Capítulo 88: Akron (3/6)
Eugene olhou para o Príncipe Herdeiro, que era apenas quatro anos mais velho que ele. Honein não era apenas o herdeiro do trono de Aroth; também era um excelente mago por mérito próprio.
“Ele é um mago de Quinto Círculo”, Eugene lembrou.
De geração em geração, a família real de Aroth continuava produzindo magos excepcionais. Não seria exagero dizer que aprimoraram, ao longo de centenas de anos, a afinidade mágica de sua linhagem.
E mesmo entre todos esses talentos cultivados, Honein era particularmente brilhante. Todos os membros da realeza de Aroth eram introduzidos à magia desde cedo, mas Honein foi o primeiro a alcançar o Quinto Círculo antes mesmo da idade adulta.
Ele era um gênio comprovado.
Até Eugene estava familiarizado com as histórias sobre Honein. Afinal, ele era o Príncipe Herdeiro, o primeiro na linha de sucessão ao trono. Embora Hera já tivesse o alertado de antemão, ainda era estranho encarar esse príncipe de aparência refinada pessoalmente.
Eugene refletiu: “Na minha vida anterior, só encontrei membros da realeza algumas poucas vezes, mas agora, reencarnado como descendente de Vermouth, acabo conhecendo um deles com apenas dezessete anos.”
Ele não tinha grandes vínculos com a realeza em sua vida passada. Embora Vermouth fosse constantemente convidado, Hamel, que era órfão, raramente recebia convites, e ignorava os poucos que apareciam.
— Você sabe por que está aqui?
Quem soltou essa pergunta, marcando o início da entrevista, foi um mago de aparência rígida. Era o Mestre da Torre Azul. Embora parecesse ter meia-idade, sua idade real devia ser muito mais avançada. Ele encarava Eugene com olhos cheios de desagrado e irritação.
— Eugene Lionheart, ouvi muitos rumores sobre você, mas chegar até aqui… — o Mestre da Torre Azul prosseguiu. — Tanto o Mestre da Torre Vermelha quanto o da Torre Negra têm te elogiado tanto que parece exagero.
Ele então lançou um olhar estreito para Lovellian e Balzac. Sentindo-se alvos daquele olhar, Balzac apenas balançou a cabeça com um leve sorriso, enquanto Lovellian soltou um resmungo.
— Ah, mas é claro, estou bem ciente de que você é extraordinário, a ponto de seu irmão criminoso não chegar nem perto — o Mestre da Torre Azul admitiu. — No entanto… saber brandir uma arma e liberar força da espada não é a mesma coisa que ser bom em magia, certo?
O Mestre da Torre Azul não estava nada satisfeito com a situação. O jovem diante dele tinha apenas dezessete anos. Além disso, Eugene era apenas um filhote que começara a praticar magia há poucos meses.
Um garoto assim tinha conseguido cartas de recomendação de dois Mestres de Torres e agora estava diante de um painel que decidiria se receberia permissão para entrar em Akron. O Mestre da Torre Azul não podia aceitar, ou sequer reconhecer, tamanho absurdo.
Por mais talentoso que um jovem de dezessete anos recém-iniciado na magia pudesse ser, não era possível que fosse tão excepcional assim, certo? Claro, ele reconhecia que Eugene tinha talento, mas isso não bastava para justificar sua entrada em Akron.
Atualmente, não eram poucos os magos de Aroth que haviam sido chamados de gênios em sua juventude. Todos os que conseguiram entrar em uma Torre da Magia haviam sido, no mínimo, chamados de prodígios uma ou duas vezes. Eram todos diamantes brutos transbordando de talento.
E mesmo esses magos aguardavam por décadas uma chance de entrar em Akron. Mas um moleque como Eugene, cujos feitos em magia mal podiam ser considerados iniciais, estava prestes a entrar? Por mais que o Mestre da Torre Azul pensasse nisso, tudo lhe parecia um favoritismo descarado.
“O Mestre da Torre Vermelha é amigo antigo do Patriarca Lionheart, e quanto ao da Torre Negra… devo presumir que está tentando aproveitar esse escândalo vergonhoso para estreitar relações com o clã Lionheart”, especulou o Mestre da Torre Azul.
Afinal, a oportunidade surgiu em um momento convenientemente suspeito. Assim que Eward, o primogênito dos Lionheart, falhou em alcançar qualquer conquista relevante, Eugene apareceu, e logo em seguida, surgiram as cartas de recomendação.
O Mestre da Torre Azul não era o único com esse pensamento. Embora os Mestres das Torres Verde e Branca não demonstrassem, também não estavam satisfeitos por terem sido convocados para participar daquela farsa.
— Entendo o que está tentando dizer. Mas o que eu preciso fazer para provar que sou digno? — Eugene perguntou sem qualquer hesitação.
Como se estivesse esperando por essa pergunta, Lovellian tomou a palavra:
— Tudo o que você precisa fazer é nos mostrar sua magia.
Eugene confirmou:
— Só isso?
— Sim — Lovellian respondeu com um aceno, olhando para os outros Mestres das Torres. — Se puder lançar um feitiço diante de nós, Sir Eugene, esses renomados magos aqui reunidos aproveitarão a ocasião para avaliar sua habilidade mágica.
— Normalmente, avaliaríamos os resultados de suas pesquisas e os artigos que tenha produzido — o Mestre da Torre Azul resmungou. — Mas como você nunca realizou nenhuma pesquisa, muito menos escreveu uma tese, isso terá de bastar.
Lovellian estreitou os olhos ao ouvir as reclamações do Mestre da Torre Azul. Embora compreendesse a insatisfação do colega, ficou ofendido com a maneira aberta e desrespeitosa com que ele se comportava naquele ambiente formal.
— Se é isso que precisam — Eugene assentiu lentamente.
Ele já estava preparado para não ser tratado com gentileza o tempo todo, então não se sentiu ofendido pela grosseria do Mestre da Torre Azul. Respirando fundo, Eugene puxou sua mana.
À medida que as Estrelas ao redor de seu coração começavam a brilhar, todos os magos na sala o observavam com expressões calmas. Seus olhos não estavam focados no corpo de Eugene, mas sim nos movimentos de mana dentro dele.
Honein, que não conseguia ver esse fluxo com suas próprias habilidades, baixou um par de óculos finos sobre o nariz.
Depois de alguns momentos, seus lábios se entreabriram e ele soltou um som de apreciação:
— …Hm…
A expressão do Mestre da Torre Azul mudou. De fato, Eugene não estava utilizando um Círculo, mas também não estava simplesmente usando um Núcleo.
Eugene estava utilizando as três Estrelas geradas pela Fórmula da Chama Branca da linhagem principal dos Lionheart. Conforme as três Estrelas ressoavam entre si, reuniam a mana de Eugene e a amplificavam. Chamas brancas intensas envolveram seu corpo. Até esse ponto, nada parecia particularmente extraordinário.
Então, no momento em que a Fórmula da Chama Branca começou a operar com seriedade, os movimentos dos Núcleos mudaram. As Estrelas em ressonância passaram a girar em um padrão interligado. Assim, as três Estrelas se tornaram um único Círculo.
“É um Círculo.”
“Então os Núcleos e Círculos não são coisas separadas. Ao fazer os diferentes Núcleos ressoarem entre si, formam um único Círculo…”
Eugene havia criado apenas um único Círculo. Mas nenhum dos magos ali acreditou que aquilo fosse um simples Primeiro Círculo.
“A densidade da mana dele… é absurda.”
“Embora ele treine sua mana há vários anos, isso é… Não, isso torna tudo ainda mais inacreditável. Eugene Lionheart só vem treinando mana há quatro anos.”
“Não sei sobre o talento dele para artes marciais, mas dizem que nasceu com talento natural para controle de mana.”
“Mas isso ainda não é suficiente”, julgou o Mestre da Torre Azul, com o olhar ficando mais frio. “Ter excelente controle de mana é completamente diferente de ter uma excelente compreensão da magia.”
Não se tornava um Arquimago apenas por ter grande controle de mana. A alcunha de ‘Grande’ diante do nome de Vermouth Lionheart, e o título de ‘Mestre-de-Tudo’, era porque ele havia atingido um nível jamais visto não apenas nas artes marciais, mas também na magia.
Combinar o Núcleo com o Círculo era extremamente ineficiente em termos de uso de mana. Embora muitos se autodenominassem espadachins mágicos, a maioria desses magos de combate possuía habilidades apenas medianas quando artes marciais e magia eram analisadas separadamente.
Já se passavam trezentos anos desde a era do Grande Vermouth. Desde então, muitos indivíduos talentosos nasceram na linha direta dos Lionheart, mas nenhum havia demonstrado a mesma maestria mágica que possuíam nas artes marciais.
A capacidade de usar mana a partir dos Núcleos para criar luz da espada e força da espada, bem como sua perícia com armas, não ofereciam qualquer vantagem relevante na exploração das profundezas da magia.
O oposto também era verdadeiro. Entre os Arquimagos cujos nomes foram registrados na história, nenhum era hábil no combate corpo a corpo empunhando armas.
Mesmo que o controle de mana exigido por ambos fosse semelhante, artes marciais e magia sempre foram disciplinas separadas.
Um a um, Eugene demonstrou todos os feitiços que sabia conjurar. As chamas brancas da Fórmula da Chama Branca se transformaram em uma lâmina de vento e, em seguida, numa bola de fogo vermelha. Por um momento, parecia que a bola de fogo iria se dissipar, mas ela se reformou em dezenas de projéteis, que depois se uniram em uma lâmina alongada.
Durante todo o processo de transformação da magia, Eugene não proferiu sequer um encantamento. E não houve desperdício de mana, nem mesmo quando os feitiços foram desfeitos para se transformarem. Toda a mana utilizada em cada feitiço era reaproveitada no seguinte.
O Mestre da Torre Verde, que observava em silêncio, perguntou:
— …Você consegue usar magia e luz da espada ao mesmo tempo?
Em vez de responder, Eugene simplesmente mostrou. Sem interromper a transformação de sua magia, estendeu a mão direita à frente.
Não havia necessidade de sacar uma espada ou outra arma. Em vez disso, as chamas da Fórmula da Chama Branca se concentraram em sua mão direita e se tornaram uma lâmina de mana pura. A mera visão dela finalmente causou espanto nos magos que o assistiam.
Seu Círculo não havia colapsado. Mesmo usando um Núcleo no lugar de um Círculo, ainda conseguia utilizá-lo como Núcleo ao mesmo tempo. Diante disso, a expressão do Mestre da Torre Azul não pôde deixar de endurecer.
Seria mesmo possível construir um mecanismo funcional a partir de peças de duas máquinas completamente diferentes? E não apenas na aparência, será que ele realmente combinou suas funções por completo?
Mesmo que fosse possível… como um garoto que só começou a praticar magia há poucos meses conseguiu fazer isso?
“E ainda por cima sem encantamentos.”
Eugene usava cálculos mentais para conectar suas técnicas e ativá-las apenas com a força de vontade. Isso significava que ele compreendia completamente toda a magia que havia aprendido. O Mestre da Torre Azul soltou um gemido baixo, de frustração e admiração.
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