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    — …Então você está me dizendo que… — para pronunciar essas palavras, Lovellian primeiro teve que recolocar o queixo caído no lugar — o jovem Eugene usou o Núcleo da Fórmula da Chama Branca como um Círculo e o utilizou para conjurar magia.

    — Sim, senhor — confirmou Hera.

    — Sem cometer erros, ele conseguiu invocar imediatamente uma Bola de Fogo e, sem dissipá-la, a converteu em um Míssil Mágico…?

    — Sim, senhor.

    — E esse míssil mágico derrubou seu golem de carbium?

    — Acertou bem aqui, senhor — disse Hera, apontando para o peito do golem. De fato, havia uma cratera ali deixada pelo impacto.

    Lovellian a observou por um momento antes de soltar uma risada.

    — …Ho ho. Parece que foi um belo impacto.

    — Foi a primeira vez que ele conjurou magia, e acertou bem no centro — comentou Hera, espantada.

    — Quão puro era o carbium?

    — A superfície externa era completamente feita de carbium, senhor.

    — E você não lançou nenhum encantamento defensivo sobre ele?

    — Ainda não tinha feito isso.

    — Isso é realmente possível? — murmurou Lovellian, traçando com a mão as marcas no golem.

    Embora não houvesse nenhum encantamento defensivo, o carbium era um metal flexível, capaz até de repelir ataques de considerável poder. Deveria ser impossível que o feitiço ofensivo de um jovem aprendiz de mago, que acabara de aprender magia, atravessasse a carapaça de carbium.

    — …A pureza e densidade da mana dele eram absurdas. — Ao recordar o espanto que sentiu na hora, Hera continuou — Tão impressionantes que era difícil acreditar que ele fosse apenas um mago iniciante. Não importava qual tipo de magia ele decidisse conjurar, o poder do feitiço ofensivo dele provavelmente superaria o de um mago do Terceiro Círculo.

    — …Hm… — Lovellian arqueou as sobrancelhas com um leve murmúrio. “Ouvi dizer que Eugene já atingiu a Terceira Estrela da Fórmula da Chama Branca.”

    Alcançar a Terceira Estrela aos dezessete anos era algo sem precedentes. Caso Eugene não demonstrasse nenhum talento notável para magia, Gilead havia pedido que Lovellian o convencesse a retornar à propriedade principal para continuar seu treinamento.

    “A Fórmula da Chama Branca forma estrelas ao redor do coração como um tipo de Núcleo. Os Núcleos das artes marciais e os Círculos da magia são diferentes… mas ele conseguiu substituir a mana de um Círculo pela da Fórmula da Chama Branca por conta própria?”

    Esse era um nível monstruoso de talento, ao ponto de provocar medo em vez de admiração. Um garoto de dezessete anos havia conseguido demonstrar tal controle de mana sem cometer erros, substituindo o sistema de mana de uma arte marcial pelo dos Círculos mágicos.

    Será que um Núcleo realmente podia ser usado para magia? Teoricamente, não era impossível. Entre os raros espadachins mágicos cujos nomes se tornaram célebres, alguns conseguiam conjurar magia por métodos únicos próprios. No entanto, ele nunca ouvira falar de alguém que usasse um Núcleo no lugar de um Círculo.

    E, antes de mais nada, havia realmente necessidade disso? Um Círculo era um Círculo, e um Núcleo era um Núcleo. Se você quisesse aumentar seu controle de mana, seria infinitamente mais eficiente simplesmente criar um novo Círculo.

    “A Fórmula da Chama Branca é especial a esse ponto?”

    Ele não podia descartar essa possibilidade. Afinal, o criador da Fórmula da Chama Branca era o Grande Vermouth. Vermouth era conhecido como o Mestre-de-Tudo, por ser igualmente habilidoso em magia e artes marciais. No entanto, atualmente, era impossível saber ao certo se Vermouth usava Círculos para conjurar magia ou se utilizava um método diferente.

    Ainda assim, depois de Vermouth, nunca mais nasceu nenhum mago na família principal que pudesse ser chamado de Arquimago.

    “Arriscando um palpite… a Terceira Estrela da Fórmula da Chama Branca corresponderia a um mago do Terceiro Círculo?”

    A Sábia Sienna havia classificado os vários feitiços com base no número de Círculos necessários para conjurá-los. Magos do Primeiro Círculo não podiam usar feitiços do Terceiro Círculo. Isso porque a mana gerada por um Primeiro Círculo era muito inferior à quantidade necessária para lançar um feitiço do Terceiro Círculo.

    Claro, isso não era um padrão absoluto. Às vezes, surgiam alguns poucos gênios raros capazes de lançar magias de alto nível que ultrapassavam os limites do próprio Círculo. Lovellian era um desses exemplos. Quando havia alcançado o Terceiro Círculo, já conseguia lançar todo tipo de magia até o Quinto Círculo.

    — …Você disse que Eugene saiu? — perguntou Lovellian por fim.

    — Sim. Ele disse que tinha um compromisso e saiu antes do meio-dia — respondeu Hera.

    — Que bom — comentou Lovellian ao se afastar do golem.

    Sentando-se à mesa, ele olhou para Hera e a chamou:

    — Hera.

    — Sim, Mestre da Torre — ela respondeu.

    — Você acha que pareceria absurdo se eu escrevesse uma carta de recomendação pedindo a entrada de Eugene em Akron?

    — …Hã? — os olhos de Hera se arregalaram.

    Akron era o nome da Biblioteca Real de Aroth. Apenas alguns poucos magos de alto escalão das Torres de Magia, nobres de grande prestígio e membros da realeza tinham permissão para entrar naquele lugar.

    E, como era de se esperar de uma biblioteca tão célebre, Akron estava repleta de textos mágicos muito superiores aos encontrados em todas as Torres de Magia. Mesmo considerando toda a Torre Vermelha, menos de dez magos tinham acesso permitido a Akron.

    — Isso é… — Hera hesitou.

    — Não acho que seria tão absurdo assim — murmurou Lovellian, cruzando os braços enquanto pensava. — Acredito que ele merece essa oportunidade. Com apenas dezessete anos, conseguiu conjurar magia usando um Núcleo no lugar de um Círculo, e isso logo que começou a aprender magia. E não houve ninguém que o ensinou, certo? Hera, por acaso você chegou a ensinar algo ao Eugene?

    — …Respondi a algumas dúvidas dele — admitiu Hera.

    — Que tipo de dúvidas?

    — Foram apenas dúvidas sobre as estruturas básicas dos feitiços.

    — Então você está dizendo que não ensinou mais nada sobre magia, certo?

    — Sim, senhor.

    Lovellian soltou uma gargalhada involuntária.

    — Nesse caso, isso significa que Eugene conseguiu usar magia depois de ler apenas textos introdutórios por um mês, e ainda foi capaz de usar um Núcleo no lugar de um Círculo. Sem nenhuma orientação de um mago de alto escalão, ele conseguiu fazer tudo isso apenas com base no próprio julgamento e conhecimento. E o feitiço que lançou com esse método conseguiu perfurar a armadura de um golem de carbium — Lovellian resumiu a situação.

    — …Sim, é isso mesmo, senhor — Hera confirmou, ainda sem acreditar totalmente.

    — Hera, você sabe como chamamos alguém capaz de fazer essas coisas?

    — Um gênio.

    — Não, ele é um monstro — disse Lovellian, balançando o dedo. Uma gaveta da mesa se abriu sozinha, e uma folha em branco voou até ele. — É por isso que decidi escrever uma carta de recomendação para Eugene. Definitivamente não é algo absurdo. Se ele realmente é um monstro de talento como esse, então deve receber o tratamento apropriado.

    — …Receio que os outros magos fiquem insatisfeitos com isso — disse Hera com hesitação.

    — E você?

    — Não faz diferença para mim. Porque vi com meus próprios olhos do que o Mestre Eugene é capaz.

    — Então está tudo bem. Você não se sente insatisfeita porque viu o talento dele. Isso significa que o que Eugene fez é realmente impressionante — disse Lovellian, começando a escrever sua carta de recomendação na folha em branco. — Se mesmo depois de saberem a verdade continuarem insatisfeitos, isso só significa que estão se recusando a aceitar os fatos, cegos pela inveja.

    Claro, a permissão para entrar em Akron não poderia ser garantida apenas com a carta de recomendação de Lovellian, mas isso pouco importava. Se fosse necessário, Lovellian estava disposto a discutir com os outros Mestres de Torre; e se isso não resolvesse, ele mesmo poderia buscar os textos mágicos e emprestá-los a Eugene.

    “Ou então poderia fazer com que ele entrasse em meu nome, como meu discípulo.”

    Será que essa não seria a melhor opção? Lovellian considerou seriamente essa possibilidade enquanto examinava a carta de recomendação recém-escrita.

    De repente, Lovellian se lembrou de algo:

    — …A propósito, que tipo de compromisso Eugene foi atender? Ele não conhece ninguém em Aroth.

    — Ele disse que ia se encontrar com um amigo — respondeu Hera.

    — Um amigo? — repetiu Lovellian.

    Quando foi que Eugene fez um amigo em Aroth? Lovellian inclinou a cabeça, curioso, enquanto carimbava sua carta de recomendação.


    Praça Meriden, em frente à Torre Verde da Magia.

    No centro da praça, havia uma grande estátua erguida, nomeada em homenagem ao sobrenome de Sienna. Era uma estátua de Sienna empunhando um cajado com a mão direita e um grimório com a esquerda.

    “Essa também parece melhor do que a original”, pensou Eugene enquanto olhava para a estátua.

    Assim como o retrato, o rosto da estátua parecia um pouco mais bonito do que a imagem de Sienna que Eugene recordava. Não, talvez fosse idêntico à inspiração da vida real? Eugene se perguntava isso enquanto encarava o rosto da estátua.

    Em suas memórias, o rosto de Sienna geralmente estava com uma expressão de irritação. Afinal, Helmuth era um lugar cheio de todo tipo de merda, e a jornada deles também tinha sido árdua. Aquele maldito lugar era um inferno onde não havia como não se frustrar.

    — Por favor, eu tô te implorando.

    — Foi por isso… foi por isso que eu disse pra você voltar. Por que teve que insistir tanto em nos seguir…?

    Mas, mais do que sua expressão irritada, a lembrança mais vívida que Eugene tinha dela era a de quando ela chorava, com as lágrimas escorrendo dos olhos avermelhados…

    — Por favor, você não pode morrer.

    — Você não pode… simplesmente não pode. Por favor, Hamel.

    As memórias do momento em que morreu eram um pouco confusas e ele não conseguia se lembrar com clareza do que estava acontecendo ao redor… De todo modo, ele acreditava que Sienna havia dito aquilo. Eugene coçou a mão, frustrado, e soltou um suspiro para aliviar.

    O rosto da estátua não chorava. Em vez disso, exibia um sorriso confiante. Eugene reconheceu aquela expressão. A Sienna facilmente irritável costumava fazer aquela cara sempre que realizava algo grandioso com sua magia e virava para encará-lo com um olhar convencido.

    — …Acho que não é tão diferente da pessoa real — Eugene murmurou ao se virar.

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