Capítulo 75: Rua Bolero (8/9)
Mesmo ao olhar pela segunda vez, as ações de Eward pareciam suspeitas. Acompanhado por um grupo de pessoas duvidosas, ele havia entrado num prédio sem nenhuma placa na entrada. Isso por si só já seria suspeito o bastante, mas ainda havia alguns brutamontes corpulentos e hostis rondando por ali para intimidar qualquer um que se aproximasse.
Definitivamente era um lugar sombrio.
Eugene agarrou a maçaneta da porta e tentou girá-la algumas vezes, mas a trava não cedeu. Parecia haver algum tipo de magia lançada além do mecanismo físico de tranca. Alguém poderia se perguntar ‘devo arrombar?’, mas Eugene nem sequer cogitou essa dúvida.
As estrelas ao redor de seu coração brilharam quando Eugene analisou o fluxo de mana que sentia vindo da maçaneta.
Ele se sentia sortudo por ter começado a estudar magia. Se fosse no passado, teria simplesmente arrombado à força, mas agora conseguia até entender a estrutura da mana que compunha aquele feitiço de tranca.
No entanto, só porque isso era verdade, não significava que Eugene achava necessário mudar de abordagem. Isso apenas queria dizer que seu método habitual agora exigia menos força que antes. No fim, ele ainda iria abrir a porta à força.
Se Eugene tivesse um domínio mais avançado em magia, talvez não fosse assim, mas no momento ele simplesmente não tinha como desfazer o feitiço lançado sobre a porta apenas com a própria magia.
Uma camada visível de mana envolveu sua mão, e ele a empurrou contra o feitiço. Graças ao fato de já entender a estrutura do feitiço, não foi difícil sobrecarregar seu ponto fraco.
Embora possa parecer óbvio dizer isso, para desmontar um feitiço desse jeito, era preciso controlar a própria mana como se estivesse movendo mãos e pés. Mesmo um mago experiente e talentoso teria dificuldades com essa tarefa, mas Eugene a realizou com facilidade.
Creak.
Por mais rude que o método parecesse, o resultado era inegável. A maçaneta, forçada a girar, se despedaçou internamente. Após confirmar que o feitiço também havia sido desfeito, Eugene levantou uma perna.
Bang.
Com um chute preciso, Eugene quebrou a tranca da porta. Isso fez a porta se escancarar, e Eugene entrou sem hesitar, ainda mantendo a guarda alta. Uma de suas mãos repousava sobre a empunhadura de Wynnyd, que estava pendurada em sua cintura.
Só esse gesto já elevava sua vigilância de adequada para quase excessiva. Com a mão na arma, ele poderia sacá-la instantaneamente e se preparar para qualquer situação. Isso lhe dava segurança.
— …Haaah.
Era difícil enxergar à frente. O andar inteiro estava tomado por uma espessa nuvem de fumaça. O ar parecia pegajoso e grudava na garganta; a fumaça tinha um cheiro adocicado e ao mesmo tempo salgado. Ela entorpecia os sentidos e deixava a visão levemente turva. Eugene circulou a mana da Fórmula da Chama Branca por todo o corpo, e a tontura passou imediatamente.
— Então é uma casa de ópio1— Eugene murmurou com um resmungo de desdém.
Sons estranhos vazavam dos quartos fechados ao redor. Era de se esperar encontrar um lugar assim numa rua como aquela, mas o fato de Eward ter vindo direto pra cá logo após seu sonho com a súcubo fez os olhos de Eugene se tornarem frios.
— Eu entendo querer um lugar pra respirar um pouco, mas isso aqui já passou dos limites.
Como alguém conseguia respirar direito num lugar como aquele? Só os sonhos induzidos por uma súcubo já eram o bastante para enfraquecer e destruir a mente, mas se, além disso, ele ainda estava inalando drogas numa casa de ópio, era praticamente como se estivesse furando o próprio cérebro.
Enquanto abria caminho por entre a fumaça, Eugene continuou avançando.
— Quem é você? Como entrou aqui?
— Fecha a porta!
Homens fumando em seus cachimbos se levantaram para enfrentá-lo enquanto ele passava pelas alcovas. Havia humanos, demi-humanos e demonídeos, aquela casa de ópio era praticamente um fórum de inclusão racial. Eugene aplaudiu de coração os homens que cambaleavam em sua direção.
— Se caras como vocês tivessem nascido trezentos anos atrás, talvez o mundo tivesse conseguido unir as mãos em amor e paz — Eugene elogiou sarcasticamente.
— Que merda esse desgraçado tá falando? — gritou um dos homens.
— Mas não pensem que vou aliviar por causa disso, seus vermes podres. — continuou Eugene.
Eugene não sacou Wynnyd nem correu direto por eles. Em vez disso, as estrelas ao redor de seu coração entraram em ação.
Bambambam!
Ele criou instantaneamente algums Mísseis Mágicos e os lançou perfurando a fumaça.
Por mais drogados que estivessem, os viciados que se levantaram para enfrentar o invasor eram indivíduos confiantes em suas próprias habilidades.
Míssil Mágico era apenas um feitiço ofensivo do Primeiro Círculo. Não era muito rápido nem muito forte. Por isso, os alvos de Eugene desviaram dos feitiços com desdém.
Ou ao menos tentaram. Embora tenham reagido imediatamente aos projéteis tentando se esquivar, a trajetória caótica dos mísseis tornou impossível evitá-los.
“Previsíveis demais”, Eugene avaliou com desprezo.
Não havia chance de Eugene ser enganado pelos movimentos evasivos de tipos como aqueles. Na verdade, ele estava certo de que teria acertado mesmo se lançasse o feitiço de olhos fechados.
— Onde está Eward?
— Gaaah…!
— Não precisam me dizer. Posso procurar sozinho — murmurando isso, Eugene puxou Wynnyd da bainha.
Com um sibilo cortante, a lâmina azul-prateada surgiu. Os homens que haviam sido lançados para longe ficaram sem fôlego diante daquela visão. Eles sabiam que iam morrer. Embora Eugene não exalasse nenhuma intenção assassina óbvia, seus instintos pressentiram uma morte inevitável. Eles desistiram de resistir e apenas se encolheram, enterrando a cabeça nos braços.
No entanto, Eugene não brandiu a espada contra eles. Em vez disso, ergueu a lâmina em direção ao teto.
Whoosh!
Uma ventania envolveu Wynnyd. Era a forma de um espírito inferior do vento, uma sílfide. Mas uma sílfide invocada por Eugene conseguia criar uma rajada tão forte que era difícil acreditar que se tratava apenas de um espírito de baixo escalão.
Isso era graças ao fato de ele estar na Terceira Estrela da Fórmula da Chama Branca. Embora já fosse capaz de invocar espíritos intermediários com sua quantidade atual de mana, Eugene não tinha intenção de fazê-lo.
Ele havia calculado que era muito melhor aumentar a quantidade de sílfides de baixo custo de mana que invocava, já que tinha um controle muito maior sobre elas, do que esgotar toda sua mana para trazer um espírito intermediário. Eugene tinha poder de combate demais para depender apenas da força de um espírito como forma de proteção.
— Ahhhh…!
Os viciados ainda espalhados pelo chão ao redor de Eugene o observavam com olhos cheios de medo. Eugene estava agora no centro de uma tempestade violenta enquanto mantinha Wynnyd suspensa no ar.
Roooar!
A tempestade se dissipou de repente. As rajadas que sopraram em todas as direções dispersaram a fumaça e escancararam todas as paredes e portas trancadas daquele andar.
— O-o que é isso?!
Os viciados que estavam nos antigos quartos fechados soltaram gritos. Eugene percorreu todos os cômodos com um só olhar. Havia muitas cenas perturbadoras, lascivas e simplesmente repulsivas, mas Eward não estava entre elas.
Eugene não precisava continuar procurando sozinho. Ele havia espalhado várias sílfides junto com o vendaval, e agora elas sopravam por todo o prédio. Logo lhe indicaram para onde deveria ir. Mesmo contendo a irritação fervilhante, Eugene subiu.
Baaang!
Vários Mísseis Mágicos combinados explodiram uma abertura no teto. Então Eugene usou o vento para erguer seu corpo através do buraco.
Repetindo esse processo, ele chegou ao terceiro andar.
- O termo usado aqui é Toca de Guaxinim, mas acabei adaptando para melhorar compreensão.[↩]
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