Capítulo 69: Rua Bolero (2/9)
— …Isso aqui é diferente do que eu esperava — murmurou Eugene enquanto observava a multidão agitada ao redor.
Embora não pudesse ser comparada a nenhuma das atrações turísticas que já tinha visitado, ainda assim havia bastante movimento. Já que o lugar era um mercado negro tacitamente aprovado, não seria melhor desenvolvê-lo de vez como ponto turístico?
— A entrada custa dois milhões de sals — disse alguém quando os pegou olhando ao redor.
— O quê? — Eugene perguntou, ainda distraído.
— Dois milhões de sals — repetiu a voz.
A figura corpulenta que bloqueava a entrada da rua os encarava com ferocidade. Ele nem recuava diante de Gargith, que era maior do que ele. Se não tivesse esse nível de coragem e habilidade, não teria conseguido o trabalho de porteiro da Rua Bolero.
— São três milhões por duas pessoas — acrescentou o segurança.
Eugene abriu a carteira. Contou quatro notas e as entregou ao segurança. Logo, o homem prendeu uma pulseira de papel nos braços de Eugene e Gargith.
— Só a taxa de entrada já é dois milhões de sals. Isso é um roubo — reclamou Gargith.
— Os dois milhões por pessoa são só para entrar na rua. Cada loja também cobra sua própria taxa de entrada — explicou Eugene.
— Isso é insano.
Embora todas as atrações turísticas de Aroth tivessem entrada cara, o valor cobrado na Rua Bolero ainda superava o que Gargith imaginava.
— Dizem que até uma taverna barata cobra alguns milhões de sals só pra entrar. E pra casa de leilões, tem que pagar mais cinco milhões — Eugene acrescentou.
— Você não disse que também era sua primeira vez vindo aqui, Eugene? — perguntou Gargith.
— Mas eu pesquisei antes de vir.
Eugene balançou a cabeça em decepção para Gargith e olhou para a pulseira em seu pulso. Era uma pulseira de papel que custava dois milhões de sals. Puxou levemente, mas ela não se rompeu.
Aquela pulseira era sua identificação dentro da Rua Bolero. Nenhum documento oficial era usado ali. Bastavam a pulseira e dinheiro.
— Vamos — disse Eugene.
— Você não falou que tinha outra coisa pra fazer? — Gargith perguntou.
— Vou cuidar disso na hora certa. Por enquanto, vamos à casa de leilões garantir nossos assentos.
Eugene colocou a mão em um bolso interno do manto. Ali estava um pequeno terminal de comunicação mágica. Ele havia comprado esse terminal para manter contato com um cúmplice que estava em algum ponto da longa e obscura Rua Bolero.
— Já chegou, senhor? — perguntou uma voz.
— Como você sabe? — Eugene respondeu com outra pergunta.
— O alcance máximo do terminal cobre mais ou menos o comprimento da Rua Bolero. Quando o sinal apareceu, soube que tinha chegado.
A voz rouca que vinha do terminal pertencia ao guia que Eugene conhecera no primeiro dia em Aroth. Eugene o reencontrara no dia anterior e o convencera a atuar como espião, oferecendo uma grande quantia de dinheiro.
A tarefa era simples. O guia só precisava circular pela toca das súcubos e avisar Eugene se visse Eward. Eugene temia que Eward também usasse magia de transformação ao chegar, mas…
— Não precisa se preocupar com isso. Eward não usa magia de transformação.
— Hã?
— Aquele cara… é… ouvi dizer que sempre vem usando o mesmo manto. E embora não use nada com o brasão da sua família, o capuz dele vive escorregando e deixando à mostra o cabelo grisalho…
— Ele é mesmo um idiota completo.
Eward parecia estar gostando da atenção por revelar discretamente sua identidade. Alguém que vivia com o olhar perdido no casarão da família e andava com os ombros curvados na torre… agora estava tentando se exibir numa rua onde qualquer um teria vergonha de ser reconhecido?
“Se fosse meu filho, eu dava uma surra nele pra ver se corrigia os maus hábitos.”
Mesmo sem nunca ter tido um filho, Eugene pensou isso.
— A taxa da casa de leilões vai ser por sua conta — disse Eugene a Gargith.
— Tudo bem por mim — Gargith concordou.
— Sobre aqueles… testículos de gigante… se forem caros demais, não vou te emprestar dinheiro.
— Como você pode dizer isso depois de ter vindo até aqui comigo?
— Pense pelo meu lado. O Patriarca me deu esse cartão preto de presente, mas ele vai ficar alarmado se eu gastar demais.
— É, isso provavelmente é verdade.
— Se o Patriarca perguntar no que gastei tanto dinheiro… o que eu vou dizer? Você acha que eu vou simplesmente dizer que comprei testículos de gigante? Prefiro morrer a admitir um negócio desses.
— Eu te pago de volta.
— …Não, não é sobre isso. Eu me recuso a falar com a minha própria boca que comprei testículos de gigante…!
— Se estiver tão preocupado com isso, eu mesmo explico por você.
O quanto ele queria aqueles testículos de gigante? Eugene bufou ao ver os olhos de Gargith brilhando de expectativa.
Ao entrarem na casa de leilões, foram informados: — É proibido invadir os quartos de outros convidados, e qualquer conversa deve ser mantida entre os dois presentes.
Embora houvesse várias casas de leilão na Rua Bolero, todas seguiam a mesma regra: manter os lances privados. Exceto por acompanhantes, todos eram levados a salas separadas, garantindo o anonimato dos participantes.
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