Capítulo 78: Eward Lionheart (2/5)
— Tudo bem, se você realmente conseguisse assinar um contrato direto com a Noir Giabella, provavelmente ficaria bem forte — Eugene admitiu. — Mas o que você faria com toda essa força? Acha mesmo que conseguiria se tornar o Patriarca com o poder da magia negra?
— E-Eu nunca… — Os olhos de Eward se contorceram em um olhar raivoso enquanto ele tentava continuar. — Eu nunca quis… me tornar o Patriarca da família Lionheart…!
— Então o que você estava planejando?
— Eu… eu queria me tornar um m-mago negro e ir pra Helmuth. Num lugar assim, eu seria livre…, e meu valor seria reconhecido…!
— Hah, esse filho da puta — o rosto de Eugene se retorceu em desgosto enquanto ele dava um tapa na cabeça de Eward. — Por que você ia querer reconhecimento de demonídeos? O que é melhor, ser reconhecido pela sua família ou pelos demonídeos? E você acha mesmo que eles te respeitariam? Acho que você está confundindo as coisas, irmãozão. Sem o seu histórico de filho mais velho da família principal, você não teria valor nenhum pra eles.
— E é por isso que, mais ainda, eu quero me livrar desse título! Eu nunca quis ser o próximo Patriarca, nunca pedi pra nascer como o primogênito da linha direta! Eu quero ser livre, poder fazer o que eu quiser…
— Quanta ganância.
— O quê?
— Com seu histórico atual, você já tem liberdade pra fazer o que quiser, e ainda recebe apoio pra isso. O que mais você quer?
— Isso… tem muita coisa que eu não posso…
— Chega, não quero ouvir mais nada. Por enquanto, saiba apenas disso, irmãozão. Eu não consigo entender por que você fez isso, e também não quero entender. O que dá pra conversar com um bastardo que acha que só ele tem uma vida injusta e difícil? Um bastardo que nasceu com tantas coisas que os outros só sonham em ter, e mesmo assim inventa desculpas enquanto reclama de tudo — Eugene resmungou, se afastando de Eward. — Enquanto você estava em Aroth, bebendo, se drogando e se perdendo em sonhos, Cyan e Ciel, que ficaram na mansão, estavam realmente se esforçando pra melhorar. Sem falar de mim.
— … — Eward já não tinha mais o que dizer.
— É só isso — Eugene encerrou o assunto.
Não havia mais valor algum em continuar aquela conversa. Como um furacão, Eugene se virou e acertou um chute nas costas do mago negro, que ainda estava ajoelhado em silêncio.
— Ugh! — o mago negro grunhiu.
— Fica quieto e não inventa nenhuma gracinha — Eugene o alertou.
— E-Eu não ia fazer nada…! — o mago protestou.
— Eu sei — disse Eugene. — Mas provavelmente estava pensando em fazer alguma besteira, né?
O corpo do mago estremeceu levemente. Será que esse pirralho monstruoso conseguia ler mentes?
Claro que Eugene não era telepata. Só queria descontar a irritação crescente em alguém.
Eugene não perdeu o momento em que o mago tremeu:
— Então você estava mesmo pensando em alguma besteira? Beleza, você pediu por isso.
E deu outro chute no mago, que rolou pelo chão com um grito de dor.
Mesmo em uma rua caótica como aquela, ainda existiam leis. Embora os guardas responsáveis por aquele distrito frequentemente fechassem os olhos para as confusões do dia a dia por causa da corrupção e das regras não escritas, o tumulto atual havia saído do controle.
Os prédios no centro da rua tremiam, paredes desabavam, e o caos se espalhava. Nem mesmo os guardas que matavam tempo desfrutando dos prazeres da rua podiam ignorar uma confusão dessas.
— Senhor… Eugene… Lionheart… — balbuciou o capitão da guarda, com o rosto vermelho após chegar ao local.
Essas três palavras piscavam repetidamente em sua mente embriagada de vinho enquanto ele percebia que tudo estava completamente ferrado. Embora fosse comum que ocorressem incidentes na Rua Bolero, era a primeira vez que uma figura tão influente estava envolvida. E mesmo que uma figura pública se envolvesse em algum problema, raramente causava um escândalo dessa proporção.
— Foi legítima defesa — Eugene disse ao abrir os braços, apontando ao redor. — Meu irmão mais velho estava bêbado e foi meio que carregado até aqui, então só o segui pra verificar se estava sendo sequestrado. Quando tentei entrar atrás dele, fui impedido, então perguntei que tipo de lugar era esse. Mas o que eu deveria fazer quando começaram a me ameaçar e tentar roubar minha carteira?
— … — o capitão se fez de desentendido.
— Então, pra proteger a mim mesmo e à minha carteira, lutei com eles. Quanto ao que aconteceu lá dentro…
— A-Acredito que já entendemos bem o que o senhor está tentando dizer — o capitão da guarda o interrompeu com uma risada forçada, o rosto suando em bicas. — Cuidaremos da situação imediatamente, então, se o estimado Senhor Eugene puder nos deixar resolver isso…
— Então vou apenas sair daqui levando meu irmão mais velho comigo. E aquele desgraçado ali também — Eugene disse, apontando para o mago negro.
Ao ouvir isso, o mago negro virou-se desesperado para encarar o capitão da guarda.
Era um incidente vergonhoso demais para a cidade. Drogas eram oficialmente proibidas em Aroth. Embora essa regra muitas vezes fosse apenas decorativa, já que o comércio e o uso eram ignorados, o fato de uma casa de drogas ter sido exposta bem no meio da rua não podia ser encoberto pelas regras não escritas.
Além disso, tanto magos negros quanto a família Lionheart estavam envolvidos. Se deixasse todos saírem assim, a cabeça do próprio capitão da guarda poderia rolar. O número de figuras influentes com laços com aquela rua era incontável, e se a coisa seguisse desse jeito, mesmo que o capitão não tivesse ligação direta com o caso, poderiam cortá-lo apenas como bode expiatório.
Tomando uma decisão, o capitão disse:
— Isso… Me desculpe, mas acho que não posso permitir isso. Vamos realizar nosso próprio interrogatório com esse mago negro…
— Cale a boca — uma voz fria desceu do céu.
Eugene, que até então olhava o capitão com pena, levantou os olhos.
Lovellian estava no alto do céu.
— Como posso confiar o interrogatório a alguém que tem fechado os olhos para tudo o que acontece dentro da sua própria jurisdição? — Lovellian questionou.
— G-Grande mago… — o capitão gaguejou.
— Eu mesmo cuidarei deste incidente. Se tiver alguma reclamação, pode chamar o comandante da guarda. Embora, devo dizer, não acredito que ele vá me contrariar quanto a isso.
Lovellian desceu até o chão. O capitão da guarda cedeu e se curvou profundamente em silêncio. E não foi o único.
“Droga, ele chegou rápido demais”, pensou o mago negro, com o rosto se contorcendo em puro desespero.
Mas não era possível que a notícia tivesse chegado tão rápido até a distante Torre Vermelha da Magia. Ele não conseguia entender como o Mestre da Torre, alguém que mal demonstrava interesse por qualquer coisa além da magia, havia aparecido ali tão depressa.
— Desculpe por ter chamado você mesmo estando tão ocupado — Eugene se desculpou.
— Está tudo bem — Lovellian respondeu com um suspiro calmo.
Eugene havia sido quem o chamou. Deixara a ordem com o guia através do terminal de comunicação. Embora pudesse simplesmente usar o nome Lionheart para sair da situação, pensando no panorama maior, achou que seria melhor resolver tudo com a ajuda de Lovellian em vez de se apoiar na influência da família.
Eugene começou a explicar:
— Se quiser saber o que aconteceu…
— Já consigo entender mais ou menos a situação — Lovellian disse, balançando a cabeça. — …Foi por negligência minha que algo assim aconteceu.
O corpo de Eward tremeu de medo.
Lovellian suspirou:
— …Brincar com súcubos, esquecer dos problemas da realidade nos sonhos. Achei que fosse uma forma necessária de relaxamento… mas parece que cometi um erro. Me desculpe, Eugene.
— Não há necessidade de se desculpar comigo — Eugene tentou dispensar.
— Não, eu preciso me desculpar com você. Claro que também pedirei desculpas ao Senhor Gilead e à Senhora Tanis, mas também tenho culpa por ter deixado você presenciar uma cena tão vergonhosa, Eugene. Além disso, você cumpriu deveres que deveriam ter sido meus.
Lovellian também compartilhava do desprezo de Eugene por magos negros. Assim como sua grande mestra venerada, a Sábia Sienna, seus discípulos também desprezavam os magos negros.
Lovellian, em especial, como amigo de longa data de Gilead, entendia bem o quão absurdo era para um membro da família Lionheart se envolver com magia negra.
— M-Mestre Mago… — Eward tentou falar, mesmo com o corpo ainda tremendo. — Isso… eu só… E-Eu não fiz nada. Eu nem comecei a estudar magia negra…
— Mas tentou, não foi? — Lovellian o encarou com olhos frios. — Eward. Você… manchou o nome da família Lionheart. Você insultou o Senhor Gilead, que confiou em você e te deixou aos meus cuidados. Também insultou Samuel, que escolheu te ensinar. E me insultou, a mim, que decidi ignorar todas as suas falhas.
— N-não, eu não queria fazer nada disso. Eu só… — Eward gaguejou.
— Se continuar inventando desculpas, vou… vou ter que te mostrar agora mesmo o preço desses insultos. E estou realmente tentado a fazer isso — Lovellian o interrompeu, sem querer ouvir mais nada. — Então, por favor, não diga mais uma palavra. Se quiser continuar se explicando, não despeje isso em mim. Fale com Samuel, que te ensinou; com Gilead, que te enviou pra cá; e com Tanis.
— Uu… uwaaah… — Eward enterrou o rosto nas mãos e caiu em prantos.
Lovellian observou a cena com um olhar piedoso, depois soltou um longo suspiro.
— …Vamos voltar — disse por fim, virando-se de costas para Eward. Eugene também não lhe lançou mais nenhum olhar.
Ainda no centro dos olhares de todos, Eward abaixou a cabeça para esconder o rosto.
Enquanto lágrimas continuavam a escorrer de seu corpo trêmulo, a luz nos olhos de Eward vacilou… e se apagou.
O ar noturno estava frio.
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