Índice de Capítulo

    Eugene pousou em um corredor tomado por fumaça e poeira. Com um zumbido, as sílfides que o seguiam começaram a gerar vento. Usando isso para dispersar a fumaça, Eugene avançou com passos firmes pelo corredor.

    Havia apenas um único quarto ao final, o que significava que Eward só podia estar ali. Mesmo sem desviar o olhar da porta trancada à frente, os pés de Eugene de repente deslizaram para o lado.

    Hiss.

    Um som arrepiante passou raspando enquanto algo roçava a lateral de sua cabeça. Sem se desesperar, Eugene manipulou o vento ao redor de si.

    Boom!

    O vento se concentrou num ponto acima dele antes de explodir como uma bomba. O homem que havia tentado atacá-lo caiu do teto e foi lançado contra a parede, com sangue jorrando da boca. Era um dos dois que haviam aguardado por Eward no restaurante.

    — Se vai tentar me apunhalar pelas costas, é bom ao menos mirar direito, seu desgraçado — Eugene resmungou antes de enfiar a mão esquerda no colete.

    A emboscada ainda não havia acabado. Sem nem abrir a porta, alguém do lado de dentro lançou um feitiço que explodiu por ela.

    Com um resmungo, Eugene puxou o item que procurava. Jogou casualmente no caminho do ataque a luxuosa caixa de madeira que havia adquirido no leilão.

    Dentro da caixa estava o fragmento da Espada da Luz Lunar, comprado por Eugene no leilão.

    Gwaaah!

    O feitiço se despedaçou em dezenas de filamentos que varreram as paredes ao redor. O fragmento não quebrou nem reagiu à mana do feitiço.

    — Que desempenho absurdo — Eugene murmurou ao apanhar o fragmento que havia caído no chão.

    Embora nada da forma original da espada tivesse sido mantido, as características da Espada da Luz Lunar ainda podiam ser percebidas naquele pequeno fragmento.

    Eugene continuou, encarando à frente:

    — Se tivesse me acertado com esse ataque, poderia ter me matado.

    Por trás da porta que fora destruída pelo feitiço, havia um homem vestindo um manto negro. O traje já deixava evidente, mas o feitiço que ele havia usado confirmava sua identidade: um mago negro.

    Assustado com o fracasso do ataque, o mago negro gritou:

    — Quem é você?

    Ele havia lançado aquele feitiço com a intenção de matar, mas de alguma forma ele foi bloqueado com um método desconhecido. Será que aquele intruso havia usado magia? Mas nunca ouvira falar de nenhum feitiço defensivo com aquele efeito.

    — Por que está causando esse alvoroço aqui?! — o mago também exigiu.

    Era verdade que Eugene havia iniciado os ataques de forma unilateral. Espancou os guardas do lado de fora, invadiu pela porta da frente e atravessou os tetos dos andares inferiores até chegar ao terceiro. Então o mago tinha motivo para se sentir injustiçado.

    Mas Eugene não ligava para isso. Não sentia necessidade de explicar nada ou sequer revelar seu nome.

    Escapar da realidade por meio de um sonho de súcubo era patético, mas compreensível. No entanto, Eward tinha passado dos limites. Drogas já eram demais, e ele ainda estava envolvido com um maldito mago negro.

    — Não se envolva com magia negra.

    Gilead havia advertido Eugene com firmeza antes de ele partir para Aroth. Mas o que o verdadeiro filho de Gilead achava que estava fazendo, andando com alguém que poderia muito bem ser chamado de inimigo de Vermouth?

    — Saia da frente — Eugene ordenou secamente, guardando o fragmento da Espada da Luz Lunar de volta no colete. — Se fugir agora, não vou precisar te caçar.

    — Já achei que você fosse um pirralho atrevido, mas isso…! — o mago negro rosnou. — Sabe ao menos onde está e diante de quem está sendo tão rude?

    Eugene respondeu friamente:

    — Sei exatamente com quem estou sendo rude. Aquele é Eward Lionheart, não é?

    O que deixava Eugene ainda mais furioso e cheio de desprezo era que, apesar de toda a confusão, Eward ainda não havia levantado a cabeça, muito menos dito uma palavra. Estava tão entorpecido por álcool e drogas que continuava enterrado nos lençóis da cama, rindo para si mesmo.

    — Parece que o jovem mestre distinto ainda nem entendeu o que está acontecendo — Eugene observou com sarcasmo.

    O mago negro gritou de repente:

    — Matem ele!

    Os demonídeos que estavam ao lado de Eward entraram em ação. Eram os mesmos que haviam o acompanhado do restaurante até ali. Os três daemons se lançaram diretamente contra Eugene.

    “Então estão todos aqui”, Eugene pensou.

    Com aqueles três, Eugene finalmente encontrara os cinco que haviam escoltado Eward até a casa de ópio. Um ainda estava cravado na parede do lado de fora, e outro havia tentado lançar um feitiço na sua frente.

    Fwoosh.

    As estrelas ao redor do coração de Eugene começaram a ressoar enquanto chamas brancas se acendiam e cobriam seu corpo. Conforme avançava, fiapos de fogo se desprendiam dele. Eugene abaixou o corpo e recuou Wynnyd para trás.

    Um leão de juba branca esconde suas garras, sem necessidade de atacar primeiro.

    Só quando os daemons se aproximaram é que Wynnyd entrou em ação.

    Phwoosh!

    As garras do leão avançaram, dilacerando tudo em seu caminho.

    — Aaaaargh!

    O sangue jorrou do peito do daemon que havia se aproximado mais de Eugene.

    No instante seguinte, Eugene deu um passo à frente. O vento ao redor de sua espada explodiu, e o corpo do segundo daemon, que havia hesitado de medo, foi lançado para trás pela ventania.

    — Ugh!

    O daemon logo atrás ficou assustado com a cena e tentou recuar. No entanto, Eugene mergulhou contra ele com muito mais velocidade do que o daemon foi capaz de fugir. Embora o daemon tenha estendido as unhas, transformando-as em garras afiadas, e tentado cortar Eugene rapidamente, seu braço foi completamente decepado no pulso antes mesmo de completar o movimento.

    O daemon nem teve tempo de gritar de dor. Já ao alcance, a mão de Eugene agarrou o rosto do inimigo.

    Crack!

    Com esse aperto, Eugene esmagou a cabeça do daemon contra o chão.

    — I-Isso é insano… — o mago negro murmurou, com o rosto empalidecendo.

    Embora as habilidades de Eugene fossem indiscutivelmente extraordinárias, o que realmente chocava o mago era o fogo branco que cobria seu corpo. Aqueles fiapos dispersos de chama, como uma juba de leão, apenas uma escritura de treinamento de mana em todo o mundo causava um fenômeno tão único.

    Era a Fórmula da Chama Branca, da família principal dos Lionheart.

    O mago negro gaguejou:

    — V-Você por acaso é… o senhor Eugene Lionheart?

    Ele parou de tentar lançar feitiços. Em vez disso, recuou, suando profusamente, e largou o cajado. Eugene se levantou e sacudiu o sangue da mão.

    — Saia da frente — Eugene repetiu.

    Por um momento, o mago negro ponderou entre resistir ou se submeter. Nenhuma das duas opções impediria que aquilo se tornasse o pior cenário possível, então…

    O mago escondeu a intenção assassina nos olhos e se arrastou discretamente de volta para perto do cajado que havia largado.

    — E-Espera um pouco… permita-me explicar a situação… — o mago negro arrastou as palavras, tentando ganhar alguns segundos preciosos.

    No entanto, Eugene não tinha intenção de escutar. Já havia ordenado que o mago saísse da frente, e ele não saiu. Portanto, Eugene já havia decidido o que fazer.

    Ele reduziu a distância num instante e avançou para agarrar o mago. Sem tempo para conjurar um feitiço adequado, o mago explodiu sua mana de forma desordenada. Não era poderoso nem eficiente, apenas uma tentativa desesperada de impedir Eugene de se aproximar.

    Mesmo assim, não foi o suficiente para detê-lo. Eugene apenas acrescentou luz da espada à lâmina que já estava envolta em vento. A explosão de mana não pôde deter seu corte sem qualquer refinamento.

    “Que absurdo…!”, amaldiçoou o mago negro.

    Como imaginar que sua última cartada seria cortada com tanta facilidade? Era inacreditável que Eugene tivesse apenas dezessete anos.

    “Eu vou morrer…”, ou pelo menos, foi isso que o mago pensou.

    A espada de Eugene parou bem diante da garganta do mago. Ele tremia, incapaz até de engolir a seco com medo de que isso fizesse a lâmina cortar seu pescoço.

    — Fique parado — Eugene ordenou ao passar por ele.

    Eward ainda estava entorpecido por álcool e drogas. No entanto, Eugene não se aproximou e, em vez disso, voltou seu olhar lentamente para o ponto ao lado do herdeiro decadente, sobre a cama.

    Ali havia uma tigela contendo uma massa de carne grotesca, que se remexia.

    — Aquilo é o que estou pensando? — Eugene perguntou, apontando para a massa de carne.

    Não era apenas um pedaço de carne qualquer. Aquilo era uma ‘taça’ usada em certos rituais.

    Eugene prometeu:

    — Se houver um coração humano dentro daquela tigela, pode ter certeza de que vou arrancar sua pele e te cortar em pedaços, começando pelos dedos dos pés.

    — N-Não é isso! — o mago negro implorou, ajoelhando-se no mesmo instante. — O que está ali dentro não é um coração humano. É o c-coração de um monstro.

    — Que tipo de monstro?

    — De um unicórnio…

    Em vez de escutar mais, Eugene conferiu o conteúdo da tigela por conta própria. De fato, o coração era grande demais para ser humano e tinha um tom levemente azulado. Unicórnios eram monstros com tanto poder de mana e energia divina que eram chamados de bestas divinas.

    Se fosse usado como ‘sacrifício’, o coração de um unicórnio era muito mais valioso que o de um humano.

    — …O outro lado do contrato é um Rei Demônio? — Eugene perguntou por fim.

    O mago negro reagiu com choque:

    — Como ousa… Q-Quero dizer, como alguém como eu poderia firmar um contrato com um dos Reis Demônios?

    — Então quem é? — Eugene insistiu.

    — …É… é o Barão Olpher de Helmuth… — o mago negro respondeu por fim, com a cabeça abaixada.

    Eugene não reconheceu o nome. Franziu o cenho e voltou o olhar para o mago.

    — E quem diabos é esse desgraçado? — Eugene perguntou.

    O mago negro explicou:

    — Ele é um íncubo que serve sob as ordens da Duquesa Giabella.

    — Duquesa Giabella? Está falando da Noir Giabella?

    — Sim, senhor…

    Noir Giabella era a rainha dos Demônios da Noite. Eugene bufou e balançou a cabeça. Não era surpresa que aquela maldita súcubo ainda estivesse viva depois de trezentos anos. Embora o Helmuth de antigamente fosse apenas um inferno governado pelos cinco Reis Demônios, sem nada que o fizesse parecer uma nação de verdade, o Helmuth atual era de fato um país, governado em conjunto pelos Reis Demônios do Encarceramento e da Destruição.

    Embora não pudesse estar no mesmo nível que os Reis Demônios, como rainha que governava todos os Demônios da Noite, fazia sentido que Noir Giabella fosse chamada de Duquesa.

    Lutando para conter sua irritação, Eugene disse:

    — Então o que você está me dizendo é que… esse desgraçado… estava prestes a assinar um contrato com um mero servo da Noir Giabella, um íncubo que não passa de um barão… É isso?

    — S-Senhor Eugene… — o mago gaguejou, sem saber o que dizer.

    — Ou seja, ele ia oferecer o coração de um unicórnio, enquanto completamente fora de si por causa de drogas e álcool, em troca de um contrato com um simples barão íncubo. É isso mesmo?

    — Foi o próprio senhor Eward que quis…! — o mago se apressou em se justificar, batendo a cabeça no chão em súplica. — Eu só obedeci ao pedido do senhor Eward. Foi ele quem me deu o dinheiro para comprar o coração de unicórnio. E-Eu só ouvi o pedido dele… não consegui recusar a o-ordem…

    — É claro que não conseguiu recusar — Eugene zombou. — Afinal, você devia estar empolgado. Aquele idiota ainda é o filho mais velho da linha direta da família Lionheart. Além de te dar dinheiro, ele queria firmar um contrato com o seu mestre. Se tudo tivesse saído como o planejado, sua força teria aumentado bastante graças àquele maldito chamado Olpher.

    — … — o mago ficou em silêncio.

    — Não, pensando bem, não pararia por aí. Se o contrato tivesse sido feito, você talvez até conseguisse negociar um pacto com aquela vadia da Noir.

    Era por isso que ele estava tão ansioso para fazer Eward assinar um contrato com uma inimiga de Vermouth e da família Lionheart.

    — Você topou intermediar esse contrato porque também estava cobiçando os resultados. Então não jogue toda a culpa nos outros e fique de boca fechada, se não quiser que eu te encha de porrada — ameaçou Eugene.

    O mago negro não conseguiu pensar em mais nenhuma desculpa. A intenção assassina que Eugene emanava era feroz demais, assustadora demais para que ele ousasse abrir a boca novamente. Eugene desviou o olhar do mago e encarou Eward, que ainda estava deitado de barriga para cima, olhos semicerrados e com baba escorrendo do canto da boca aberta.

    Antes de qualquer coisa, precisava se acalmar. Eugene respirou fundo e olhou novamente para o rosto de Eward.

    — Filho da puta.

    No fim, não conseguiu conter a raiva. Cuspiu um palavrão e estapeou o rosto de Eward.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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