Capítulo 320: Investimento

Os pés de Nick deixaram o enorme pilar sobre o qual o prédio da Solace havia sido construído, e ele começou a cair.

Ele nunca havia caído de uma altura tão insana.

O ar atingia seu rosto com força, e o som do vento rugindo preenchia seus ouvidos.

A ideia de cair de uma altura dessas costumava aterrorizar Nick, mas, naquele momento, ele sentia algo completamente diferente.

Era algum tipo de liberdade, mas essa palavra não parecia completamente precisa.

Talvez fosse algum tipo de chamado?

Talvez fosse a sensação de algo aterrorizante chegando ao fim?

Ou a sensação de tocar em algo extremamente perigoso?

Ou talvez fosse como tocar em algo quente e reconfortante?

Independentemente de como fosse descrito, Nick sentia que algo dentro de seu peito estava ficando mais quente.

Sua velocidade aumentava a um ritmo assustador.

A queda não durou tanto quanto ele havia imaginado.

Nick havia pensado que cairia por um minuto ou algo assim, mas atingiu o chão em apenas cerca de quinze segundos.

Ele estava caindo de cabeça e olhava para o solo quando estava a apenas cinquenta metros dele.

No momento seguinte, Nick reposicionou seu corpo para que suas pernas apontassem para baixo.

Com a precisão de alguém acostumado, ele usou o Zephyx em suas pernas para amortecer o impacto.

BANG!

O som de algo pesado atingindo o chão ecoou pela rua onde Nick pousou, mas não foi tão alto quanto alguém poderia esperar.

Ao mesmo tempo, amassados no formato de seus sapatos apareceram no metal da rua.

Enquanto isso, as pernas de Nick apenas se dobraram levemente ao aterrissar.

Ele sentiu que precisou usar uma quantidade razoável de força para manter o equilíbrio, mas isso foi tudo.

Na verdade, não foi tão ruim quanto ele havia imaginado.

Era algo comparável a um mortal pulando em uma piscina de água de uma altura de dez metros.

Claro, era assustador, e seria perigoso se alguém atingisse a água de forma descontrolada, mas, contanto que o impacto fosse seguro, não haveria grandes problemas.

Algumas pessoas na rua olharam para Nick, mas logo perderam o interesse.

Veteranos e Extratores mais fortes frequentemente chegavam à camada inferior simplesmente pulando da camada intermediária.

A única diferença era que o pouso de Nick foi um pouco mais barulhento do que o normal.

Nick olhou para o chão por alguns segundos antes de caminhar em direção à Cidade Externa.

Por um breve momento, seu humor havia melhorado.

A adrenalina de fazer algo perigoso o distraiu das coisas que o preocupavam.

Infelizmente, essa sensação não durou muito, e seu humor logo voltou ao fundo do poço.

Ele deixou a Cidade Interna e caminhou lentamente em direção à Sonho Sombrio.

Sem nem perceber, Nick entrou no prédio.

Ele já estava dentro daquele edifício há um mês.

Desde que não precisava mais comer, beber ou dormir, não via mais sentido em comprar um lar.

A Sonho Sombrio era sua casa.

O prédio era sua moradia, e os Espectros eram seus animais de estimação.

Após entrar no prédio, ele começou mecanicamente a verificar os recipientes de Zephyx.

Quando terminou de coletar todos os recipientes, levou-os até o escritório de Wyntor.

Wyntor apenas assentiu ao ver os recipientes, sem nem olhar para Nick.

Nick se virou para sair do escritório.

Naquele momento, Wyntor franziu a testa.

— Está tudo bem? — perguntou, olhando para as costas de Nick.

— Hã? — Nick respondeu como se tivesse acabado de despertar. — Ah, sim, claro.

Então, abriu a porta para sair.

— Espere um segundo — disse Wyntor.

— O quê? — perguntou Nick, confuso, enquanto se virava para ele.

Wyntor olhou para Nick por um momento.

Então, suspirou.

— Feche a porta — disse.

Nick ergueu uma sobrancelha, mas obedeceu.

— Vamos, sente-se — disse Wyntor, apontando para uma das cadeiras em seu escritório.

Nick sentou e apenas olhou para Wyntor com desconforto.

— Algum problema? — perguntou.

— Isso é o que eu deveria te perguntar — disse Wyntor. — Você está perdido em sua própria cabeça e mal reage a qualquer coisa. Se continuar trabalhando assim, é apenas questão de tempo até que algo ruim aconteça.

Nick franziu as sobrancelhas, a culpa visível em seu rosto.

— Desculpa — disse. — Vou ficar mais atento e cuidadoso de agora em diante.

Wyntor ergueu uma sobrancelha, cético.

— O que está acontecendo? — perguntou. — Você falhou no avanço?

— Não, me tornei um Veterano há alguns minutos — disse Nick.

— Você conseguiu? — perguntou Wyntor, surpreso. — Por que não me contou?

Nick desviou o olhar.

— Não pareceu importante.

Wyntor olhou para Nick como se ele tivesse dito algo absurdo.

— Eu acho que é bem importante o fato de meu Chefe Extrator Zephyx ter avançado um nível. Isso é tão importante quanto se pode ser, exceto por uma violação de segurança, talvez.

Nick não respondeu.

Wyntor suspirou.

— Certo, qual é o problema? — perguntou. — Ontem você não estava assim. Aconteceu algo na Solace?

— Não, nada aconteceu — respondeu Nick.

— Mesmo? — perguntou Wyntor.

— Sim, está tudo bem — disse Nick.

Naquele momento, Wyntor estreitou os olhos.

— Nick, estou cansado desses joguinhos. Para de enrolar e me diz o que está te incomodando. Nós somos amigos! — disse Wyntor, sua voz carregada de irritação.

Nick olhou para Wyntor.

Wyntor sempre parecia tão distante, mas, naquele momento, ele parecia apenas um amigo normal preocupado com outro amigo.

No entanto, Nick não esquecia a distância constante que sempre existiu entre eles.

Amigos?

Isso não parecia certo.

Wyntor viu a dúvida nos olhos de Nick, e sua irritação aumentou.

— Nós somos amigos, certo? — perguntou Wyntor, com um tom quase ameaçador.

O corpo de Nick se inclinou ligeiramente para trás na cadeira enquanto olhava para Wyntor.

— Eu não sei — disse Nick, cautelosamente. — Somos?

— Claro que somos! — Wyntor quase gritou. — Eu pulei nos esgotos por você! Eu te acobertei tantas vezes! Eu te dei suas armas e todas as suas ferramentas!

Surpreendentemente, Nick não demonstrou nenhuma reação forte ao raro acesso de raiva de Wyntor.

— Não acho que isso faça de nós amigos — disse. — A primeira coisa, talvez, mas não tenho certeza sobre as outras.

— Acho que você me vê como um investimento, não como um amigo.