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    Embora não tivesse certeza de qual momento essas imagens haviam sido tiradas, Eugene sentia que provavelmente vinham de pouco antes deles partirem para Helmuth. Vermouth, como aparecia na parede, não parecia estar com a Espada da Luz Lunar.

    “Eu também pareço ter menos cicatrizes.”

    Em sua vida passada, Hamel havia acumulado muitas cicatrizes. Grande parte delas era coberta pelas roupas e armadura, mas até seu rosto apresentava várias marcas. Cerca de metade tinha vindo do tempo em que atuava como mercenário, e o restante, em Helmuth.

    O ‘Hamel’ diante dele quase não tinha cicatrizes na pele exposta. Embora sua expressão fosse carrancuda, seus olhos não pareciam tão agressivos. Pelo aspecto limpo e arrumado, essa imagem devia ter sido registrada antes de todas as provações em Helmuth.

    — …Tão bonito — Eugene murmurou por fim.

    — Não é? — Mer concordou. — Embora eu já tenha visto essa imagem incontáveis vezes, ainda não consigo superar o quão bonito era o Sir Vermouth…

    Eugene a interrompeu:

    — Eu tava dizendo que o Hamel era bonito, não meu ancestral.

    Os cílios de Mer tremeram. A mandíbula se abriu enquanto ela alternava o olhar entre Hamel e Vermouth.

    — Tá maluco? — Mer indagou.

    — Bom, meu ancestral, uh, eu admito que ele é bonito, mas o Hamel também… uh… tem seu charme. Esse… uh… ar indomável? E aquele… uh… aquele charme bestial… — Eugene simplesmente calou a boca, tomado por uma vergonha insuportável. “O que diabos eu tô falando?”

    Embora já estivesse sentindo um constrangimento intenso, o olhar de Mer, como se estivesse vendo algo confuso e patético, fez com que Eugene se sentisse ainda mais envergonhado.

    — …É só a forma como eu me sinto — concluiu, derrotado.

    — Seu gosto é bem único — observou Mer, educadamente.

    — É só como as pessoas são.

    — Ar indomável? Charme bestial? Se seu gosto é esse, por que não admira o Molon em vez do Hamel? Só de olhar pra ele dá pra achar que é um urso, não um humano.

    — Não é exagero demais? Em vez de urso, diga pelo menos que parece um monstro.

    — Também serve.

    Mer não pôde negar. Após lançar um olhar enojado para os músculos protuberantes de Molon, ela voltou a encarar Eugene.

    — …Além do retrato, não tem nenhuma outra gravação da aparência da Dama Sienna? Algo como isso aqui — Eugene perguntou, curioso.

    Mer respondeu com uma pergunta:

    — Sir Eugene, você consegue lembrar da sua própria aparência sem usar um espelho?

    — Mas se era pra deixar algo assim, ela podia pelo menos ter deixado a própria imagem. Era só se posicionar diante de um espelho de corpo inteiro — argumentou Eugene.

    — Dama Sienna provavelmente só não tinha o menor interesse em fazer isso — disse Mer, dando uma risadinha. — Afinal, ela odiava tanto atenção que até relutava em deixar retratos. Enfim, o que exatamente você pretende fazer?

    — Como assim?

    — Embora eu não saiba exatamente a situação, o fato de você ter sido autorizado a entrar aqui com apenas dezessete anos e sem um domínio avançado de magia significa que… aqueles magos arrogantes devem ter enxergado algo impressionante no Sir Eugene.

    — Bom, é mais ou menos isso.

    — Não precisa bancar o humilde. Mesmo sem esse teatro, Sir Eugene, basta ler um dos livros armazenados aqui para perceber o quanto seu talento ainda é modesto — disse Mer, olhando para Eugene com um ar orgulhoso. — Não temos apenas o salão da Dama Sienna aqui. Incluindo ela, outros nove magos tiveram seus nomes acrescentados à lista de salões de Akron.

    Aquela era a Biblioteca Real de Akron. Havia andares dedicados a outros nove Arquimagos, além de Sienna.

    O último andar, o décimo quinto, era o Salão do Rei da Magia, fundador de Aroth. Abaixo do salão de Sienna, no décimo primeiro andar, havia o Salão do Mago de Batalha, considerado o pai da magia de combate; no décimo andar, o Salão do Grande Invocador Espiritual, o primeiro humano a firmar contrato com um Rei dos Espíritos.

    — O segundo, terceiro e quarto andares são usados para armazenar uma variedade de textos mágicos — Mer continuou. — Todos são grimórios raros e valiosos, cuidadosamente selecionados pelos antigos Mestres das Torres. Claro, embora você tenha sido autorizado a entrar em Akron por possuir qualidades que o classificam como um gênio, a magia armazenada aqui foi criada por gênios completos.

    — Entendi — Eugene assentiu com uma expressão calma.

    Ele sabia o que Mer estava tentando dizer. De forma objetiva, o conhecimento de Eugene sobre magia ainda era raso. Embora tivesse conseguido entrar em Akron, era impossível estudar por conta própria os textos mágicos ali armazenados, como fizera com os livros introdutórios da Torre Vermelha da Magia.

    — Você não é capaz de lançar magia? — Eugene perguntou.

    — Não posso ser eu a te ensinar — Mer recusou a pergunta não dita, balançando a cabeça. — Não há razão para isso, e o sistema programado em mim também proíbe expressamente a transmissão de magia. Por centenas de anos, muitos magos tentaram extrair a Feitiçaria de mim, mas nenhum conseguiu alterar minhas configurações.

    Após dizer isso, Mer ficou em silêncio por alguns momentos. Ela cruzou os braços com uma expressão complicada no rosto.

    — O único tipo de feitiço que me é permitido usar… são magias para remover poeira deste salão ou recolher pequenos pedaços de lixo — Mer explicou. — Ainda quer ver minha magia?

    — Uhum — Eugene respondeu, sem dizer mais nada.

    — Nesse caso, tente invadir Akron sem um passe de entrada. Se realmente fizer isso, garanto que serei a primeira a aparecer, antes de qualquer outro familiar dos demais andares, para executar você, Sir Eugene.

    — Isso é realmente necessário?

    — Se não gosta desse método, pode tentar atacar a Feitiçaria ou a mim. Se tiver um método de morte preferido, Sir Eugene, farei o meu melhor para atender seu desejo.

    Não soava como uma simples piada dita daquele jeito. De qualquer forma, parecia impossível aprender magia diretamente com Mer. Após refletir por alguns instantes, Eugene seguiu para o elevador.

    Enquanto caminhava, perguntou:

    — Mesmo que não possa me ensinar, pode ao menos me dar algum conselho sobre magia?

    — Isso também é restrito — admitiu Mer. — Se fosse tão fácil assim para mim orientar alguém gentilmente no estudo da magia, todos os Arquimagos de Aroth já teriam dominado a Feitiçaria.

    A Feitiçaria era tão infame quanto renomada. Mesmo que só pudesse ser tocada após ser qualificado para entrar em Akron, nenhum dos Arquimagos que já pisaram na biblioteca conseguiu dominar completamente sua magia.

    Mer hesitou:

    — Se precisa mesmo de um conselho… uh… Sir Eugene, em que Círculo você está?

    — Se tivesse que dizer… talvez no Terceiro Círculo — Eugene admitiu com certa hesitação.

    Mer fez uma careta:

    — Ugh. Sério?

    — Faz pouco mais de dois meses desde que comecei a aprender magia — Eugene se defendeu.

    — Hm. Considerando quanto tempo se passou desde que começou, acho que dá pra dizer que você é um tipo de gênio. Mas mesmo assim, ainda está longe de estar qualificado para entrar em Akron.

    Até agora, Mer vinha sorrindo ao brincar sobre diversos assuntos, mas quando se tratava de magia, sua atitude se tornava fria e desdenhosa. Até esse tipo de reação fazia Eugene lembrar de Sienna, o que o levou a esboçar um sorriso.

    — O que quis dizer com ‘talvez no Terceiro Círculo’? — Mer exigiu.

    — Na verdade, eu nunca criei um Círculo — Eugene confessou.

    — Não minta pra mim.

    — É sério. Sem nenhum Círculo, tenho usado meus Núcleos como se fossem Círculos pra lançar magia.

    — …Essa é uma fórmula mágica exclusiva do clã Lionheart?

    — Não deveria ser. Não sei como Vermo… quer dizer, como meu ancestral usava magia, mas a linha direta do clã Lionheart não tem registro de nenhuma fórmula assim. Embora eu não possa afirmar o mesmo sobre os ramos colaterais.

    Existiam inúmeros ramos colaterais no clã Lionheart. Embora não parecessem ter muito contato com a família principal, havia famílias entre eles que se especializavam em magia.

    — Hm… — Mer resmungou, pensativa. — Nesse caso, a fórmula mágica que você está usando foi algo que criou sozinho, Sir Eugene? Ou teve ajuda de outros magos?

    — Fui eu quem criou — Eugene afirmou.

    Mer ficou imersa em pensamentos.

    — Hm, hmmm…

    As portas do elevador se abriram, e eles entraram. Enquanto desciam até o décimo segundo andar, Mer ainda refletia, acariciando o queixo. Talvez devido à velocidade da descida, seus pensamentos também pareceram alcançar uma conclusão rapidamente.

    Mer pareceu aliviada ao dizer:

    — Bom, então parece que suas qualificações não são tão assustadoramente inadequadas quanto eu temia. Estava preocupada de que sua entrada em Akron tivesse sido comprada apenas com o prestígio do seu sobrenome.

    — Acho que isso teve, sim, um pequeno peso — Eugene admitiu.

    — Gosto dessa honestidade. Embora fosse mais rápido ver sua magia do que ouvir falar dela, por ora… que tipo de magia te interessa, Sir Eugene?

    — Está perguntando pra me dar conselhos?

    — Talvez eu não possa ensinar magia diretamente, mas posso ao menos apontar uma direção.

    — Quero magia útil em combate. Magia espiritual também serve.

    — Que pedido bárbaro.

    Mer estalou a língua algumas vezes, em desaprovação, enquanto seguia atrás de Eugene.

    Ainda assim, ela continuou a dar conselhos generosos:

    — O décimo andar é o Salão do Grande Invocador Espiritual. Esse salão é dedicado ao humano que foi o primeiro a firmar contrato com o Rei dos Espíritos da Água.

    — Mas não é como se aprender a magia daquele salão garantisse um contrato com o Rei dos Espíritos da Água — Eugene retrucou.

    — Bem, isso é verdade. Afinal, a compatibilidade inata do invocador também é importante ao firmar um contrato com um espírito. Quanto à magia guardada no décimo andar… a maioria dos feitiços lá foi feita para ser usada em conjunto com o poder dos espíritos da água.

    — Nesse caso, não serve muito pra mim. Prefiro espíritos do vento aos da água.

    — Mas esse tipo de compatibilidade não é algo que o senhor pode decidir sozinho, Sir Eugene… Bom, entendi o que quer dizer. Se procura magia útil em combate, então o décimo primeiro andar é perfeito para você. Aquele salão é dedicado ao Arquimago conhecido como o Pai da Magia de Combate.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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