Capítulo 54: Aroth (3/7)
Embora Eugene tivesse saído imediatamente para encontrar Gilead, ele não podia simplesmente invadir o escritório do Patriarca. Enquanto trocava cumprimentos casuais com os empregados da família principal, Eugene enviou um pedido formal para uma audiência. Pouco depois, o Mordomo-Chefe veio pessoalmente escoltá-lo até o escritório de Gilead.
— Você devia pensar melhor antes de decidir — Cyan tentou persuadir Eugene.
— Já pensei bastante nisso antes de tomar minha decisão — respondeu Eugene.
Cyan respirou fundo e engoliu suas objeções. Pensando bem, era ridículo tentar segurar Eugene ali. Se aquele monstro resolvesse estudar magia, isso não significaria que seu treinamento em artes marciais diminuiria?
“Na verdade, isso seria até melhor pra mim”, percebeu Cyan.
Embora Eugene estivesse à frente dele no momento, Cyan também alcançaria a Terceira Estrela dentro de alguns anos. Então decidiu encarar a partida de Eugene como uma oportunidade. Claro, não pretendia se contentar apenas com a Terceira Estrela da Fórmula da Chama Branca. Ele esperava, de alguma forma, chegar à Quarta Estrela antes de se tornar adulto.
“…Mas será que eu consigo mesmo?”
Falando sinceramente, ele tinha suas dúvidas. Em toda a história do clã Lionheart, ninguém jamais havia alcançado a Quarta Estrela da Fórmula da Chama Branca ainda na adolescência. Nem mesmo os antepassados que ficaram conhecidos como gênios, e nem Gilead ou Gion, tinham ultrapassado a Terceira Estrela antes da vida adulta.
Ou seja, o simples fato de alcançar a Terceira Estrela nessa idade já era suficiente para ser comparado aos grandes talentos do passado.
No entanto, esse pensamento só deixava um gosto amargo na boca de Cyan. Eugene e ele tinham a mesma idade, dezessete anos, mas naquele dia, Eugene já havia atingido a Terceira Estrela da Fórmula da Chama Branca.
Era um avanço sem precedentes… Não era como se fosse a primeira vez que aquele garoto monstruoso deixava sua marca na história da linha direta, mas… Cyan soltou um suspiro pesado enquanto encarava as costas de Eugene. Ele estava esperando uma resposta do outro lado da porta antes de entrar no escritório de Gilead.
“…Eu também…”
Cyan se forçou a engolir mais um suspiro que ameaçava escapar e voltou a olhar para frente. Já fazia quatro anos desde que Eugene se juntara à família principal. Desde então, Cyan havia sofrido derrotas incontáveis contra aquele irmão absurdo com quem não compartilhava nem uma gota de sangue.
Essas derrotas sucessivas ensinaram a Cyan uma lição inquestionável: o desespero não gera nada além de mais desespero. Em vez de se entregar ao desânimo, suar uma única gota em esforço era muito mais útil.
— …Tsk… — Cyan estalou a língua ao se lembrar de uma memória desagradável.
Afinal, não foi uma lição que ele aprendeu sozinho. Quando ainda era criança, o desespero por não conseguir vencer Eugene o fez se esconder em seu quarto, enfiado debaixo das cobertas. Mas Eugene arrombou a porta, entrou no quarto e deu um chute na bunda dele.
— Você acha mesmo que eu vou ficar brincando enquanto você faz esse tipo de merda?
Mesmo que Cyan fosse consumido pelo desespero, Eugene continuaria treinando sem faltar um único dia. E assim, a diferença entre eles só aumentaria.
Lembrando-se disso, Cyan deixou Eugene por conta própria e voltou ao ginásio.
— O que o traz aqui tão cedo? — Gilead recebeu Eugene com um sorriso caloroso.
Antes de ir direto ao ponto, Eugene se curvou e disse:
— Vim porque tenho algo a relatar.
— Relatar? — Gilead inclinou a cabeça, curioso.
Estava ansioso para saber qual seria a nova surpresa que seu filho adotivo traria dessa vez.
Ao se sentar no sofá, Eugene começou a falar:
— Hoje de manhã, alcancei a Terceira Estrela da Fórmula da Chama Branca.
Com essas palavras, Gilead se levantou da cadeira num salto.
— Isso é verdade? — perguntou, espantado.
— Sim, senhor — confirmou Eugene.
Gilead se aproximou com passos apressados. Atendendo ao pedido não verbal, Eugene fez com que as estrelas ao redor do coração ressoassem. Quando as chamas brancas envolveram seu corpo, Gilead respirou fundo, surpreso, e depois caiu na gargalhada.
— …Ha… hahaha!
Depois de adotar Eugene, Gilead já tinha passado por tantas situações inusitadas que achava que nada mais conseguiria surpreendê-lo. Mas, mais uma vez, ficou maravilhado. Era mesmo possível alcançar a Terceira Estrela da Fórmula da Chama Branca aos dezessete anos? Nenhum de seus antecessores jamais havia feito isso com essa idade.
Sentando-se novamente diante de Eugene, Gilead balançou a cabeça.
— …Adotar você para a família principal… talvez tenha sido a melhor coisa que já fiz — admitiu.
— Tudo isso foi graças ao apoio do Patriarca — respondeu Eugene com um leve sorriso.
Embora já fizesse quatro anos desde sua adoção, Eugene ainda não havia chamado Gilead de ‘pai’. O único a quem ele chamava de pai era seu verdadeiro genitor, Gerhard.
Gilead não sentia nenhum desconforto por causa disso. Pelo contrário, admirava a piedade filial de Eugene em relação ao pai biológico e sentia orgulho por ter um filho adotivo tão atencioso. Mas… se ao menos uma criança tão impressionante fosse verdadeiramente seu filho… então ninguém se oporia a que Eugene se tornasse o próximo Patriarca. Pelo contrário, todos se uniriam em torno da ideia de que Eugene deveria herdar o título.
“…Eu não deveria ter esse tipo de pensamento”, Gilead tentou afastar essa ideia perigosa com um leve abanar de cabeça.
Pensamentos descuidados assim só levariam a sangue derramado e morte. Pelo bem do clã, e claro, de sua própria família, Gilead não queria forçar seus filhos a cruzarem lâminas uns com os outros.
Depois de afastar tais pensamentos, Gilead prosseguiu:
— …Meu apoio, hein… Não acho que tenha feito nada tão impressionante assim. Esse feito é mérito exclusivo do seu esforço.
— Mas foi graças ao apoio do Patriarca que consegui me esforçar tanto — argumentou Eugene.
Gilead, ao observar atentamente o rosto sorridente de Eugene, caiu na risada.
— Parece que você quer alguma coisa — observou.
Sem hesitar, Eugene confessou:
— Quero aprender magia.
No passado, Eugene precisava manter uma fachada infantil ao conversar com Gilead, mas agora isso já não era mais necessário. Ele havia amadurecido bastante, e Gilead também já estava acostumado com a franqueza de Eugene nesses últimos quatro anos.
— …Magia? — Gilead repetiu.
Apesar disso, essa não era uma vontade que ele poderia atender com tanta facilidade quanto as anteriores. A confusão que sentia era a mesma que Cyan havia sentido. Por que Eugene queria aprender magia de repente? Durante os últimos quatro anos, ele nunca demonstrara interesse algum pelo assunto.
— …Você está falando sério? — perguntou Gilead.
— Sim, senhor — confirmou Eugene.
— Mas por quê? Ninguém da nossa linhagem jamais alcançou a Terceira Estrela da Fórmula da Chama Branca com a sua idade. Se continuar se esforçando como até agora, talvez consiga chegar à Quarta Estrela antes de se tornar adulto.
— Ainda assim, poderei treinar com afinco, mesmo estudando magia — Eugene declarou com firmeza.
Embora isso pudesse soar arrogante, na visão de Eugene, alguém como ele tinha o direito de dizer tal coisa.
— Senhor Patriarca. Nestes quatro anos desde que fui adotado pela família principal, jamais deixei seus cuidados — disse Eugene, endireitando as costas e encarando Gilead com firmeza. — Hoje, ao alcançar a Terceira Estrela, percebi algo. Se eu continuar aqui no domínio principal, treinando do mesmo modo, não acredito que meu crescimento vá se manter no mesmo ritmo.
— …Hm… — Gilead murmurou, pensativo.
— Me falta experiência real — concluiu Eugene.
Embora seu tom fosse calmo, Gilead sentia uma vitalidade transbordante por trás daquelas palavras, algo condizente com a juventude de Eugene. Sua voz transmitia sinceridade e desejo por crescimento.
Eugene prosseguiu com confiança:
— Quero aprender muito mais, especialmente sobre magia. Apesar de nunca ter estudado isso antes, sei que é uma disciplina que também utiliza mana. Mesmo que eu ainda não saiba se tenho grande talento para magia, acredito que, ao me aprofundar nela, poderei enxergar a mana sob uma nova perspectiva.
— … — Gilead permaneceu em silêncio.
— Mesmo que eu não consiga avançar muito, o simples fato de aprender algo novo já será uma grande experiência para mim. Tenho certeza de que isso não será em vão. Por isso, me atrevi a fazer esse pedido — Eugene concluiu e, com os olhos brilhando, colocou as mãos sobre os joelhos e fez uma profunda reverência. — Eu lhe peço sinceramente.
— …Haha — Gilead soltou outra risada. Depois, balançando a cabeça de um lado para o outro, disse: — Levante a cabeça. Acha mesmo que precisa se curvar tanto por um pedido simples desses?
— Sim, Patriarca.
— Mesmo que eu seja o Patriarca, como eu poderia jogar um balde de água fria no seu desejo ardente de aprender e crescer? Eugene, eu entendo o que você quer dizer. Então, se deseja mesmo aprender magia… não tenho escolha senão autorizar.
Eugene, ainda de cabeça baixa, sorriu em alívio. Mas, ao levantar o rosto, já não havia mais nenhum traço de diversão em sua expressão.
— Então, como exatamente você pretende aprender magia? — Gilead perguntou.
— Isso é… — Eugene hesitou.
— Já que veio pedir minha permissão, suponho que já tenha pensado nisso, certo?
— Quero ir para Aroth.
Embora Gilead já esperasse essa resposta, não conseguiu esconder seu incômodo ao ouvir Eugene mencionar o Reino da Magia. Se alguém quisesse estudar magia de verdade, Aroth era sem dúvida o melhor lugar. …E se não fosse pelo que seu filho mais velho, Eward, havia passado em Aroth, Gilead não teria sentido desconforto algum com essa ideia.
— …Aroth, é? — murmurou Gilead.
— Não preciso de mais nada, apenas da sua permissão — Eugene continuou rapidamente.
A partir daquele ponto, Eugene sabia que precisava ter cuidado com suas palavras. Eward era o ponto fraco de Gilead. Apesar de ser o filho mais velho, Eward nunca alcançara feitos notáveis nas artes marciais; e embora demonstrasse interesse por magia desde pequeno, também não progredira muito nesse campo.
Mesmo estando em Aroth desde que fora enviado para lá, quatro anos atrás, Eward não conseguira se desvencilhar do peso do prestígio do clã Lionheart, acabando por se tornar motivo de zombaria por ter conseguido entrar na torre apenas por meio de conexões.
Eugene não queria se envolver com Eward. Sua intenção ao ir para Aroth era apenas aprender magia e seguir quaisquer pistas deixadas por Sienna.
No entanto, bastava alguém ouvir a palavra ‘Aroth’ no domínio principal para que automaticamente pensasse em Eward. Por isso, Eugene precisava ser extremamente cauteloso para não provocar mal-entendidos desnecessários.
Gilead enfim afastou seu desconforto e disse:
— …Se é isso que você deseja, então só me resta conceder permissão para sua ida. Mas permita que eu informe Lovellian primeiro.
— Embora eu agradeça por sua consideração, não gostaria de receber muito apoio — Eugene fez uma pausa, observando a expressão de Gilead antes de continuar. — …Sendo sincero… qualquer assistência seria um fardo muito pesado, e o Mestre Lovellian também deve estar muito ocupado. Se possível, gostaria de estudar sozinho, com discrição, sem depender da ajuda dele.
— Isso vai ser bem difícil — Gilead comentou, sem conter um sorriso irônico. — Mesmo que você saia do domínio principal, ainda é membro do clã Lionheart. No momento em que chegar a Aroth, muitos magos de lá estarão de olho em você. Mesmo que recuse, muitos tentarão se aproximar para fazer conexões com o clã.
— Então não aceitarei nenhuma dessas aproximações — Eugene afirmou com determinação.
— …Sua convicção é admirável — elogiou Gilead com um suspiro.
Ah, se ao menos seu filho mais velho fosse assim… Quando pensamentos perigosos voltaram à sua mente, Gilead balançou a cabeça para afastá-los.
— …Eugene, só me prometa uma coisa — pediu Gilead.
— O que seria? — perguntou Eugene.
— Não se envolva com magia negra.
Em Aroth havia a Torre Negra da Magia, onde se reuniam magos negros. Embora sua reputação fosse sombria, não circulavam boatos verdadeiramente perturbadores a respeito deles, e, ao contrário dos velhos tempos, a opinião pública sobre os magos negros já não era tão negativa. No entanto, o clã Lionheart fora fundado pelo Grande Vermouth. Embora alguns ramos colaterais tivessem se especializado em magia, a magia negra continuava sendo proibida dentro do clã, como uma regra não escrita.
— Também detesto magia negra — Eugene respondeu sem a menor hesitação.
Gilead assentiu, aliviado, e disse:
— Contanto que me prometa isso, não moverei um dedo. Você será livre para partir para Aroth da forma que quiser. Nem sequer informarei Lovellian. …Espero que você não tenha que passar pelos mesmos problemas que Eward enfrentou. Há mais alguma coisa que deseja pedir?
— Gostaria de pedir, sem vergonha nenhuma, uma mesada.
— Quanto tempo pretende ficar em Aroth?
— Preciso ir até lá e começar a estudar para ter uma ideia melhor de quanto tempo levarei, mas não acho que voltarei antes de me tornar adulto.
— Então pretende ficar por pelo menos alguns anos.
— Bem, é a única maneira de realmente aprender alguma coisa — Eugene confirmou, rindo.
— Hm, isso de fato faz sentido. Mas, já que magia é uma disciplina completamente diferente de tudo o que você aprendeu até agora… será impossível progredir se for com metade do empenho — Gilead o advertiu.
Ele nunca havia aprendido magia em sua vida passada. Por isso, nem mesmo Eugene tinha confiança o suficiente para afirmar que progrediria rapidamente.
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