Capítulo 24: Um Imigrante Ilegal
Diferente das cadeias de montanhas que havia visto em sua vida passada, o local onde Li Fan se encontrava agora era, surpreendentemente, um vasto oceano!
Imenso e sem fim, não se via qualquer margem à vista.
“O que está acontecendo? Por que dessa vez apareci em um lugar diferente?”, Li Fan ficou atônito.
Pegou do peito o mapa desenhado com base em suas memórias, tentando encontrar ali alguma referência ao mar.
Mas, mesmo após diversas comparações, não encontrou nada.
“Deixa pra lá… só me resta seguir um passo de cada vez”, suspirou Li Fan, guardando o mapa. “Ao menos tenho o Navio Taiyan. Caso contrário, provavelmente morreria encurralado aqui. Só não sei se vou conseguir encontrar algum local habitado antes que as pedras espirituais da embarcação se esgotem.”
Sem ser alguém que se entregasse ao desespero, Li Fan logo passou à ação.
Escolheu uma direção e, enquanto pilotava o Navio Taiyan, mantinha os olhos atentos à procura de qualquer sinal de cidade.
Mas o mar era verdadeiramente vasto. Li Fan voou por sete dias e sete noites… sem encontrar vestígios de presença humana.
Por sorte, os suprimentos dentro da embarcação eram abundantes, então sua sobrevivência não estava ameaçada.
Mais dez dias se passaram, e a velocidade do Navio Taiyan diminuía cada vez mais. Estava claro que logo ficaria sem energia.
Foi nesse momento, já próximo do limite, que Li Fan finalmente vislumbrou à distância a silhueta de um barco sobre a superfície do mar.
Com grande alegria, reduziu a altitude do Navio Taiyan e se aproximou lentamente.
Mas, ao se aproximar… soltou um suspiro frustrado.
Era um barco, sim, mas estava prestes a afundar.
Parecia ter sido atacado de alguma forma. Havia um enorme buraco em seu casco, e dois terços da embarcação já estavam submersos.
Ao redor do barco, na água, havia dezenas de pessoas lutando para se manter à tona, evidentemente tripulantes da embarcação.
A maioria não sabia nadar, apenas se agarrava a pedaços de madeira quebrada, flutuando com dificuldade para não afundar.
Li Fan hesitou sobre se deveria ou não revelar o Navio Taiyan e resgatar aquelas pessoas, quando ouviu um dos sobreviventes gritar com dificuldade:
— Não tenham medo! Já enviei sinal ao imortal! Ele virá nos salvar em breve! Só aguentem mais um pouco!
Ao ouvir isso, o coração de Li Fan se agitou.
Guardou o Navio Taiyan e pulou no mar, nadando discretamente na direção do grupo.
Mergulhou em silêncio entre as pessoas e fingiu estar à beira da morte, se esforçando para se manter vivo como os demais.
Após algum tempo, uma faixa de luz cintilante surgiu ao longe e logo pairou sobre todos.
— Imortal, salve-nos!
— Imortal, tenha piedade!
As pessoas, vendo uma esperança, começaram a gritar por socorro.
— Que algazarra! — resmungou uma voz masculina.
Pelo som, era um homem, mas sua aparência e vestes pareciam envoltas por uma camada de névoa, tornando impossível enxergá-lo com clareza.
Com um resmungo frio, ele lançou um feitiço, Li Fan não sabia ao certo qual e, de repente, percebeu que não conseguia mais emitir som algum.
Todos os demais também ficaram em silêncio no mesmo instante.
O imortal então voou até o navio naufragado. Com um simples gesto da mão, ergueu a embarcação, que já estava quase toda submersa.
Logo em seguida, disparou um raio de luz, e o enorme buraco no casco se regenerou por completo em um piscar de olhos.
Depois, ele lançou um olhar gélido para os sobreviventes que ainda flutuavam na água, resmungou novamente e estendeu uma mão no ar como se puxasse algo invisível.
Li Fan e os outros sentiram-se sendo apanhados por uma mão invisível e elevados até o navio recém-reparado.
Tum! Tum! Tum!
Num piscar de olhos, todos foram atirados de forma brusca sobre o convés, como se fossem sacos de arroz sendo despejados.
Sem poder falar, só se ouviam gemidos abafados.
Ainda assim, todos mantinham expressões de temor e alívio pela salvação, sem ousar demonstrar qualquer reclamação.
Após concluir o resgate, o imortal flutuou acima deles e, em tom ríspido, perguntou:
— Quem foi que me enviou o sinal?
O homem que antes havia confortado os demais imediatamente caiu de joelhos.
O imortal acenou com a mão, desfazendo o feitiço que o silenciava.
— Pequeno Su Changyu à sua disposição… — disse ele, prostrando-se e batendo a cabeça no chão.
Mas o imortal o interrompeu sem cerimônias:
— Vocês conhecem as regras, não conhecem? Assim que chegarem ao destino, eu nunca vi vocês. Não conheço nenhum de vocês. Entendido?
Su Changyu assentiu vigorosamente, ajoelhando-se:
— Pequeno entendeu. Meus familiares já haviam me instruído antes de partir…
No meio da frase, sua voz sumiu de novo.
O imortal, aparentemente satisfeito, assentiu e o silenciou novamente com um gesto.
Ignorando os mortais no convés, dirigiu-se à proa do navio. Com um feitiço desconhecido, a embarcação começou a navegar rapidamente em uma direção específica.
Ao ver isso, os olhos da maioria dos mortais se arregalaram em choque.
Outros ainda pareciam abalados demais pelo desastre recente, sentavam-se no convés, tremendo, encolhidos, como se chorassem em silêncio.
O silêncio tomou conta do navio.
E assim se passou a maior parte do dia. Quando finalmente anoiteceu, uma luz tênue começou a brilhar à distância.
Era uma ilha que parecia bastante próspera. Mesmo à distância, já se podia ouvir vagamente sons de vozes humanas.
O porto da ilha estava repleto de grandes embarcações, mais de uma centena delas, formando uma cena imponente.
Contudo, o navio em que Li Fan se encontrava não se dirigiu ao porto principal. Em vez disso, contornou metade da ilha e aportou em um lado menos movimentado, onde quase não havia traços de presença humana.
O barco deslizou silenciosamente por um canal, entrando em uma caverna natural.
Após percorrer algum tempo pelos estreitos túneis da caverna, finalmente parou.
Assim que a embarcação se estabilizou, alguns homens corpulentos vestidos de preto subiram a bordo.
Eles agiam como se o imortal nem estivesse ali, e apenas empunhavam suas armas para expulsar, em silêncio, todos os passageiros do navio.
Sem dizer uma única palavra do início ao fim.
Depois de conduzirem o grupo até um amplo salão, um dos homens de preto finalmente falou:
— Esta noite, vocês descansarão aqui. Há comida suficiente no salão, podem pegar por conta própria. Amanhã, alguém virá para providenciar novos registros de identidade. Não façam barulho sem motivo.
Lançando um olhar ameaçador sobre o grupo, ele então se virou e partiu.
O salão caiu em silêncio absoluto.
Somente muito tempo depois o feitiço de silêncio lançado pelo imortal começou a perder efeito. A partir daí, grupos de dois ou três começaram a conversar em voz baixa.
— Dessa vez tivemos muito azar… atacados por um monstro marinho. Éramos quase uma centena, e agora restamos menos da metade…
— Buscar o Dao, cultivar a imortalidade… que tolice. Nem sei o que meu pai estava pensando ao me mandar pra esse mundo maior e querer que eu cultivasse. Quer saber? Nada se compara ao prazer de ouvir música e beber vinho na minha terra.
— Exato! Lá, eu pelo menos era filho do Rei do Sul. Que luxo e glória eu não tinha? E aqui, nesse maldito… — No meio da frase, sua voz virou apenas um gemido abafado, pois um companheiro rápido tapou sua boca a tempo.
— Nessa altura, que adianta reclamar? — Foi então que o homem chamado Su Changyu falou. — Todos nós viemos para cá depois de grandes sacrifícios de nossas famílias. Em vez de lamúrias, por que não cultivamos com paciência? Se realmente nos tornarmos imortais, não só poderemos alcançar a longevidade, como talvez tenhamos a chance de voltar e também tirar nossas famílias de lá.
Escondido nas sombras, Li Fan ouvia tudo atentamente, e começava a entender quem eram aquelas pessoas.
Provavelmente, assim como ele, eram mortais exilados da Terra de Morte Imortal.
A diferença era que, pelo visto, no local de onde eles vinham, a existência do mundo da cultivação não era nenhum segredo.
Mais ainda… já havia até se desenvolvido uma rota de ‘imigração ilegal’ bem estabelecida?
Li Fan passou a mão no queixo, mergulhado em pensamentos.

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