Capítulo 261: Bocas
— Sua cidade? — repetiu a Prisão em um tom de zombaria.
— Você vive escondido, assim como qualquer outro Espectro.
— Esta é uma cidade controlada pelos humanos.
As bocas apenas riram.
Então, a amalgamação de bocas se afastou do vagão.
A Prisão observou enquanto a amalgamação de bocas saía do domínio ilusório da Prisão.
Naquele momento, a amalgamação de bocas caminhava pela Cidade Externa sem qualquer disfarce.
— Ei, Julian! Não te vejo há tempos! — exclamou, com um sorriso animado, uma das vendedoras de uma barraca ao avistar a amalgamação de bocas.
— Estive ocupado ultimamente, desculpe — disse uma das bocas voltada para a vendedora, em um tom amigável.
— Claro! Entendo! Ei, parabéns por se tornar um Especialista! — disse a mulher.
— Obrigado, Charlotte — respondeu a boca.
A amalgamação de bocas subiu em um dos prédios e começou a se estender em direção ao céu.
Ela cresceu lentamente até assumir a forma de uma árvore.
O tronco, os galhos, as folhas, as flores e os frutos da árvore eram todos feitos de bocas rindo.
Naquele momento, a árvore provavelmente podia ser vista de toda a Cidade Externa.
— Esta é minha cidade! — disseram as bocas em um ritmo especial.
— Se eu quiser ser visto, serei visto.
— Se eu não quiser ser visto, não serei visto.
— Todos com quem conversei estão sob meu controle.
— E os poucos que não estão…
As bocas riram enquanto duas pessoas na rua começaram a correr, gritando em pânico que havia um monstro gigante em um dos telhados.
Mesmo assim, todas as outras pessoas olhavam para os dois como se fossem loucos.
Os dois continuavam gritando que o homem de cabelos azuis havia se transformado em um enorme monstro.
— Julian? Ele não é um Espectro! — todos respondiam em tons sombrios, irritados com as ofensas ao bom amigo.
Duas das bocas na árvore se estenderam em direção às duas pessoas em pânico.
— Vocês parecem um pouco confusos — disseram. — Oi, eu sou Julian! Acho que ainda não nos conhecemos.
Quanto mais as bocas falavam, mais calmos os dois ficavam.
Eventualmente, os dois começaram a conversar casualmente com as bocas.
— Esta cidade é minha — repetiu Julian.
— Você pode ser mais poderoso que eu…
— Mas é mais poderoso que a cidade? — perguntaram as bocas.
Enquanto falavam, mais e mais bocas caíam da árvore, viajando em direção às pessoas assustadas e preocupadas.
No final, mais de cem bocas estavam espalhadas pela cidade, ocasionalmente parando para trocar algumas palavras com alguém.
A figura metálica no topo das celas olhava com uma expressão neutra para a árvore de bocas.
A Prisão sabia que era muito mais poderosa que Julian.
Em um combate direto, poderia despedaçá-lo como papel.
No entanto, enquanto manter suas ilusões ativas em um cenário calmo era fácil, o mesmo não se aplicava durante uma batalha.
Com caos suficiente, até mesmo os Heróis sairiam da Cidade Interna para ver o que estava acontecendo.
Nesse ponto, a Prisão seria inevitavelmente descoberta.
Embora suas chances de escapar fossem altas, ela nunca poderia voltar à Cidade Fungo Carmesim, e pior ainda, a cidade avisaria todas as outras.
— Você está se fazendo de forte — disse a Prisão com sua voz sombria e metálica.
— Enquanto consegue controlar essas pessoas fracas, tenho certeza de que não pode fazer o mesmo com os Heróis.
— Se lutarmos, você também será descoberto.
— Eu tenho uma chance de sobreviver e até de vencer contra a cidade.
— Você não tem.
As bocas continuavam rindo.
— Por isso ainda não mandei Kugelblitz atrás de você — disseram as bocas em uníssono.
— Se eles o encontrarem, podem se tornar mais cautelosos, dificultando minha permanência escondida.
— Ambos temos algo a perder.
— E é por isso que você vai sair da minha cidade e nunca mais voltar — disseram as bocas.
A figura metálica no topo das celas olhou para a árvore de bocas.
A Prisão frequentemente enfrentava oposição nas cidades.
Surpreendentemente, tinha mais conflitos com Espectros do que com humanos.
Muitas cidades eram secretamente controladas por Espectros poderosos, que não queriam compartilhar sua comida com a Prisão.
E quase sempre terminava da mesma forma.
— O que você quer? — perguntou a Prisão.
Um acordo comercial.
A Prisão entregaria comida e bens incríveis que resultariam na produção de mais humanos, o que, por sua vez, significava mais comida para os Espectros.
— O que eu quero? — repetiram as bocas com uma risada amigável.
— Quero que você vá embora e nunca mais volte — disseram.
A Prisão olhou para a árvore de bocas.
— Não está disposto a negociar? — perguntou.
— Não — responderam as bocas.
Silêncio.
— Muito bem — respondeu a Prisão com uma voz neutra — mas tenho que levar uma última pessoa.
— Não, você não vai — disse a árvore de bocas.
— Isso não é para mim — disse a Prisão. — É para…
— Inveja, certo? — interromperam as bocas. — Você quer Nick.
— O que possui o poder do Nulo.
A Prisão olhou com um olhar neutro para a árvore de bocas.
Se fosse humana, teria sentido choque e surpresa.
— Sim — disse a Prisão. — Lorde Inveja deseja o poder do Nulo.
As bocas riram.
— E por que eu deveria me importar? — responderam, devolvendo as palavras da Prisão.
— Porque Lorde Inveja vai matá-lo se você se recusar a obedecer — disse a Prisão.
— Lorde Inveja é vastamente mais poderoso que esta cidadezinha medíocre.
— Lorde Inveja até tem dois Caídos como servos.
— Você não tem escolha.
— Guardar o poder do Nulo para si só terminará com sua existência — declarou a Prisão.
Mesmo assim, as bocas continuaram rindo.
— Teoricamente, sim — disseram as bocas.
— Na prática, não.
— Sorte minha que Inveja e seus servos mais poderosos estão ocupados lutando contra Égide neste momento.
— Por que eu deveria temer uma faca afiada em sua mão quando ela está tão longe?

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