Índice de Capítulo

    — Hoje de novo?

    — Por que diabos um jovem mestre rico como ele faria uma coisa dessas?

    — Vai saber por que ele veio até Aroth só pra isso… Pelo que ouvi, até a família principal reconheceu o talento dele.

    — Não tá só tentando chamar atenção?

    — Como jovem mestre dos Lionheart, ele já chama atenção só de ficar parado. Por que sentiria a necessidade de bancar o exibido?

    — Pode ser… afinal, ele veio de um ramo colateral, não é um herdeiro em potencial.

    Os jovens magos reunidos na biblioteca não gostavam de Eugene. Diferente deles, que haviam entrado na Torre Vermelha da Magia após uma série de exames difíceis, Eugene havia sido aceito unicamente por conta de seu nome: Lionheart.

    Mas eles não podiam expressar abertamente essa insatisfação. Criticar Eugene em voz alta era o mesmo que criticar Lovellian, o Mestre da Torre.

    — …Ainda assim, ele é melhor que aquele idiota do Eward, não é?

    — Nem pense em comparar os dois. Claro que ele é melhor que o Eward. Pelo menos esse jovenzinho tá realmente se esforçando.

    Mesmo entre aqueles magos, muitos sabiam reconhecer qualidades admiráveis em alguém, mesmo que não gostassem da pessoa. Enquanto fumavam seus cigarros, continuavam lançando olhares ao andar mais alto da biblioteca.

    Naquele andar, o assento voltado para a janela era praticamente o lugar exclusivo de Eugene, ele era o único que o utilizava há um mês. Claro, não era oficialmente reservado, mas desde que Eugene o ocupara, ninguém mais ousara sentar ali.

    No começo, vários magos se aproximaram com sorrisos forçados. Eram pessoas interessadas no nome Lionheart. Ao se aproximarem daquele garoto de dezessete anos, esperavam criar uma conexão com o clã Lionheart.

    Mas, obviamente, Eugene ignorou todas essas tentativas.

    — O tempo hoje não está agradável?

    — Esse é o ‘Guia do Iniciante em Magia’! Cara, eu também comecei a aprender magia com esse livro quando era mais novo.

    — Se não se importar, que tal eu te ensinar um pouco de magia?

    — Não cansa passar o dia inteiro dentro da biblioteca?

    — Jovem mestre.

    — Já que o clima está tão bom, que tal dar uma volta comigo? Conheço um restaurante excelente…

    Sempre que esse tipo se aproximava, Eugene respondia da mesma forma:

    — Tô bem.

    Como recebiam exatamente a mesma resposta toda vez, chegou um ponto em que pararam de se aproximar, e Eugene estava perfeitamente satisfeito com isso.

    Ninguém se sentava perto dele, então o espaço ao redor estava sempre vazio. E sobre a ampla mesa, os livros que Eugene selecionava formavam várias torres ao seu redor. Dentro daquele espaço fechado, o único som audível era o virar de páginas.

    Embora houvesse uma área de fumantes alguns andares abaixo, a fumaça não subia até ali por causa da magia que dividia os andares. Por isso, Eugene podia se concentrar na leitura enquanto respirava ar fresco.

    Já fazia um mês desde que ele chegara à Torre Vermelha da Magia.

    Sem pular um único dia, Eugene visitava a biblioteca diariamente. Estava lá desde cedo e só voltava para o quarto tarde da noite.

    Ele não estava dedicando todo o tempo apenas à magia. Acordava algumas horas antes de ir para a biblioteca para treinar sua mana, e antes de dormir, se exercitava até suar em bicas.

    Apesar de isso reduzir seu tempo de sono, o corpo abençoado de Eugene conseguia se recuperar da fadiga com apenas algumas horas de descanso. Com a ajuda da mana, mesmo que perdesse algumas noites de sono, não sentiria mais do que um leve cansaço.


    O sol estava começando a se pôr.

    Eugene ergueu o olhar para os últimos raios da tarde brilhando pela janela. Depois de encarar a vista por alguns instantes, levantou-se do assento.

    Recolheu os livros espalhados sobre a mesa e os devolveu a seus lugares de origem. Sem vagar pelos corredores, pois lembrava exatamente de onde cada um tinha vindo.

    Eugene não só lembrava das localizações, como também havia memorizado o conteúdo de cada livro lido. Bastava seguir sua memória com leveza para lembrar-se de tudo o que tinha visto nas páginas. Apesar de seu conhecimento inicial em magia ser quase nulo, com cada leitura, Eugene começou a entender cada vez mais sobre o assunto.

    “Até essa cabeça aqui nasceu com talento.”

    Sorrindo, Eugene desceu as escadas. Em apenas um mês, ele havia lido todos os textos introdutórios sobre magia disponíveis na biblioteca da Torre Vermelha da Magia. No começo, os livros haviam sido tão confusos que até virar as páginas doía, mas, conforme lia mais, tudo começou a fazer sentido, e depois, conseguia até entender o conteúdo só de passar os olhos.

    “Embora, por enquanto, eu ainda esteja apenas na teoria.”

    Durante o último mês, Eugene tinha apenas lido livros. Embora isso tivesse preenchido as lacunas em seu conhecimento, ele ainda não havia começado a praticar magia de fato.

    Ele tinha seus motivos. Embora tudo fosse chamado genericamente de magia, na verdade, ela existia em uma variedade infinita de formas. Quanto mais livros lia na biblioteca, mais Eugene se preocupava com qual método se adaptaria melhor ao seu corpo.

    Foi por isso que ele focou apenas na leitura.

    “Mas agora não tenho mais nada pra ler.”

    Era óbvio que qualquer mago que tivesse entrado na Torre Vermelha já havia conquistado reconhecimento público por suas habilidades. Por isso, os livros introdutórios de magia oferecidos pela torre não eram feitos para serem usados de fato pelos magos do lugar, mas sim para que pudessem ser utilizados como material de pesquisa e referência.

    Ou seja, eram todos textos mágicos famosos que já haviam sido reconhecidos publicamente por sua confiabilidade. Embora houvesse inúmeros livros introdutórios sobre magia no mundo, se você tivesse lido todos os da torre, não havia necessidade de ler mais nenhum outro introdutório.

    “Muito bem, acho que está na hora de tentar.”

    Ao se aproximar da recepção da biblioteca, Eugene falou:

    — Gostaria de fazer a tentativa hoje.

    A bibliotecária sentada na mesa levantou a cabeça para olhar para Eugene e disse:

    — Já estava na hora.

    A bibliotecária era Hera, a maga que Eugene havia conhecido no primeiro dia em que chegou à torre. Enquanto os magos da torre costumavam estar mergulhados em suas respectivas pesquisas, Hera havia terminado um projeto recentemente e agora estava relaxando ao trabalhar como bibliotecária.

    Lovellian havia dito a Eugene para procurá-lo caso tivesse alguma dúvida sobre magia, mas seria incômodo e estranho abordá-lo com cada questão trivial que surgisse.

    — Se tiver alguma dúvida, pode perguntar para mim.

    Talvez Hera também tivesse percebido isso, já que foi a primeira a se aproximar de Eugene e fazer essa oferta. Graças a isso, durante o último mês em que Eugene permaneceu na torre, ele recebeu ajuda dela várias vezes e acabou se familiarizando com ela.

    — Onde você quer fazer isso? — Hera perguntou.

    — Gostaria de usar o laboratório do subsolo — Eugene respondeu.

    — Por favor, espere um momento. Outro bibliotecário deve chegar em breve para me substituir — disse Hera enquanto começava a organizar sua mesa.

    Enquanto aguardava o bibliotecário substituto, Eugene classificava as técnicas mágicas que flutuavam em sua mente.

    Muitos magos haviam comprado residências fora da torre, mas a maioria dos magos mais jovens permanecia nos quartos fornecidos pela torre.

    Esse também era o caso de Eugene. Embora tivesse acesso a muito dinheiro, viver na torre era muito mais conveniente do que comprar ou alugar uma casa. Talvez por a torre ter sido usada por tanto tempo para a pesquisa de magia de invocação, havia muitos tipos diferentes de familiares1 encarregados das tarefas diárias dentro dela.

    Os quartos eram… bem menores do que os do anexo da mansão principal. Ainda assim, eram espaçosos o suficiente para viver confortavelmente sozinho, e Eugene estava satisfeito com eles. Também não havia necessidade de ir a um restaurante; bastava avisar com antecedência que os familiares traziam os pratos que você encomendasse até o quarto.

    Se fosse obrigado a apontar algo que o incomodava, seria a falta de um ginásio. Mas isso ainda não era um problema sério, já que um dos muitos laboratórios podia servir como substituto. A única coisa irritante era que, como os laboratórios em cada andar da torre eram reservados para magos de alto escalão, ele precisava pegar o elevador até o subsolo para usar o laboratório de lá.

    1. Um familiar é uma criatura mágica ou espiritual que serve e acompanha um mago, feiticeiro ou bruxo, geralmente ajudando em rituais, magias ou oferecendo proteção e companhia.[]

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