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    As horas passaram, enquanto Nick permanecia imerso em pensamentos.

    Em algum momento, seu estômago começou a doer, lembrando-o de que não comia há um bom tempo.

    Mas isso parecia tão irrelevante.

    Ele simplesmente não se importava.

    Além disso, de certa forma, a dor da fome parecia merecida para Nick.

    Ele estava consumido demais pelo arrependimento e pela culpa.

    Sentir-se feliz, de qualquer forma, parecia uma injustiça com Horua.

    Depois de tirar a felicidade e o futuro de Horua, Nick acreditava que não merecia ter os seus.

    Era justo.

    — Cara, você está péssimo.

    Normalmente, Nick teria se sobressaltado ao ouvir uma voz surgindo repentinamente atrás dele, na cama.

    Mas ele simplesmente não se importava, e rapidamente percebeu quem era pela voz.

    Nick não respondeu.

    Um momento depois, um rato entrou em seu campo de visão, olhando para ele com curiosidade.

    — O que aconteceu com você? — perguntou o rato.

    — Você já não sabe? — respondeu Nick, com uma voz apática e sem vida.

    — Não, eu não sei — disse o Parasita. — Posso ter muitos olhos e ouvidos, mas é difícil verificar a Cidade Externa. Guardas e Extratores demais, sabe?

    — Por que você está aqui? — perguntou Nick, sem emoção.

    — Verificando como está meu Extrator favorito — respondeu o rato com um grande sorriso. — Normalmente, vejo você andando por aí de vez em quando, mas faz tempo que você não aparece.

    — Por que você se importaria? — perguntou Nick.

    — Você é meu importante parceiro de negócios — disse o rato, sorrindo enquanto esfregava as pequenas patas. — Sua saúde é importante para meus negócios.

    Nick soltou um riso seco. — Você já tentou me convencer a me matar mais de uma vez.

    — É, mas isso é passado — disse o rato, de forma despreocupada. — As coisas mudam, sabe?

    Nick continuou olhando para o teto, sem responder.

    — Cara, parece que a vida pegou você pelo pescoço, hein, Nick? — disse o rato, enquanto se apoiava no cotovelo de Nick.

    Nick não se moveu.

    — Uau — disse o rato, um pouco surpreso. — Você nem está bravo porque estou tocando em você. Isso é novo.

    Em seguida, o rato pulou no peito de Nick e olhou para seus olhos vazios e desinteressados.

    — Huh — murmurou o rato, após um tempo. — Pensar que você chegaria a esse ponto. Depois daquele incidente, dois anos atrás, achei que você nunca consideraria suicídio.

    — As coisas mudam — disse Nick. — Você mesmo disse isso.

    — E mudam mesmo — respondeu o rato, movendo-se ao redor de Nick, observando-o com curiosidade.

    — Não consegue se decidir, hein? — perguntou o rato.

    Nick assentiu fracamente, sem olhar para ele.

    — Sabe, esses são meus clientes favoritos — disse o rato. — Tipo, nem preciso convencê-los. Eles só me deixam fazer o meu trabalho.

    Em seguida, o rato começou a coçar o queixo com uma de suas garras.

    — Mas, neste caso, as coisas são complicadas.

    — Primeiro, você vale muito mais do que apenas seu cadáver. Você é um parceiro de negócios que pode me trazer dezenas, se não centenas, de cadáveres, sabe? Ter você morto agora seria um desperdício enorme.

    — Além disso, você já não é mais um humano comum. Olha só.

    De repente, o rato mordeu o braço de Nick e começou a puxar enquanto arranhava com as garras.

    Nick sentiu como se alguém estivesse apenas beliscando-o.

    — Não consigo atravessar — disse o rato, afastando-se. — Este corpo é só um rato. Posso matar um cara, mas não um Extrator.

    — Claro, se eu arrancasse seus olhos e rastejasse até o crânio, eu conseguiria, mas você nunca deixaria. Até a pessoa mais deprimida e suicida enlouquece quando um rato tenta comer seus olhos. Confie em mim, já tentei.

    — Quero dizer, você poderia tentar viajar até o meu corpo principal… — disse o rato, deixando a frase no ar.

    — Nah, esquece. Você nunca sobreviveria à jornada — concluiu ele, com um gesto de descaso.

    — Além disso, não quero que você morra. Ainda preciso de uns cadáveres, sabe? — disse o rato com um sorriso largo.

    Mesmo não se importando muito com nada no momento, Nick ainda notou a ironia da situação.

    — Você está tentando me convencer a continuar vivo — afirmou Nick.

    — É, meio que sim — disse o rato, dando de ombros. — Por que não? Talvez você doe uns cadáveres depois, quando se sentir melhor?

    — Um rato precisa sobreviver, sabe?

    Nick quase sentiu como se aquilo não fosse real.

    O Parasita.

    Um Espectro poderoso.

    Alguém que tentava convencer o máximo de humanos possível a deixá-lo consumi-los…

    Estava tentando convencer Nick a não se matar.

    Como as coisas haviam chegado a esse ponto?

    — Então, o que está te incomodando? — perguntou o rato. — Aliás, onde está seu garotinho de pedra? Ele geralmente fica bem aqui.

    Nick respirou fundo.

    — Ah, entendi — disse o rato, vendo a reação de Nick. — Garotinho de pedra quebrou.

    — Então, você quebrou uma estátua. Grande coisa. Faça outra — disse o rato.

    Os olhos de Nick se estreitaram de raiva.

    O rato imediatamente saltou para longe. — Eita, alguém está ficando nervoso.

    — O nome dele era Horua! — gritou Nick, sentando-se de forma explosiva. — Ele era um humano de verdade, com um nome de verdade! Ele não é uma estátua, e não é só um garoto!

    O rato piscou algumas vezes, surpreso. — Acho que isso foi só parcialmente direcionado a mim.

    Nick bufou e olhou para o lado. — Não importa. Ele está morto agora, e eu o matei.

    — E daí? — perguntou o rato.

    Nick cerrou os punhos novamente. — Ele era um garoto inocente, e eu o matei! — disse entre dentes cerrados.

    — O quê? Então, se você o tivesse matado sete anos depois, seria diferente? — perguntou o rato. — Morto é morto. Quem se importa?

    Nick apenas olhou para frente, com as sobrancelhas franzidas, sem encarar o rato. — Você não entenderia. Você é um Espectro.

    O rato coçou o lado da cabeça, pensativo.

    — Acho que sim? — respondeu, incerto.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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