… infelizmente, não pode ser revertida em minha geração. Mas lhe prometo uma coisa: não quero limitar o futuro de Eugene. No entanto, minha vontade sozinha não representa a da família principal ou dos anciãos do Conselho — esclareceu Gilead.

    — …Entendo — Gerhard reconheceu a sinceridade de Gilead.

    — Contanto que Eugene não se torne ambicioso demais… ele poderá demonstrar livremente seu talento com o apoio da família principal. Tornar-se Patriarca… será difícil. No entanto… — Gilead fez uma pausa, depois inclinou-se profundamente e continuou: — Lorde Gerhard, espero que não se ofenda com o que vou dizer a seguir.

    — Seria muito melhor para o futuro de Eugene se ele fosse criado como parte da família principal do que permanecendo em Gidol. Desde que não deseje o posto de Patriarca, Eugene poderá criar laços com meus filhos, já que serão todos irmãos após a adoção. Esses relacionamentos abrirão muitas oportunidades e possibilidades para o futuro dele.

    Gilead sentia-se culpado por dizer aquilo. O talento de Eugene superava o de seus filhos. Isso era evidente no caso de Eward, mas mesmo os dons de Cyan e Ciel não se comparavam aos de Eugene. Já havia uma diferença entre eles mesmo nessa idade, e essa lacuna só aumentaria com o passar dos anos.

    No entanto, Eugene ainda não poderia se tornar Patriarca. Gilead realmente queria ver o que aconteceria se Eugene ocupasse esse posto, e desejava, de coração, que Eugene trouxesse glória à família principal, mas esses dois desejos eram incompatíveis. Um descendente colateral adotado como filho tornar-se Patriarca significaria a quebra das tradições e do prestígio da família principal.

    Mesmo que o próprio Gilead não se importasse com isso, o clã Lionheart se tornaria alvo de escárnio, e o Conselho jamais permitiria que algo assim acontecesse. Aos olhos deles, a linha direta precisava manter sua superioridade sobre os ramos colaterais. A Cerimônia de Continuação da Linhagem existia por esse único motivo.

    — …Suponho que seja verdade — Gerhard aceitou essa realidade com um longo suspiro e um aceno de cabeça.

    O futuro de seu filho e as oportunidades que a família principal poderia oferecer… Gerhard compreendia tudo aquilo tão bem que sentia dor só de pensar. Percebia com clareza sua própria impotência e pobreza. Eugene poderia conquistar uma glória incomparável sendo adotado pela família principal, algo que jamais teria como simples filho de Gerhard, em Gidol.

    — …Não acho que essa seja uma decisão que posso tomar sozinho — Gerhard sorriu com amargura e balançou a cabeça. — Acho que está na hora de eu conversar com meu filho.

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