Capítulo 43: Treinamento de Mana (1/9)
— Eu não vou aceitá-lo como meu discípulo imediatamente — declarou Lovellian com firmeza.
Eward tentou conter a ansiedade ao se virar para olhar Lovellian. Seus olhos brilhantes estavam cheios de anseio e expectativa quanto ao seu futuro em Aroth. No entanto, Lovellian não estava em posição de atender incondicionalmente aos desejos daquele jovem.
— A Torre Vermelha da Magia, da qual sou mestre, se especializa em magia de invocação entre todos os diversos tipos de magia. Sendo assim, você deve primeiro ir para Aroth e fazer o teste sistemático de aptidão para ver se está alinhado com nossa especialidade.
— Mas e se… eu tiver aptidão para magia de invocação? — perguntou Eward, cheio de esperança.
— Nesse caso, será uma descoberta feliz, mas apenas a aptidão não o qualificará para ser meu discípulo.
Com isso, Lovellian traçou claramente os limites do que estava disposto a fazer. Eward pareceu decepcionado por um momento, mas rapidamente mudou sua expressão, ciente da presença de Gilead e Tanis sentados ao lado de Lovellian.
Eward estava prestes a deixar aquele lar sufocante. Isso por si só já era motivo de comemoração. Mesmo que não pudesse se tornar discípulo de Lovellian de imediato, o fato de poder deixar sua família para trás e fugir para outro país fazia as pontas de seus dedos tremerem de empolgação.
— É porque há muitos magos que desejam se tornar meus discípulos — Lovellian continuou. — Em Aroth, sua identidade como herdeiro do clã Lionheart não lhe dará qualquer vantagem. A menos que você tenha talento suficiente para silenciar os protestos de todos os outros magos, não posso aceitá-lo como meu discípulo.
— …Entendo — disse Eward, num tom muito mais contido.
Tendo feito o aviso, Lovellian passou a confortá-lo:
— …Embora Aroth não dê tratamento especial àqueles que carregam o nome Lionheart, sou amigo de Gilead muito antes de ser o Arquimago da Torre Vermelha… Com meus recursos, poderei lhe oferecer muitas oportunidades, além de protegê-lo das vozes que clamam por discriminação injusta. Tudo isso é para lhe proporcionar o melhor ambiente possível para treinar a magia que combina com sua aptidão.
Todas essas promessas fizeram o coração de Eward bater mais rápido de empolgação. No entanto, Eward não se apressou em aceitar a oferta, tampouco explodiu em risadas de alegria, por mais que desejasse fazê-lo. Em vez disso, voltou-se timidamente para Tanis e Gilead.
— …Essa é uma decisão que cabe apenas a você — Gilead falou primeiro. — Não há motivo para se preocupar comigo. Se quiser ir, então vá.
— …Pai… — murmurou Eward.
— Eward — Tanis, que permanecera em silêncio, de repente chamou o filho, encarando-o — Essa é uma oportunidade que seu pai se esforçou muito para conseguir. Receba-a com gratidão.
— … — Eward ficou em silêncio, intimidado.
Percebendo o desconforto do filho, Gilead retomou a palavra:
— Que razão você tem para hesitar? Desde pequeno, sempre mostrou mais interesse por magia do que por espadas ou lanças.
Eward ainda parecia inseguro, sem saber o que dizer.
— Por sua causa, chamei alguns dos maiores magos da capital para lhe dar aulas particulares, mas, infelizmente, nenhum deles serviu como seu mestre — suspirou Gilead, desapontado.
Havia certa ironia nessas palavras. Os magos convidados da capital para ensinar magia a Eward eram todos renomados, e poderiam ter alcançado posições de destaque em suas torres caso tivessem permanecido em Aroth.
Nenhum deles tornou-se mestre de Eward porque o próprio Eward não conseguira se dedicar plenamente ao estudo da magia. Esse lar sufocante havia reprimido tanto sua paixão quanto sua vontade.
— Eward — disse Tanis, com os olhos semicerrados.
Eward evitava encarar o olhar da mãe. Tinha muito mais medo dela, que sempre estava ao seu lado vigiando cada ação sua, do que de seu pai, o Patriarca da casa.
Tanis iniciou um de seus sermões habituais:
— Você não pode esquecer. Você é o primeiro herdeiro do clã Lionheart. Como meu filho, está destinado a se tornar o Patriarca da família principal.
Eward odiava ouvir essas palavras. Elas o enchiam de medo e pesavam sobre seus ombros cada vez que era forçado a escutá-las. Sem conseguir responder, baixou o olhar para o chão.
— Você não pode esquecer disso, nem mesmo em Aroth — concluiu Tanis com firmeza.
— …Tanis — Gilead repreendeu a esposa.
Tanis se defendeu:
— Como mãe, só estou tentando incentivar meu filho.
Gilead queria apenas que ela fosse mais amena, mas Tanis lançou-lhe um olhar frio. Desde o início, ela não concordava totalmente com os planos do marido. Detestava a ideia de alguém como Eugene ser adotado pela família principal. Uma adoção, de todas as coisas? Que absurdo! Já não bastava Gilead ter tomado uma segunda esposa e acabado com gêmeos?
Ela também não queria enviar Eward para Aroth. Se o filho mais velho fosse para Aroth, era óbvio que aquela maldita Ancilla ficaria radiante.
No entanto, Tanis não tinha escolha a não ser enviá-lo. Embora seu filho querido tivesse nascido como o herdeiro principal da família, não havia herdado as qualidades necessárias para parecer digno da posição. Pior ainda, tinha uma natureza fraca e ingênua. Por mais que Tanis quisesse manter o filho perto, ao fazê-lo, não veria sequer o menor sinal de progresso em suas habilidades.
— …Eward — Tanis continuou, agora com um tom mais suave, segurando a mão do filho.
Ela apenas olhou para o rosto de Eward, esperando que ele respondesse, sem dizer mais nada. Lentamente, Eward forçou-se a levantar o olhar e encontrar os olhos da mãe.
Naquela noite, Tanis passou muito tempo conversando com Eward em seu quarto.
No dia seguinte, Eward partiria com Lovellian para Aroth. Tanis esperava que o filho conseguisse tornar-se discípulo de Lovellian. Mas, se não conseguisse, ao menos esperava que ele aumentasse suas chances de suceder o pai ao se relacionar com outros magos em Aroth.
Ela esperava que, ao se aproximar desses magos, pudesse formar relações que futuramente o beneficiassem, conquistando apoio para sua disputa pelo cargo de Patriarca, uma oportunidade que não estaria ao seu alcance se continuasse preso na residência principal.
— Você é o herdeiro do clã Lionheart — Tanis repetiu essa frase várias vezes ao longo da noite.
— S-Sim, mãe — sem conseguir levantar os olhos do chão, Eward repetia a mesma resposta toda vez.
No dia seguinte ao banquete, muitas pessoas estavam partindo da propriedade principal. Lovellian estava indo para Aroth com Eward, e Gargith e Dezra estavam retornando para suas casas junto com seus pais.
Até mesmo os desistentes cujos nomes não eram importantes o suficiente para serem lembrados já haviam partido, então o anexo deveria estar quase vazio. No entanto, os criados continuavam ocupados desde cedo naquela manhã.
Isso porque, a partir de agora, o anexo seria usado exclusivamente por Eugene e Gerhard. Gilead havia oferecido que eles ficassem com ele na mansão da família principal, mas Eugene recusou essa oferta. Isso foi por causa de seu pai, Gerhard. Se acabasse morando na mansão principal sem uma justificativa plausível, Gerhard provavelmente teria que andar constantemente pisando em ovos diante dos membros da família principal. Em vez de suportarem esse desconforto, morar separadamente no anexo tornaria tudo mais fácil para ambos.
— Espero que nos demos bem daqui em diante — disse Eugene com um sorriso.
Nina assentiu com a cabeça em resposta. Suas funções como serva de Eugene não haviam sido suspensas após o fim da Cerimônia de Continuação da Linhagem. A pedido de Eugene, Nina continuaria como sua atendente pessoal.
Nina sabia que isso era um sinal da consideração de Eugene.
— Quer que eu traga algo de Gidol? — perguntou Gerhard enquanto se preparava para partir.
— Não preciso de nada, pai, então é melhor focar em empacotar suas próprias coisas — respondeu Eugene.
Mesmo com a dor de cabeça da ressaca, Gerhard não podia se dar ao luxo de descansar até se recuperar. Precisava ir imediatamente para Gidol com alguns dos administradores da propriedade da família principal. Já que agora moraria com Eugene no anexo, precisava organizar o fechamento de sua mansão em Gidol.
Todos os cavaleiros que serviram Gerhard por tantos anos, bem como os criados e mordomos, estavam esperando por ele em Gidol. Embora não pudesse retornar com todos, alguns escolhidos o acompanhariam de volta. Outros ficariam encarregados de manter a propriedade, agora sem dono. Contanto que fossem bem pagos, muitos estariam dispostos a continuar morando na velha mansão.
— Já que os itens do anexo são bem melhores do que os da nossa mansão, não empacote coisas desnecessárias — Eugene aconselhou o pai.
— Ainda não me acostumei com essa ideia… Nós realmente vamos… morar aqui a partir de agora…? — perguntou Gerhard, hesitante.
Gerhard riu, incrédulo, enquanto olhava ao redor do anexo. Apesar de já ter tentado se adaptar várias vezes, a realidade às vezes ainda parecia um sonho.
“…Mas isso com certeza é real”, lembrou-se.
O coração de Gerhard se encheu de orgulho ao ver o rosto sorridente do filho. Depois de abraçá-lo mais uma vez, subiu na carruagem preparada pelos criados.
— Vá com cuidado e não esqueça de se gabar da nossa boa sorte — disse Eugene com um sorriso ao se despedir do pai.
A manhã do primeiro dia de sua nova vida como adotado havia passado assim. Normalmente, ele já teria começado seu treinamento, mas, naquele dia, Eugene apenas esperou sem fazer nada dentro do ginásio.
Hoje era um dia importante para Eugene por vários motivos. Não era apenas o primeiro dia do resto de sua vida como membro adotado da família principal, mas também o dia em que ele iniciaria o uso de mana pela primeira vez desde sua reencarnação.
Todo manual de treinamento de mana começava ensinando como sentir a mana. Embora houvesse mana por toda parte no mundo, não se podia encontrá-la a olho nu, por mais que se tentasse. Só após refinar a si mesmo e seus sentidos de acordo com o manual era possível começar a senti-la.
Esse ‘refinamento’ podia ser amplamente dividido em duas categorias: Técnicas de Respiração e Técnicas Corporais.
As Técnicas de Respiração acumulavam mana dissolvida na atmosfera ao respirá-la; as Técnicas Corporais a acumulavam por meio do movimento do corpo. Nenhuma das duas era fácil de aprender, mas, se Eugene tivesse que escolher, diria que as Técnicas de Respiração eram superiores. Uma vez totalmente internalizadas, permitiam ao usuário absorver mana com cada movimento feito, algo que as Técnicas Corporais tinham grande dificuldade em replicar.
Em sua vida passada, Hamel havia treinado mana segundo uma Técnica Corporal. Mais tarde, com conselhos de Sienna e Vermouth, ele a converteu em uma Técnica de Respiração.
“A técnica de treinamento de mana dos Lionheart é uma Técnica de Respiração”, Eugene se lembrou.
Embora parecesse óbvio, o treinamento de mana não podia ser feito apenas respirando normalmente. Técnicas de Respiração exigiam uma habilidade especial, algo semelhante a lançar feitiços.
— Você chegou cedo — disse uma voz a Eugene.
Era Gion Lionheart. Ele se aproximou guiando dois cavalos. Sem demonstrar surpresa, Eugene inclinou a cabeça em saudação.
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