Capítulo 60: A Torre Vermelha da Magia (2/9)
A expressão feroz de Lovellian se transformou instantaneamente. Voltou a ser o semblante do jovem gentil que havia dito ‘Olá, crianças’ com um sorriso durante a Cerimônia de Continuação da Linhagem quatro anos atrás.
— Faz muito tempo, Eugene — Lovellian assentiu respeitosamente.
Embora o rosto sorridente fosse o mesmo de antes, o tom de voz havia mudado. Isso porque a posição de Eugene também havia mudado com o passar dos anos. Quatro anos atrás, ele era apenas uma das várias crianças de ramos colaterais comuns. Mas agora, Eugene era o filho adotivo da linha direta dos Lionheart.
— Você cresceu bastante — observou Lovellian. — Haha, pra ser sincero, quase não te reconheci.
— O Mestre Lovellian não mudou nada — Eugene o elogiou.
— Ah, que nada. É só porque estou agarrado à juventude com magia. Afinal, não é melhor parecer jovem do que velho?
Enquanto descia ao chão, Lovellian deu um largo sorriso para Eugene. Pelo que Eugene ouvira, Lovellian tinha quase cem anos. No entanto, parecia ter no máximo uns vinte e cinco.
“Mas ele parece diferente de quando o vi há quatro anos.”
Mesmo naquela época, Eugene havia sentido uma vaga sensação de ameaça vinda de Lovellian. Mas como ainda não havia começado a treinar sua sensibilidade à mana, não pôde confirmar nada, já que era incapaz de perceber a mana do homem. Agora, no entanto, isso havia mudado.
Lovellian era forte.
E isso fazia sentido. Como um dos cinco Mestres de Torre de Aroth, era natural que tivesse esse nível de força.
Porém, Eugene não sentiu nada além disso. Ele era forte, mas não causava outro tipo de impressão. Quando Eugene pensava nos homens poderosos que conhecera em sua vida passada, os que mais se destacavam eram os que deixavam uma marca além da força.
“Parece que ainda falta muito pra ele chegar ao nível da Sienna”, Eugene avaliou.
Lovellian também examinava Eugene em silêncio.
“…Isso é absurdo.”
Lovellian ficou chocado com a quantidade de mana que sentia em Eugene.
Foi o próprio Lovellian quem sugeriu a adoção de Eugene. Ele já havia percebido seu potencial durante a Cerimônia de Continuação da Linhagem. Mesmo depois de voltar para Aroth, continuou mantendo contato com Gilead e acompanhava de perto os feitos de Eugene.
Soube que Eugene havia conseguido sentir mana em menos de dez minutos após entrar na linha ley. Aquilo demonstrava uma sensibilidade à mana fora do comum. Não só isso, como Eugene também demonstrou um domínio monstruoso, conseguindo controlar a mana assim que a sentiu.
Lovellian não podia deixar de se sentir incomodado sempre que ouvia essas histórias sobre Eugene. E, claro, isso era por causa de Eward.
Por fim, Lovellian disse:
— …Recebi notícias do Gilead. Então, você está interessado em magia?
— Sim, senhor — Eugene confirmou.
— A magia é um campo de estudo extremamente envolvente. Embora seja tão difícil quanto fascinante… Mas no seu caso, Eugene, acho que você vai se sair bem.
Enquanto murmurava isso, Lovellian virou a cabeça.
Conseguia sentir uma presença atrás da porta fechada que dava acesso ao primeiro andar da torre. E não gostou do fato de essa presença estar apenas parada ali, sem ousar abrir a porta. Com um estalo de língua, Lovellian lançou um olhar para a porta.
Creak!
A porta se abriu, seguida imediatamente por um som de surpresa. Vinha de um jovem magro que ficou visivelmente abalado ao vê-la se abrir de repente.
Era Eward Lionheart.
Eugene não o reconheceu de imediato. Afinal, quatro anos era um tempo imenso para uma criança.
Eward havia crescido bastante em altura. Porém, seu físico não acompanhava essa mudança. Eugene lançou um olhar para os membros quase sem músculos de Eward. Também notou os olhos apagados, sem vida. Quanto ao cabelo cinza, que, junto ao brasão, era um símbolo da linhagem Lionheart, estava seco e sem vida, como folhas murchas.
“Aquele desgraçado.” Os olhos de Eugene começaram a arder com um fogo interno ao encarar Eward. “Com uma aparência dessas, ele praticamente tá se gabando de como tem a força vital sugada por súcubos regularmente.”
— …Você não deveria ao menos vir cumprimentar seu irmão mais novo? — Lovellian repreendeu Eward.
— …Ahem — com uma tosse constrangida, Eward levantou os olhos para Eugene. — …Não sei muito bem o que devo dizer…
— Prazer em conhecê-lo, irmão mais velho — Eugene forçou a voz ao encarar Eward. — Vamos nos dar bem daqui pra frente.
— T-Tudo bem — Eward assentiu, desviando o olhar do olhar intenso de Eugene. Então, tomando cuidado para não irritar Lovellian, começou a recuar lentamente.
— …O que você acha que está fazendo? Se não tem nada pra fazer, sobe e vai pelo menos ler um livro — Lovellian disparou, desviando o olhar de Eward.
Se Eward não fosse descendente da linha direta dos Lionheart, e se o pedido não tivesse vindo de seu velho amigo Gilead… Lovellian jamais teria permitido que ele permanecesse na torre. Já fazia anos que ele vivia esse conflito interno entre a amizade com Gilead e a vontade de expulsar Eward.
— Sim, senhor… — Eward se afastou com os ombros caídos.
Sem olhar para a figura lamentável que se afastava, Lovellian soltou um longo suspiro.
— …Enfim. Peço desculpas por mostrar uma cena tão vergonhosa logo na sua chegada — Lovellian se desculpou.
Eugene aceitou o pedido:
— Não se preocupe, está tudo bem.
— Quanto àquela confusão de antes… bem… como Hera lhe disse, isso é até comum na Torre Vermelha da Magia. Embora algo tão sério como hoje seja raro. — Com um sorriso amargo, Lovellian lançou um olhar para Hera e disse: — Soube pelo Gilead que você não deseja receber aulas particulares de magia comigo…
Eugene explicou:
— É só que não quero incomodá-lo desnecessariamente, Mestre da Torre.
— Por mim tudo bem. Só espero que esteja à altura das minhas expectativas, Eugene — Lovellian admitiu.
Lovellian valorizava a explicação de Eugene. Embora já tivesse percebido isso quatro anos atrás, o garoto à sua frente demonstrava uma maturidade que não condizia com sua idade.
“Ou melhor do que maturidade, talvez fosse mais certo chamar de cálculo…” ponderou Lovellian. Não era uma avaliação fácil. Lovellian não conhecia Eugene tão bem, nem haviam passado muito tempo juntos.
Mas, no fim das contas, isso não importava. Era melhor ser cuidadoso em excesso do que ser sem-vergonha com pouca capacidade. E era melhor ser calculista do que ganancioso e burro.
— Não tenho total confiança de que conseguirei corresponder às suas expectativas — Eugene respondeu, dando um passo atrás. — Balançar uma espada. Arremessar uma lança. Erguer um machado. Essas são as coisas nas quais mais confio. Desde pequeno, sempre tive certeza de que tinha talento pra isso. Mas magia é um campo no qual não tenho experiência alguma… então não ouso dizer que tenho talento pra isso.
Essas palavras também agradaram Lovellian. Mostravam que a mentalidade de Eugene era muito melhor que a de Eward, que não tinha nem motivação nem esforço.
Eugene continuou:
— Além disso, se eu estudar magia pessoalmente com o Mestre Lovellian, muitas pessoas vão olhar com desconfiança para a família Lionheart. Por isso, por enquanto, gostaria de estudar magia por conta própria.
— …Muito bem. Vamos fazer assim — Lovellian assentiu com um sorriso caloroso. — A menos que me peça, Eugene, não interferirei nos seus estudos. Porém, como pode ser difícil para um iniciante começar a estudar magia sozinho… se algum dia precisar de ajuda, sinta-se livre para me procurar a qualquer momento.
— Sim, senhor.
— Já providenciou um lugar para ficar?
— Ainda não encontrei nenhum.
— Nesse caso, fique na torre. Pode não ser tão luxuosa quanto a mansão da família principal, mas é um lugar adequado para viver.
— Posso me mudar imediatamente?
— Não há motivo para não poder.
Com a resposta animada de Lovellian, Eugene também abriu um largo sorriso. Já esperava poder ficar na torre. Por isso mesmo, nem sequer havia procurado outro lugar para se hospedar.
— Nesse caso, tudo bem se eu der uma olhada na biblioteca primeiro? — perguntou Eugene.
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