Capítulo 46: Treinamento de Mana (4/9)
Continuando a lição, Gion explicou:
— As escrituras de treinamento de mana herdadas pelas linhagens colaterais têm todas como raiz a Fórmula da Chama Rubra, que é inferior.
Ao longo dos trezentos anos desde que a primeira linhagem colateral se separou, a Fórmula da Chama Rubra herdada por cada uma dessas linhagens passou por várias melhorias. Hoje em dia, as escrituras de treinamento de mana herdadas pelas casas colaterais mais antigas já quase não guardavam semelhança com a forma original.
No entanto, mesmo com essas modificações, a Fórmula da Chama Rubra ainda não conseguia alcançar todo o poder da Fórmula da Chama Branca. Mesmo após tanto tempo de desenvolvimento, as cópias ainda não conseguiam superar o original. A sabedoria e os esforços combinados de gerações inteiras não conseguiam se comparar ao Grande Vermouth.
A linhagem principal da família Lionheart tinha plena consciência disso. Por essa razão, eles nunca alteraram a Fórmula da Chama Branca, mantendo-a idêntica à forma original, pois não havia necessidade de mudança alguma. Qual seria o motivo para tentar melhorar algo que já era perfeito?
— Você vai aprender a Fórmula da Chama Branca — disse Gion.
Eugene, que até então observava distraidamente a chama de Gion, ergueu a cabeça e assentiu com entusiasmo ao ouvir isso. Embora o nome ‘Fórmula da Chama Branca’ lhe fosse estranho, sua aparência lhe era extremamente familiar. Era uma visão que, em sua vida passada, o fizera sentir frustração mais de uma vez.
Até o fim, Hamel não conseguiu superar o poder dessas chamas.
“…Haaah”, Eugene suspirou para si mesmo.
Sentia os ecos amargos do passado, mas isso não apagava a chama de empolgação que ardia dentro dele.
Gion prosseguiu:
— Claro, você não vai conseguir aprender de imediato. Primeiro, precisa ser capaz de sentir mana…
— Eu já consigo sentir — tomado pela empolgação, Eugene não teve paciência de ouvir até o fim e interrompeu Gion.
— …Hã? — Gion grunhiu, confuso.
— Eu disse que já consigo sentir a mana — Eugene repetiu.
Gion ficou sem palavras, olhando fixamente para Eugene por um instante, piscando como se não acreditasse no que ouvira. Então, caiu na risada diante daquela afirmação absurda.
— Isso é só uma ilusão — corrigiu Gion.
Ele entendia como Eugene podia ter se enganado. Quando alguém se envolvia demais com algo, era fácil que certos delírios surgissem.
— É verdade — Eugene insistiu.
— …Hm… — Gion resmungou, se perguntando como convencer Eugene de que estava errado.
Após alguns momentos de reflexão, Gion provocou sua própria mana. Segundo sua vontade, uma leve centelha de mana se moveu e pairou ao lado de Eugene.
Quando Eugene permaneceu em silêncio, Gion sorriu e disse:
— Viu? Ainda é cedo pra você…
— Está aqui — disse Eugene, apontando para a coxa esquerda. — A mana se concentrou nesse ponto.
— … — O rosto de Gion congelou, atônito.
Não podia ser. Gion moveu sua mana novamente. Dessa vez, ao invés de concentrá-la num único ponto, ele a dispersou. Um fio de mana serpenteou ao redor do corpo de Eugene.
— Aqui, ali, em cima, agora embaixo. Quer que eu continue por quanto tempo? — Eugene perguntou enquanto sua mão seguia o fluxo da mana.
Cada vez que acertava, o queixo de Gion caía mais. Por fim, ele deu alguns passos para trás e balançou a cabeça com força.
— …Isto é inacreditável — murmurou Gion, chocado.
Talvez isso fosse apenas um sinal de que os cinco sentidos de Eugene eram excepcionalmente desenvolvidos. Gion mudou novamente o movimento da mana. Em vez de deixá-la tocar o corpo de Eugene, afastou-a.
— Ali.
Mas mesmo assim, Eugene conseguiu apontar a direção correta sem hesitar.
Gion foi tomado por uma vertigem. Isso era mesmo possível? Um garoto de treze anos que ainda não havia treinado sua mana, que nunca recebeu nenhum treinamento para desenvolver sua percepção, ser capaz de sentir a mana logo de primeira?
— … — Gion tentou falar, mas as palavras lhe faltaram.
E ainda nem haviam chegado à parte em que Gion colocaria mana diretamente no corpo de Eugene! Eugene havia aprendido a sentir mana por conta própria. Se ele tivesse conseguido sentir mana depois de dez dias de ajuda, Gion já teria considerado isso rápido. Mas Eugene era rápido demais. Tão rápido que parecia inacreditável.
— …Haha — Gion finalmente saiu do transe e caminhou até Eugene, balançando a cabeça. — …Por mais rudes que essas palavras possam parecer… como teria sido maravilhoso se você tivesse nascido na família principal.
— Fui adotado por ela, não fui? — perguntou Eugene.
— Adotado… É verdade. Isso já é o bastante — concordou Gion com um sorriso torto.
Gion sentou-se à frente de Eugene e segurou suas mãos, de modo que seus braços formaram um círculo.
— …Se você já consegue sentir a mana, então podemos começar agora mesmo. A partir de agora, apenas foque no que está acontecendo dentro do seu corpo, sem se distrair — disse Gion com seriedade.
— Sim, senhor — respondeu Eugene obedientemente.
Gion começou a transmitir a Fórmula da Chama Branca. Eugene fechou os olhos e voltou sua concentração para dentro de si. Logo, a mana começou a fluir para dentro de seu corpo através das mãos de Gion. A mana pulou pelos pontos onde suas mãos estavam unidas e então se espalhou em diversos ramos dentro do corpo de Eugene.
Seu corpo jamais havia absorvido mana antes. No entanto, o corpo de Eugene parecia capaz de absorver mana ‘bem’, num grau quase inacreditável. Esse fato voltou a surpreender Gion.
Gion murmurou para si mesmo:
— Ele é um gênio… Não, isso é…
Seus olhos vacilaram. Ele aumentou um pouco a intensidade do fluxo de mana que enviava a Eugene. Não estava ensinando uma técnica corporal, e sim a respiração de mana. Gion guiou Eugene a se tornar consciente da mana presente no ar que respirava e o ajudou a memorizar como fazer essa mana fluir pelo corpo segundo um padrão definido, formando assim o ciclo de respiração de mana.
Eugene concentrou-se em sentir como a mana fluía dentro de si. À medida que a mana se espalhava por seu corpo, ela formava um centro em seu coração. A mana convergia ao redor do coração e então se assentava nos vasos sanguíneos ligados a ele.
A mana começou a fluir de volta, junto com o sangue. Embora fluíssem juntos, o movimento da mana não seguia exatamente o sistema circulatório do sangue.
“…Ele é um monstro”, concluiu Gion em pensamento.
Gion aos poucos cortou o fluxo de mana que infundia em Eugene. No entanto, a circulação da mana dentro do corpo de Eugene não parou com a retirada da mana de Gion. Isso mostrava que Eugene já era capaz de controlar o fluxo de mana por conta própria. Ele ainda fazia questão de não apressar o processo, indo devagar para que seu corpo tivesse tempo de se acostumar. Gion não conseguia deixar de se surpreender com o quanto Eugene já havia conseguido.
— …Não pare de respirar — Gion conseguiu dizer por fim, com a voz trêmula. — Imagine que está respirando a mana da linha ley a cada inspiração. Isso, assim mesmo… Pegue a mana que inspirou e guie-a para seguir o caminho de circulação da Fórmula da Chama Branca. Agora volte… volte para o coração.
O rosto de Eugene não expressava nenhuma reação. Toda a sua atenção estava focada em memorizar o fluxo da mana. Então, ao inspirar mais mana, guiou-a para o interior do coração.
Gion já não segurava mais as mãos de Eugene. Sem conseguir fechar a boca de espanto, ele se levantou e deu alguns passos para trás.
— …Isso mesmo… você está indo… muito bem — as palavras que escaparam lentamente de seus lábios pareceram ridículas até para ele.
‘Indo bem’? Como essas palavras podiam bastar para descrever o que estava acontecendo? Era só que ele não sabia o que mais dizer, e acabou soltando algo banal como aquilo.
A cada respiração que dava, Eugene agitava a mana rica da linha ley. Como havia acabado de iniciar sua mana, seu corpo deveria ter um limite rígido quanto à quantidade que podia absorver. Ou pelo menos, era assim que deveria ser. No entanto, Eugene estava no meio de quebrar esse senso comum em pedaços.
“Isso é insano.”
Gion não era o único surpreso. Eugene também estava surpreso com o desempenho do corpo no qual havia reencarnado. Por ter as memórias de sua vida passada, sentir mana não era difícil para ele. O mesmo valia para formar o ciclo de respiração de mana.
No entanto, mesmo com isso, seu corpo estava absorvendo mana com uma facilidade espantosa. A ponto de ele sentir a quantidade armazenada dentro de si aumentando de forma significativa a cada respiração. É claro, até mesmo um pequeno aumento pareceria significativo quando seu corpo não tinha nenhuma mana no começo. Ainda assim, por melhor que fosse sua sensibilidade à mana, era fato que sua taxa de absorção superava todas as expectativas.
“…Mas parece que ainda tenho limites”, Eugene finalmente percebeu.
Havia um fim inevitável para a quantidade de mana que aquele corpo jovem podia absorver. Após permanecer imerso em concentração por um bom tempo, Eugene abriu a boca e soltou um longo suspiro ao abrir os olhos. Seu corpo todo estava pegajoso de suor.
— …Haha — Eugene riu, satisfeito.
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