Capítulo 56: Aroth (5/7)
Embora Gilead tivesse oferecido uma escolta, Eugene recusou veementemente. Afinal, não seria constrangedor ser seguido por guardas armados o tempo todo?
— Não é como se a segurança pública de Aroth fosse tão ruim assim, e eu sou habilidoso o bastante para me virar sozinho — Eugene argumentou.
As cinco Torres Mágicas ficavam na capital de Aroth. Como ele estava indo para uma cidade tão movimentada, e não para algum vilarejo remoto, não havia necessidade de uma escolta.
Gion o apoiou:
— Com as habilidades do Eugene, ele não precisa de escolta.
Como até Gion havia se pronunciado a favor, Gilead não teve outra escolha a não ser concordar.
Os dois adultos estavam bem cientes de que Eugene possuía níveis de habilidade e experiência inacreditáveis para alguém da sua idade. E como ele também havia alcançado a Terceira Estrela da Fórmula da Chama Branca, já não podiam mais tratá-lo como uma criança. Com sua idade e capacidade, Eugene precisava aprender a tomar suas próprias decisões.
“…Diferente do Eward.”
Gilead engoliu o amargor desse pensamento com um gole de vinho.
No dia seguinte, todos compareceram para se despedir de Eugene, que se dirigia ao portão de teletransporte nos arredores da floresta da propriedade. Gerhard, que no dia anterior sorria alegremente, caiu em lágrimas ao ver Eugene partindo.
— Coma direitinho e não pule refeições.
— Sim.
— Se ficar doente, procure um médico imediatamente.
— Sim.
— Se as coisas ficarem difíceis ou solitárias… não tente aguentar sozinho, volte, entendeu?
— Sim, entendi.
Eugene respondeu a cada conselho de Gerhard de maneira breve.
Era difícil encarar o pai diretamente, vendo aquele homem chorar de preocupação e afeto. No passado, Eugene mal reconhecia Gerhard como pai, mas, curiosamente, à medida que envelhecia, passava a sentir que Gerhard era realmente seu pai, mesmo tendo reencarnado.
“…Ele é meu verdadeiro pai, afinal.” Mesmo ao pensar isso, Eugene falou em voz alta:
— Para com esse choro. Acha mesmo que estou indo pra morrer?
Gerhard empalideceu:
— Não provoca o destino assim.
— Só vou aprender magia. Talvez fazer um pouco de turismo pelos arredores de Aroth também — Eugene tentou tranquilizá-lo.
— Você viveu a maior parte da vida em Gidol, e nos últimos anos ficou o tempo todo na sede. Como alguém que nunca viu o mundo, eu só fico apreensivo com a ideia de você viver sozinho em Aroth… — Gerhard disse, hesitante.
— Eu vou ficar bem. Então para de chorar. Os criados estão olhando — disse Eugene, tirando um lenço do colete e enxugando as bochechas do pai.
— E levar a Nina pelo menos?
— A Nina também chegou jovem na sede, então ela é tão ignorante do mundo quanto eu. Além disso, eu já disse pra ela aproveitar e tirar férias na cidade natal.
— Muito obrigada pela consideração, senhor — Nina interrompeu com um sorriso e uma reverência.
Eugene havia pedido pessoalmente ao Patriarca que concedesse folga à Nina para tirar essas férias. Graças a isso, ela pôde visitar sua terra natal com uma bolsa cheia de moedas e escolta para protegê-la.
— Estou indo então — Eugene disse, entregando o lenço encharcado ao pai. — Não vou escrever com frequência, mas vou mandar notícias de vez em quando, quando lembrar. Então o senhor também precisa se cuidar, entendeu, pai?
Gerhard tentou responder, mas só conseguiu soltar um soluço.
— Poxa, eu falei pra parar de chorar. Acha mesmo que vou desistir de ir só porque o senhor tá chorando?
— V-você vai de qualquer jeito… — Gerhard murmurou.
— Me conhece bem demais. É por isso que devia me deixar partir com um sorriso de adulto.
Por fim, Gerhard parou de chorar e forçou um sorriso. Mas Eugene percebeu que havia cometido um erro. Ao ver o rosto manchado de lágrimas do pai, sentiu como se martelassem seu peito.
Ainda assim, Eugene não mudou sua decisão. Acompanhado pelo sorriso choroso do pai e pelas despedidas dos membros da família principal, Eugene partiu em direção ao portão de teletransporte. Não olhou para trás nem uma vez. Assim como em sua vida passada, Eugene nunca voltava atrás depois de tomar uma decisão.
A capital do Reino Mágico de Aroth chamava-se Pentágono. As cinco Torres Mágicas formavam os vértices de um pentágono, com o Palácio Real ao centro.
Eugene observava aquela cena do alto, admirado. Embora já tivesse visitado Aroth em sua vida anterior, a paisagem de então era bem diferente daquela que via agora.
— …Uau…
As cinco Torres Mágicas, majestosas e imponentes, chamavam muito mais atenção que o próprio palácio. E não podia ser diferente. As torres eram o símbolo de Aroth e a fonte de seu poder. Ao contrário de outros reinos, o rei de Aroth tinha quase nenhum poder governamental. Quem de fato governava era o primeiro-ministro do parlamento.
— Uau…
Daquele ponto alto, Eugene tinha uma visão esplêndida da cidade que se estendia embaixo.
Os portões de teletransporte de Pentágono se abriam no céu, contidos em grandes estações flutuantes. Entre os diversos reinos, Aroth era o único que possuía portões de teletransporte localizados no céu. Cada estação flutuante se mantinha suspensa graças a vários encantamentos mágicos e eram símbolo do orgulho de Aroth, que se auto proclamava o Reino da Magia.
“Eles não tinham nada assim na minha vida passada.”
Elevar um pedaço de terra desse tamanho até o céu e fixar coordenadas para que servisse como um portal de teletransporte… Além de exibir o poder da própria magia, era uma estratégia para vender conveniência e qualidade.
Milhares de pessoas queriam visitar as estações flutuantes de Pentágono apenas para contemplar a capital em uma única vista panorâmica.
— Não é incrível? — uma voz aguda disse a Eugene. — Essa paisagem pode até ser considerada um patrimônio cultural de Aroth. Existem nada menos que quinze estações flutuantes ao redor de Pentágono, e todas foram criadas pela Sábia Sienna.
— …Uau — Eugene exclamou, um tanto desconfortável.
A voz continuou seu discurso:
— Para ir desta estação do Portão Leste, onde o senhor Eugene está agora, até o Palácio Real, levaria pelo menos meio dia mesmo com uma carruagem. No entanto, só com o uso dos portais entre as estações flutuantes, podemos reduzir drasticamente a distância percorrida…
Até mesmo um cego entenderia o que isso significava.
— Além disso, há carruagens aéreas designadas para cada estação flutuante! Com essas carruagens, até mesmo quem sofre de enjoo de teletransporte pode chegar ao destino apreciando a vista de Pentágono com o mesmo conforto de estar deitado em sua própria cama.
— …Essas também foram ideia daquela garota… digo, da Dama Sienna?
— Claro que foram! Ah, mas não precisa se preocupar. Apesar de terem sido construídas com técnicas mágicas de centenas de anos atrás, elas são constantemente aprimoradas e mantidas, então a taxa anual de acidentes é baixíssima.
Mas isso queria dizer que não era nula.
— …Hm… — Eugene murmurou, pensativo.
O homem ao lado de Eugene, que falava sem parar dando explicações, era um guia da estação flutuante do Portão Leste. Devido ao grande número de turistas, cada estação contava com muitos guias.
A maioria deles era composta por jovens magos inexperientes que não conseguiram entrar em uma torre e trabalhavam como guias para cobrir as despesas de vida e estudos.
“Foi um erro ter vindo com essa roupa”, Eugene pensou com uma careta ao olhar para o próprio peito.
Ele vestia o traje oficial da família Lionheart, com o brasão bordado no lado esquerdo. Por causa dessa roupa, que colocara sem pensar, um guia foi designado para ele assim que saiu do portal.
— As atrações turísticas em Pentágono são…
— Só um instante — Eugene interrompeu, abrindo um folheto turístico.
Depois de dar uma olhada rápida nas atrações listadas, Eugene assentiu.
— …Gostaria de contratá-lo apenas por hoje.
— Se assinar agora, posso oferecer um pacote com quatro dias pelo preço de uma semana inteira — sugeriu o guia.
— Está tudo bem. Vamos só assinar o contrato agora.
Por ora, havia apenas um lugar que Eugene queria visitar. Depois disso, planejava ir direto à Torre Vermelha da Magia para encontrar Lovellian.
Como se já esperasse por isso, o guia puxou um contrato. Depois que Eugene assinou com a caneta fornecida, retirou um cheque de um milhão de sals da carteira e o entregou ao guia.
— Uau! — o guia exclamou animado.
Eugene explicou:
— Isso cobre o pagamento de hoje e quaisquer despesas que surgirem.
— Farei o meu melhor para guiá-lo.
— Por enquanto… quero visitar a mansão da Sábia Sienna.
— Uma escolha excelente — elogiou o guia, sorrindo. — Ao visitar Pentágono, os três pontos obrigatórios são: a mansão da Sábia Sienna, as Torres da Magia e a vista noturna das estações flutuantes.
— Vou ter a chance de ver a vista à noite depois. Agora, só quero caminhar um pouco pela mansão sozinho.
— Sozinho?
— Isso mesmo.
— Como desejar — o guia fez uma reverência e se virou para guiá-lo.
“…Então esse é Eugene Lionheart”, o guia pensou ao lembrar o nome escrito no contrato enquanto caminhava em direção ao portal. “Mas por que ele veio para Aroth? Será que quer aprender magia como o filho mais velho? Ou será que veio buscar aquele idiota?”
O nome Eward Lionheart também era bem conhecido em Pentágono. Especialmente entre os jovens e pobres magos que precisavam trabalhar em bicos como guias para pagar as contas, o nome de Eward era alvo de inveja.
“…Se nasceu numa família de guerreiros, que aprendesse artes marciais. Para que bancar o sabe-tudo e vir aprender magia sem saber porcaria nenhuma?”
Mesmo sem ter muito talento, Eward conseguiu entrar numa Torre da Magia apenas por meio de conexões pessoais. Embora não tivesse se tornado discípulo do Mestre da Torre Vermelha, isso ainda lhe permitiu aprender magia com um dos subordinados do Mestre.
Para esses jovens magos pobres, ele era visto como um idiota, um tolo, e um filho da mãe.
Após passarem pelo portal de teletransporte, o guia apontou pela janela:
— A mansão da Sábia Sienna está ali, bem abaixo de nós.
Por ser um destino turístico tão famoso em Pentágono, uma estação flutuante havia sido designada especialmente para ela.
Enquanto desciam na carruagem aérea, o guia continuava a tagarelar:
— Trezentos anos atrás, após retornar do Reino Demoníaco de Helmuth, Dama Sienna se tornou a pessoa mais jovem da história de Aroth a alcançar o posto de Mestre de Torre. Na praça em frente à Torre Verde da Magia, da qual Sienna foi responsável, há uma estátua que reproduz perfeitamente sua aparência.
Eugene continuava olhando a paisagem pela janela, sem responder.
— Esta mansão foi o último lugar onde Dama Sienna foi vista. Duzentos anos atrás, ela deixou uma mensagem dizendo que entraria em reclusão… e desapareceu.
— Já ouvi essa história também — Eugene, que ouvia em silêncio até então, virou o rosto e disse. — Ainda é um mistério para onde Dama Sienna foi depois de deixar aquela mensagem, não é?
— Sim, exatamente. Dama Sienna apagou todas as pistas que poderiam revelar seu paradeiro. Muitos magos de Aroth, até mesmo os próprios discípulos dela, tentaram seguir seus rastros, mas ninguém descobriu para onde ela foi.
— Nenhuma teoria? Nem boatos?
— Claro que houve muitos boatos não confirmados. Alguns dizem que ela voltou ao Reino Demoníaco para eliminar os Reis Demônios remanescentes. Outros dizem que se embrenhou na Floresta Samar, o santuário dos elfos… — O guia parou para puxar da memória. — …Há até rumores de que ela teria contraído uma doença incurável e se isolado para morrer em paz.
Eugene permaneceu em silêncio. — …
— É impossível saber o quanto disso é verdade. O fato é que Dama Sienna não foi vista nem uma única vez nesses últimos duzentos anos. — O guia abaixou o tom de voz e assumiu uma expressão triste. — O lamentável é que o dia em que Dama Sienna desapareceu também era seu aniversário. O que será que aconteceu para que ela escolhesse o isolamento justamente no dia em que deveria celebrar? É só uma opinião minha, mas acredito que Dama Sienna tenha ido para Helmuth.
— Por que acredita nisso? — Eugene perguntou.
— Duzentos anos atrás marcaria o centenário do retorno de Dama Sienna do Reino Demoníaco. Cem anos desde que foi forçada a voltar, deixando para trás o corpo de seu camarada, o Estúpido Hamel… Na véspera do aniversário, Dama Sienna talvez tenha lembrado o destino de seu companheiro e…
— … — Eugene ficou sem palavras.
— ‘Quero vingar Hamel…’ talvez tenha sido esse o desejo que levou Dama Sienna a partir. O senhor deve ter ouvido isso também, não é, Sir Eugene? Dizem que Hamel gostava de Dama Sienna. Como um garoto imaturo, ele não conseguia confessar seus sentimentos, então a provocava durante toda a jornada… Aí, pouco antes de morrer, ele teria confessado seu amor…
— Cala a boca com essa merda! — Eugene explodiu de repente, incapaz de se conter.
— Hã? — o guia recuou, atônito com a explosão repentina.
Eugene gaguejou tentando se explicar:
— Ah, não… Eu só… Isso foi…
— Ahah… — depois de piscar surpreso por alguns segundos, o guia soltou um som de compreensão e abriu um largo sorriso. — Parece que o senhor Eugene é totalmente contra o romance entre Hamel e Dama Sienna.
— …Bom, sim, mas…
— Eu costumava discutir com meus amigos sobre isso na juventude. Sempre defendi que o romance de Dama Sienna com Hamel era real, mas eles insistiam que Dama Sienna e o Grande Vermouth estavam apaixonados de verdade. Foi por isso que ficou tão bravo, certo?
— … — Eugene não achava palavras.
— Mas até que seria uma história interessante. O Estúpido Hamel… constantemente frustrado por Vermouth, até perdeu o amor para o herói… e no fim, ainda se jogou na frente do golpe destinado ao Vermouth e confessou seu amor antes de morrer… Ah, eu adoro histórias trágicas assim.
Eugene começou a considerar seriamente se, por ter pago um milhão de sals, não teria o direito de dar um tapa na boca daquele guia.
— De todo modo, é apenas no que acredito. Dama Sienna deixou Aroth e foi sozinha até Helmuth para vingar Hamel… mas no fim, não conseguiu sua vingança… e fechou os olhos para sempre em Helmuth…
— …Você realmente gosta de tragédias — Eugene comentou com dificuldade.
— Em Aroth, há muitos romances escritos sobre Dama Sienna. Se quiser, posso trazer alguns para o senhor.
— Não precisa… Mas… sobre Dama Sienna ter ido a Helmuth, isso é só suposição, certo?
— Não é sem fundamento. É uma história bem famosa. Dama Sienna detestava magia negra e os demônios, e até o seu desaparecimento, ela se opunha firmemente à construção da Torre Negra da Magia.
A Torre Negra da Magia havia sido erguida em Aroth há duzentos anos.
Isso significava que ela fora construída pouco após o desaparecimento da Sábia Sienna.
— …Alguns dizem que os magos negros radicais que defendiam a construção da Torre Negra podem ter assassinado Dama Sienna, mas…
— Não existe possibilidade de qualquer mago negro assassinar Dama Sienna — a frieza no tom de Eugene foi tão intensa que nem parecia vir dele. — Nem mesmo o Rei Demônio da Fúria conseguiu romper a barreira mágica de Sienna. Como magos negros comuns conseguiriam quebrar um feitiço que nem um rei demônio conseguiu?
— Uau, o senhor entende mesmo do assunto! Sim, eu também penso assim. Mesmo os magos que compunham a Torre Negra há duzentos anos negaram firmemente essa teoria de assassinato.
Apesar da negação, uma sombra persistia no coração de Eugene. Magos negros talvez não conseguissem matar Sienna… mas e os Reis Demônios? Os dois Reis remanescentes de Helmuth haviam despejado enorme apoio na construção da Torre Negra da Magia.
Eugene virou o rosto para encarar a Torre Negra da Magia à distância. A torre, embora mais baixa que as outras, era tão exuberantemente decorada que se destacava mesmo de longe.
Até hoje, Helmuth continuava vigiando Aroth por meio da Torre Negra. Por isso tinham se empenhado tanto para infiltrar seus peões, os magos negros, em Aroth. Da perspectiva dos Reis Demônios, Sienna, que se opunha à construção da Torre, devia ser um incômodo.
A ponto de desejarem sua morte.
“…Sienna”, quando a carruagem aterrissou, Eugene saltou imediatamente e olhou para a mansão da Sábia Sienna. “Você está mesmo morta?”
Mas o lugar estava tão lotado que ele mal podia apreciar a vista. Havia turistas demais amontoados ao redor da mansão.
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