Capítulo 87: Akron (2/6)
Uma semana atrás, Eward havia deixado a Torre Vermelha da Magia e retornado para a propriedade principal. Eugene não foi se despedir, nem sentiu qualquer desejo de ver Eward partir. Se aquele idiota do filho mais velho colocaria juízo na cabeça por causa desse incidente, ou se se tornaria ainda mais distorcido e acabaria virando um verdadeiro cretino, Eugene já não sentia mais necessidade de se importar com isso.
Essa seria a responsabilidade de Tanis. Já que ela decidira se separar de Gilead e levar o filho consigo para a casa de seus parentes maternos, ela seria a encarregada de continuar com a educação do filho.
De qualquer forma, era verdade que a Torre Vermelha da Magia, e o próprio Lovellian, haviam sido deixados em uma posição difícil por causa desse caso. Lovellian havia continuado a proteger Eward, apesar das reclamações e zombarias de seus colegas magos, apenas para que a verdadeira e feia natureza de Eward fosse revelada a todos os cidadãos de Pentágono.
Embora já houvesse muitos rumores sobre o mau comportamento de Eward há algum tempo, o fato de que seus crimes foram divulgados publicamente, em vez de permanecerem apenas como boatos, gerou toda uma nova série de problemas. Graças a Eward, uma grande operação de repressão às drogas também havia começado na Rua Bolero, e a tolerância com os magos negros pertencentes à guilda e, claro, com os demonídeos, se tornara ainda mais rígida.
Mas a verdade era que a maior vítima de todo esse escândalo foi a família principal dos Lionheart. A honra que havia sido herdada de seu ancestral, o Grande Vermouth, agora estava manchada como se tivessem jogado esgoto sobre ela, por causa do fato de que o filho mais velho, Eward, tentou fazer um contrato com um íncubo.
“Fiz bem em não ter filhos”, pensou Eugene.
Quando chegou pela primeira vez à propriedade principal do Clã Lionheart, ele sentiu arrependimento e disse a si mesmo que deveria ter deixado alguns descendentes em sua vida anterior.
Mas agora, ele já não tinha mais esse arrependimento. Se alguém se autodenominando descendente de Hamel tivesse feito algo tão idiota quanto Eward… Só de imaginar já era assustador.
“Se fosse comigo, eu teria quebrado meu caixão e rastejado para fora do túmulo só para dar uma lição nele.”
Enquanto pensava nisso, Eugene reabsorveu a mana.
— Você veio até aqui só porque estava preocupada comigo? — ele perguntou a Hera.
— N-não, quer dizer, sim! — Hera gaguejou.
— Então está dizendo que eu estou errado ou certo?
— Embora eu estivesse um pouco preocupada… eu também vim por outro motivo.
— E qual seria esse motivo? — perguntou Eugene.
— P-Por ora… por favor, vista alguma roupa — disse Hera, desviando novamente o olhar.
Foi só então que Eugene percebeu que estava sem camisa.
— Ah, desculpa por isso — Eugene se desculpou. — Como eu estava treinando, acabei suando demais.
— T-Tudo bem — disse Hera.
Graças a isso, ela acabou vendo algo bom. Ao recordar a imagem que guardara na cabeça, Hera lambeu os lábios. Subitamente, lembrou-se de um feitiço de retenção de memória. Um sorriso refrescante se espalhou pelo rosto de Hera ao pensar em extrair aquela lembrança mais tarde e salvá-la como um vídeo.
Hera continuou:
— O Mestre da Torre pediu para eu vir buscá-lo, Sir Eugene.
— Vamos subir até o último andar? — Eugene confirmou.
— Não, o Mestre da Torre está fora do escritório no momento.
— Então para onde estamos indo?
— Para Akron — revelou Hera com um largo sorriso.
Essas palavras fizeram Eugene sorrir da mesma forma.
Dentro da capital de Aroth, Pentágono. No centro da forma pentagonal desenhada pelas cinco Torres da Magia, localiza-se o castelo real de Aroth, chamado ‘Abram’. Construído no coração de um grande lago, não é possível entrar em Abram sem pegar um barco. Mesmo os transportes aéreos que voam livremente pelos céus de Pentágono não têm permissão para se aproximar do espaço aéreo de Abram, e também é impossível atravessar o lago usando magia.
Isso se deve ao fato de que Abram e o lago que o cerca estão completamente cobertos por uma Formação de Supressão Mágica.
Trezentos anos atrás, a Sábia Sienna desenvolveu a Formação de Supressão Mágica como seu trunfo final. Essa formação bloqueava o uso de mana em uma área específica, permitindo apenas que a mana da própria Sienna fosse usada.
A Formação de Supressão Mágica que cobre todo o território de Abram foi oferecida como presente à Família Real por Sienna, e mesmo após centenas de anos, ainda funciona perfeitamente.
Atualmente, eles estavam na Biblioteca Real Akron. Sua imponência não deixava a desejar se comparada a Abram, que podia ser vista à distância. Eugene alternava o olhar entre a alta torre do relógio de Akron e o lago ao redor de Abram.
“Isso é insano”, Eugene comentou mentalmente.
Graças ao fato de que vinha estudando diligentemente livros sobre magia recentemente, ele havia alcançado uma compreensão geral do assunto. De acordo com esse novo ‘senso comum’ que adquirira, definitivamente não parecia possível cobrir todo aquele imenso lago e o castelo real com uma Formação de Supressão Mágica.
Trezentos anos atrás, não havia nenhum lago cercando o castelo. Esse lago também fazia parte do presente de Sienna. Em menos de uma semana, ela havia construído aquele enorme lago e transferido o castelo real inteiro do local original para o centro dele.
— Não é incrível? — Hera apontou para Abram com um sorriso radiante e disse: — Nem mesmo os Mestres das Torres conseguem usar magia quando estão em Abram. Os únicos autorizados a usar magia lá são os membros da família real e os magos da corte que juraram obediência absoluta à família real.
— Nesse caso, isso significa que os Mestres das Torres não juraram lealdade absoluta à família real? — Eugene perguntou.
Hera hesitou ao responder:
— Uhm… embora eles tenham jurado lealdade, não dá para esperar que obedeçam a ordens completamente irracionais, certo? Dá pra dizer que a relação entre as Torres da Magia e Aroth é mais de cooperação mútua… do que uma relação baseada em vassalagem e obediência.
O rei não se envolvia muito com a política que governava Aroth.
— Aqueles com quem as Torres da Magia mantêm uma conexão mais profunda não são o Palácio Real, mas sim o Parlamento. Já que o Palácio Real possui sua própria Divisão de Magos da Corte, os magos das Torres da Magia são considerados a base de poder correspondente ao Parlamento. Mas isso não quer dizer que nossas duas organizações estejam em conflito.
Aroth vivia em paz. Não havia risco de guerra civil, nem inimigos externos ao reino.
Desde o fim da guerra de trezentos anos atrás, o continente inteiro estava em paz. Não que não houvessem algumas guerras civis ou confrontos entre pequenos países, mas nunca houve outra guerra tão grandiosa quanto aquela.
— Você quer visitar Abram? — Hera inclinou a cabeça ao perguntar, vendo Eugene continuar a encarar Abram.
— Só estou olhando porque é impressionante — Eugene explicou. — Afinal, não é um lugar que eu possa visitar só porque quero, certo?
— É exatamente isso. Só grandes nobres e Mestres das Torres têm permissão para visitar Abram… Ah, mas se for você, Sir Eugene, talvez consiga ir até lá.
— Por eu ser um Lionheart?
— Isso é parte do motivo, mas, se você receber permissão para entrar em Akron, também pode receber uma convocação do Palácio Real. Nunca fui até lá pessoalmente, mas ouvi falar sobre isso com o Mestre da Torre, Lovellian — disse Hera, guiando o caminho à frente. — Não cabe a mim te contar sobre isso. Você provavelmente ouvirá tudo diretamente do Lovellian ainda hoje.
Junto de Hera, Eugene entrou em Akron. Sendo uma atração tão importante, era de se esperar que estivesse cheia de turistas, mas a área ao redor de Akron estava vazia, sem uma alma sequer à vista.
Isso se devia à altíssima taxa de entrada. Também era impossível se aproximar dos arredores de Akron sem uma permissão prévia. E mesmo com essa permissão, só era permitido o acesso até o primeiro andar. Do segundo em diante, não era possível sequer pisar sem um passe especial.
— Bem, então vou voltar agora — declarou Hera.
Hera não possuía um passe de entrada. Como não podia acompanhá-lo mais adiante, apenas assentiu para Eugene.
Ela o encorajou:
— Sir Eugene, não fique nervoso demais… Boa sorte!
— Sim, farei o meu melhor — Eugene respondeu à sua torcida.
Eugene sorriu enquanto erguia o punho em resposta ao incentivo.
Aquela era a Biblioteca Real, Akron. Embora o Mestre da Torre Vermelha e o Mestre da Torre Negra tivessem escrito cartas de recomendação em seu nome, os outros três Mestres das Torres questionaram as qualificações de Eugene para obter um passe de entrada em Akron.
Ele podia até ser um membro do clã Lionheart deixado pelo Grande Vermouth, mas, no fim das contas, por mais grandiosos que fossem os descendentes do herói, Eugene não passava de um jovem sem um domínio firme da magia.
Akron não era o tipo de lugar que se podia entrar apenas com uma carta de recomendação. Era ali que estavam guardadas a história mágica de Aroth e a sabedoria destilada da Sábia Sienna.
— Meu nome é Eugene Lionheart — ele declarou.
Ele estava em um salão espaçoso no primeiro andar. Assim que entrou, Eugene curvou profundamente a cabeça.
Lovellian e Balzac, junto dos demais cinco Mestres das Torres, encaravam Eugene.
Mas eles não estavam sozinhos. O Chefe da Divisão de Magos da Corte do Palácio Real e o Chefe da Guilda dos Magos também estavam presentes.
— Levante a cabeça — uma voz ordenou.
Um jovem apenas alguns anos mais velho que Eugene estava sentado calmamente entre todas aquelas figuras de influência de Aroth.
— Faz alguns anos que ouço falar do seu nome. Esperava poder conhecê-lo um dia, mas não imaginei que nosso encontro aconteceria em um lugar como este.
Honein Abram, o Príncipe Herdeiro de Aroth, sorriu para Eugene.
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