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    Nick apenas olhou para Wyntor com incerteza.

    — Parece fazer sentido, mas não parece certo — disse ele.

    — Como eu disse, Nick, lógica e emoções nem sempre andam juntas — respondeu Wyntor. — O fato é que muitos dos nossos Extratores estariam dispostos a lutar por você, colocando suas vidas em risco, e eu não acho que fariam isso por qualquer superior.

    — Por exemplo, não tenho certeza se eles fariam isso por mim.

    Nick conseguia entender de onde Wyntor estava vindo, mas simplesmente não sentia isso.

    Ele só falava com os Extratores quando o assunto era trabalho ou quando se encontravam por acaso nos corredores.

    Nick não conseguia considerar alguém assim um amigo.

    — Como alguém assim pode ser um amigo? — perguntou Nick. — Eles nem sabem nada sobre mim.

    — Porque você não deixa ninguém se aproximar de você, Nick — disse Wyntor.

    Nick ergueu as sobrancelhas.

    — Devido ao desequilíbrio de poder, eles têm medo de fazer perguntas pessoais. Provavelmente, muitos deles consideram você um amigo, mas também se sentem intimidados pelo seu status de superior.

    — Tenho certeza de que muitos deles aproveitariam a oportunidade para conhecê-lo melhor.

    Wyntor suspirou.

    — É tão fácil quando se vê de fora — disse ele, olhando para o lado. — Mas quando se está no meio, muitas vezes não conseguimos enxergar o que os outros veem.

    Nick ainda estava um pouco incerto sobre tudo isso.

    Ele tinha amigos?

    Ele achava que estava sozinho.

    — Nick — chamou Wyntor, fazendo Nick olhar para ele. — Me desculpe por não ter sido o amigo que eu queria ser.

    — Minha vida inteira, todos os adultos ao meu redor me disseram para nunca revelar mais sobre minha vida do que o necessário. Qualquer informação pessoal que eu forneça pode ser usada por um inimigo em potencial.

    — Se eu disser a alguém que considero você meu amigo, podem tentar capturá-lo para chegar até mim.

    — Se eu revelar a identidade de um dos meus professores, podem tentar arrancar informações dele.

    Wyntor suspirou novamente.

    — É difícil mudar esse hábito — disse ele.

    Nick olhou para Wyntor com preocupação e simpatia.

    Com esse contexto, a personalidade de Wyntor fazia muito mais sentido.

    Ele realmente queria ser amigo de Nick, mas a distância que Nick sempre sentiu entre eles era algo que Wyntor não conseguia eliminar facilmente, porque ele simplesmente não sabia como fazer amigos.

    Infelizmente, essa revelação não teve o impacto que deveria ter tido.

    “Esse é o verdadeiro Wyntor ou apenas mais uma forma de me manipular?”, pensou Nick.

    Wyntor era tão bom em manipular pessoas que Nick não tinha confiança em sua própria capacidade de diferenciar o real do falso.

    Era possível que Nick estivesse vendo o verdadeiro Wyntor agora, mas também era possível que aquilo fosse apenas mais uma máscara que ele usava para manter Nick trabalhando para ele.

    Wyntor realmente considerava Nick seu amigo ou não?

    Nick não conseguia dizer.

    Infelizmente, havia algo mais que tornava toda essa situação quase sem sentido.

    Era ótimo que Nick tivesse um amigo em potencial, mas o que isso mudava?

    Seu objetivo ainda havia sido invalidado, e ele ainda era o responsável pela morte de mais de mil pessoas inocentes.

    A única razão pela qual ele queria salvar os Dregs era para se livrar da culpa e se redimir, mas, no fim, sua culpa apenas se tornou mais pesada.

    Qual era o sentido de ter um amigo quando Nick havia se tornado um monstro imperdoável?

    Ele era responsável por mais mortes do que a maioria dos Espectros.

    Então, o que o tornava diferente de um Espectro qualquer?

    Sua intenção de ajudar as pessoas?

    Infelizmente, intenções não afetavam a realidade.

    Ações afetavam.

    E as ações de Nick falavam por si mesmas.

    Wyntor viu a expressão de Nick e suspirou.

    — Nick, o que está acontecendo? — perguntou.

    Nick apenas olhou para Wyntor, carregando dor no olhar.

    “Qual é o sentido de contar para ele se eu nem posso ter certeza de que ele realmente se importa?”

    “Isso pode muito bem ser apenas mais um obstáculo para ele, algo que ameaça seus lucros.”

    — Eu quero saber — disse Wyntor.

    — Por favor.

    — No passado, a única coisa que eu podia fazer para provar minha amizade a você era resolver seus problemas e lhe dar o que precisava.

    — Mas agora, talvez eu possa ajudar lhe dando conselhos.

    — Não importa se você acredita ou não que eu sou genuinamente seu amigo. Em ambos os casos, ainda posso ajudá-lo com conselhos.

    Naturalmente, Wyntor tinha percebido o que Nick estava pensando antes.

    Ele conhecia Nick há anos, e ler Nick não era muito difícil para ele.

    Wyntor sabia que algo o estava incomodando, mas não podia ajudá-lo sem saber do que se tratava.

    Nick respirou fundo.

    — Você sabe — começou Nick, olhando para o lado sem muita emoção — por anos, meu objetivo foi melhorar a vida das pessoas nos Dregs.

    — Por minha causa, Horua morreu. Eu fui o responsável pela morte dele.

    — Desculpe interromper — interveio Wyntor. — Mas quem era Horua mesmo?

    Os olhos de Nick se arregalaram quando ele olhou para Wyntor, chocado.

    Horua ocupava os pensamentos de Nick quase todos os dias.

    Enquanto isso, Wyntor nem se lembrava de quem ele era.

    “Eu não deveria estar surpreso”, pensou Nick. “Ele mal teve contato com ele.”

    — O garoto que eu enviei para o Sonhador.

    Quando Wyntor ouviu isso, seus olhos se arregalaram.

    O ambiente ficou em silêncio.

    A expressão de Wyntor se tornou preocupada.

    — Você se importa tanto assim com ele? — perguntou.

    A irritação surgiu nos olhos de Nick, mas ele não a expressou em palavras.

    — A morte dele é a razão pela qual eu venho me esforçando tanto — disse Nick.

    — Eu matei uma criança inocente quando aquela criança me via como seu único companheiro.

    — Minha responsabilidade era protegê-lo.

    — Em vez disso — disse Nick, em voz baixa, olhando para a parede — eu o matei.

    — Eu matei uma criança inocente, Wyntor.

    — Como eu deveria continuar vivendo sem tentar, de alguma forma, me redimir?

    Wyntor olhou para Nick com uma expressão desconfortável.

    Sob a mesa, ele apertou os punhos.

    Silêncio.

    Wyntor olhou para o teto.

    Então, respirou fundo.

    — Você não o matou — disse Wyntor.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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