Capítulo 72: Rua Bolero (5/9)
Depois de chamar um dos funcionários apertando o botão da esquerda, Eugene foi conduzido para fora da casa de leilões. Parecia que muito tempo havia se passado enquanto estavam lá dentro, pois o ar agora trazia o frio característico da madrugada. Ainda assim, a rua continuava intensamente iluminada. As luzes ali aparentemente não se apagavam até o amanhecer.
— Para onde eu preciso ir? — perguntou Eugene.
— Hum… Se for até o extremo norte da rua, vai encontrar uma loja chamada ‘Rafflesia’. É pra lá que precisa ir — explicou o guia.
Eugene começou a caminhar.
— A propósito, o que exatamente você pretende fazer? Esse tipo de loja garante a segurança dos clientes de forma bem rígida, então…
Eugene não respondeu de imediato. Ele só havia decidido ir até lá primeiro, sem ter exatamente um plano em mente. Ele apenas precisava, ou melhor, queria, encarar Eward de frente. Como o primogênito da família principal reagiria ao perceber que alguém conhecia seu segredinho sujo?
Será que Eward ficaria furioso por ter sua vergonha exposta? Ou, em vez disso, apenas se calaria? Tentaria se justificar? Eugene não sabia o que esperar. Pra ser honesto, ele só queria agarrar Eward pela gola e estapear os dois lados do rosto dele até aprender.
“…Mas como ele é tão lamentável, vou dar uma chance.”
Se não pudesse deixar as bochechas de Eward vermelhas, Eugene ao menos queria saber o que se passava na cabeça dele.
À medida que seguia para o norte, a atmosfera das lojas ao redor começou a mudar. Quando chegou ao destino, as luzes que antes apenas iluminavam a escuridão haviam ganhado tons vermelhos e provocantes, e os recepcionistas mudaram completamente de aparência. Homens atraentes tentavam seduzir as mulheres que passavam, e belas mulheres lançavam sorrisos aos homens.
“Então tem íncubos, súcubos e até vampiros trabalhando aqui. Também consigo ver alguns demi-humanos.”
Ou seja, não eram só demonídeos trabalhando ali. Havia vários demi-humanos, com traços que misturavam humanos e animais, além de humanos comuns. Sem dar atenção aos recepcionistas, Eugene ergueu os olhos para o letreiro da loja.
A placa dizia ‘Rafflesia’.
Isso significava que ele finalmente havia encontrado a loja depois de caminhar bastante pela rua. A fachada era mais luxuosa do que ele esperava. Sem hesitar, Eugene se aproximou da entrada.
Assim que chegou perto, foi interpelado:
— Veio procurar nossos serviços?
Cinco homens corpulentos que estavam na frente da loja avançaram, bloqueando a passagem como se já estivessem à espera disso. Eugene fitou o jovem que estava no centro do grupo. Ele tinha pele pálida, olhos vermelhos, orelhas pontudas… e pequenos chifres.
Demonídeos existiam em vários tipos diferentes. Os Demônios da Noite eram apenas uma das categorias. A partir de trezentos anos atrás, até os gigantes passaram a ser considerados uma tribo dos demonídeos. Elfos negros corrompidos e vampiros também estavam entre eles. O termo ‘demonídeo’ não designava uma raça específica, mas sim todas as raças que viviam sob domínio dos Reis Demônios.
Mas entre todas essas raças, os de chifres, também chamados de ‘daemons’, formavam a maioria da população. Na verdade, podiam ser considerados a raça principal dos demonídeos. Trezentos anos atrás, todos os cinco Reis Demônios existentes eram daemons.
— …Sim, quero entrar — disse Eugene, encarando diretamente o jovem daemon.
Desde sua reencarnação, essa era a primeira vez que encontrava um grupo de demonídeos, e logo um daemon entre eles. Se fosse em sua vida anterior, o daemon já estaria morto antes mesmo de cruzarem olhares, mas Eugene não deixou transparecer nenhum traço de intenção assassina.
— …É sua primeira vez visitando nossa loja? — perguntou o Daemon.
— E o que tem? Não posso entrar se for minha primeira vez? — Eugene devolveu.
— Claro que pode. Desde que pague a taxa de entrada, é livre para permanecer o tempo que quiser.
— Quanto custa essa taxa?
— A entrada básica custa dois milhões de sals. A partir daí, o valor adicional é calculado conforme o conteúdo e a duração do sonho solicitado. Ainda deseja entrar? — o daemon perguntou com um leve sorriso.
Sem responder, Eugene tirou a carteira e entregou duas notas ao daemon.
Assim que recebeu o pagamento, o daemon imediatamente saiu da frente da porta com as palavras de despedida:
— Aproveite sua estadia.
Ignorando a fala, Eugene entrou na loja.
Foi recebido por luzes vermelhas e a visão de um bar barulhento. Todo o primeiro andar parecia funcionar como uma taverna. Ele também avistou diversas súcubos e íncubos com roupas provocantes servindo bandejas de bebidas e flertando com os clientes. Eugene parou por um instante ao observar a cena.
— Permita-me conduzi-lo a uma mesa — ofereceu uma bela súcubo ao se aproximar e entrelaçar o braço no dele.
Ignorando-a, Eugene ergueu o olhar. Parecia que o segundo e o terceiro andares também eram usados como bares. Não viu nenhum cômodo que parecesse próprio para os clientes aproveitarem os sonhos.
“Devem ficar no subsolo”, concluiu Eugene.
Conseguia ver algumas súcubos e íncubos conduzindo clientes para o porão. Mas onde estava Eward agora? Estaria bebendo em algum canto ou já mergulhado em seus sonhos?
Antes de qualquer coisa, no entanto, ele precisava lidar com aquele cheiro. O perfume da súcubo agarrada ao seu lado era enjoativo.
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