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    — Então, é possível — disse Nick.

    Albert gemeu de irritação. — Teoricamente, sim, mas não é prático. Você também pode dizer que uma barata pode se tornar um Herói se, por acaso, estiver sempre ao lado de Espectros sem ser morta ou notada.

    — Você também pode dizer que, teoricamente, pode se tornar o primeiro Extrator nível nove da humanidade, mas isso não significa que isso realmente vá acontecer.

    — As chances de encontrar um ditador tão perfeito e bom são absurdamente baixas. Principalmente porque uma pessoa assim nem teria uma grande chance de alcançar uma posição tão alta.

    — Em algum momento, é necessário ser implacável e ter uma moral flexível para avançar — disse Albert com um suspiro.

    — Ter uma moral flexível, infelizmente, é uma vantagem neste mundo, e quando todos ao seu redor fazem uso dessa vantagem, você está em desvantagem se não a usar.

    — No entanto, fazer uso dessa vantagem não o tornaria muito diferente dos outros, e, nesse caso, você não se encaixaria no critério desse ditador perfeito.

    Albert percebeu que a expressão de Nick não mostrava nenhuma reação forte.

    Era quase como se Nick nem estivesse realmente considerando os argumentos que Albert apresentava.

    — Albert — disse Nick depois de um tempo. — Se ignorarmos a praticidade e apenas pensarmos em um mundo com possibilidades infinitas…

    Albert fez o possível para não revirar os olhos.

    — Se você tivesse o poder de mudar o destino da cidade agora, você faria isso? — perguntou Nick.

    — Claro que faria — disse Albert. — Muitas pessoas fariam isso. Nem todo mundo se concentra apenas no próprio poder.

    Nick assentiu. — E se fosse necessário fazer coisas horríveis para mudar a cidade, mas você tivesse certeza de que conseguiria?

    — Nick, os fins não justificam os meios — disse Albert. — Você não pode simplesmente matar uma pessoa, salvar dez e dizer que fez algo bom.

    Nick olhou profundamente nos olhos de Albert.

    — Talvez não — disse Nick — mas me deixe fazer outra pergunta.

    — Você disse que matar uma pessoa para salvar cem seria errado, certo?

    — Sim — disse Albert.

    Nick assentiu.

    — Agora…

    — Se essas cem pessoas fossem colocadas diante dessa decisão, o que elas votariam?

    Albert pareceu um pouco desconfortável.

    Então, suspirou.

    — Obviamente, elas escolheriam salvar a própria pele. Não há como cem pessoas se sacrificarem voluntariamente por uma única pessoa.

    Nick não desviou o olhar dos olhos de Albert.

    — Elas considerariam moral que a única pessoa morresse por elas? — perguntou.

    — Sim, mas só porque muitas pessoas acreditam em algo não significa que isso seja verdadeiro ou certo — respondeu Albert.

    — Então, a maioria das pessoas está interessada em sua própria sobrevivência e, se sua sobrevivência for ameaçada, elas sentirão que foram injustamente mortas na maioria dos casos. É mais ou menos isso? — perguntou Nick.

    — Infelizmente — respondeu Albert. — Muitas pessoas falam sobre como são gentis e prestativas com sua comunidade, mas assim que sua qualidade de vida realmente diminui, todas as suas palavras e opiniões mudam de repente.

    — Se chegar a esse ponto, a maioria dos humanos sacrificaria muitos desconhecidos para manter suas próprias vidas ou para proteger a vida de seus entes queridos.

    Nick continuou olhando para Albert.

    — Então, não faz sentido que a sobrevivência da maioria seja a coisa mais moral? — perguntou Nick.

    — Não, porque a moralidade é objetiva — disse Albert. — Coisas erradas são simplesmente erradas.

    Nick estreitou ligeiramente os olhos.

    — Você está me dizendo que uma criança faminta nos Dregs ou na Cidade Externa não pode roubar comida porque roubar é errado? — perguntou Nick.

    Surpreendentemente, a expressão de Albert não mudou.

    — Isso não é relevante porque a criança precisa de alguém para cuidar dela. Não é responsabilidade da criança conseguir comida. Se a criança passa fome, é culpa de seu responsável. Se seu responsável está morto, a cidade deve cuidar dela, e se a criança morre, a culpa é da cidade.

    Um traço de raiva apareceu nos olhos de Nick.

    — E se a cidade não cuidar da criança? Você quer que ela morra de fome? — perguntou Nick.

    — Eu não quero que a criança morra de fome — disse Albert. — Se ela realmente precisar da comida para sobreviver, ela a roubará. No entanto, isso não significa que ela esteja isenta de culpa.

    — Ela poderia ter escolhido não roubar a comida.

    — E morrer? — perguntou Nick.

    Albert deu de ombros.

    Os olhos de Nick se estreitaram.

    A essa altura, ele já estava bastante irritado.

    “Não foi ele quem falou sobre praticidade antes? E agora ele quer que uma criança morra de fome porque não pode roubar.”

    Nick olhou para Albert.

    “Se ele fosse a criança, não pensaria assim.”

    “Aposto que diria que roubar seria totalmente justificável, já que a pessoa de quem ele estaria roubando não está morrendo de fome e não precisa daquela comida para sobreviver.”

    Nick olhou ao redor da sala aconchegante.

    Calor.

    Toda a sala transmitia calor e tranquilidade.

    Era o lar de um homem velho que havia aceitado sua posição e sua situação na vida.

    — Quanto você paga por mês para continuar morando aqui? — perguntou Nick depois de alguns segundos.

    Os olhos de Albert se estreitaram. — Isso não é da sua conta. Na verdade, acho que não quero mais você dentro da minha casa.

    Nick olhou para Albert.

    — Eu queria te ajudar, mas em vez de me dizer o que está acontecendo com você, está tentando me pregar sua moralidade superior. Você pode não ter dito isso claramente, mas suas intenções são óbvias para mim.

    — Você acha que eu estou bem de vida e que ignoro o sofrimento do povo comum.

    — Isso pode ser verdade do seu ponto de vista, mas eu conquistei tudo isso. Trabalhei duro por mais de 80 anos para ter isso!

    — Comparado a outros, não estou constantemente exigindo mais e mais coisas. Nem sequer como nenhuma daquelas comidas caras e deliciosas, porque acho isso uma perda de tempo.

    — Existem pessoas muito piores por aí, e, comparado a elas, sou um santo!

    — Não se esqueça de que eu te ajudei naquela época sem esperar nada em troca.

    — E depois de tudo isso, você agora está falando comigo como se eu fosse algum tipo de monstro.

    Albert se levantou.

    — Saia da minha casa, e não quero te ver de novo até que me peça desculpas por sua ingratidão!

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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