Capítulo 4 - Meu nome…
As mãos de Sally Dakis vagaram desesperadamente por todos os bolsos do terno e de sua calça larga, procurando por seu maço de cigarro. E encontrou! Mas para a sua infelicidade, estava vazio.
— Merda! — amaldiçoou, atirando a cartela para longe, em seguida, levou os olhos para Kenji, que estava deitado em posição fetal sobre a neve, desolado devido à situação que se encontrava. — Pare de chorar e levante se não quiser morrer!
— Eu não estou chorando! — exclamou, colocando-se de pé à medida que limpava a neve grudada em suas roupas.
Depois, seguiu Sally, que marchava em direção a uma nuvem escura e colossal, carregando uma tempestade que provavelmente os mataria em questão de minutos.
Ambos continuaram atravessando a floresta do vale, contra a direção do vento gelado arrepiando os ossos de Kenji, que se abraçava na tentativa insignificante de se aquecer. Cada respiração dele e de Sally se tornava vapor. Por mais que estivesse tomando a frente, marchando com raiva e estresse, ela pareceu não ser afetada pelo frio.
— Já estamos perto da Central do Pilar do Leste? — Kenji perguntou, sua voz trêmula devido aos seus dentes se batendo constantemente. — Esse frio vai me matar…
— O teletransporte falhou.
Kenji interrompeu seus passos. O vento brusco soprou mais uma vez, e em um gesto de ansiedade e agonia, seus dedos cravaram em seus tríceps como se quisesse arrancar os músculos tensos.
— Então onde estamos, porra? Que merda de lugar é esse? Abra essa maldita boca e fale!
Abruptamente, Sally se virou para encarar os olhos dele.
— Em uma maldita ilha! — Abriu os braços e os ergueu. — Estamos na maldita Ilha do Véu Negro!
— E como saímos daqui!? — gritou, pois o vento se tornou mais violento, trazendo o início de uma nevasca.
A neve grudou e se camuflou nos cílios, nas sobrancelhas e no cabelo de Kenji. E o silêncio tomou conta, apenas o sopro irado da ventania podia ser ouvido.
A longa e sedosa trança única de Sally foi desmanchado, mas não completamente, alguns fios de seu cabelo preto voaram no ar. Seus olhos verdes-claros, tão claros que possuíam um tom cinza, fitaram Kenji com uma empatia subjacente à frieza em seu tom de voz.
— Você não me parece estar com frio. — Kenji abraçou-se mais forte, abaixando levemente seu semblante.
— Você vai morrer. Me desculpe, Hayashi.
Subitamente, a nevasca os engoliu.
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Botas avançavam com dificuldade pela lama, os passos eram largos e desajeitados. Seus braços estavam abertos para se equilibrar e seus olhos focados para onde pisaria.
Os vendedores atrás de suas barracas, e os camponeses próximos às mesmas, observavam o homem de gorro avançando pelo centro da rua. Ele não havia percebido, mas a lama mais densa e grudenta rastejava pelo centro de todas as ruas da pequena cidade medieval, onde as casas eram feitas de pedra e os telhados de palha.
Contudo, ele não estava sendo observado por faces confusas, mas por olhares desconfiados, carregados de julgamentos.
Um vendedor, dono de uma barraca de peixes, afiava sua faca no couro; as mães ao lado de seus filhos, os escondiam atrás de suas saias; uma criança completamente suja de lama pegou uma pedra ao seu lado; e por fim, alguns homens em frente a uma taberna seguravam pedaços de tábuas.
Abruptamente, o homem que insistia caminhar pelo centro da rua, quase foi atropelado por dois cavalos que puxavam uma carroça. Ele desviou cegamente, dando um giro lento e cambaleando para fora da lama.
— Maldito seja! — berrou, apontando o punho para a carroça que seguiu adiante.
Logo após, cuspiu no chão em desdém e se virou. Diante dele, os homens que seguravam pedaços de tábuas, prontos para atacá-lo. Entretanto, agindo como se eles fossem nada além de crianças querendo confusão, o homem de gorro limpou as suas botas nos degraus da escada curta e entrou na taberna. O que surpreendeu e deixou os homens confusos.
A taberna era iluminada por um lustre de velas pendurado no teto. E estava quase vazia, com exceção de dois homens robustos sentados próximos à entrada. Eles estavam concentrados em um jogo de cartas semelhante ao baralho.
O homem de gorro, com feições de moleque, caminhou até a cadeira do balcão e sentou.
— Uma cerveja por favor — disse ele, com os braços apoiados no balcão.
— É pra já!
A Barwoman, uma mulher ruiva e formosa, habilmente, pegou uma caneca de madeira e a encheu de cerveja, diretamente de um dos barris que estavam organizados em fileiras e, nesse específico, estava escrito na lateral “Cerveja por favor”.
Com um sorriso, ela jogou a caneca que deslizou sobre o balcão até o homem. Ele agarrou a mesma com firmeza, e bebeu toda a cerveja em segundos, depois, sem pudor, deu um grande arroto. Levantou-se e seguiu em direção à saída.
A atitude dele espantou a Barwoman, e também a irritou profundamente. Com uma carranca, ela estalou os dedos e, os dois homens robustos tomaram a saída.
— Ninguém sai sem pagar, forasteiro.
A ameaça indireta e os brutos tomando a saída, não foram o suficiente para abalar o homem de gorro, como se essa situação fosse apenas… divertida. Com um sorriso de canto, voltou para o balcão.
— Meu nome é Jax Bennett — ele se apresentou!
— Jax Bennett? Belo nome — exclamou sarcasticamente. — E o que faz você pensar que pode sair sem pagar?
— Eu trabalho para a Fundação. Só por eu estar aqui deveriam lamber minhas botas.
Os olhos da Barwoman se arregalaram por um segundo quando Jax afirmou trabalhar para a Fundação. Com um interesse evidente, avançou um passo e apoiou os braços no balcão, erguendo levemente o queixo.
— Já ouvi falar. Vocês são os protetores da paz ou algo assim?
— Quase isso — ele disse lentamente, enquanto seus olhos desceram para fitar com desejo os lábios carnudos e vermelhos dela. — Estamos mais para uma mãe. Sempre cuidando de mais ou menos 1/3 dos continentes. Contendo criaturas míticas ou mitológicas… eliminando anomalias… e se intrometendo em alguns conflitos entre reinos. Nós caçamos problemas, somos os tais Caçadores.
Depois de ouvir atentamente a explicação de Jax, o sorriso da Barwoman pareceu estar mais largo.
— Então, Sr. Caçador… — debochou. — Por ser alguém tão importante, creio que você tenha dinheiro para pagar uma mísera bebida.
— Você fica melhor calada.
Confusa com a grosseria súbita, ela não hesitou em abrir a boca para confrontá-lo, mas neste momento, a mão de Jax a surpreendeu e agarrou seu queixo. Ele a puxou para um beijo desleixado. Suas mãos pequenas tentaram afastá-lo, o empurrando pelos ombros, mas seu esforço foi em vão.
Jax persistiu no beijo até sentir que ela morderia seus lábios. Apertou a mandíbula dela, espremendo as bochechas, e a empurrou.
Ela caiu no chão e bateu a cabeça em um dos barris de cerveja. Seus lábios soltaram um gemido de dor abafado pelo tombo. O impacto a deixou desorientada, a forçando permanecer caída.
Com um leve ajuste no gorro e um sorriso de canto, Jax se levantou, indiferente à presença dos dois homens robustos atrás dele. A raiva estampada nos rostos deles transparecia nos punhos cerrados, sobrancelhas franzidas, veias salientes nos antebraços e lábios torcidos sob a barba volumosa. Indiscutivelmente, eles pretendiam matá-lo ali mesmo.
Mas não houve luta. Surpreendidos por Jax com chutes e socos, rápidos como vultos, direcionados às suas regiões sensíveis, como virilha e estômago, eles sequer reagiram. A porta da taberna foi estilhaçada quando seus corpos voaram e caíram sobre duas barracas de vendas. Os vendedores e os camponeses próximos tiveram suas atenções tomadas com o que havia acontecido. Uma multidão logo se formou, procurando por quem poderia ter causado tal perturbação.
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