Capítulo 342: Discussão
“Me ajude?”, Nick repetiu em sua mente.
Ele ficou agitado ao pensar naquela curta frase.
Ajuda?
Ele sequer merecia ajuda?
“Eu não mereço ajuda”, pensou Nick, enquanto suas emoções se acalmavam novamente. “Fiz coisas terríveis demais.”
“O tempo de receber ajuda acabou.”
“A partir de agora, só posso oferecer ajuda.”
Nick balançou a cabeça lentamente.
— Eu não quero ajuda — disse.
Albert ergueu uma sobrancelha.
— Querer ou precisar? — perguntou.
— Isso faz diferença? — retrucou Nick com certa irritação.
Albert apenas o olhou em silêncio, com uma expressão preocupada.
Quanto mais Albert o olhava, mais culpado Nick se sentia por sua resposta ríspida.
— Desculpe — respondeu Nick. — Está tudo bem. Eu posso lidar com isso sozinho.
Albert respirou fundo, mas escondeu o gesto de Nick.
— O que está passando pela sua cabeça? — perguntou. — Mesmo que você não precise de ajuda, pode ao menos me contar, certo?
Nick olhou para Albert.
A expressão gentil no rosto dele fez Nick sentir como se uma faca torcesse em seu coração.
Nick só queria sair correndo daquela casa.
Tudo já estava decidido.
Albert morreria em breve.
Qual era o sentido de ficar ali conversando com ele?
No entanto, ao olhar para Albert, Nick simplesmente não conseguiu sair.
— O que você acha desta cidade? — perguntou Nick.
A expressão de Albert mudou para um olhar interessado com a pergunta.
— Há coisas que poderiam ser melhoradas — respondeu. — Eu diria que há um desperdício excessivo em geral. Também há bastante corrupção, mas não há muito o que se possa fazer quanto a isso.
— Será mesmo? — Nick perguntou.
— O quê? — Albert devolveu.
— Será que realmente não há nada que possa ser feito contra a corrupção? — perguntou.
— Quero dizer, dá para fazer um pouco, mas se você fizer demais, pode acabar indo para o lado oposto — disse Albert.
Nick apenas olhou para Albert em silêncio, esperando que continuasse.
— Veja bem, existem interesses individuais, interesses comerciais e interesses de classe.
— Interesses individuais são o que uma pessoa e sua família desejam.
— Interesses comerciais são o que uma empresa deseja.
— E interesses de classe são o que um grupo inteiro de pessoas deseja.
— Quando você vai contra os interesses individuais de alguém, tem que lidar com essa pessoa e sua família. Claro, para o governo da cidade, isso não é muito difícil.
— Ir contra interesses comerciais já é bem mais complicado, mas ainda é possível para a cidade.
— O problema surge quando você enfrenta interesses de classe.
— Por exemplo, todos sabem que os Fabricantes não são exatamente limpos. Eles definitivamente fazem coisas ilegais debaixo do nariz dos guardas.
— Se você parar uma dessas coisas, pode conseguir, mas se tentar parar todas, faz inimigos de todos os Fabricantes.
— Nesse ponto, uma classe inteira está contra você, e a cidade precisa dessa classe.
— Em um protesto, os Fabricantes poderiam causar danos deliberados à cidade.
— Ah? Você quer me impedir de fechar este acordo ilegal? E se eu matar algumas pessoas? E se eu começar a saquear secretamente as casas das pessoas na Cidade Externa? É isso que você quer? — disse Albert, imitando um executivo de um Fabricante.
— É difícil, Nick — suspirou Albert. — Você pode ter todos os cubos de vegetais da sopa, mas se não der um pouco do caldo para os outros, acabará sofrendo.
— Os exemplos que eu dei nem são tão extremos. Se as coisas saírem muito do controle, os Heróis da Kugelblitz podem decidir matar o governador em uma rebelião.
— O governador é a ligação entre a cidade e a Égide. Embora a cidade não possa resistir à Égide, tudo o que acontece dentro dela ainda está sob seu controle.
— O que a Égide poderia fazer se todas as pessoas da cidade dissessem que o governador morreu heroicamente enfrentando um Demônio invasor?
— A Égide não pode simplesmente executar todos os Heróis com base em uma suspeita infundada.
— Então, no fim das contas, sim, a cidade poderia ser melhor, mas não há muito o que se possa fazer para melhorar o status quo — concluiu Albert.
Nick olhou para Albert com a testa franzida.
Tudo aquilo fazia muito sentido.
No entanto…
— E se o governador fosse um Protetor? — perguntou Nick.
— Bem — respondeu Albert — a revolução deixaria de ser um problema, mas os crimes silenciosos e a recusa em ajudar a população ainda persistiriam.
— E se o governador tivesse vigilância total sobre a cidade e lidasse com qualquer um que não estivesse disposto a ajudar a cidade? — perguntou Nick.
Albert pareceu um pouco desconfortável.
— Isso o tornaria pior do que os Fabricantes — disse.
— Isso tiraria toda a liberdade das pessoas, essencialmente transformando-as em nada além de máquinas produtivas.
Nick estreitou os olhos.
— Como isso é diferente de ter leis? — perguntou. — A única diferença seria que os criminosos não conseguiriam escapar de seus crimes.
— Você ainda teria sua casa, seus pertences, seu poder e assim por diante.
Albert claramente não gostava dessa ideia.
— Certo — disse. — Pelo bem do argumento, vou conceder esse ponto.
— Outro problema seria que o destino da cidade estaria nas mãos de um único indivíduo, e se apenas uma pessoa tivesse poder, apenas os desejos dessa pessoa seriam realizados.
— Você não pode simplesmente colocar todo o poder nas mãos de uma única pessoa. As pessoas são falhas. E se essa pessoa tiver algum ódio irracional contra os moradores da Cidade Externa? E se essa pessoa quiser exterminar todos os Espectros? E se essa pessoa for sedenta por poder?
— Sim, uma ditadura facilita a implementação de mudanças drásticas, mas quando apenas uma pessoa decide tudo sobre uma cidade, ela inevitavelmente cometerá erros gigantescos.
As palavras de Albert não fizeram nada para abalar a determinação de Nick.
— Todos os seus argumentos são baseados na fraqueza da pessoa.
— E se essa pessoa for extremamente altruísta e quiser melhorar a vida do maior número de pessoas possível, além de ser muito competente em liderar um grande grupo? — perguntou Nick.
Albert revirou os olhos.
— Certo, se todas essas condições realmente acontecerem, e se uma pessoa tão boa e justa realmente conseguir subir a um cargo tão alto, isso pode ser algo positivo para a cidade — admitiu com certa irritação.
— Mas pessoas assim basicamente não existem, e apostar que alguém é uma delas sem conhecê-lo perfeitamente é a maneira mais garantida de perder sua aposta.
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