Capítulo 18 - Jornal barato
Jax Bennett passou pelo batente da porta e seguiu adiante. Seus passos agora estavam impacientes, quase ansiosos. Desta vez, ele estava evitando qualquer contato com os homens e mulheres que caminhavam pelas calçadas, como se sentisse nojo e repulsa deles.
Ele sabia exatamente para onde estava indo. Percorreu vielas, ruas estreitas e largas, algumas desprovidas de civis, outras como se uma grande atração anual estivesse acontecendo. E a sua pressa, apenas foi interrompida quando um garoto, segurando uma pilha organizada de jornais debaixo do braço, esbarrou nele. Jax permaneceu erguido, como se tivesse sido atingido por um mero pássaro.
O menino estendeu o braço e pegou sua boina, virada de cabeça para baixo. Depois de recolocá-la em sua pequena cabeça, juntou desesperadamente os jornais que estavam no alcance de suas mãos, mesmo aqueles pisoteados pelos calçados sujos dos pedestres que passavam.
— De…desculpe, s…se…senhor! Eu não o vi! Eu p…preciso vender e…esses jornais antes do meio-dia!
Jax, no entanto, permaneceu em silêncio, apenas observando o garoto juntar os jornais em uma pilha organizada. Seus olhos desviaram para um jornal caído em frente às suas botas. Ele franziu ligeiramente a testa ao ver como as notícias estavam organizadas, antes de voltar a atenção para a criança.
— Ei, moleque. Onde fica a sua impressa? — Ele se aproximou do garoto, retirando do bolso dois maços de notas cinzentas de dinheiro.
— Ao la…lado da torre do grande relógio.
— Pare de gaguejar, pirralho! — exclamou, depois arrancou à força todos os jornais do garoto e jogou os dois maços de dinheiro no seu rosto manchado de óleo.
Ele abraçou com um mau reflexo os blocos de notas contra seu casaco desproporcional ao seu tamanho, empoeirado e contendo grandes manchas secas de óleo. Seus lábios se abriram em um sorriso banguela para Jax que seguiu em frente sem dizer mais uma palavra.
Agora, Jax estava seguindo na direção oposta àquela que seguia. A torre de relógio possuía uma arquitetura gótica e, é claro, era a estrutura mais alta daquela cidade, então não foi difícil para ele localizá-la. Embora estivesse caminhando pacientemente, e carregando uma feição neutra, seus dedos cravavam nos jornais com tanta força que bastava apenas mais uma pequena pressão para perfurá-las.
“É verdade… Eu me esqueci da missão.”
“Depois que eu terminar com tudo isso, vou perguntar às autoridades sobre mortes por causas desconhecidas.”
“E não irei ficar aqui! Se não tiver acontecendo nada de anormal, vou para o oeste e ficar com a Jade.”
Jax passou pela frente da torre de relógio, analisado ao redor, entretanto, avistou novamente, apenas mais homens e mulheres, mais carroças sendo puxadas por cavalos, mais carros a vapor, e uma cafeteria chique que estava na esquina em frente à torre de relógio.
O barulho dos cascos dos cavalos contra as pedras pavimentadas estava retirando a paciência que restava de Jax, mas o som dos motores dos carros, e das conversas paralelas incomodava mais. Ele se continha para não trazer uma tempestade de raios para a cidade. Portanto, optou em pedir informação a um sujeito que acabou de sair da grande porta dupla da torre de relógio.
Caminhou até ele e, com um movimento brusco, arremessou os jornais contra suas costas. O que chamou a atenção dele, mas também as de algumas pessoas ao redor.
— Ei, idiota — disse Jax. — Onde fica a impressa de jornal mais próxima?
— Mantenha as ruas limpas! Da próxima vez que eu o ver sendo tão desrespeitoso, irei entregá-lo às autoridades!
O semblante de Jax se encheu de aborrecimento e confusão.
— Onde… fica a impressa de jornal mais próxima? — repetiu, lançando um olhar de nojo para o sujeito, como se ele fosse um completo esquisito.
— Na outra rua! Atrás da torre de relógio!
Jax fitou o homem por alguns segundos, tentando entender o porquê dele estar gritando, sendo que ambos estavam próximos. Mas ele logo escapou desse pensamento baldio com um ligeiro balanço de cabeça. Revirou os olhos e deu meia-volta.
“Imbecil.”
Sua mão deslizou pelo centro do rosto, agarrou a borda do gorro e o puxou, cobrindo totalmente as sobrancelhas e obscurecendo a sombra de seus olhos. Ele seguiu próximo às fachadas das casas, sem se atentar às coisas em sua volta — toda sua visão periférica estava borrada, e suas mãos tensas se encontravam escondidas nos bolsos espaçosos de sua calça.
Quando avistou a impressa de jornal que procurava, não adiantou seus passos, mas comprimiu os lábios para hidratá-los. Depois expirou rapidamente o ar como se estivesse animado para um espetáculo onde ele mesmo seria a estrela. Jax estava ansioso.
Ele entrou na impressa de jornal e se direcionou até o balcão da recepcionista.
— Eu quero falar com o dono da impressa.
— Desculpe? — O tom de voz dela carregava mais desdém do que confusão. — Poderia me informar o seu nome?
Jax puxou as mãos de seus bolsos e pôs bruscamente sobre o balcão.
— Eu quero falar com o dono da impressa! — Permaneceu alguns segundos em silêncio, encarando a feição assustada e confusa da mulher, e continuou: — Vou arrancar essa banha de porca que você chama de barriga se não me dizer onde ele está, ouviu bem?!
A recepcionista arregalou os olhos ao extremo e recuou o queixo em espanto, o que intensificou sua papada. Ela engoliu seco para preparar a garganta tensa, e disse amedrontada: — No último andar, senhor. Há apenas uma porta que leva ao escritório do chefe.
Após a rápida retirada de Jax, a recepcionista ainda tremendo, procurou desesperadamente por alguém que pudesse ajudá-la, olhando ao redor da enorme sala. Mas as cinco pessoas ali, sentadas em cadeiras próximas à parede que ficava na direção do balcão, e ocupadas analisando alguns jornais, não haviam notado absolutamente nada, ou talvez, elas apenas não se importaram.
No tempo em que a mulher estava procurando por ajuda, Jax já havia alcançado o último andar. Seus olhos vagaram pelas várias mulheres de vestido branco, cuidadosamente montando letras de chumbo em prensas tipográficas, preparando a tinta e revisando meticulosamente. Havia somente duas máquinas de impressão, novas, recém-chegadas, mas lentas, era como se uma engrenagem estivesse faltando.
Jax seguiu em linha reta em direção à porta no fim desta grande sala. Da mesma forma que ele tratou as mulheres com indiferença, elas também não se atentaram com a sua presença. E quase com cautela, ele abriu a porta e, ao entrar, a fechou com o calcanhar.
Em contraste à sala onde aquelas mulheres estavam trabalhando, a sala do dono da impressa de jornal era pequena, mas confortável, aceitável para um ambiente de trabalho de curto período. O piso de madeira polida estava coberto por um grande carpete, e apenas à esquerda estava adornada por: uma minúscula mesa posicionada na diagonal na quina da parede, guardando papéis e jornais; uma pequena estante de livros, e logo ao lado, um armário de um par de portas. Entretanto, os olhos de Jax focaram somente o homem de terno que estava em frente à mesa principal, como se estivesse próximo a sair do escritório, mas foi impedido com a sua chegada repentina.
O homem ergueu uma sobrancelha, escovando o seu bigode grosso com a ponta dos dedos.
— Quem seria você, meu caro rapaz? — ele perguntou.
— Não precisa ser educado, Alfred. — Jax levou a mão até o seu gorro e o arrancou da cabeça.
Fios de cabelo loiro-escuro escorreram sobre seus olhos castanhos, quase negros. As suas sobrancelhas levemente franzidas lançavam raiva e nojo para Alfred, que agora estava aterrorizado.
— Henry? O que faz aqui?! — Correu para trás da mesa e agarrou a maçaneta de uma das várias gavetas. — Eu tenho um revólver! Se você se aproxi…
A própria mesa de Alfred o esmagou contra a parede. Depois de chutá-la, Jax empurrou o móvel para o longe, agarrou a gola do terno, e puxou a face amedrontada em direção ao seu punho.
Alguns dentes de Alfred voaram pelo ar antes dele ser arremessado contra a estante de livros. A mesma caiu sobre ele. Jax caminhou tranquilamente em direção à estante, e a levantou. Os livros que ainda estavam nas prateleiras escorreram e caíram sobre o carpete.
— Eu… — Alfred cuspiu sangue junto ao um grunhido de dor. — Eu o criei como um filho! O dei um emprego! Uma casa!
— A estrutura de como as notícias estão organizadas em seus jornais torna difícil de ler. Não tenho ideia de como ninguém nunca reclamou.
— O quê?!
— Eu nunca pedi nada, Alfred.
As mãos de Jax não só largaram a estante, mas a impulsionaram contra o corpo de Alfred, que gritou e grunhiu de dor, seus dedos rasparam no carpete em uma tentativa fútil de sair debaixo da estante.
Sem pressa, mas também determinado, deixou o escritório. Ao passar pela vasta sala onde faziam os jornais, sentiu as mulheres o encarando com incredulidade, mas algumas fixavam seus olhos em direção à porta aberta por de onde vinham os gemidos e pedidos de socorro.
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