Capítulo 15: Transformar o Mundo com um Gesto

Cidade da Capital Xuan, Torre do Primeiro Erudito.

Um grupo de estudiosos se reuniu ali para apreciar os volumes de textos antigos que haviam recentemente causado comoção por todo o império.

Desde que esses clássicos vieram à tona, as editoras da cidade trabalhavam sem parar para imprimi-los. Ainda assim, a demanda era tão grande que não conseguiam acompanhar. Aqueles estudiosos haviam conseguido alguns volumes com muito esforço naquele dia, e por isso convidaram seus amigos para lê-los juntos.

— ‘A suprema bondade é como a água. A água beneficia todas as coisas e não disputa com nada.’ Maravilhoso, simplesmente maravilhoso!

— ‘O Dao gera o Um, o Um gera o Dois, o Dois gera o Três, e o Três gera todas as coisas.’ Tão poucas palavras, e ainda assim, uma profundidade insondável. Esse clássico é extraordinário!

— Na minha opinião, só esses três mil caracteres já superam tudo o que li até hoje!

— Também sinto o mesmo!

— Não, não, para mim, o volume Yi é ainda mais brilhante que o Dao De. Apesar da linguagem difícil e obscura, cada palavra é como uma joia, como se encerrasse os princípios supremos do céu e da terra.

— Exatamente! ‘O movimento do céu é vigoroso; o homem nobre deve esforçar-se sem cessar’! Essa frase expressa perfeitamente o que sentimos em nosso íntimo!

Os estudiosos falavam todos ao mesmo tempo, animados, imersos na leitura dos clássicos.

Foi então que um deles soltou um longo suspiro:

— É inconcebível que textos de tamanha genialidade tenham ficado enterrados sob a terra por milhares de anos sem que ninguém soubesse. Sempre que penso nisso, meu coração se dilacera!

A frase imediatamente ecoou entre os outros, que também expressaram seu pesar.

— Sim! Meu mestre, em vida, adorava ler. Se pudesse ter tido contato com esses textos, certamente teria se sentido imensamente recompensado.

— Todos os estudiosos do passado que jamais ouviram falar dessas escrituras… que grande infortúnio!

— Mas será que esses clássicos são mesmo escritos pelos sábios antigos e apenas se perderam nas guerras, restando fragmentos guardados em tumbas antigas? Porque lendo o Nanhua e os Analectos, não encontro menção a nenhum dos personagens ou fatos nos registros históricos — uma voz no grupo soou um tanto abrupta.

Essas palavras destoaram do tom da conversa, criando um breve silêncio entre todos.

— Sem dúvida são autênticos — Logo em seguida, alguém respondeu com firmeza. — Textos assim jamais poderiam ser falsificados por alguém dos tempos modernos. Os registros históricos que temos atualmente cobrem apenas os últimos três mil anos. Antes disso, praticamente não há documentação. É bem possível que esses clássicos pertençam àquela época.

— Ouvi dizer que, quando a Escola de Arqueologia foi recebida pelo imperador, seus membros afirmaram que, nos tempos antigos, cem escolas disputavam entre si e que os clássicos produzidos por elas eram tão numerosos quanto as estrelas no céu. O que temos em mãos agora não passa de uma ínfima fração.

Ao ouvirem isso, uma onda de exclamações atravessou o salão da torre.

— Inacreditável!

— Só de pensar em tantos textos clássicos ainda enterrados e nunca revelados ao mundo… meu coração se aperta e perco o sono à noite!

— Quem sabe como são os demais textos?

— Mas, no fim das contas, esses textos antigos estavam todos ocultos em túmulos. Essa proposta da Escola de Arqueologia de escavar tumbas em massa para encontrar textos perdidos… isso não é contra os princípios da moral?

Instintivamente, os estudiosos prestes a concordar hesitaram. Ao pensarem nas incontáveis obras clássicas que ainda podiam estar escondidas debaixo da terra, suas palavras saíram com menos firmeza.

— Mas o líder da escola não disse que é um ato de proteção? Uma escavação de resgate, e não de destruição?

— Exato. Pelo que ouvi, em cada escavação realizada, eles não agem como os ladrões de túmulo de antigamente, que apenas saqueavam ouro e prata. Ao contrário, recolhem cuidadosamente todos os objetos e os preservam de forma apropriada. Se algo estiver danificado, há especialistas responsáveis pela restauração.

— De fato, não podemos colocá-los no mesmo patamar dos ladrões de túmulos.

Ainda assim, havia vários entre eles que permaneciam contrários à ideia.

— Falar bonito é fácil. Mas no fim, o que muda? Todos aqui têm ancestrais. E se fosse o túmulo de um dos seus? Como se sentiriam?

— Esse precedente jamais deve ser aberto, ou as consequências serão infinitas! Devemos fazer todo o possível para impedir isso!

— Exatamente!

Alguns outros, no entanto, não expressaram suas opiniões, preferindo o papel de mediadores.

— Certamente Sua Majestade e os ministros da corte já discutiram esse assunto. Não precisamos nos preocupar em demasia.

— Vamos apenas observar por enquanto… apenas observar.

Com a ampla disseminação do Dao De, discussões acaloradas se espalharam por todo o Grande Xuan.

Cenas como a da Torre do Primeiro Erudito repetiam-se sem fim em todos os cantos.

Li Fan sabia que mudar a mentalidade do povo em tão pouco tempo era algo impossível.

O que ele havia feito até agora era apenas abrir caminho.

Mas Li Fan não se preocupava com o sucesso ou fracasso.

Afinal, no mundo atual, quem detinha o poder da palavra eram os estudiosos.

Com inúmeros clássicos como isca, ele não temia que os eruditos não se deixassem seduzir.

Além disso, Li Fan nem precisava do apoio deles. Bastava que não se levantassem contra ele.

Enquanto avançava silenciosamente na conquista ideológica do império, Li Fan também ampliava gradualmente a influência da Escola de Arqueologia entre os comuns.

No ano de Ancoragem 6, o imperador foi acometido de uma enfermidade grave e ficou acamado. Todos os médicos da corte estavam impotentes.

Foi então que a Escola de Arqueologia apresentou-se diante do trono com uma pílula em mãos. Disseram que ela havia sido encontrada em um túmulo antigo, supostamente deixada por um imortal, com o poder de reviver carne e ossos, talvez pudesse salvar Sua Majestade.

O imperador inicialmente não lhes deu atenção. Mas conforme seu corpo se enfraquecia a cada dia, beirando a morte, decidiu tentar o improvável.

E, surpreendentemente, a pílula teve efeito milagroso. Em poucos dias, o imperador estava totalmente recuperado.

A notícia abalou toda a corte. Os ministros debatiam incessantemente.

O imperador, por sua vez, convocou o líder da escola ao palácio durante a noite, e passou dias sem comparecer às audiências, ouvindo sobre os tais ‘imortais’.

A partir de então, o imperador passou a acreditar profundamente na existência dos imortais. Secretamente, ordenou aos oficiais de confiança do exército que colaborassem com a escola na busca por traços dos imortais nos túmulos antigos.

No ano de Ancoragem 9, a Escola de Arqueologia realizou uma exposição na Capital Xuan, convidando ministros e nobres da cidade para verem com os próprios olhos.

Apesar de serem figuras ricas e experientes, ao verem os tesouros expostos, todos ficaram encantados e fascinados.

Depois disso, a escola abriu as portas ao público. Qualquer cidadão comum que comprasse ingresso podia visitar.

A cidade ficou em alvoroço.

Incontáveis pessoas formaram longas filas para ver as relíquias. O número de visitantes era tão grande que as ruas da capital ficaram completamente congestionadas. Só graças à ordem direta do imperador e à presença das tropas armadas da guarnição é que não houve distúrbios maiores.

Esse frenesi durou mais de duas semanas.

E, ao invés de encerrar-se, a exposição passou a percorrer o país, sendo exibida por toda parte na Grande Xuan.

No ano de Ancoragem 11, a prefeitura de Jianghuai desmantelou uma rede de ladrões de túmulos de larga escala, capturando mais de cem envolvidos.

O grupo havia saqueado túmulos em larga escala nas montanhas, causando perdas irreparáveis.

Segundo a lei, todos deveriam ser sentenciados à morte.

Mas, devido ao número de envolvidos e à complexidade das conexões, o prefeito de Jianghuai, Li Fan, não ousou tomar decisão por conta própria. Redigiu um relatório e enviou um pedido urgente à Capital Xuan, solicitando a decisão do imperador.

Alguns ministros ficaram furiosos e exigiram execução imediata.

Mas, de maneira estranha, a maioria dos oficiais da corte permaneceu em silêncio.

O imperador também ignorou os pedidos por um tempo e não emitiu nenhuma posição oficial.

Foi só após um mês inteiro que o decreto imperial finalmente chegou.

Nenhuma sentença de morte. Os envolvidos foram condenados à escravidão e enviados à capital.

Quase nenhum ministro protestou.

Ao ler o edito, Li Fan sorriu levemente. Sabia que… o momento decisivo havia chegado.