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    Quatro pessoas estavam sentadas em uma sala de reuniões.

    A atmosfera era pesada e tensa.

    Irwin estava sentado em uma das cadeiras, olhando para a mesa, seus olhos úmidos de lágrimas.

    Carl olhava com seriedade para as duas pessoas do outro lado da mesa.

    Ramona Illium esfregava a ponte do nariz.

    Hera Marion fitava a mesa com uma expressão pensativa.

    Silêncio.

    — O que fazemos agora? — perguntou Carl.

    Ramona suspirou. — Isso não cabe a nós.

    — Cabe ao Nick — disse Hera, sem tirar os olhos da mesa. — O que fazemos não importa.

    — Ele foi a vítima, e o que quer que ele decida é o que acontecerá.

    — O melhor que podemos esperar é que Nick não culpe Solace — disse Hera.

    — Acho que ele não vai culpar — disse Carl. — Falei com ele, e ele pareceu ser alguém genuíno.

    Hera não parecia convencida. — Eu também pensava assim, alguns anos atrás, mas não sei se isso ainda é verdade. Ele mudou bastante.

    — Ele costumava ser muito gentil, quase ingênuo, mas já faz anos que ele não é assim.

    Toc, toc, toc!

    — Entre — gritou Ramona em direção à porta.

    A porta se abriu, e a recepcionista espiou pelo vão.

    Irwin não reagiu.

    Ele sabia que, provavelmente, esse era seu destino batendo à porta, mas simplesmente não se importava mais.

    — Senhora, o Chefe Extrator Zephyx da Sonho Sombrio quer falar com você — disse a recepcionista.

    Quase todos na sala prenderam a respiração.

    — Traga-o até aqui — disse Ramona com uma voz neutra.

    — Claro, senhora — disse a recepcionista antes de fechar a porta novamente.

    — Bem, pelo menos não teremos que esperar muito mais — disse Hera, desviando o olhar da mesa e se recostando.

    Carl olhou para Irwin.

    Os punhos de Irwin estavam cerrados, e seu olhar estava fixo na mesa.

    Ele não disse uma palavra desde que retornou.

    Os quatro aguardaram em silêncio.

    Toc, toc, toc.

    A atmosfera na sala ficou ainda mais tensa.

    Ramona e Hera respiraram fundo.

    — Entre — gritou Ramona.

    A porta se abriu completamente, e a recepcionista fez um gesto para a pessoa ao seu lado entrar.

    Naturalmente, era Nick.

    Nick entrou na sala sem dizer nada, sua expressão neutra.

    A porta se fechou atrás dele.

    Hera se levantou. — Nick — disse com uma voz cuidadosa.

    — Está tudo bem — disse Nick, acenando displicentemente. — Eu não culpo a Solace. Carl fez tudo o que pôde para me ajudar e, como ele era o líder da excursão, também representava Solace. Para mim, Solace fez o máximo possível para me ajudar e me proteger.

    Perto da mesa, Ramona suspirou de alívio.

    Hera também soltou um suspiro e um sorriso aliviado surgiu em seu rosto. — Obrigada, mas ainda assim, um dos nossos Extratores fez algo horrível, e sentimos que te devemos um pedido de desculpas.

    — Se isso faz vocês se sentirem melhor, tudo bem, aceito o pedido de desculpas — disse Nick.

    Hera apenas sorriu.

    Em seguida, Nick olhou para Ramona e fez um leve aceno de cabeça em cumprimento.

    Ramona retribuiu o aceno com um sorriso.

    Depois, Nick olhou para Carl e esboçou um rápido sorriso.

    Carl devolveu um sorriso fraco.

    Por fim, Nick olhou para Irwin com olhos distantes e indiferentes.

    Irwin não ousou olhar para Nick.

    — Irwin, olhe para mim — disse Nick.

    O corpo de Irwin estremeceu, e ele virou o rosto para o lado.

    — Você tentou me matar, e agora nem quer me fazer o pequeno favor de me olhar? — perguntou Nick, sem emoção na voz.

    O corpo de Irwin ficou rígido.

    Então, ele lentamente virou a cabeça para olhar para Nick.

    Nick fitou Irwin nos olhos.

    — Você se arrepende do que fez? — perguntou Nick.

    Os olhos de Irwin caíram, voltando-se novamente para a mesa.

    — Olhe para mim — disse Nick.

    Irwin olhou para Nick.

    — Sim — respondeu ele com uma voz suave.

    — Você sente culpa? — perguntou Nick.

    Irwin suspirou e assentiu.

    — Há outras coisas das quais você se arrepende? Fez algo no passado que mudaria se pudesse? — perguntou Nick.

    Irwin voltou a olhar para a mesa com olhos desolados.

    Nick não mandou que ele olhasse para cima.

    Alguns segundos de silêncio se passaram.

    — Não sei — disse Irwin. — Sempre vi alguns dos meus erros do passado de forma positiva, pois me trouxeram até onde estou hoje.

    — Mas agora, eu não gosto de onde estou.

    — Então, talvez eu devesse ter me arrependido mais de alguns desses erros.

    Era óbvio que Irwin estava sendo honesto.

    A melhor resposta que ele poderia dar seria simplesmente dizer ‘sim’ e listar alguns erros menores para mostrar que não era uma pessoa ruim.

    Mas, em vez disso, ele disse que não sabia.

    Muitas vezes, quando alguém se encontrava em uma situação horrível na qual nunca esteve antes, não sabia o que pensar ou como se avaliar.

    — Você se arrepende da sua situação atual, não das situações em que colocou os outros? — perguntou Nick friamente.

    — O que isso importa? — respondeu Irwin.

    Silêncio.

    Nick olhou profundamente para Irwin.

    Irwin não voltou a encarar Nick depois de desviar o olhar pela primeira vez.

    Ele tinha uma expressão rebelde no rosto, quase como um adolescente que foi pego fazendo algo errado.

    Graças a todas as lições de Julian, Nick conseguia ter uma boa noção do que estava acontecendo.

    Muitas vezes, as pessoas não agiam de acordo com seus verdadeiros sentimentos.

    Nick tirou do bolso a confissão que Irwin havia escrito.

    — Você não é como eu — disse Nick.

    Crrr!

    Nick rasgou a confissão, empilhou os pedaços rasgados e os rasgou novamente.

    Fez isso várias vezes até que sobrassem apenas minúsculos fragmentos de papel.

    Os outros três olharam para Nick com os olhos arregalados.

    Irwin não olhou para Nick, mas seu corpo tremeu.

    Nick deixou todos os pedaços caírem no chão.

    — Carl é alguém que aprendi a admirar, e ele acredita que você é uma boa pessoa — disse Nick.

    — Hoje, você chegou mais perto da morte do que nunca, e isso foi 100% culpa sua. Se tivesse morrido hoje, a responsabilidade seria completamente sua.

    — Seu passado te trouxe até este momento.

    — Tome isso como um alerta.

    — Esta é a última chance que você terá.

    — Mude ou morra.

    Então, Nick olhou para os outros na sala e assentiu.

    — Conversaremos outro dia.

    Por fim, Nick saiu da sala.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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