Capítulo 45: Treinamento de Mana (3/9)
Longe da mansão, havia uma cabana isolada no interior da floresta. Apesar de Vermouth ter criado a linha ley trezentos anos antes, a cabana parecia estar em ótimo estado, como se tivesse sido mantida desde então.
Gion ordenou:
— Fique aqui um momento. Vai levar um tempo para desfazer as proteções. Infelizmente, não há muito o que ver enquanto espera.
— Sim, senhor — respondeu Eugene prontamente.
Gion foi o primeiro a descer do cavalo. Então tirou um chaveiro do colete e começou a destrancar uma por uma as fechaduras da cabana. E não eram simples trancas de ferro. Sem a permissão do Patriarca, seria impossível abrir a porta mesmo com as chaves certas.
Durante esse tempo, Eugene também havia descido do cavalo e observava os arredores. Embora tivesse entrado na floresta dois dias antes, não haviam se aprofundado tanto como agora.
Eugene observou as árvores densas. Via pequenos animais e insetos, mas nenhum monstro. Toda essa gigantesca floresta era rigidamente controlada como parte da propriedade principal.
“Só pelo clima natural, até parece que um elfo pode sair andando por aí”, observou Eugene.
Trezentos anos atrás, quando os Reis Demônios de Helmuth começaram a agir desenfreadamente, as raças que mais sofreram não foram os humanos, mas sim os elfos e os dragões. Cada vez que o poder sombrio de Helmuth crescia, mais elfos morriam, e os dragões que tentavam confrontar os Reis Demônios eram dizimados.
…Mesmo agora, com apenas dois dos cinco Reis Demônios restantes, essas duas raças ainda não haviam se recuperado totalmente dos desastres do passado.
— Certo, vamos entrar — chamou Gion.
Imerso em uma mistura de emoções complexas, Eugene levou um momento para se recompor antes de se virar.
— Está tudo impecável — comentou Eugene ao ver o interior da cabana.
— Há todos os tipos de magia lançadas aqui — respondeu Gion à pergunta implícita enquanto guiava Eugene para dentro.
Foram direto para a escada que levava ao porão.
— Podemos começar agora mesmo? — perguntou Eugene com empolgação.
— …Hm? — Gion soltou um som surpreso ao se virar para Eugene.
Depois de piscar os olhos por um momento, esboçou um sorriso forçado e assentiu com a cabeça.
— Se é isso que deseja — Gion concordou.
Era bom que Eugene fosse ambicioso. No entanto, Gion não conseguia deixar de se preocupar um pouco.
Aquele garoto, Eugene Lionheart, era realmente excepcional. Até Gion reconhecia isso. Embora não tivesse assistido pessoalmente à luta de Eugene contra Cyan nem à Cerimônia de Continuação da Linhagem, conseguia perceber claramente a verdade a partir do que ouvira. Além disso, os movimentos naturais de seu corpo eram tão leves e ágeis que era difícil acreditar que vinham de um garoto que sequer havia treinado mana.
“…Embora saber mover bem o corpo não signifique que ele vá ser igualmente bom com mana”, ponderou Gion.
Gion sabia bem disso. Ele também era alguém que ouvira elogios chamando-o de gênio desde jovem. No entanto, por mais que tivesse talento nas artes marciais, levou muito tempo para se familiarizar com a mana.
“Espero que ele não se decepcione depois de criar tantas expectativas à toa…”, Gion se preocupava em silêncio.
Quanto maior era a consciência do próprio talento e maior o orgulho nisso, mais dolorosa e frustrante era a sensação de fracassar repetidamente.
“Eu sou um gênio, então por que não consigo fazer isso?”
Quando criança, Gion levou bastante tempo para superar a frustração de seus fracassos. Eventualmente, conseguiu ultrapassar o muro que bloqueava seu progresso, mas iniciar sua mana pela primeira vez e dominar seu uso ainda assim fora extremamente árduo.
“…No momento, ele está especialmente vulnerável a isso, já que ainda está cheio de confiança em si mesmo”, suspirou Gion por dentro.
As conquistas de Eugene eram sem precedentes na história do clã Lionheart. Era a primeira vez que uma criança da linha colateral derrotava os filhos da linha direta e vencia a Cerimônia de Continuação da Linhagem. Também era a primeira vez que uma criança era adotada na família principal. E como se isso não bastasse, ele ainda havia reivindicado Wynnyd do tesouro da família e recebido permissão para entrar na linha ley.
Se até adultos ficavam chocados com essa lista de conquistas, imagine o quanto Eugene, um garoto de treze anos, devia estar cheio de orgulho por ter realizado tudo aquilo.
Cada vez que esse pensamento lhe passava pela cabeça, a expressão de Gion suavizava, tomada por preocupação. Embora soubesse que suas preocupações eram prematuras, Gion não conseguia evitar temer que Eugene desmoronasse diante das dificuldades da realidade.
Se Eugene pudesse ler os pensamentos de Gion, teria se dobrado de tanto rir. Frustração por não ser um gênio? Ele já havia passado por isso trezentos anos atrás.
Tendo estado ao lado do Grande Vermouth, ele conhecia bem a verdade sobre o que era um ‘gênio’, e isso havia sido esfregado em seu rosto repetidas vezes. Comparado a Vermouth, não havia uma única pessoa neste mundo com coragem suficiente para se chamar de gênio. Apenas Vermouth era digno desse título, e a palavra ‘gênio’ parecia existir apenas para alguém como ele.
Como Hamel, Eugene havia aceitado totalmente essa realidade.
“Hamel, o Estúpido.” Quando viu esse nome escrito em um livro infantil pela primeira vez, Eugene sentiu vontade de rasgar o autor anônimo em pedaços. Mas, pensando melhor, percebeu que o nome não era tão impreciso assim.
Afinal, Hamel tinha sido bem estúpido, ao contrário de Sienna, Anise e Molon, que jamais consideraram Vermouth como um rival. Para eles, Vermouth era apenas um amigo e companheiro com quem enfrentaram a morte lado a lado.
Embora Hamel também sentisse isso, ele fora o único que desejava superar Vermouth. Por isso, era o único que sempre discutia com as decisões dele.
— Sente-se ali, no meio — embora o porão estivesse completamente vazio, Gion apontou para o centro da sala. — Para o primeiro passo, tente apenas esvaziar a mente enquanto respira. Você começará sentindo a mana ao seu redor.
— Sim, senhor — Eugene obedeceu prontamente.
A mana estava sempre presente, mas era difícil de sentir. E, se alguém quisesse acumulá-la no corpo, precisava primeiro ser capaz de senti-la. O ‘treinamento’ propriamente dito só começava depois disso.
— A técnica de treinamento de mana que tem sido passada através da linha direta foi herdada de nosso ancestral, o Grande Vermouth — começou Gion sua lição.
“Oh”, Eugene se animou. Estava esperando por essas palavras.
— Embora, no início, talvez fosse igual à usada pelas linhas colaterais, hoje em dia ela é completamente diferente. Afinal, se passou muito tempo e… as linhas colaterais não têm permissão para transmitir o texto original — continuou Gion.
O Grande Vermouth havia traçado uma linha clara entre a família principal e seus ramos colaterais. Todos os ramos colaterais compartilhavam as mesmas raízes da família principal. Até mesmo o ancestral de Eugene havia sido um membro da linha direta no passado distante, mas foi afastado da família principal ao não conseguir se tornar Patriarca. Depois de serem exilados assim, uma restrição inescapável foi imposta a todos os ancestrais das linhas colaterais.
Essa restrição impedia que eles transmitissem o texto da técnica de treinamento de mana que haviam aprendido da família principal a seus descendentes. A única coisa que podiam passar adiante era uma imitação pobre da escritura original. Esse texto falso também fora feito por Vermouth, mas, é claro, era muito menos eficaz que a cópia original.
— Fórmula da Chama Branca — Gion pronunciou o nome da escritura ao despertar a mana dentro de seu corpo.
Uma mana que emitia uma luz branca pura envolveu imediatamente o corpo de Gion, como se uma chama o tivesse engolido por inteiro.
Eugene não sabia que o nome da escritura era ‘Fórmula da Chama Branca’, mas lembrava-se claramente da aparência única da mana gerada por ela.
A mana de alta qualidade que Vermouth usava sempre se manifestava na forma de uma chama branca pura, como a de Gion. Sempre que Vermouth avançava com essa mana em forma de chama ao redor do corpo, as faíscas que se espalhavam pareciam a juba de um leão esvoaçando ao vento.
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