Capítulo 79: Eward Lionheart (3/5)
Quatro anos atrás, os olhos de Eward brilhavam ao ver a magia lançada por Lovellian. Ele nutria uma paixão pura e um interesse sincero por magia. Nascido como o filho mais velho da linha direta da família Lionheart, com uma carga excessiva de expectativas sobre si, Eward sempre se interessara muito mais por leitura e aprendizado mágico do que por aprender a brandir uma espada e mover o corpo.
No entanto, só estar interessado não significava ter talento. Isso era, na verdade, algo bem comum. A maioria das pessoas, infelizmente, não possuía muito talento para as coisas que realmente gostava e queria fazer.
Mas Eward se sentiu traído por isso. Na mesma medida em que havia amado e depositado esperanças no aprendizado da magia, ele se viu frustrado com o quão distante sua realidade estava de seu ideal.
O sofrimento de Eward não era especialmente cruel nem incomum. Era algo que acontecia com muitas pessoas.
Apesar de todo o seu interesse e paixão, chegando até mesmo a amar a magia, a magia não retribuiu os sentimentos de Eward.
Gilead não esperou o amanhecer, mesmo que já fosse tarde da noite. Poucos minutos após a meia-noite, ele chegou à capital de Aroth. Em seguida, dirigiu-se imediatamente à Torre Vermelha da Magia.
E Gilead não era o único a ter vindo à Torre Vermelha da Magia naquela hora da madrugada.
No último andar da Torre Vermelha da Magia, junto de Lovellian e Eugene, um homem de óculos de armação preta esperava sentado.
— É um prazer conhecê-los — o homem os cumprimentou com polidez.
Seu nome era Balzac Ludbeth.
Ele era um poderoso mago negro que ocupava o posto de Mestre da Torre Negra havia algumas décadas. Levantando-se da cadeira, curvou-se profundamente diante de Gilead.
— Meu nome é Balzac Ludbeth — apresentou-se.
— …Sou Gilead Lionheart — Gilead retribuiu o cumprimento com relutância.
Lançando um olhar cortante a Balzac, Gilead fez uma leve inclinação de cabeça e trocou um breve olhar com Eugene.
Tanis, que acompanhava Gilead, se recusou terminantemente a inclinar a cabeça para o homem. Mordendo o lábio inferior, lançou um olhar fulminante tanto para Eugene quanto para Balzac.
— …O que você está fazendo aqui? — exigiu, com dureza.
Tanis não conseguiu conter as emoções que a dominavam. Eward era seu único filho, aquele que deveria se tornar o próximo Patriarca da família principal. Mas, por ter mais interesse em magia do que em artes marciais, ela havia relutantemente afrouxado sua vigilância para que ele pudesse se dedicar ao próprio cultivo. No entanto, seu amado filho havia tentado aprender magia negra. Tanis se recusava completamente a aceitar uma realidade tão terrível.
— Por favor, acalme-se — pediu Lovellian, com voz pesarosa. — …Este incidente não tem relação com o Mestre da Torre Negra.
— Que absurdo é esse! — gritou Tanis. — Você não disse que Eward foi seduzido a se envolver com magia negra?! Mas quer mesmo olhar nos meus olhos e me fazer acreditar que o Mestre da Torre Negra não tem nada a ver com isso?!
— A Torre Negra da Magia não tem autoridade sobre todos os magos negros de Aroth. — Sentando-se novamente, Balzac continuou: — Quanto ao mago negro responsável por esse infeliz incidente… Embora agora saibamos que seu nome é Gavid, ele não é membro da Torre Negra da Magia. É apenas um membro da Guilda dos Magos.
A Guilda dos Magos era conhecida como a maior comunidade de magos do mundo. No entanto, não possuía tanto prestígio quanto escala. Diferente das torres, que só aceitavam indivíduos com habilidades realmente excepcionais, a guilda permitia a entrada de qualquer um que conseguisse usar magia.
— Embora, tecnicamente, eu também seja membro da Guilda dos Magos, isso não me faz considerar Gavid digno nem mesmo de ser chamado de colega. Não concorda comigo? — Enquanto ajustava os óculos sobre o nariz, lançou um olhar a Lovellian. — Por exemplo, embora ambos sejamos magos membros da guilda, temo que o Mestre da Torre Vermelha e eu não nos consideramos parte da mesma fraternidade.
Lovellian permaneceu em silêncio, mas assentiu em concordância. Ainda furiosa, Tanis tentou continuar falando, mas Gilead ergueu a mão, impedindo-a.
— Mas você ainda não explicou por que está aqui — apontou Gilead, com voz fria.
Se alegava que a Torre Negra da Magia não estava envolvida no incidente, por que Balzac insistira em comparecer? A fúria contida de Gilead fez o ar da sala esfriar.
No entanto, Balzac não se intimidou com a hostilidade de Gilead e, com calma, admitiu:
— Estou aqui para assumir a responsabilidade por esta situação.
Como Patriarca da família principal dos Lionheart, Gilead era um dos indivíduos mais poderosos do continente.
Mas Balzac também era. Décadas atrás, estivera cotado para se tornar o próximo Mestre da Torre Azul da Magia. Hoje, era um dos únicos três magos negros lendários que haviam assinado um contrato pessoal com o Rei Demônio do Encarceramento.
Balzac continuou:
— Embora Gavid não seja membro da Torre Negra da Magia, como Mestre da Torre Negra, pretendo assumir a responsabilidade pelos problemas que ele causou.
— Responsabilidade? — Gilead questionou.
— Sim, por ter seduzido Eward a aprender magia negra e por intermediar tal contrato — confirmou Balzac. — Tecnicamente falando, isso não pode ser considerado um ‘crime’.
Séculos atrás, apenas aprender magia negra já era motivo para ser condenado como criminoso e executado. No entanto, após o tratado firmado entre o Grande Vermouth e os Reis Demônios, o aprendizado de magia negra passou a ser considerado um direito individual.
Balzac esclareceu:
— Ainda que esse seja o caso… espero demonstrar a devida consideração à posição do clã Lionheart sobre o assunto.
— Não gosto nem um pouco do tom das suas palavras — cuspiu Gilead. — Está soando como se dissesse que, pelo prestígio do clã Lionheart, você vai se curvar em pedido de desculpas mesmo sem necessidade. É isso que está dizendo?
— Sim — respondeu Balzac, sem tentar negar.
Pop.
Os nós dos dedos de Gilead se cerraram. Sua sede de sangue se intensificou, fazendo o espaço ao redor estremecer. Eugene, ao sentir a intenção assassina no ar, olhou para os próprios antebraços, onde os pelos estavam eriçados. Ele já havia sentido níveis semelhantes de intenção assassina incontáveis vezes em sua vida passada. Mas o corpo em que havia reencarnado, que só conhecia esta vida, tremia diante daquilo.
— Não é algo pelo qual eu estritamente precise assumir responsabilidade, e espero que entenda isso. — Uma onda fantasmagórica de intenção assassina envolvia Balzac. Ainda assim, mesmo em meio àquilo, seu rosto permanecia calmo enquanto continuava: — No entanto, desejo assumir a responsabilidade de qualquer forma, como um colega mago negro. Porque não tenho o menor desejo de perder a paz amigável que mantemos com o Clã Lionheart por causa deste incidente.
— Se é assim que se sente de verdade, que tal se ajoelhar? — exigiu Tanis, com um tom cortante.
Balzac levantou-se imediatamente de seu assento e, sem a menor hesitação, disse:
— Se é isso que deseja.
No momento em que Balzac se preparava para se ajoelhar, Gilead sacudiu a cabeça com força e gritou:
— Pare, não há necessidade disso — Com relutância, Gilead continuou. — …Aceitarei, com gratidão, sua oferta de responsabilidade não obrigatória. Mas há algo que me preocupa. Temo que esteja tentando encobrir este incidente sob o pretexto de assumir responsabilidade.
— Crimes envolvendo drogas são regidos pelas leis de Aroth. Todos os que foram capturados no covil de drogas serão confinados na prisão de Aroth, o que me impede de ocultar qualquer coisa — Balzac fez uma pausa e lançou um olhar a Gilead. — A menos que deseje decapitá-los pessoalmente?
— …Palavras assim são um insulto à minha honra — rosnou Gilead. — Só peço que as leis de Aroth sejam aplicadas com justiça. Com que direito eu, como estrangeiro, deveria tentar julgar as leis de Aroth?
— Cometi uma descortesia — Balzac se desculpou.
Gilead mudou de assunto:
— O que acontecerá com as súcubos?
— O negócio que elas operam não é ilegal. Mesmo os alucinógenos que utilizam em sua loja não são considerados drogas, mas… haverá sanções por terem permitido maus-tratos aos clientes.
— Então como exatamente você pretende assumir responsabilidade? — Tanis sibilou.
Ao se sentar novamente, Balzac respondeu:
— Providenciei para que o íncubo com quem Gavid mantém contrato, e que tentou firmar um contrato com Sir Eward, seja decapitado.
— …Perdão?
— Barão Eoin Olpher, um íncubo que serve sob o comando da Duquesa Giabella. Como a Duquesa Giabella não esteve envolvida nesta trama, ela não pode ser responsabilizada por ela, mas… aquele que esteve diretamente envolvido com Gavid, o Barão Olpher, perderá a cabeça.
Balzac ergueu a mão. Ao ver esse movimento, Gilead inclinou o corpo ligeiramente na direção de Tanis. Era uma forma de protegê-la caso algo inesperado acontecesse.
Embora as ações e a atitude de Gilead mostrassem abertamente sua cautela e desconfiança em relação a Balzac, este não se ofendeu com isso. Com uma expressão completamente serena, ele apenas deslizou o dedo pelo ar.
Fwoosh.
Uma rajada negra de chamas irrompeu no ar e um pergaminho surgiu.
Depois de esperar que o fogo se dissipasse, Balzac pegou o pergaminho e declarou:
— …O Rei Demônio do Encarceramento enviou uma mensagem pessoal.
Eugene conteve o impulso do próprio corpo que estava prestes a reagir de forma instintiva. Ele segurou a raiva. Nada de bom viria de demonstrar uma reação inútil naquela situação. Sua mente começou a trabalhar intensamente no lugar do corpo paralisado.
O Rei Demônio do Encarceramento era um dos dois Reis Demônios remanescentes de Helmuth. Em sua vida passada, Eugene não havia conseguido invadir o castelo desse Rei Demônio.
— O Rei Demônio do Encarceramento deseja expressar sua imensa decepção por ter causado tamanha angústia à família de seu bom amigo Vermouth — leu Balzac.
Seu bom amigo Vermouth?!
Essas palavras reviraram o estômago de Eugene. Ele queria se levantar imediatamente e agarrar Balzac pela gola. Queria gritar para que aquele homem fosse dizer ao Rei Demônio a quem servia para parar de vomitar tanta besteira e manter a boca fechada.
Eugene não foi o único a franzir o rosto diante dessas palavras. Gilead também começou a encarar Balzac, rangendo os dentes.
Mesmo ignorando aqueles olhares, Balzac continuou falando:
— Sendo assim, ele declara que irá pessoalmente decapitar Eoin Olpher e, se desejarem, pode fazer com que a cabeça seja entregue diretamente ao clã Lionheart.
— Não há necessidade disso — Gilead rosnou as palavras com uma careta.
— …Nesse caso, informarei que apenas a execução do barão será suficiente — disse Balzac ao se levantar mais uma vez. — Mais uma vez, permitam-me curvar a cabeça em desculpas. Embora esta providência possa não ser suficiente para apaziguar sua raiva, Lorde Patriarca, saibam que nem o Rei Demônio do Encarceramento nem a Torre Negra da Magia têm qualquer desejo de ofender o Clã Lionheart.
— … — Gilead permaneceu em silêncio, com o semblante carregado.
— Bem então… espero encontrá-los novamente em circunstâncias mais agradáveis — disse Balzac, em despedida.
Antes de sair da sala, lançou um olhar para Eugene. Eugene sentiu esse olhar, mas não o retribuiu de imediato.
Seguiu-se um breve silêncio.
— …Levarei Eward de volta comigo para a propriedade principal quando eu retornar — Gilead foi o primeiro a falar. Enquanto esfregava as bochechas tensas, soltou um longo suspiro e disse: — Mestre Lovellian… receio ter cometido um grave erro. Tudo isso é culpa minha.
— De forma alguma. Se eu apenas tivesse sido mais rígido com Eward, algo assim não teria acontecido — Lovellian confessou com um suspiro igualmente longo. Sacudiu a cabeça de um lado para o outro antes de se curvar diante de Tanis. — Minhas mais sinceras desculpas.
— …Eward… o que aquele garoto está fazendo agora? — Tanis perguntou, os olhos transbordando de ressentimento.
Ela realmente acreditava que a culpa do erro de Eward era de Lovellian. Se ele apenas tivesse aceitado Eward como discípulo e o instruído com dedicação total, então seu filho jamais teria feito algo assim.
Eward não tinha talento suficiente para ser discípulo dele? O que isso significava? Não havia como seu filho, Eward, ser insuficiente em nenhum aspecto.
— Pedi que descansasse em seu quarto — respondeu Lovellian.
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