Capítulo 38: Assassinato

Os olhos de Nick se arregalaram. — Certo! Eu esqueci completamente!

Então, Nick foi até o lado do galpão, onde havia deixado seu uniforme mais cedo. Afinal, seria um pouco estranho entrar na Unidade de Contenção do Sonhador carregando uma pilha de roupas nas mãos.

— Vou colocar agora — gritou Nick enquanto corria para trás da Unidade de Contenção.

Wyntor apenas balançou a cabeça com um suspiro.

— Ele é tão diferente — disse Wyntor.

— De quem? — perguntou Albert.

— Das pessoas da Cidade Interna — respondeu Wyntor.

Albert riu um pouco. — Sim, mas ele não é tão diferente de como as pessoas dos Dregs são. Bom, ele é um pouco mais altruísta que a média, mas já vi algumas coisas interessantes enquanto ensinava ele nos Dregs.

Wyntor não parecia convencido e continuou olhando para a Unidade de Contenção.

— Tem certeza? Eu pensei que, como os recursos são tão escassos, as pessoas dos Dregs seriam ainda mais gananciosas e possessivas que as da Cidade Interna — disse Wyntor.

Albert murmurou um pouco. — Eu não diria isso.

Wyntor ergueu uma sobrancelha enquanto olhava para Albert.

— Acho que eles são mais abertos sobre seus desejos do que as pessoas da Cidade Interna. O impacto é muito maior quando uma pessoa amigável e simpática acaba se revelando um babaca ganancioso do que quando um babaca simplesmente continua sendo um babaca ganancioso.

Wyntor piscou algumas vezes.

— Metáfora estranha — comentou.

— Quero dizer, acho que o número de pessoas que são egoístas na Cidade Interna é o mesmo que nos Dregs, mas os egoístas que existem são bem mais visíveis nos Dregs, o que faz parecer que tem mais.

— Faz sentido — respondeu Wyntor.

— No entanto, também existem muitas pessoas como o Nick — acrescentou Albert.

— Em que sentido?

— Pessoas que estão insatisfeitas com o mundo, mas não têm poder para mudá-lo — explicou Albert. — Alguém que ainda consegue manter sua humanidade e empatia em um lugar onde essas coisas são um luxo.

— Não falta gente ruim neste mundo, mas, na pobreza extrema, até as pessoas boas são forçadas a fazer coisas ruins.

— Naturalmente, pessoas com muita empatia ainda conseguem ver quando alguém não quer machucar outra pessoa, mas é obrigado a fazer isso para sobreviver. Isso é uma tragédia em si.

— Se as coisas fossem diferentes, essas pessoas não seriam forçadas a seguir um caminho sombrio, e muitas vítimas nunca teriam se tornado vítimas.

— Nick tem essa crença — disse Albert. — Sei com certeza que ele já matou pelo menos uma pessoa de propósito, mas também sei que será muito difícil para ele machucar alguém que tente machucá-lo, mas não queira realmente fazer isso, se é que você me entende.

Wyntor ergueu uma sobrancelha, surpreso. — Nick já matou alguém? — perguntou.

Para ele, Nick parecia um adolescente muito agradável e idealista.

Wyntor não conseguia ligar esse jovem simpático a um assassinato.

Albert assentiu. — Nick conseguiu sobreviver sozinho nos Dregs por seis anos e ainda construiu um corpo impressionante e atlético. Para ter um corpo assim, você não pode se dar ao luxo de perder dois litros de sangue por mês.

— 80% das pessoas nos Dregs não conseguem pagar seus impostos todo mês. Além disso, Nick conseguiu fazer das gangues seus inimigos, o que tornaria ainda mais difícil para ele ganhar dinheiro.

— E mesmo assim, ele sempre deu um jeito.

— Além do mais, você não pode ignorar sua inimizade com as gangues. As gangues são organizadas e poderosas. Matar um único homem não é nada difícil para elas.

— Mas, por algum motivo, elas não estão dispostas a matar Nick, embora não gostem dele.

— Isso só pode significar que não vale o custo aos olhos delas, o que quer dizer que elas têm certeza de que perderiam gente para ele, o que, por sua vez, significa que estão certas de que ele pode e vai matá-las.

— Se os líderes locais dos Dregs têm certeza de que Nick matou alguém, eu estou inclinado a acreditar neles.

Wyntor apenas olhou para a Unidade de Contenção com uma expressão preocupada.

Silêncio.

Eventualmente, Wyntor apenas suspirou. — Pator disse que você tem algo importante para relatar — disse, mudando de assunto.

Albert sorriu e tirou uma garrafinha verde, que ele balançou de um lado para o outro por um momento.

Wyntor apenas olhou para a garrafinha, sem entender o que Albert queria dizer.

— Não entendeu? — perguntou Albert.

Wyntor olhou para o frasco por mais alguns segundos.

— Desculpa, mas não — respondeu Wyntor.

Albert apenas riu um pouco. — Eu usei isso no Sonhador há umas onze horas.

Nesse momento, os olhos de Wyntor se arregalaram em choque.

— Não vou pagar por isso! — disse ele imediatamente.

— Eu sei, eu sei — respondeu Albert.

Wyntor ainda olhava com desconfiança para Albert.

— Por que você usaria uma poção de cura de grau quatro em um Espectro de nível um? — perguntou Wyntor.

— Não usei tudo — disse Albert enquanto coçava a nuca. — Usei só uma gota.

— E, além disso, porque fiquei entediado e queria ensinar Nick mostrando o que fazer em vez de apenas falar.

As sobrancelhas de Wyntor se ergueram em surpresa positiva. — Ah? Então podemos ganhar dinheiro com o Sonhador agora?

Albert apenas sorriu e apontou para o medidor do tanque de Zephyx.

Wyntor olhou para o medidor e, ao vê-lo, seus olhos se arregalaram.

— Cinco gramas?! — ele gritou.

— Isso mesmo, cinco gramas inteiras — disse Albert, rindo.

Wyntor olhou para a Unidade de Contenção com admiração.

— E eu basicamente não tive nada a ver com isso — disse Albert antes de apontar para o canto da Unidade de Contenção. — Foi tudo ele.

Wyntor seguiu o dedo de Albert e olhou para lá, e no instante seguinte, Nick apareceu no canto da Unidade de Contenção.

Quando Wyntor o viu, ficou surpreso com a aparência de Nick.

Enquanto isso, Albert apenas sorriu. — Agora, ele parece um verdadeiro Extrator.