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    — Há mais alguma coisa que recomendaria? — perguntou Eugene, enquanto os dois paravam diante da Feitiçaria.

    — Não sei que tipo de estilo de combate o senhor tem em mente, Sir Eugene. Pretende usar apenas magia em combate? Mesmo sendo da família principal dos Lionheart, famosa por suas artes marciais? — Mer perguntou com desconfiança.

    — Vou usar ambos, magia e arma — Eugene esclareceu.

    — Que arrogância a sua — Mer riu.

    Mesmo considerando o potencial que Eugene já havia demonstrado tão jovem, ainda parecia absurdo que ele pretendesse usar magia e artes marciais ao mesmo tempo em combate.

    — Nesse caso, mais útil para você do que o décimo andar será o andar logo abaixo dele — disse Mer, ajustando sua recomendação. — Os textos mágicos do décimo andar lidam principalmente com a aplicação refinada da magia de combate e com formas de adaptar a magia a diferentes situações. Ou seja, o nível de dificuldade é extremamente alto. Embora, na verdade, isso valha para toda a magia aqui.

    — E o que tem no andar de baixo? — Eugene perguntou.

    — Lá há magias poderosas, mas simples. Os feitiços do Mago do Fogo e do Mago do Gelo, que foram rivais eternos em vida. Embora a magia do gelo combine bem com espíritos da água… já que disse que prefere espíritos do vento, é melhor aprender a magia do fogo. — Embora sarcástica, a orientação de Mer era clara e útil. — Sir Eugene, quando já tiver uma boa proficiência em magia do fogo, pode ir também ao sétimo andar. Embora os feitiços guardados lá sejam bastante difíceis, depois de dominá-los, há magias poderosas o bastante para eliminar um exército ou até mesmo uma nação com um único lançamento. Já ouviu falar do feitiço ‘Meteora’, Sir Eugene?

    — Claro que sim — Eugene respondeu com cautela. — É o feitiço que faz chover meteoros do céu.

    — Foi há uns quinhentos anos? Era uma era de conflitos constantes entre nações. O Oitavo Salão é dedicado ao mago conhecido como ‘Desastre’, que destruiu vários exércitos com seu feitiço Meteora. Akron é o único lugar do continente com uma cópia completa da técnica de Meteora.

    Eugene não sabia se realmente iria aprender Meteora, mas não podia negar que estava interessado.

    Seguindo em frente, Mer revelou:

    — No sexto andar há magia espacial. Sir Eugene, se deseja lutar usando suas habilidades marciais em vez de magia, recomendo também aprender magia espacial. Desde que domine o feitiço Piscar, terá uma vantagem absoluta em qualquer duelo mágico.

    Piscar era um feitiço de teletransporte de curto alcance. Embora a distância variasse de acordo com o nível do mago, Sienna era capaz de se mover dezenas de metros com um único Piscar.

    Enquanto ouvia os conselhos de Mer, Eugene começou a imaginar o que poderia fazer com Piscar. Saltando de um lado para outro com teletransporte, podia tanto atacar com sua arma quanto lançar feitiços. Se conseguisse se adaptar bem ao estilo, superaria a força que teve em sua vida passada.

    “Já que na minha vida anterior eu não conseguia nem soltar uma faísca, quanto mais usar Piscar.”

    Poder fazer algo que não pôde antes lhe trazia uma satisfação vibrante.

    Saindo de seus devaneios, Eugene perguntou:

    — …E quanto à Feitiçaria?

    Mer iniciou uma palestra já bem preparada:

    — A Feitiçaria contém uma fórmula otimizada de aplicação de mana projetada para Círculos. Com isso, é possível amplificar o poder mágico gerado por um Círculo. Ela também simplifica qualquer técnica, aumentando a eficiência e eliminando a necessidade de encantamentos. Permite até ativações múltiplas de um mesmo feitiço com uma única conjuração. Além disso, você pode gravar feitiços no subconsciente e armazená-los ali, permitindo que sejam lançados instantaneamente de acordo com a situação, ou até mesmo definir um gatilho para que o feitiço se ative sozinho em resposta a estímulos externos.

    — … — Eugene ficou sem palavras diante da lista extensa.

    — Entre todos esses benefícios, o mais impressionante é que o Círculo dela fornece a aplicação ideal de força. Embora a maioria dos magos hoje em dia já use Círculos, a fórmula da Feitiçaria é muito superior aos Círculos comuns. Em resumo: ela permite usar o máximo de poder com o mínimo de mana.

    — Desculpe, mas embora eu esteja ouvindo, não entendi nada.

    — É claro que não. Se pudesse entender só ouvindo, a Feitiçaria não seria chamada de maior grimório da história da magia, não é?

    Com um largo sorriso, Mer estufou o peito.

    — Certo então — Eugene ignorou a ostentação. — E como é que eu leio isso?

    — Feche os olhos e estenda a mão — instruiu Mer. — Depois disso, transmita sua mana para a Feitiçaria, Sir Eugene… se fizer isso, será capaz de lê-la.

    Só precisava estender a mão? Por alguns instantes, Eugene encarou a esfera de luz envolta por dezenas de anéis. Como não conseguiria entender só de olhar, estendeu a mão conforme Mer havia dito. Apesar de sua mão estar se aproximando da esfera luminosa, ele não sentia nenhum calor vindo dela.

    No entanto, sentia uma quantidade imensa de mana. Ignorando os calafrios inquietantes, Eugene extraiu sua mana usando a Fórmula da Chama Branca. Seria correto despejá-la do jeito que estava? Ou deveria aplicá-la através do pseudo-círculo que usava ao lançar magia? Ocultando essas dúvidas, por ora, apenas canalizou sua mana.

    De repente, ele perdeu toda a sensação do corpo. Não conseguia ouvir nada, nem sentir cheiro de nada. Embora tenha arregalado os olhos em alarme, também não conseguia ver nada. Não via Mer, que estava ao seu lado, nem podia sentir sua presença.

    — Ah — tentou emitir esse som, mas o ruído não chegou aos ouvidos de Eugene.

    Ele não conseguia nem mesmo ouvir os sons do próprio corpo. Só então Eugene conseguiu compreender, ainda que parcialmente, a situação em que se encontrava.

    Aquele era um mundo formado dentro de sua própria mente. O corpo de Eugene não existia naquele espaço. Assim que se conectou à Feitiçaria, apenas sua consciência foi arrastada até as profundezas daquele lugar.

    “É parecido com um sonho… mas também é diferente.”

    As coisas não mudavam conforme sua vontade, como num sonho lúcido. E ele não via alucinações desagradáveis como as causadas pelas palhaçadas dos Demônios da Noite. Em vez disso, sentia apenas uma sensação esmagadora de impotência. Como seu corpo não existia, ele não podia mover nada.

    De todos os seus sentidos que haviam sido bloqueados, apenas um permanecia acessível.

    Sua sensibilidade à mana. Aquele mundo mental estava completamente saturado de mana. Embora o lugar fosse construído dentro da consciência de Eugene, a mana da Feitiçaria havia invadido sua mente, criando um mar infinito de mana.

    No meio desse mar, o senso de identidade de Eugene não era maior do que um grão de areia. Ele nem sequer podia vagar por ali como quisesse. Tudo que podia fazer era contemplar a situação e esperar.

    “A mana… consigo movê-la um pouco.”

    Um pouco?

    “Ah, é verdade. Essa é toda a mana que tenho agora.”

    Eugene percebeu que a mana que podia mover era a mana pertencente à sua própria consciência. Mas, dentro daquele mar de mana, sua mana era tão pequena e insignificante quanto seu senso de identidade. Se reunisse toda a sua mana, conseguiria sair dali? Provavelmente sim, mas Eugene não queria testar isso agora.

    Afinal, ele ainda não tinha visto nada.

    Eventualmente, a mana, não, o mar, começou a se mover. Uma enorme onda se formou diante de Eugene, até se tornar um único anel.

    Era um Círculo. O único Círculo começou a girar lentamente e, em algum momento, acelerou tanto que era impossível dizer se ainda girava. A cada rotação do Círculo, a mana que inundava aquele mundo era atraída para a rotação, copiando-a. Com isso, o Círculo se multiplicava um de cada vez.

    Dos níveis de aptidão mágica, divididos em Círculos, o mais alto era o Nono Círculo.

    No entanto, os Círculos copiados não pararam no nove. No momento em que o Décimo Círculo foi criado, a mana que havia sido atraída pela rotação cessou, deixando uma imensa linha de Círculos. Esses dez Círculos se separaram, mas depois de se afastarem, se uniram novamente para formar um único círculo gigante, cujo centro estava repleto de uma quantidade infinita de mana.

    Isso por si só já seria alarmante o bastante, mas o fenômeno não havia terminado. Incontáveis Círculos começaram a ser criados dentro do Círculo maior. Um, dois, três, quatro… Nesse ponto, Eugene desistiu de contar. Ao atrair uma quantidade infinita de mana, o Círculo maior criava uma quantidade interminável de Círculos dentro de si. Esses Círculos continuavam a se multiplicar, dividir, entrelaçar, multiplicar de novo, dividir, e…

    Embora apenas observasse, o simples ato de ver aquilo já fazia a consciência de Eugene vacilar. Era como uma ilusão de ótica que esgotava a mente e causava náusea, mas não, não era ilusão. Dentro daquele Círculo, uma quantidade infinita de Círculos de fato se multiplicava, dividia e se entrelaçava repetidamente.

    “Mesmo que eu consiga ver, acho que não sou capaz de entender.”

    — Toda a magia que ele havia aprendido na vida até aquele momento parecia brincadeira de criança.

    Foi o que Lovellian havia dito.

    — Um vislumbre da verdade.

    Foi como Melkith havia descrito.

    Ambos estavam certos. Sua consciência oscilava. As transformações ocorrendo entre aqueles círculos infinitos e todas as possibilidades que continham, Eugene definitivamente não era capaz de compreender plenamente.

    Mas sabia ao menos uma coisa com certeza.

    A Sábia Sienna… ela era a mais impressionante e poderosa maga da história humana.

    “Espera…”

    Sua consciência começou a colapsar. Eugene percebeu o que estava acontecendo com ele. Uma cortina incontrolável estava prestes a se fechar dentro de sua mente e fazê-lo desmaiar.

    “Não quero desmaiar, mas… espera, não é possível!”

    — Talvez seja melhor usar fraldas?

    — Por quê?

    — Vai que você faz xixi sem querer.

    As palavras de Melkith não tinham sido só uma piada. Quando foi a última vez que… foi ao banheiro…? Eugene lutava desesperadamente para manter a consciência, mas naquele mundo conectado à Feitiçaria, sua consciência era miseravelmente fraca.

    Resistir era impossível.

    “Não é possível! Por favor, meu corpo excelente, não me decepcione.”

    Não me deixe mijar nas calças.

    Com essa súplica sincera, Eugene perdeu a consciência.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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